28 de março de 2008

Os Velhos Deuses

"Los dioses escuchan", óleo de Cosme Proenza

Uma pesquisa desenvolvida pela Asociación Interétnica Para el Desarrollo de la Selva Peruana (Aidesep) recolhe os testemunhos de velhos apus e mestres bilingües que conservam em sua memória as explicações de suas próprias gêneses.

Na publicação denominada "Ojo verde", os pesquisadores Carlos Dávila Herrera e Pablo Macera Dall'Orso advertiram que expor desse modo ditas explicações da criação do mundo "talvez alterem o núcleo de seus conhecimentos", mas admitem que talvez essa foi a última oportunidade que tiveram estas nações amazônicas para aclarar suas formas de ver o mundo.

Entretanto, eles consideraram pertinente que se realize outro estudo que valorize os efeitos das missões porque é necessário conhecer o passivo cultural das agências religiosas.

OS VELHOS DEUSES

As revelações feitas pelos indígenas falam de deuses, diabos, anjos, concepções e até purgatórios para ascender a seus paraísos.

Entre os ashaninkas, o deus Sol existiu antes que a Terra, a qual se formou após desprender-se da coroa deste como uma partícula. Este mundo é sustentado por dois eixos; um sustentado por ele mesmo para manter a tranqüilidade e o outro por aonde se poe o Sol, entre os montes Omoro e Otsiriko.

Para os shipibos o mundo só estava formado pelo céu e a Terra e as relações entre o homem e a natureza eram muito fáceis. Um dia, os gêmeos Kesten e Kesin lancaram flechas ao céu e formaram uma escada, mas alguns desobedeceram as regras e Bari Papa (o pai Sol) os castigou afastando o céu e dividindo a Terra em quatro espaços. Um é o das águas (Jene Nete), dominado pelo poderoso Roni (a jibóia). Outro é no qual habitam os homens (Non Nete). No terceiro vivem os espíritos maus (Panshin Nete ou mundo amarelo) e no último estão o Sol e a Lua (Jakon Nete ou espaco maravilhoso), espaco ao qual só chegam as almas selecionadas com mediação do meraya, um xamã de grau superior.

Os witotos consideram que primeiramente existia apenas a água e Jusiñami, deus Sol, filho do nada, que se sustentava no ar. Cuspiu a água para formar a Terra de uma bolha. Para endurecê-la criou o fogo. Tem deuses e diabos que castigam a quem maltratam a floresta. As almas dos bruxos ficam entre as bestas porque seus poderes provêm dos animais.

O mundo bora é a representação do criador Niimúhe. A princípio só existia água habitada por maus espíritos. O criador, para mostrar seu poder, fez a Terra, as plantas e os animais. Com o talho, folhas de tabaco e com a massa de mandioca formou ao primeiro homem, Tííne Ánuméí Niinúhe. Quando este fez sua chácara pediu uma mulher e o criador lhe indicou como tê-la.

Os bora acreditam no mundo de Hacha, onde estão as ferramentas para o trabalho. Também no da Garca, Ihchúbá, espírito da beleza do criador onde nao chega ninguém, mas sua visita limpa de enfermidades aos bora. Por último, buscam uma Terra santa que nunca escurece, a qual chegam os espíritos bondosos.

Entre os awajun (aguarunas), Etsa (o Sol) criou o mundo. A início todos eram pessoas, mas o deus transformou aos guerreiros em huanganas e em aves como o tucano, paujil, trompetero e o gallito-de-las-rocas.

Os chayahuitas acreditavam que o mundo é ovalado como a casa das vespas e que está coberto por uma copa azulada, dentro da qual se movem a Lua, o Sol e as estrelas. A Terra está envolta em água sujeitada pelo céu. O Kunpananá, um dos dois seres poderosos que chegou do ar, formou a terra, os rios e criou os peixes com a serragem dos cedros.

Por sua vez, entre os candoshi, a princípio tudo era escuro e não havia água, até que Zari (o Sol) desceu por uma escada colocada por Supsi (a Lua) e mudou tudo no mundo.

Entre os cocama-cocamilla o mundo começa ao nascer Kémarin, o primeiro homem, filho de uma grande mulher jibóia e de Kémarin, o deus Kokama, uma pomba que se transformou em anjo.

Também há testemunhos sobre o universo a partir da cosmovisão dos wampis, nomatsiguenga, shiwilu, kichwa de Pastaza, tikunas e achuar.

E como é que com toda essa variedade mítica-existencial da selva acabou calando a palavra de Jesus de Nazaré? Dávila y Macera se aventuram uma resposta: "O Peru é um país onde a grande maioria de sua população experimenta uma ansiedade de salvação que, por ser sobretudo economica e social, termina sendo como uma salvação religiosa".

Fonte: La Zorra y el Cuervo e Javier Medina Dávila

Dignidade e Justiça contra o Racismo

Dia 21 de março é o Dia Internacional contra a Discriminação Racial. Dos 192 países que compõem a Organização das Nações Unidas (ONU), apenas 21 não ratificaram a Convenção Internacional para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, mas isso não impede que os que já assinaram tenham casos de violações aos direitos humanos por racismo.

A alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Louise Arbour, chamou os Estados membros que ainda não ratificaram a Convenção a fazê-lo, pois se deve reforçar as leis que protegem os direitos das vítimas de racismo, discriminação e xenofobia. "O racismo é a raiz de muitos conflitos", disse Arbour, que acrescentou ser essa forma de violência o fator que leva ao extremismo e todos os tipos de intolerância.

O tema do Dia contra a Discriminação Racial em 2008 foi "Dignidade e Justiça". Além de ser uma violação que fere a dignidade do ser humano individualmente, as práticas racistas põem em risco a paz e a segurança internacionais. "A discriminação é um obstáculo às relações amigáveis e pacíficas entre as nações", diz a Convenção para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial.

Por isso, a Convenção prega a "necessidade de se eliminar rapidamente todas as formas e todas as manifestações de discriminação racial através do mundo e de assegurar a compreensão e o respeito à dignidade da pessoa humana".

Mesmo condenando especialmente a segregação racial e o apartheid, o preconceito e a discriminação de um grupo em razão de sua raça ou etnia já não são mais as únicas formas da sociedade criar núcleos marginalizados. O homem também discrimina seu igual pelo fato desse ser um migrante, um portador de necessidades especiais ou um portador de HIV.

A Convenção ratificada por quase todos os países membros da Onu lembra que todas as doutrinas de superioridade fundamentadas em diferenças raciais são "cientificamente falsas, moralmente condenáveis, socialmente injustas e perigosas, e que não existe justificativa, onde quer que seja, para a discriminação racial, nem na teoria e tampouco na prática".

Os países que assinaram a Convenção têm o compromisso de não apoiar atos discriminatórios; ao contrário, devem implementar políticas especiais e concretas "para assegurar o desenvolvimento e a proteção de certos grupos raciais ou de indivíduos pertencentes a esses grupos com o propósito de garantir-lhes, em igualdade de condições, o pleno exercício dos direitos humanos".

A Convenção da Onu data do ano de 1963, quando alguns países, como a África do Sul - com o Apartheid - , viviam sob regimes explicitamente racistas. No entanto, décadas depois, os povos indígenas mapuches do Chile e da Argentina, migrantes haitianos na República Dominicana ainda enfrentam, por parte dos estados em que vivem, os mesmos problemas.

Fonte: ADITAL

27 de março de 2008

Os Guardiães da Floresta

O Programa para os Povos das Florestas (FPP) publicou duas novas notas sobre o Banco Mundial e seu controvertido Fundo cooperativo para o carbono dos bosques (FCPF por sua sigla em inglês) e sua “proposta” (já moribunda parece) para estabelecer uma Aliança Mundial Florestal (GFP por sua sigla em inglês). Os artigos sao:

El Fondo Cooperativo para el Carbono de los Bosques (FCPF): Una herramienta que menoscaba los derechos de los pueblos indígenas a sus tierras y recursos. Febrero de 2008 (archivo PDF)

Algunas opiniones de organizaciones de pueblos indígenas y organizaciones vinculadas a los bosques acerca del “Fondo cooperativo para el carbono de los bosques” y propuestas para una “Alianza Forestal Mundial” - Una encuesta mundial. Febrero de 2008 (archivo PDF)

O Fundo Cooperativo para o Carbono das Florestas foi formalmente sancionado pela junta do Banco Mundial em setembro de 2007. Foi lançado entre muita crítica pública e manifestaçoes indígenas em Bali em dezembro de 2007.

Desde entao, o Banco fez três “consultas” retroativas com algumas organizaçoes indígenas em três reunioes (Ásia, África e América Latina) em fevereiro e março. Nao está claro ainda o que passou. Informaçoes preliminares apontam que os povos indígenas nas reunioes criticaram fortemente ao Banco Mundial, e que o pessoal do BM nao soube responder muito bem. Parece que há muitas inquietaçoes por parte das organizaciones indigenas sem nenhuma respuesta efetiva ainda.

