30 de setembro de 2009

Cultura Huichole no Caminho de Wirikuta


Os Wirrárikas (Huicholes) da Sierra Madre ocidental (Estados de Jalisco e Nayarit, México), conformam uma das culturas indígenas que mantém saberes e tradições ancestrais, uma cosmovisão própria e diferente, e hoje em dia buscam encontrar um diálogo com a cultura ocidental e conservar-se, frente aos desafios da globalização.

Sua religião consiste em quatro divindades principais: Milho, Águias, Cervos e Peyote, todos são considerados descendentes do Sol, "Tau". Seus atos religiosos são realizados em um monte chamado Wirikuta ou 'Queimado', no estado de San Luis Potosí (México). No documentário disponibilizado agora no Youtube se vê ao xamã (Maarakame) Parinawa, do povoado de Raoreme. Após Tateneira (cerimônia de sacrifício à Mãe Terra) se oficia a cerimônia das crianças, as quais são guiadas em uma viagem do cacto enteogênico Peyote para que conheçam a "autêntica realidade". Os peregrinos devem passar deste mundo ao mais além, porque ao receber o Veado Azul, deixam de ser ordinários, são transformados. "Mas se deve recordar que é apenas temporário - afirmam - porque somos somente homens e mulheres e não deuses".

A religião e sua cosmovisão xamânica vai implícita através da vida do wirrárika, forma parte de sua identidade e está presente ao longo de seu agir, arte, costumes, vestimenta carregada de símbolos e cores, e no cotidiano tanto individualmente como no comunitário. A religião vem a ser um compromisso fundamental em sua existência, é parte de sua cultura e suas diferentes formas de expressão.

Fonte: Ouroboros . Conheçam o site do Centro de Investigación Wixárika !

29 de setembro de 2009

Festa camponesa

A partir deste ano, no dia 29 de setembro, celebra-se, no México, o Dia Nacional do Milho. A data coincide com o dia de são Miguel Arcanjo e com o início da colheita do milho - principal alimento dos mexicanos - na região. Ademais, é véspera da comemoração do Bicentenário da Independência e da Revolução no país.

O Dia Nacional do Milho tem o objetivo de chamar as mexicanas e os mexicanos a lutar por uma nação mais justa e pela proteção do milho no país. Assim, a campanha nacional "Sin maíz no hay país" e a campanha centro-americana "Vamos al Grano", realizam, hoje, o lançamento do Dia Nacional do Milho

Todo o dia de hoje é dedicado a atividades pelo milho. Pela noite, se realizará um "Grito pela independência alimentar" que congregará os cidadãos na defesa da independência alimentar e do milho nativo do México. A programação terminará com o "Fandango" para celebrar o milho.

As atividades começaram pela manhã, com a transmissão radiofônica ao vivo para as rádios comunitárias do México e com videoconferência com representantes de Chiapas, Chihuahua, Jalisco e Veracruz. Ademais, ocorreu a entrega do Pronunciamento pelo Milho no Palácio Nacional. À tarde, realizaram-se atividades com grupos culturais e artísticos.

"É hora de formar uma comunidade ampla e combativa que, com alegria e criatividade, e ao mesmo tempo com força e grande consciência, una-se para declarar o 29 de setembro o Dia do Milho, e a partir desse momento, converte-se, junto com campesinos e campesinas, em guarda dos grãos brancos, amarelos, negros, vermelhos que nos entregaram os deuses como alimento.", afirma o site do Maíz y Libertad.

