19 de maio de 2007

O tabaco ritual

Calumet (cachimbo-da-paz) da tribo dos MODOES, séc.19 - Bacia do Mississipi, América
Musée Fenaille (Rodez)

O tabaco é outra planta oriunda do continente americano que os conquistadores europeus pretenderam destituir do contexto ritual e religioso de que os ameríndios faziam uso dela. Na verdade, à diferença do moderno cigarro industrializado consumido em todo o mundo na atualidade, o tabaco entre os índios era usado não apenas com outra forma de abordagem (não era ingerido ou tragado jamais, e sim apenas colocado na boca e exalado, como fazem os fumadores de cachimbo e charuto) mas também com outro teor, no caso adicionado a outras plantas que compunham o seu uso ritual.

Conheça alguns mitos e lendas ligados à planta do Tabaco (Nicotiniana rusticum) na América, neste texto extraído do site cubano do Museo del Tabaco:

A deusa Cinacuati, ou cobra fêmea dos aztecas, era identificada com uma planta chamada picietl ou tabaco. Para os índios norte-americanos winnebago, o tabaco foi um presente dos deuses ao primeiro dos seres humanos: lançado ao fogo, propiciava as invocações que os espíritos elevavam aos céus. Entre os senecas, tribo de pele-vermelhas que viveu no Oeste do atual Estado de Nova York, se acreditava que o tabaco havia surgido da cabeça da filha dos céus, ao ser regada sua tumba por seu filho mais velho. A mãe celestial acrescentou outros dons a esta frutificação: o milho nasceu de seus peitos, a cabaça, de seu ventre, as favas, de suas mãos, e a batata, de seus pés. Os shippewa, nas festas sagradas, antes de fumar seus cachimbos costumavam volteá-los em direção aos quatro pontos cardeais, onde existiam outros tantos espíritos bons; um dos quais, o do Sul, proporcionava ao homem milho, melões e tabaco. Seu fumo o ofertavam ao trovão, voz dos espíritos. Para os ojibwas, o inverno, representado por um ancião de rosto gelado, era visitado por um joven, símbolo da primavera. Durante a noite, ambos fumavam um cachimbo de tabaco misturado com ervas aromáticas e contavam entre si suas façanhas. Ao amanhecer, o ancião desaparecia convertido em água. Os índios da Virginia tinham em tal estima a planta do tabaco, que a consideravam especialmente criada para os deuses; a queimavam para que o fumo perfumado ascendesse e quando se desatavam as tempestades de água, no meio de cantos e danças, jogavam pó de tabaco em punhados para cima. A mitologia das tribos de Susjuehannah, descrita por Benjamin Franklin, contava que a planta do tabaco havia brotado da terra junto com o milho e um tipo de feijão, graças à ação de uma jovem que baixou das nuvens e depois de ter provado da língua assada de um cervo, preparada por alguns caçadores, quis premiá-los: "Venham daqui a treze luas e vocês encontrarão sua recompensa". O tabaco, junto a outras espécies vegetais, fez parte de um singular rito entre os índios creek: colocavam tais oferendas em um altar, e as cobriam com argila, que tapavam com ramas de árvores. Depois de dois dias de jejum, colocavam fogo no lugar da oferenda. O fumo e as chamas que se alçavam ao céu propiciavam o perdão dos pecados cometidos, exceto o de homicídio.

"…brought the blackstone pipe to the Blackfoot. The Great Spirit sent the pipe through Duck to the Arapahoe. The ancient prophet Sweet Medicine brought the arrow pipe bundle to the Cheyenne at Bear Butte. The Lakota have beautiful White Buffalo Calf Maiden. With the smoking of the first sacred pipe, the ancient Native American elders of this continent discovered in spiritual communion that to share breath is to share life. When the pipe is smoked, every bit of tobacco is thought to represent part of creation, so that all of creation is contained in the pipe’s bowl. And as the ceremonial smoke wafts between peacemakers, all their good intentions are made plain to the creator. These stories of the origin of the Native American pipes are held as sacred to them as many American’s beliefs of their origin through the existence of the Bible." (Fonte: "Calumet History", de Toinette Trahan)