Sabemos agora que o BM admite que suas políticas nao estao conformes com a Declaraçao da ONU sobre os Direitos dos Povos Indígenas. Estao muito ansiosos acerca de como resolver o assunto, já que poderiao perder a possibilidade de capturar outras grandes quantidades de dinheiro para as florestas. Entretanto, o BM avisa que nao pode atualizar suas políticas facilmente, e portanto se encontra em um problema.

Fonte: Soberania e Servindi

26 de março de 2008

Os jardins reais de Tipón


Tipón foi um lugar importante e um adoratório maior mas proximidades da capital do império inca, onde se rendia culto à água com o cuidado e a veneraçao com que os incas tratavam a esse elemento. Apesar de que ainda restam muitos mistérios por desentranhar, a calma do lugar, o som da água e a sensaçao de estar próximo dos deuses, subjugam ao visitante.

A importância do lugar está assinalada na descriçao que fez o padre Cristóbal de Molina das notáveis peregrinagens místicas que os tarpuntays - sacerdotes incas - , realizavam antes do solstício de inverno para chegarem cerca ao lugar de saída do Sol. Se tratava de uma peregrinaçao de 100 quilômetros até o templo de Raqchi em Sicuanim visitando adoratórios dispostos em linha reta. Logo se percorriam outros 100 quilômetros de regresso a Cusco, seguindo uma linha que chegava a Mantocalla, o lugar onde os astrônomos imperiais observavam nas sucancas do leste as saídas do Sol, para definir a duraçao do ano e verificar as datas de solstócios e equinócios.

Este admirável recreio incaico se encontra assentado sobre uma superfície extremamente irregular. Nos tempos do incário nao existiam terrenos planos nem horizontales, tudo em Tipón foi modificado pelos empenhados habitantes do Tahuantinsuyo para satisfaçao de seu veterano e desluzido monarca Wiraqocha.

Fontes: Discover Cusco e Love Peru . Vejam fotos em Go2Peru. Para conhecerem Tipón, os leitores podem comunicar-se com Ronal Arana e sua proposta de Turismo Solidário na regiao do Sul do Vale Sagrado, à qual o autor deste blog se encontra doravante incorporado como capacitador de monitores de Educaçao Ambiental para as comunidades camponesas da área.

25 de março de 2008

Teddy Roosevelt na Amazônia

Theodore Roosevelt e Nhambiquaras, em 1914
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Em 1885, Teddy Roosevelt, o futuro presidente dos Estados Unidos, que invadiria Cuba na década seguinte, escreveu: "I don't go so far as to think that the only good Indians are dead Indians, but I believe nine out of every ten are, and I shouldn't like to inquire too closely into the case of the tenth." Ou seja, que nao chegava tao longe como para afirmar que o único índio bom é um índio morto, mas que acreditava que entre dez índios, nove índios estariam melhores mortos, e quanto ao décimo seria bom examinar bem a questao. Entre 1913 e 1914, quando visitou a Amazônia e conheceu os índios daqui, seu discurso parecia ser outro.
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"Theodore Roosevelt foi um personagem contraditório. Embora tenha sido acusado de belicista e colonialista, em 1905, patrocinou os acordos de paz entre a Rússia e Japão, encerrando a guerra russo-japonesa e instalando os Estados Unidos no âmbito das controvérsias internacionais, quebrando a doutrina do isolacionismo. Pelo feito de pacificador, em 1908 recebeu o Prêmio Nobel da Paz. Os Roosevelt formavam uma tradicional família de Nova Iorque, cujos membros mais destacados foram os presidentes Theodore e Frankling Delano, primos distantes. Teddy Roosevelt como era conhecido, foi atleta e possuía uma autoconfiança espantosa. Assumiu a presidência dos Estados Unidos em 1901, quando do assassinato de presidente William Mckinley, de quem era o vice. Nacionalista, impôs a política norte-americana no Caribe, inclusive ignorando as decisões do Senado norte-americano, que não aprovaria o seu projeto de intervenção na República Dominicana. (...) Era um aristocrata reformador, que desafiando as organizações racistas, recebeu na Casa Branca, o educador e líder negro Booker T. Washington. Também nomeou negros para o governo e perseguiu os trustes. Embora fosse entusiasta da caça, Roosevelt se antecipou aos movimentos ecologistas, apoiando a legislação em favor da conservação do patrimônio natural estadunidense e lançando um importante projeto de proteção florestal, que Nabuco, também um proto-ecologista, pensou que poderia ser copiado no Brasil. (...) Em 1914, o já então ex-presidente Roosevelt fez uma viagem ao interior do Brasil. Deixou seu nome num grande rio e numa vasta área da floresta. Na ocasião, conheceu Cândido Rondon."
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Comenta Nelson Faillace:
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Essa aventura foi denominada “Expedição Scientífica Roosevelt-Rondon”. Rondon tinha ainda a tarefa de produzir um mapa detalhado do Rio da Dúvida, que se supunha ser um afluente do Amazonas. É um sub-afluente e passou a chamar-se rio Roosevel, em homenagem ao visitante que buscava pesquisar a nossa fauna, patrocinado pelo diretor do museu de Nova Yorque. De retorno aos Estados Unidos escreveu ele o livro “Through the Brazilian Wilderness” ou, “Através do Sertão Brasileiro”. Porém “Teddy” foi atacado de malária, vítima de desidratação, teve uma perna infeccionada e quase perdeu o filho Kermit num acidente de canoa. Cinco anos depois faleceria e, como divulgou a imprensa americana, certamente de “amazonite”.
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"O governo brasileiro logo viu a enrascada que se meteu: o estrago de um ex-presidente morrer no país seria enorme - mas ele não estaria na companhia de um qualquer: Cândido Rondon, já na época uma lenda, o acompanharia. Os dois homens dividiriam o comando, mas Roosevelt insistiu em aceitar a maioria das ordens de Rondon, embora o ex-presidente ficasse impressionado com os brasileiros, o choque cultural, ainda mais com um homem como Rondon, um positivista e pacifista, foi se acentuando na expedição. (...) Participar de uma expedição da Comissão Rondon era considerado na época o equivalente a um castigo - e o futuro marechal só conseguia, na maioria das vezes, recrutar desajustados e pessoas que eram enviadas pelo exército como punição. Era quase uma sentença de morte acompanhar Rondon. A selva provocava doenças (e o isolamento impedia qualquer assitência), mas o comportamento de Rondon, admirado mas ainda assim incompreensível para Teddy, gerava mortes. Rondon levava a sério seu princípio “”morrer, se for preciso; matar nunca!”, e impedia que seus homens revidassem os ataques dos índios. Os nativos da região do rio da Dúvida (hoje rio Roosevelt, rebatizado contra a vontade do ex-presidente, que gostava do antigo nome) eram os cinta-largas. Noventa anos depois, esses índios massacraram 29 garimpeiros - assim dá pra ter uma idéia do perigo que a expedição correu."
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Fontes: Fundaçao Joaquim Nabuco, "Teddy Roosevelt and The Winning of the West" e Canaca. Leiam também: "Um Safari para Teddy Roosevelt", de Higinio Polo.

23 de março de 2008

Hanacpachap cussicuinin


Alegría del cielo
mil veces te adoro
árbol de frutos innumerables
esperanza de la gente
apoyo de los débiles a mi llamada

Escúchame, mi adoración que lleva a Dios por la mano, madre de Dios
a la paloma blanca, flor de "hamanqay"
mis curaciones mezquinas
a tu hijo, lo que le he proporcionado
muéstrale

(Trad: Bruce Mannheim)

Um canto processional do qual se cre é a primeira música polifonica composta no Novo Mundo. É parte do "Ritual Formulario e Instituciones de Curas" do sacerdote franciscano Juan Pérez Bocanegra, no idioma quechua do povoado de San Pedro de Andahuaylillas no Peru. Foi publicado pela primeira vez em 1631 para ser cantado pelos cantores quando entravam na igreja. Nao se conhece ao compositor desta obra polifonica, mas se supoe que foi composta por um estudante indígena instruído devido a que apresenta dissonancias nao preparadas e o uso nao muito ortodoxo de quintas e oitavas e sem vestígios pentafonicos próprios da música dessa época.

Fonte: Musica Peruana e YouTube

22 de março de 2008

Cobra Grande


É uma das mais conhecidas lendas do folclore amazônico. Conta a lenda que em numa tribo indígena da Amazônia, uma índia, grávida da Boiúna (Cobra-grande, Sucuri), deu à luz a duas crianças gêmeas que na verdade eram Cobras. Um menino, que recebeu o nome de Honorato ou Nonato, e uma menina, chamada de Maria. Para ficar livre dos filhos, a mãe jogou as duas crianças no rio. Lá no rio eles, como Cobras, se criaram. Honorato era Bom, mas sua irmã era muito perversa. Prejudicava os outros animais e também às pessoas. Eram tantas as maldades praticadas por ela que Honorato acabou por matá-la para pôr fim às suas perversidades. Honorato, em algumas noites de luar, perdia o seu encanto e adquiria a forma humana transformando-se em um belo rapaz, deixando as águas para levar uma vida normal na terra. Para que se quebrasse o encanto de Honorato era preciso que alguém tivesse muita coragem para derramar leite na boca da enorme cobra, e fazer um ferimento na cabeça até sair sangue. Ninguém tinha coragem de enfrentar o enorme monstro. Até que um dia um soldado de Cametá (município do Pará) conseguiu libertar Honorato da maldição. Ele deixou de ser cobra d'água para viver na terra com sua família.