Mais informações em Sin Maiz no hay País. Fonte: Adital e Juan Sanguino Collado

3 de setembro de 2009

Entrelace

Pintura do peruano Pablo Amaringo, da fonte do texto de Renan Reis

Amigos do blog, continuamos de pé, resistindo e assim ficando cada vez mais fortes. Diante do absurdo e kafkiano impasse jurídico do processo levantado contra o autor deste blog pela Fundação Elias Mansour (secretaria de cultura do Estado do Acre à qual estou dedicado desde 1988 como pesquisador da Cultura da Ayahuasca, a qual em nome de obscura burocracia havia pretendido desqualificar os meus procedimentos e rendimentos funcionais), pois bem, resolvi por o pé na estrada e as mãos na massa para fazer aquilo que sei, ou seja, ser um artista de vanguarda e um produtor cultural. Parece que alguns ideólogos da situação desconhecem que cultura e arte possuem como premissa a liberdade, mas isso não será motivo para que nos deixemos iludir com tamanha incongruência por parte de algumas autoridades. Temos muitos bons pajés a trabalhar a nosso favor no astral superior e também aqui na terra!...
.
Estamos agora entre amigos de diferentes etnias fundando a "Casa de Artes do Imaginário dos Povos da Floresta" no município de Sena Madureira, como vocês poderão vislumbrar desde já no novo blog em http://imaginativosdafloresta.blogspot.com/ :
.
"Os povos indígenas do Acre vêm lutando para a garantia de suas organizações próprias, a fim de dar continuidade à luta pela demarcação e posse de suas terras, bem como a preservação da biodiversidade para sobrevivência física econômica e cultural de suas etnias. Em 1988 ocorreu a formação da Aliança dos Povos da Floresta que uniu índios e seringueiros do Acre na defesa do patrimônio florestal. Graças a essa representatividade assegurada, conseguiram-se grandes avanços políticos e jurídicos, mas infelizmente nos últimos anos vem se diagnosticando uma extremada dependência quanto aos assistencialismos dos órgãos federais, estaduais e municipais, motivo este de muitos destes povos sobrexistirem hoje com graves problemas internos por falta de saúde, educação, transporte e comunicação de qualidade nas aldeias, defesa de seus territórios quanto a invasões de caçadores, pescadores e pequenos madeireiros ribeirinhos, e principalmente a corrosão de sua cultura tradicional nas novas gerações mais expostas ao aculturador convívio urbano.
.
Por isso a criação da “Casa de Artes do Imaginário dos Povos da Floresta”, propondo elaborar coletivamente novas alternativas para estes problemas através da inserção de seus membros nos mercados nacional e internacional das artes em uma política de comércio justo, se insere na proposta de autonomia indígena ao promover a valorização e resgaste da cultura do imaginário entre as diversas etnias amazônicas bem como entre as populações extrativistas da Amazônia.
.
Esse almejado incremento de renda, a ser proporcionado aos membros associados da “Casa de Artes do Imaginário dos Povos da Floresta” através do comércio justo de suas obras e do aprimoramento de suas atividades produtivas, pretende estar inserido em uma contínua conscientização dos interesses de longo prazo de suas respectivas comunidades visando que os membros passem a aplicar os recursos obtidos em benefício de outros projetos de interesse comum dessas populações e não meramente em benefícios imediatos de caráter individual e resultados pouco duradouros."
.
Todos esses meses desde que vim do município acreano de Jordão em julho do ano passado, tenho dedicado à pesquisa da historiografia da primeira obra etnográfica brasileira, lançada em 1914, e que foi justamente dedicada à etnia hunikuin. Estou já com o projeto finalizado e o filme previsto será dirigido por Osair Sales (Siã Kaxinawá), grande liderança e destaque cultural dos povos indígenas do Acre. Assim, tenho hoje o gosto de dizer que poderei continuar demonstrando com satisfação a veracidade e a força de meu trabalho no setor cultural acreano há mais de vinte anos. Não sou um político, sou um cidadão brasileiro normal, sem filiação partidária mas com eloquentes serviços prestados à sociedade civil do estado onde resido há 22 anos.
.
Sobre as artes do imaginário, que nossos associados em breve começarão a receber capacitação em técnicas de escultura, pintura, e pesquisa e desenvolvimento de materiais, gostaria de acrescentar aqui as considerações de Renan Reis sobre Arte Visionária, que nos vem bem a calhar:
.
"A arte visionária, assim como qualquer forma de arte, é uma tentativa de conhecimento da realidade. Como Lévi-Strauss diz, todo pensamento se baseia no desejo de compreender o real, e o pensamento nativo (no caso Shipibo-Conibo) não se diferencia do contemporâneo. Se tratando de arte, ela é uma maneira que o homem encontrou de transformar a Natureza em cultura, explorando a relação entre significado (relacionado a estética pura) e significante (relacionado a estética transcendental).
.
No caso da arte visionária, sendo ela uma tentativa de presentificação do sagrado, esta relação entre significado e significante é espelhada na relação entre o mundo visível e o invisível, vivos e mortos, inconsciente e consciente; presente também em toda arte “primitiva”. É através desta relação que a arte visionária torna compreensível o desconhecido, é uma narrativa posterior ao ritual.
.
Como toquei no assunto da arte “primitiva”, e partindo de Sally Price, muitas das obras que observamos de arte visionária (como as de Pablo Amaringo) não poderiam ser vistas como “arte primitiva”, pois se conhece o autor e estas obras podem ser reproduzidas. Na arte “primitiva” a opinião do autor e seu nome não são conhecidos.
.
Não poderia esquecer de falar que a arte visionária parte da experiência do sublime provocada pela contemplação, no caso, a experiência estética provocada pelos enteógenos não é originada de uma percepção da forma que atribui um juízo à ela, e sim uma experiência de contemplação pura da forma da realidade.
.
Ao produzir estas obras, o artista oferece um modelo reduzido da realidade, tornando-a compreensível e transmitindo prazer nesta contemplação. Também devemos observar que as obras de arte visionária que possuem uma gama de detalhes enquadram-se como uma percepção imaginativa, que é quando há diferentes elementos observados através da percepção oferecendo um complexo modelo de uma realidade que esta no campo do invisível. O contrário, que se enquadra como imaginação perceptiva, é quando a obra não oferece muitos detalhes, mas pelos poucos que ela tem, nos possibilita imaginar um objeto de maior complexidade."
.
Convoco os amigos leitores deste nosso blog Karipuna, em especial os ligados ao setor das artes e comércio eletrônico, a contactarem-nos em imaginario.povosdafloresta@gmail.com
.