Origem: Mito da região Norte do Brasil, Pará e Amazonas.

Fonte: Virgilio Vasconcelos

21 de março de 2008

Indígenas colombianos na linha de fogo


Uma cratera de mais de 20 metros de profundidade por uns 20 de diâmetro foi o que restou após a explosao de um arsenal em uma casa na vereda La María, corregimento de Tacueyó, na jurisdiçao de Toribío, norte do Cauca, Colômbia. Desde 1983 já foram treze ataques terroristas na zona, onde vivem cerca de 1500 indígenas.

O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICR) advertiu que a situaçao é complexa pois a populaçao fugiu para salvaguardar suas vidas, nao se podem realizar atividades agrícolas e terao perdas.

O governador de Cauca, Guillermo Alberto González Mosquera, denunciou às Farc por haverem violado o Direito Internacional Humanitário ao fustigar as ambulâncias que mobilizaram aos feridos pelo atentado em Tacueyó. Disse que no momento em que as ambulâncias procediam a evacuar às pessoas afetadas foram disparadas armas automáticas desde as montanhas vizinhas, impedindo a açao humanitária.

“Isto é tao criminoso como o feito que cometeram. Enquanto permaneça no Governo denunciarei ante organismos como o Tribunal de Haya todas as barbaridades destes terroristas“, disse González Mosquera.

Fontes: El Tiempo, El País e Prensa Rural

20 de março de 2008

Nhapopé



Composição de Heitor Villa-Lobos a partir da lenda indígena sobre o pássaro "Nhapopé". Performance ao vivo de Carlos Vitorino e Vagner Rosafa no espetáculo "Lendas Indígenas e Músicas Afro-brasileiras para canto e piano".
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Animação por:

Liberdade para o Tibete


O Dalai Lama afirmou nesta terça-feira que a situação no Tibete escapa de seu controle e ameaçou renunciar à função de líder espiritual dos tibetanos se a situação no território piorar, em uma entrevista coletiva em Dharamshala (norte da Índia).

"Se as coisas escaparem do controle, a opção é renunciar", declarou à imprensa, lembrando que já havia feito a promessa de deixar o posto durante ondas de violência precedentes. "Este movimento escapa do nosso controle", acrescentou.

O Dalai Lama disse ainda não estar em condições de dizer aos tibetanos que vivem sob o regime chinês que "façam isto ou aquilo".

A China afirmou hoje ter provas de que as revoltas em Lhasa na semana passada foram "estimuladas e organizadas pelo grupo do Dalai Lama" e pediu mais uma vez que o líder espiritual renuncie à independência do Tibete.

"Temos as provas, e os fatos demonstraram que estes incidentes foram estimulados e organizados pelo grupo do Dalai Lama", afirmou o primeiro-ministro chinês Wen Jiabao.

Em um sinal de aparente abertura, o líder tibetano convidou as autoridades chinesas para uma reunião com ele para investigar as acusações.

"Venham, por favor, investiguem os fatos. Os chineses podem vir e inspecionar tudo", disse.

Na mesma entrevista, o Dalai Lama, 72 anos, afirmou que chineses e tibetanos devem viver "lado a lado" e descartou nesta terça-feira incluir na agenda de eventuais discussões com a China a reivindicação de independência do Tibete.

"Temos que construir boas relações com os chineses", disse o líder espiritual do budismo tibetano à imprensa em Dharamsala.

"A respeito da violência, é algo ruim. Não devemos desenvolver sentimentos antichineses. Temos que viver juntos, lado a lado", acrescentou. "A independência é algo fora de discussão", completou.

O Dalai Lama adotou a visão, chamada de intermediária, que consiste em pedir uma simples autonomia cultural para o Tibete.

"Não cometam atos de violencia, é ruim. A violência é contrária à natureza humana. A violência é quase um suicídio. Mesmo que mil tibetanos sacrifiquem suas vida, não servirá para nada", declarou. "Se as paixões se acalmarem dos dois lados, poderemos trabalhar", concluiu.

A revolta em Lhasa contra a presença chinesa no Tibete deixou 13 mortos desde sexta-feira, segundo o balanço oficial de Pequim. Os tibetanos no exílio falam de 100 mortes.

Fontes: AFP, Friends of Tibet e AVAAZ

19 de março de 2008

8000 tambores em Sampa


CONVOCAÇÃO AOS Guerreiros do ARCO - ÍRIS, Guardiões da Terra, Filhos do Sol:

Este chamado é para todos os que se importam com o delicado momento Planetário!

Estaremos reunidos no ITA OCA - Casa da Pedra - na quinta, 20 de março, a partir das 19hs, para a Cerimônia dos Oito Mil Tambores, realizada em todo o Planeta e no dia 21 de março (sexta-feira) a partir das 16 horas para celebrar o Equinócio de Outono e a Lua Cheia (tempo de equilíbrio entre o dia e a noite, ideal para encontrarmos nossa missão pessoal e colocar as intenções para os próximos três meses).

PARTICIPE da cura da Mãe Terra!

Traga seu tambor para sintonizar com os ritmos cósmicos!

A profecia dos 8000 tambores

Pela cura da mãe Terra, pela vida e pela paz.

" Diante da grande ferida aberta na Mãe Terra ao redor de todo o planeta, os anciãos e anciãs sábios, guardiões da tradição Otomi Olmeca Tolteca Teotihuacana do México, enviam urgentemente essa mensagem ao coração e à consciência do mundo e de toda a humanidade:

" ...Os povos e nações indígenas, como guardiões da Terra, sabemos que os centros de energia e os campos vibratórios de várias regiões da Terra têm sido afetados consideravelmente pela perda do sagrado e pela desconexão com o espírito da mãe Terra. Como conseqüência, guerras entre grupos que ambicionam o poder e o controle do mundo, a discriminação racial, os genocídios contra povos indígenas, a contaminação e a devastação do planeta, com o conseqüente extermínio de plantas, animais e da espécie humana.

... É tempo de sentir, pensar, dizer e agir para transformar essa situação; é necessário gerar altas freqüências de vibração.

...Consideramos urgente fazer uma conexão com o poder energético e curativo do som cósmico; façamos sentir a medicina da vibração do som da humanidade através da voz com orações, com música, com canto, com instrumentos musicais cerimoniais como os tambores sagrados, incluindo o tambor de nossos corações. "

Como uma profecia revelada por nossos anciãos e anciãs sábios a toda a humanidade e como uma visão de nossos veneráveis ancestrais, o dia em que se reunirem os sons de 8000 tambores sagrados será o início da verdadeira cura da mãe Terra, de todas as espécies e da família humana, hoje em desequilíbrio total, para poder conviver com o caminho da paz sagrada. Em conexão harmônica com o universo, a mãe natureza, a comunidade, a família e com nosso próprio coração, esse é o tempo de juntarmos as sementes das quatro direções para reativar a
energia cósmica, curar as feridas históricas e a nossa mãe Terra, respeitando a vida, a liberdade e a dignidade de nossos povos.É por isso que chamamos a todas as famílias das quatro direções para nos unirmos para a cura das feridas provocadas na Terra por falta de conexão com o sagrado. Oremos juntos pela cura da mãe Terra, pela vida e pela paz.

A cerimônia dos 8000 tambores sagrados ajudará a regenerar um campo ilimitado de vibrações poderosas, um enorme efeito do som cósmico de alta freqüência se espalhando e ajudando a purificar e a harmonizar a Terra e a humanidade.

Com todo nosso amor, chamamos os guardiões da Terra, pela vida e pela paz, mulheres, homens, crianças, anciãos, jovens de todas as direções, todas as raças para afirmarmos a fraternidade humana, para que as gerações passadas, presentes, futuras saibam que existimos para honrar nossa missão de luz e amor; que nosso fogo sagrado se mantenha aceso e que nosso canto de vida floresça para sempre."

Mitakuye Oyasin! (Somos Todos Parentes!)
Tanya Ramalho


Espaço I.T.A. OCA - Casa da Pedra
Instituto de Terapias, Artes, Xamanismo, Ecologia, etc.
COCAR ECOS - Eco Loja: Reutilizados, Reciclados, Arte e Artesanato social e ecológico, artigos indianos e indígenas, etc.
Av Senador José Ermírio de Moraes, 1400
cont da Av Nova Cantareira - Serra da Cantareira - SP
Fones: (11) 2206-1958 ou (11) 2267-0391
e-mail: itaterapias@gmail.com

A Conquista do Dia

Urubu-rei (Sarcoramphus papa)

Lenda kamayurá:
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"No principio só havia a noite. Os irmãos Kuát e Iaê - o Sol e a Lua - já haviam sido criados, mas não sabiam como conquistar o dia. Este pertencia a Urubutsim (Urubu-rei), o chefe dos pássaros. Certo dia os irmãos elaboraram um plano para captura-lo. Construíram um boneco de palha em forma de uma anta, onde depositaram detritos para a criação de algumas larvas. Conforme seu pedido, as moscas voaram até as aves, anunciando o grande banquete que havia por lá, levando também a elas um pouco daquelas larvas, seu alimento preferido, para convencê-las. E tudo ocorreu conforme Kuát e Iaê haviam previsto.

Ao notarem a chegada de Urubutsim, os irmãos agarraram-no pelos pés e o prenderam, exigindo que este lhes entregasse o dia em troca de sua liberdade. O prisioneiro resistiu por muito tempo, mas acabou cedendo. Solicitou então ao amigo Jacu que este se enfeitasse com penas de araras vermelhas, canitar e brincos, voasse à aldeia dos pássaros e trouxesse o que os irmãos queriam. Pouco tempo depois, descia o Jacu com o dia, deixando atrás de si um magnífico rastro de luz, que aos poucos tudo iluminou. O chefe dos pássaros foi libertado e desde então, pela manhã, surge radiante o dia e à tarde vai se esvaindo, até o anoitecer. "

Fontes: Ventanas al Universo e Eronmania

Caucus em Brasília


"O Brasil possui a maior diversidade cultural da América Latina: São 230 Povos que vivem nas florestas tropicais da Amazônia, na caatinga do nordeste, no cerrado do Centro-Oeste, na mata atlântica do sudeste e nas matas de araucária meridionais. Trata-se de uma megasociodiversidade que fala 180 línguas, mas possui uma preocupação comum: qual será o futuro das nossas terras e águas tradicionais? Como proteger nossos conhecimentos sobre a biodiversidade que preservamos e conservamos em nossas terras, por tempos imemoriais?
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Os Povos Indígenas de todas as regiões do Brasil concordaram em encarar o desafio de entender melhor esse assunto e, ao longo de 2007, foram realizadas oficinas no âmbito do Projeto Eg to Jykrén: Pensando por nós, nas cinco regiões do Brasil.
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Foram 11 oficinas em que pensamos, discutimos em muitas línguas, como proteger Conhecimentos Tradicionais e a biodiversidade das nossas terras (porque não se podem separar nossos saberes das nossas culturas ou dos nossos territórios). Nas oficinas do Eg to Jykrén foram outorgados consentimentos, foram celebrados contratos, foram repartidos benefícios, houve parentes que se descobriram artistas de teatro, manifestou-se o pensar de muitos parentes, músicas foram compostas, opiniões e gerações diferentes se confrontaram, denúncias e declarações foram enviadas ao Governo Brasileiro, comprovando que nós pensamos e agimos com comprometimento, porque somos atores principais nessa discussão e não meros expectadores do que os Governos decidirão a respeito do nosso futuro.
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É hora de avançar e pensar um pouco sobre o cenário internacional que trata desses assuntos tão complexos e tão importantes. É hora de aprender o que é um Caucus, quem participa e como participar de uma COP, qual o estágio das discussões sobre alguns temas e quais as diferentes opiniões sobre estes temas estratégicos que afetarão cada parente em todo o mundo.
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Vamos colocar em prática no Caucus Indígena Internacional sobre acesso e proteção de conhecimentos tradicionais e biodiversidade alguns dos procedimentos comuns em uma reunião da CDB, vamos conhecer alguns dos personagens que escrevem as decisões do nosso futuro, vamos aprender a nos articular em função de interesses comuns e vamos mostrar a riqueza de nossas culturas e a diversidade do nosso pensar em nossos próprios eventos paralelos.
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Caucus designa a reunião de determinados grupos de países ou segmentos sociais que participam de uma reunião da Convenção sobre Diversidade Biológica, por exemplo, a reunião do grupo de países do continente africano que fazem parte da CDB é denominado “Caucus Africano”, de forma semelhante a reunião dos indígenas de vários Povos do mundo na CDB chama-se “Caucus Indígena”.
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Enfim, o Caucus reunirá muitos Povos de todos os ecossistemas brasileiros em um evento que falará línguas que as Nações Unidas desconhecem. Um Caucus de homens, mulheres, líderes tradicionais, especialistas indígenas, jovens, parteiras e anciãos para pensar no futuro da diversidade biológica, a partir da perspectiva da Megasociodiversidade nativa do Brasil.
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A II edição do “Caucus Indígena Internacional sobre Acesso e Proteção de Conhecimentos Tradicionais e Biodiversidade” será um evento preparatório à Nona Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica a ser realizado em Bonn, Alemanha, em maio de 2008. O Caucus será coordenado pelo Instituto Indígena Brasileiro para Propriedade Intelectual – INBRAPI, apoiado pela Fundação Ford, pelo Fundo Brasil de Direitos Humanos, Agência Norueguesa para Cooperação Internacional (NORAD), União Mundial para Conservação da Natureza (IUCN), Fundação Nacional do Índio (FUNAI), Ministério da Cultura e Ministério do Meio Ambiente no âmbito do Projeto Eg To Jykrén, no período de 25 a 27 de março de 2008, em Brasília (DF)".
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II CAUCUS INDÍGENA INTERNACIONAL SOBRE ACESSO E PROTEÇÃO DE CONHECIMENTOS TRADICIONAIS E BIODIVERSIDADE (Local e Data: Centro de Convenções Israel Pinheiro, em Brasília, de 25 a 27 de março de 2008).

PROGRAMAÇÃO PROVISÓRIA

25 de março de 2008 - 1º dia
(manhã)

08:30 às 10:00 - Mesa de abertura
Palestrantes: Daniel Munduruku (Diretor Presidente do INBRAPI); Ministério do Meio Ambiente (MMA); Fundação Nacional do Índio (FUNAI), Secretariado da Convenção sobre Diversidade Biológica.

Intervalo de 30 minutos

10:30 às 12:30 - Mesa 01 - Biodiversidade e Sociodiversidade: Histórico, evolução e perspectivas na CDB.

- Participação Indígena na CDB. Sofia Gutierrez (Secretariado da CDB)
Florina Lopez (Rede de Mulheres Indígenas sobre Biodiversidade).

- Artigo 8J e Disposições Conexas: Regime Sui Generis Esther Camac;
Cristina Azevedo (MMA-DPG)
ALMOÇO
EVENTOS PARALELOS

25 de março de 2008
(tarde)

14:30 às 16:00 - Mesa 02 - Artigo 8J e Disposições Conexas Preston Hardison
Código de Conduta Fernanda Kaingáng - (INBRAPI).

Intervalo de 30 minutos

16:30 às 18:30 - Mesa 03 - Áreas Protegidas- MMA - Diretoria de Áreas Protegidas
FUNAI - CGPIMA

25 de março de 2008
(noite)

Atividades culturais (grupo dos griôs e teatro Umutina).

26 de março de 2008 - 2º dia
(manhã)

08:00 às 10:00 - Mesa 04 - Acesso e Repartição de Benefícios
Histórico: evolução do Grupo de Trabalho ABS na CDB Preston Hardison

NOTA DESTE BLOG: As patentes no Brasil sao fornecidas pelo INPI - Instituto Nacional de Propriedade Intelectual, orgao governamental. As naçoes indígenas deveriam ter prioridade no processo de registro de patentes de seu conhecimento etnobotânico, sendo isentas de pagamentos em todos os procedimentos referentes. Se falta a criaçao da figura jurídica de "naçao indígena", esta deveria ser criada por lei federal, garantindo-se no caso das patentes concedidas a naçoes indígenas, direitos extensivos a todos os descendentes da naçao, negociáveis mas nao alienáveis (ou seja, se podem negociar a fabricaçao de medicamentos a partir destas patentes, por um tempo determinado, mas jamais podem ser adquiridos ou comprados de forma definitiva por qualquer empresa, nacional ou estrangeira). A questao é DESBUROCRATIZAR o registro de patentes para os indígenas brasileiros!!!

Fonte: INBRAPI

18 de março de 2008

Conflitos Interculturais

A Uniao Européia incorporou ao Município boliviano de Jesús de Machaca em seu projeto "Conflictos Interculturales: una respuesta democrática y participativa regional desde Bolivia, Ecuador y Perú (DDH/2004/89-126)". Neste marco, o CEBEM desenvolve trabalho junto às autoridades originárias. Conheça mais no site: Conflictos Interculturales

Mídias Nativas


Redes sociais digitais, videomakers, site de motoboys, literaturas e blogs, sites indígenas e portais da periferia, são estes os exemplos do advento de uma nova cultura midiática não mais baseada na forma comunicativa do espetáculo, mas caracterizada pela criação espontânea e coletiva de conteúdos e pela sua difusão nas redes, e de uma nova forma de cidadania em rede, que possibilita a tomada de decisões de forma colaborativa e a reversão de antigas formas de exclusão.
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A comunicação digital está redesenhando a forma de participação social, caracterizada por uma forma inédita de protagonismo comunicativo que supera as tradicionais separações entre centro e periferia, possibilitando, pela primeira vez na história, uma tomada coletiva de palavra que permite a cada sujeito criar o seu próprio conteúdo e difundi-lo, sem intermediários, pela Internet.
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Através das novas mídias, novos públicos estão surgindo, novos atores sociais, antes marginalizados, tornaram-se visíveis e ativos. É preciso ouvidos e olhares eletrônicos para ouvi-los e enxergá-los. É preciso uma nova forma democrática e uma nova territorialidade informativa para habitar estes novos horizontes sociais digitais, meta-geográficos e tecnologicamente vivos.
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Além de expor à reflexão essa nova forma tecnológica do social e esses novos protagonismos, a segunda edição do Seminário Mídias Nativas promoverá um debate entre os próprios comunicadores indígenas e jovens produtores da periferia e especialistas de diversas áreas, em uma iniciativa pioneira, idealizada pelo Centro de Pesquisa da Universidade de São Paulo Cepop/ATOPOS em colaboração com o LEER/FFLCH e a Aberje.

15 de março de 2008

Kreen-Akarore

KREEN-AKARORE (Carlos Drummond de Andrade)

Gigante que recusas
encaarar-me nos olhos,
apertar minha mão
temendo que ela seja
uma faca, um veneno,
uma tocha de incêndio;
gigante que me foges,
légua depois de légua,
e se deixo os sinais
de minha simpatia,
os detróis: tens razão.
Malgrado meu desejo
de declarar-te irmão
e contigo fruir
alegrias fraternas,
só tenho para dar-te
em turvo condomínio
o pesadelo urbano
de ferros e fúrias
em contínuo combate
na esperança de paz
- uma paz que se esconde
e se furta e se apaga
medusada de medo,
como tu, akarore,
na espessura da mata
ou no espelho sem fala
das águas do Jarina.

(In: Discurso de Primavera e Algumas Sombras, Ed. Record)

Peru ainda não pediu perdão aos povos indígenas

Detalhe de mural de Juan Bravo na Avenida El Sol, em Cusco
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La instalación del gobierno del Primer Ministro Kevin Rudd en Australia estuvo enmarcada por dos aspectos importantes: primero, el término del controvertido periodo de 12 años del ministro Jhon Howard, y segundo, la petición de perdón por los años de penuria y crimen cometidos por el estado a los pueblos indígenas y por la indignidad y degradación perpetrada sobre un pueblo y una cultura llenos de orgullo, y a las madres, padres, hermanos y hermanas, por romper familias y comunidades.

Howard durante su gestión (1996 a 2008) tuvo como hazañas el apoyar la guerra de Irak y Afganistán enviando fuerzas militares, alentar el desarrollo agropecuario y la extracción de uranio en territorios indígenas a pesar que una Resolución de la Corte Suprema reconocía sus derechos ancestrales. Por otro lado el gobierno de Howard encabezó con Estados Unidos, Nueva Zelanda y Canadá una fuerte campaña de confusión entre los estados para hacer fracasar la aprobación de la Declaración de los Derechos de los Pueblos Indígenas. No obstante el 13 de septiembre de 2007 la Asamblea General de la Naciones Unidas aprobó la Declaración con el voto en contra de estos cuatro estados.

El nuevo Ministro Kevin Rudd, ha dicho que solicitará a las Naciones Unidas que el voto de Australia sea incorporado a la histórica y justa declaración, y también destinó 50 millones de dólares para un programa que evite que el alcohol y otras sustancias nocivas dañen la salud de los pueblos indígenas.

El periodo de Generaciones Robadas en Australia se desarrolló aproximadamente desde 1910 a 1970 y consistió en separar las familias y enviarlas a distintos organismos del estado, haciendas y residencias con la finalidad de “civilizarlos”. Más de cien mil niños y jóvenes indígenas fueron víctimas de esta incalificable política.

Peter Smith directivo de la Comisión Ecuménica de los Pueblos Indígenas de Australia nos contó en un conferencia en las Naciones Unidas, que cuando era niño fue separado de su familia, al cabo de unos años fue invitado a una mansión donde encontró a una mujer indígena a quien le preguntó su origen y se enteró que pertenecían al mismo pueblo, y además que era su legítima tía quien fue separada de la familia cuando era niña.

Los pueblos indígenas de Australia alcanzan una población de 450 mil que representan el 2.4% de un total de 20 millones, quienes habitan Australia continental e insular. Hablan cerca de 250 lenguas y ocuparon estos territorios hace 50 mil años.

En 1787 llegaron de Inglaterra cerca de 200 mil europeos entre marineros, ladrones, criminales y opositores irlandeses. En poco tiempo los indígenas perdieron el 80% de su población víctimas de las incursiones de los colonos a sus territorios.

Los desplazamientos forzados y el genocidio tienen el mismo marco histórico tanto en Australia como en América salvo diferencias naturales.

Waldemar Espinoza nos relata que los Tallanes de Tangará del valle de Chira reclamaron robos y exceso de los soldados de Pizarro. El 19 de junio de 1532 los españoles los cogieron a todos y después de torturarlos los quemaron vivos en la orilla del río Chira. Tiempo más tarde Sebastián de Benalcázar en busca de oro y plata encontró en Quinche solamente a mujeres y niños debido a que los hombres combatían al lado de Rumiñahui, Benalcázar masacró a niños y mujeres indefensos con el objetivo de obligar el regreso de los combatientes. También dice Valdemar, que en 1539 Francisco Chávez fue comisionado para doblegar el movimiento indígena de los Conchucos, Chávez al encontrar solamente a niños , mujeres y ancianos los degolló a todos sin antes obligarlos a pronunciar dos palabras: ¡Jesús y Chávez!

La tesis central de Juan Ginés Sepúlveda – expone Rodrigo Montoya- fue justificar que la guerra contra los indios era justa, y dijo que es deber de los cristianos usar cualquier medio, incluso las amenazas y el terror para que se aparten de las torpezas y del culto a los ídolos.

Esta doctrina del terror del estado colonial pasó sin enmendaduras pero con actualizaciones al estado republicano. El despojo de las tierras por los terratenientes, la contaminación de los cuerpos de agua y de los pastos naturales por la minería, la fiebre del caucho y la práctica de los enganches y las levas convirtieron a los indígenas en carne de cañón en las guerras, como sirvientes y esclavos.

El mejor ejemplo de la doctrina de Juan Ginés Sepúlveda sigue imperando para los” bárbaros”, “impíos”, “imperfectos”, “necios” se encuentra en las declaraciones del subteniente EP Telmo Hurtado ejecutor de la masacre de Accomarca (1985): "tomé la decisión de eliminarlos porque había un número excesivo de ellos... verificamos que sólo quedaran cenizas y huesos calcinados". También dijo que la masacre fue de esta manera porque era el "sistema de trabajo en la zona de emergencia", se refería al Operativo Huancayocc.

Este testimonio es el mismo que hizo Francisco Chávez en 1539 cuando degolló y quemó a mujeres y niños indígenas. El 14 de agosto de 1985, las patrullas del subteniente EP Telmo Hurtado con 25 soldados entraron a Accomarca, allí, convocó a una asamblea en la plaza del pueblo y luego mataron y quemaron a 69 comuneros incluyendo 23 niños.

La participación del estado en el encubrimiento de este crimen de lesa humanidad no fue casual sino sólida y bien planeada y a todas luces era la misma política colonial ampliada y mejorada porque para el remate de los heridos Telmo Hurtado usó una granada de guerra, arma que en 1539 no tenía Francisco Chávez. Ninguno de los autores materiales e intelectuales de tan horrendo crimen ha sido procesado a la fecha, y todos ellos han continuado en el ejército con regulares y ventajosos ascensos, además de condecoraciones, facilidades para salir al exterior y uno de ellos para colmo, representa al Perú ante la Junta Interamericana de Defensa en Washington.

Perú y Australia tienen una misma horrenda historia en relación a la vida de los pueblos indígenas, si es verdad que el nuevo Ministro Kevin Hudd, como primer paso al inicio de su gobierno, conmocionó al mundo reconociendo la política de la barbarie contra el alma de la nación, es verdad también que los detalles de la ejecución de proyectos y programas para aliviar la pobreza de mas de 250 pueblos indígenas, la recuperación de sus tierras y territorios, el respeto a su identidad y derechos culturales esta por concretizarse.

Por lo contrario el estado peruano, se propone continuar con la política de Juan Gines Sepúlveda en 1550, y continuar reduciendo las tierras, los bosques, y los recursos naturales de propiedad ancestral de los pueblos indígenas, y por si fuera poco criminalizando sus protestas y matando a los manifestantes. En los últimos 50 años el estado ha facilitado más la desaparición de las lenguas indígenas que en toda la historia colonial y republicana juntas. Pero el problema del retroceso de las lenguas indígenas tiene otras implicaciones sumamente graves, desaparecen también otras costumbres como la asistencia comunal de ancianos y deshabilitados y el trabajo colectivo o ayni, la participación democrática de la mujer y el cuidado del medio ambiente. Además el alcoholismo, el abuso a la mujer y al niño fueron inexistentes en los pueblos indígenas.

El modelo agresivo de la ruptura de las bases sociales y económicas y el deterioro de los términos del intercambio han generado la extrema pobreza en el campo y en la ciudad.

El estado peruano ha consolidado su dominio en el ámbito educativo, ha estereotipado la discriminación como algo natural, las desapariciones de las nacionalidades.

Prácticamente los pueblos indígenas ya no tienen santuarios, centros sagrados, territorios, todos les han sido arrebatados o incinerados como lo hicieron los extirpadores de idolatrías. La llamada Ley de la Selva no es una excepción, todas las leyes que vendrán ahora estarán relacionadas a las tierras de los pueblos indígenas para venderlas o cederlas a la inversión privada externa.

La UNESCO y UNICEF han reconocido que el aprendizaje de la lengua materna indígena incrementa habilidades en el niño permitiéndole responder con mayor ventaja en la sociedad y si a esto sumamos que en toda lengua indígena las palabras se convierten en categorías universales ligadas a la protección del ambiente, y a su cosmovisión. Esto quiere decir que el estado cometió un crimen durante todo el periodo republicano al continuar con la política educativa colonial que buscaba la desaparición de las nacionalidades.

Si miramos un poco las cifras podemos observar que de acuerdo a la Comisión de la Verdad y Reconciliación CVR, existen 70 mil casos de violación de los derechos humanos de los cuales el 75% están referidos a pueblos indígenas que se mantienen en los niveles de pobreza y extrema pobreza. De estas violaciones solamente el 2% se están ventilando en el poder judicial.

Si la arrogancia australiana se allanó frente a las fechorías cometidas contra sus pueblos indígenas, creo que el estado peruano también debe pedir perdón por todos los crímenes, despojos y otras atrocidades cometidas durante el periodo republicano, y los organismos del estado deben aprestarse a una política de reconciliación y paz con bases concretas de justicia, devolución de tierras y territorios, santuarios naturales e históricos y la recuperación de naciones y lenguas a los pueblos indígenas.

* Artigo do Dr. Miguel Ibáñez, Professor Principal da Universidad Nacional Mayor de San Marcos em Lima e membro do Comité de la Década de los Pueblos Indígenas, ONU.

Fontes: Ecoportal e Comunidad Tawantinsuyu

12 de março de 2008

Paz para a Coca e Coca para a Paz

Peitoral nariño (Colombia). Se observa na bochecha o volume que indica a mascaçao da folha de coca.


O Colégio de Biólogos de Cusco declarou que mascar folhas de coca nao produz dependência nas pessoas, em resposta à ONU, que recomendou aos governos do Peru e Bolívia a paulatina erradicaçao deste costume ancestral.

Eduardo Gil Mora, decano de dito colégio profissional, afirmou que a mascaçao de folhas de coca, por suas virtudes vitamínicas e energizantes, nao produz nenhuma dependência, e menos ainda o consumo do mate de coca.

“Até onde se sabe, nenhum médico proíbe a seus pacientes tomar mate de coca como o fazem com o café”, manifestou. “Na realidade, o narcotráfico é a ovelha negra da coca, mas devemos ser enfáticos em dizer que a coca nao é cocaína; a cocaína é apenas um alcalóide dos 14 que possui em sua composiçao a folha de coca, que sao compostos nutritivos, proteínas, vitaminas e minerais como o cálcio.”

“A folha de coca – acrescentou – é uma excelente medicina para o sistema digestivo, acaba com a síndrome de altura, combate o esgotamento físico, cólicas, dor de dentes, dores reumáticas; em forma de emplastros cura feridas e tem açao antisséptica, e combinada com outras plantas medicinais cura desde a dor de cabeça, reumatismo, dor de garganta e ronqueira, até a diabetes.”

Por estas consideraçoes, recomendou que, a margen de valorizar a coca como símbolo cultural tradicional, é necessário impulsar sua industrializaçao e que tanto a Dirección General de Salud e a Dirección General de Medicamentos, Insumos y Drogas decidam apoiar os esforços da Empresa Nacional de la Coca peruana e de muitos pesquisadores, possibilitando ampliar seu uso como energizante, antioxidante e fonte de minerais.

Lembrou que quando as folhas estao verdes se podem consumir em saladas, máxima fonte antioxidante; a folha seca serve para o "chacchado"; a folha seca, torrada e moída, como fonte direta de nutrientes e energia; assim como em infusao para queimar gorduras e ademais como antidepressivo.

Ressaltou a obrigaçao da comunidade internacional e dos meios de comunicaçao em destacar as bondades da coca, fazendo o respectivo deslinde quanto ao narcotráfico, combatendo esta atividad delinquencial; mas de nenhuma maneira propondo a erradicaçao dos cultivos, porque seria como querer combater o alcoolismo erradicando os cultivos de uva ou cana de açúcar.




8 de março de 2008

A coca na encruzilhada da história


O que a ONU está pedindo é que o Governo da Bolívia adote medidas para proibir a utilizaçao de coca como chá e o hábito conhecido como "pijchar" ou "acullicar". O Executivo boliviano criticou o pedido e disse que se reafirmará o significado cultural da coca. É incrível que tal aconteça quando há poucos meses comemoramos a vitória da Declaraçao dos Direitos dos Povos Indígenas pela mesma ONU, Declaraçao esta que o congresso boliviano foi o primeiro do mundo a ratificar. Tal situaçao non-sense se deve a Convençao de 30 de março de 1961, em Nova York, Estados Unidos, que contou com a participaçao de todos os Estados membros da ONU; nessa ocasiao se chegou a conclusao que se deveria ter sobre estupefacientes, entre eles nomeada a coca e nao a cocaína que é o verdadeiro produto industrial entorpecente. O JIFE assinala agora que a prática de mascar coca deveria ter sido abolida, nos países em que existisse, no decorrer dos 25 anos seguintes à entrada en vigor da Convençao de 1961: sendo assim, se deveria haver posto fim a essa prática cultural em 1989.

Sexta-feira dia 7, o Governo boliviano firmou dois convênios com a Comissao Européia com a finalidade de apoiar o Plan Nacional de Desarrollo Integral con coca e o Control Social de la producción de la coca. Tais projetos estao financiados por 36 milhoes de euros. Neste marco, o ministro de Governo, Alfredo Rada, criticou o pedido da JIFE-ONU e assegurou que, se entrasse em vigência, seria um atentado contra a cultura histórica da Bolívia. Segundo ele, na estratégia boliviana “se reitera a firme posiçao do Governo contra a fabricaçao e o tráfico ilícito de cocaína e contra as organizaçoes delinquentes envolvidas. Também se acolhe com beneplácito a decisao do Governo de fortalecer o mecanismo de vigilância e controle do cultivo de coca”.

“Eliminar o consumo de coca seria acabar com grande parte da cultura boliviana e nossa própria vida”, declarou o ministro Alfredo Rada. Neste momento crucial, em que um acordo de 1961, criado em consequência do pensamento conservador e etnocêntrico daquele tempo, parece poder ter influência nefasta contra um dos cernes da cultura andina como um todo, nos perguntamos até que ponto a populaçao mundial estará disposta a defender a liberdade de uma cultura ameríndia de milhares de anos. Se nada fizerem os ativistas e organizaçoes, estarao sendo cúmplices de um grande etnocídio. Espero sinceramente que abram os olhos a tempo, para depois nao serem culpáveis de tamanha omissao.
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Leiam sobre a Legislaçao Internacional da Coca em: Coca Soberania

As idiotices da ONU

Miguel Quispe e sua coca - foto de Martín Chambi, 1933

A congressista indígena, María Sumire de Conde, expressou seu mais enérgico rechaço ao pedido formulado por um organismo das Nações Unidas aos governos do Peru e da Bolívia de proibir a prática de mascar a folha de coca, bem como o uso industrial dessa planta. "A Junta Internacional da Fiscalização de Entorpecentes (Jife) da Onu faltou com respeito aos povos originários do Peru e da Bolívia que consomem a folha desde tempos imemoriais", disse a legisladora do Partido Nacionalista.

O organismo das Nações Unidas apresentou no último dia 4, em Bogotá, seu relatório anual 2007 onde pede aos governos da Bolívia e Peru para que adotem medidas, sem demora, para abolir os usos da folha de coca, incluindo a prática de mascá-la. Para a Jife, a mastigação da folha de coca teria um impacto no aumento do uso de drogas, especialmente entre os jovens.

Em resposta a estas polêmicas observações do organismo da Onu, a congressista Sumire disse que se desconhece os costumes ancestrais das comunidades camponesas com relação ao uso da folha de coca para fins medicinais, em seus trabalhos agrícolas e em suas práticas cerimoniais. Disse que a utilização da folha de coca é anterior a qualquer distorção que se registra hoje na sociedade atual.

Sobre o uso industrial, disse que no Peru e Bolívia, a folha de coca é usada amplamente como infusão e também na produção de pastas de dentes e com fins medicinais. Acrescentou que se se afirma que a folha induz ao vício também haveria de proibir a venda da uva ou da cana de açúcar, pois supostamente induziriam ao alcoolismo.

Para os povos originários, acrescentou, a coca é a folha sagrada e faz parte de sua identidade cultural. É usada nas cerimônias ancestrais, nos batismos e nos trabalhos agrícolas. Por isso, esse pedido da Jife merece nosso rechaço - concluiu.

A Asociación Boliviana de Información noticiou a respeito:

¨En la Reunión de las Naciones Unidas, que se realizará el lunes en Viena, Austria, la delegación boliviana defenderá la hoja de coca, rechazará la prohibición de la práctica del acullicu y planteará su despenalización, anunció el viceministro de Coca y Desarrollo Integral, Jerónimo Meneces.

"El objetivo central del Gobierno, es que la coca sea retirada de la lista de sustancias ilícitas de la Convención de la Organización de Naciones Unidas (ONU) y no se la siga penalizando", enfatizó la autoridad.

La delegación estará integrada por el viceministro de Relaciones Exteriores, Hugo Fernández, y el viceministro de Defensa Social, Felipe Cáceres, quienes rechazaran el informe anual sobre drogas 2007, de la Junta Internacional de Fiscalización de Estupefacientes (JIFE) de la ONU.

Explicó que la delegación oficial del Gobierno estará en Viena para plantear la despenalización de la coca, explicando y dando a conocer las sustancias nutritivas que tiene esta milenaria planta.

Insistió que uno de los objetivos de la asistencia boliviana en la reunión de la ONU que se realizará en Viena, Austria, es plantear la despenalización de la hoja de coca, como una de las principales inquietudes y políticas del presidente Evo Morales y, en ese marco, se demandará que se publiquen las investigaciones que realizó la Organización Mundial de la Salud (OMS) sobre la hoja.

Sobre la exhortación que hace la JIFE a los gobiernos de Bolivia y Perú de adoptar medidas para prohibir el consumo de mate de coca y el hábito tradicional del "acullicu" o "pijcheo", Meneces, dijo estar sorprendido por esa decisión, tomando en cuenta que el 2007 llegó al país, una delegación de la organización y conoció el significado que tiene la hoja de coca para los bolivianos.

"Sin embargo, consideramos que esta petición es fruto de la ignorancia y de la mentalidad arcaica de la FIJE", puntualizó el viceministro de Coca y Desarrollo Integral.
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Fontes: Adital, Peru 21, Portal Latino e ABI.

7 de março de 2008

A Liberdade e o Pijcheo


"Pijcheo de la hoja de coca en la cosmo-convivencia andina y el ayni eco-biótico", por Simón Yampara H, Assesor de Gestao Cultural do Governo Municipal de El Alto - Bolívia.

A recomendaçao da ONU e do organismo JIFE, para que se proíba o "pijcheo" da folha de coca no Peru e Bolívia, nao apenas é preocupante, mas sobretudo atentatório, genocida e etnocidiário contra os povos do Tawantinsuyu e do continente Abya-yala. Nos faz lembrar as práticas da inquisiçao religiosa colonial, com pressupostos e valores jurídicos da invasao colonial, de domínio, controle espacial e dos povos, atualizada, “modernizada” no século XXI. Afinal, os direitos dos povos atávicos do Tawantinsuyu, do continente Abya-yala continuam encobertos pela invasao e o “descobrimento” da América. Por que? Por que a orientaçao da “geopolítica do conhecimento” e da “colonialidade do saber”, vêem como perigo o questionamento e despertar dos povos do Abya-yala sobre o exercício de seus direitos, com relaçao ao controle do território, dos recursos naturais e por consequência o negócio (mercado) dos recursos e do cultivo da riqueza no mundo e na regiao. Ou seja, a nova estratégia econômica de ordem alotrópica [como os sistemas de qhathus] destes países pela composiçao majoritária de povos “indígenas”, onde as folhas da coca e o pijchu/akulliku [nao mastigado] sao parte da cosmo-convivência andina destes povos e prática do ayni/reciprocidade da comunidade dos mundos eco-bióticos naturais que tem a ver com o paradigma de vida do suma–qamaña dos povos indígenas, que lamentavelmente pelo encobrimento histórico e a “cegueira cognitiva” dos cientistas do sistema, nao se entende nem se quer entender, mas que entretanto, rompe e prejudica a dinâmica projectiva do pachakuti destes povos. Melhor dizendo, continuar com a hegemonia, o domínio dos pressupostos jurídicos e valores da matriz civilizatório-cultural ocidental e a perpetuaçao do encobrimento dos valores e pressupostos jurídicos emergentes da matriz civilizatório-ancestral milenar, cujo celeiro está em tiwanaku e inkario.

A cosmo-convivência andina e o congraçamento de seus povos e destes com os diversos mundos da comunidade eco-biótica natural, tem que ver com o ayni/ reciprocidade emulativa das energias espirituais para a materialidade das coisas, na vida dos povos indígenas, onde os mestres yatiris, chamakanis, os kallawayas, sem o pijchu e as folhas da coca, nao poderao desenvolver suas atividades cotidianas que têm a ver com a saúde integral dos povos. Melhor dizendo a saúde físico-material e espiritual. E mais, nem a constituiçao dos novos casais–jaqicha- poderá se realizar entre as familias dos aymara-qhichwa. Da mesma maneira nao poderao fazer jornadas nem cultivos agropecuários, mineiros e as celebraçoes festivas que se fazem ao longo do calendário agropecuário, social e cultural do congraçamento eco-biótico destes povos. Quer dizer que nao apenas querem afetar a dimensao da espiritualidade da vida destes povos, mas também querem acabar fazendo um genocídio e etnocídio com a vida e a dinâmica destes povos. Parecem nao ter consciência humana apesar de apregoarem os direitos humanos universais, pois querem acabar com gentes que sim, geram valores cosmogônicos saludáveis para a humanidade e aportaram alimentos valiosos para a humanidade como as variedades de batatas, a quínua e nos últimos tempos com a fibra e a carne dos camêlidos/auquênidos andinos.

Agora sim cuidado com a produçao, o mercado da cocaína e as açoes do narcotráfico, onde apesar que as folhas da coca sao a matéria prima preferida, nao é única nem insubstituível, se esta é a preocupaçao. Naturalmente detrás disto está também um caudal considerável do movimento econômico-financeiro, até motivos políticos e de castas sociais familiares que abusam da pobreza material de setores dos povos indígenas, sob sistemas de colonialismo e práticas enredadas de corrupçao, muitas vezes com pretextos de controle desta produçao e programas de desenvolvimento alternativo que em mais de 30 anos com um orçamento consideravel, nao se vêem resultados favoráveis, menos cultivos realmente alternativos para substituir o cultivo das folhas de coca. Eles enquanto siga sendo altamente competitivo o cultivo das folhas de coca, no mercado aberto transnacional, e haja maior demanda de consumidores dos países chamados do primeiro mundo, continuarao a produçao da folha milenária. Isso por sua vez, tem a ver com a galopante desocupaçao e pobreza dos países como Peru e Bolívia.
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Entao isto da recomendaçao da ONU e JIFE, deve ser considerada como um alerta vermelho para os Estados andinos, que merece un tratamento urgente, se nao queremos perder a dignidad cosmo-convivência da cultura dos povos andinos e assim melhor pensar em uma estratégia de geraçao e reproduçao de valores cosmogônicos, de economia e dignidade dos povos quanto aos encontros intercivilizatórios no mundo, frente à globalizaçao do capitalismo e a consequência do aquecimento global do planeta. Nao vejamos a vida como pura expressao da materialidade e do circulante do capital das coisas. Isso é economicídio com açoes de politicídio, pois esta vai em matrimônio institucionalizado/interatuado com a dimensao da espiritualidade na vida dos povos andinos, cuja emulaçao e saúde dependem do uso das folhas de coca nas açoes celebratórias do pijcheo, que emula, regula as energias da vida.

Altu-Pata, 5/03/08

Fontes: Ukhamawa e Chirapaq.

2 de março de 2008

Esperanza


El Qosqo, capital histórica do Peru, está retratada em sua forma de puma ao centro deste cartaz que mostra o mapa da América do Sul dividida entre as quatro regioes do antigo Império dos Inkas: Kuntisuyu, a sudoeste; Qollasuyu, a sudeste, Antisuyu, a nordeste; e Chinchaysuyu a noroeste. "Todos os caminhos levam a Cusco", é o slogan do Instituto Nacional de Cultura (Ministério peruano da Cultura), promovendo uma releitura da abrangência espacial do projeto político incaico. Hoje Lima é a capital-metrópole que centraliza toda a atividade polìtica peruana, e por isso conexoes internas entre suas regioes nem sempre sao priorizadas, tarefa esta que espero poder estar desenvolvendo em breve através de organizaçoes nao-governamentais sediadas em Cusco.
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Eu, Eduardo Bayer, cheguei nos Andes por primeira vez em dezembro de 1992, seguindo os conselhos de meu amigo Alain Godefroy, mas daquela vez foi uma rápida passagem por Cusco, pois o Natal fui passar em Puno junto ao Lago Titikaka, para depois receber o Ano Novo na praia de Ilo, em frente ao Oceano Pacífico. Em janeiro de 1995 regressei, buscando dessa vez através do Instituto Khipu conseguir residir na cidade para coordenar um Convênio Cultural existente entre a Región Inka (hoje Región Cusco) e o Estado do Acre. A partir de entao, durante um ano e meio estudei Administraçao de Negócios Internacionais, enquanto atuava como Coordenador de Eventos Culturais da Associaçao Internacional de Artistas Plásticos Bolpebra. Na época os entraves burocráticos eram muitos, e o governo do Acre pouco interessado. Consegui uma bolsa para uma especializaçao em Integraçao e Políticas Agropecuárias do Mercosul, na distante Universidade de Santa Maria no Rio Grande do Sul, e me mudei para lá, onde estudei principalmente o setor florestal do bloco econômico. Depois ingressei para estudar Engenharia Florestal na mesma universidade, e em 2004 vim fazer meu estágio profissional em Cusco, dedicado à cultura do carmim-de-cochonilha nas comunidades camponesas de Cusco e Apurímac. Agora, eis-me de regresso à sede do Tawantinsuyu.
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Como em maio de 1992 eu estava na Área Indígena Alto Purus, no Brasil, participei com meus compadres hunikuins do plebiscito que fundou a cidade de Santa Rosa do Purus, limítrofe com o território peruano. Estive catorze anos distante das aldeias kaxinawá, e retornei em 2006 como pesquisador da Fundaçao Elias Mansour (antiga Fundaçao Cultural do Estado do Acre) a fim de fazer o inventário da produçao de artesanato das aldeias do Alto Purus. Estive na campanha de meu amigo txai Sian (Osair Sales), pelo Partido Verde, mas havia tal desuniao entre os índios que candidatos da pequena burguesia ribeirinha tiveram mais sucesso que o parente indígena com o qual poderiam falar na mesma língua. Participei de reunioes com as lideranças das aldeias, conversei também com os caciques no Peru, discutindo o tema da comercializaçao de seu artesanato, e fui testemunha das eleiçoes em urna eletrônica que pela primeira vez se realizaram naquela Área Indígena, na Aldeia Nova Fronteira. Mesmo afastado deles no momento atual, aqui em Cusco espero poder alavancar a comercializaçao de seu rico artesanato textil com etnografismos ímpares conhecidos como "kene" e no Brasil em processo de tombamento como patrimônio cultural de sua naçao ameríndia.
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De Puerto Esperanza, município peruano que sedia o Departamento de Alto Purús, e pertence à Región Ucayali, cuja capital é Pucallpa, há notícias de que sua populaçao busca sair do isolamento conectando-se por rodovia à Rodovia Trans-Oceânica que passa por Madre de Dios. Como recentemente aí se inaugurou o Parque Nacional Alto Purús (local da maior biodiversidade de fauna e flora da América do Sul), estamos aqui em Cusco tratando de fazer um projeto de Turismo Solidário para aquele município que por ligaçao aérea fica mais próximo de Cusco que de Pucallpa, sua capital. Havendo aí um hotel de selva como os de Madre de Dios (conhecidos como "jungle lodges") poderemos ter vôos entre Esperanza e Cusco, abrindo canais para a melhoria das condiçoes de vida das populaçoes indígenas ali presentes, principalmente, onde há muitas vítimas de preconceitos culturais e racismos. Esta a nossa grande esperança, que a mim sobremodo me interessa pela possibilidade de também cooperar com o desenvolvimento de projetos nas aldeias brasileiras.
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Em julho de 2007, a Associaçao indígena ECOPURUS, Executora do Contrato de Administraçao da Reserva Comunal Purus, rechaçou a iniciativa de fazer a estrada Purus - Iñapari “porque terminará com nossas florestas e nossas vidas de indígenas do Rio Alto Purus”. Denunciaram entao que está em perigo nao apenas a reserva comunal mas também o Parque Nacional Alto Purús que é patrimônio de todos os peruanos, assinalando que existem interesses de lucro por trás da iniciativa pró-rodovia. Oxalá outras alternativas de desenvolvimento sustentável possam vir a ser consideradas doravante.

Declaración de Gastabala: ¡No pasara el Proyecto de Ley Nº 14369!

Rechazamos la iniciativa legislativa de hacer la carretera Purus - Iñapari porque terminará con nuestros bosques y nuestras vidas de indígenas del Río Alto Purus.

La Asociación indígena - Ejecutor del Contrato de Administración de la Reserva Comunal Purus- ECOPURUS, se dirige a los comuneros del Purus, a la Región Ucayali, al Gobierno Peruano, al Congreso de la República del Perú, a todo el pueblo peruano y el mundo para dar a conocer lo siguiente.

1. El Parque Nacional Alto Purus es el último bosque que todavía tenemos conservado porque aquí vivimos pueblos indígenas Juni kuin (Cashinahua), Sharanahua, Culina (Madija), Mastanahua, Chaninahua, Yine (Piro), Amahuacas; Ashaninka, juntos representamos a la población mayoritaria (85 %) en toda la provincia. Del mismo modo estos bosques son el territorio de nuestros hermanos indígenas llamados Mashcos, Mashco Piros y Curanjeños, quienes por libre determinación han decidido continuar su vida libre en el bosque.

2. Por Decreto Supremo Nº 040-2004-AG, el Supremo Gobierno del Perú creó la Reserva Comunal Purus (RCP) y el Parque Nacional Alto Purus (PNAP); la primera, para beneficio de todas las comunidades del Purus y el segundo para proteger los bosques que habitan nuestros hermanos indígenas en aislamiento voluntario, proteger su integridad física y cultural; además de ser un sitio de fuente de agua y lugar de reproducción de los recursos naturales de los cuales depende nuestra existencia.

3. Que agentes con intereses económicos en los recursos naturales, madereros, colonos y un sector de la iglesia Católica de Puerto Esperanza y Madre de Dios, tomando la representación sin autorización de los pueblos indígenas del Purus, vienen participando en comisiones de negociación para que el gobierno autorice una carretera que atraviese nuestros territorios, nuestra Reserva Comunal y el Parque Nacional Alto Purus, patrimonio de todos los peruanos; hecho que rechazamos por no ser consultados con un debido proceso.

Porque sabemos muy bien lo que significa la civilización de la carretera: destrucción de nuestros bosques, de nuestra reserva, invasión de nuestros territorios, depredación de nuestros recursos naturales, animales y plantas y nuestra existencia como pueblos originarios del Purus. De todo esto existen experiencias muy trágicas en otras partes de la amazonia.

4. Las Comunidades de la provincia del Purus no queremos y rechazamos la civilización que trae la carretera porque estamos protegiendo nuestros bosques y rios; estamos preparándonos para aprovechar sosteniblemente los recursos naturales que Dios nos ha dado para mantener nuestra familia con nuestros productos.

Nosotros nos preguntamos ¿carretera… para qué?, ¿los indígenas necesitan ir a la ciudad de los mestizos? , este es nuestro mundo donde vivimos tranquilos, la carretera es para las máquinas de los mestizos, de empresas, de millonarios y madereros que quieren acabar nuestros recursos; nosotros pensamos que la carretera perjudica la vida misma de las comunidades; vivimos dignamente con nuestros recursos naturales que todavía tenemos en abundancia.

5. Sobre los hermanos indígenas que viven libremente en el bosque manifestamos que ellos tiene derecho a vivir sin perjudicarlos ni destruir su vida porque asi les ha dado Dios.

6. Manifestamos a todos los agentes y grupos interesados en el Purus que nuestro territorio esta parcelado y titulado para los indígenas, su Reserva Comunal y el Parque Nacional Alto Purus para beneficio de todos los peruanos. Alto Purus es territorio indígena.

7. En la comunidad Sharanahua de Gastabala, rió Purus hoy, acabamos de inaugurar un Centro de Vigilancia Comunal para organizar el cuidado de nuestra Reserva Comunal en acuerdo con autoridades de INRENA. Nosotros creemos en otro tipo de desarrollo en armonía con nuestra forma de vivir.

8. Pedimos a nuestro gobierno del Dr. Alan García Pérez que nos escuche y que nos atienda con mejores escuelas, mejores maestros, mejor atención en la salud; necesitamos capacitación para mejorar nuestras fuentes de energía y manejar sosteniblemente nuestros recursos en las comunidades, soñamos que nuestros jóvenes son profesionales aquí en la Universidad Indígena del Purus para integrarnos en igualdad con el mundo de afuera.

9. Convocamos a las organizaciones indígenas del Perú y a nivel internacional, que escriban a nuestro Presidente, en apoyo a nuestra causa, porque somos fuertes y solidarios.

10. Alertamos a las autoridades y población de las comunidades no firmar documentos sin ser informados y consultados por comisiones de Puerto Esperanza que están visitando nuestras comunidades.

¡No queremos más civilización con carretera porque nos están acabando!

¡No queremos carreteras porque los indígenas no somos comerciantes, ni madereros!

¡Queremos seguir viviendo dignamente!

Gastabala, río Purus, julio del 2007. Consejo Directivo de Ecopurus

Para mais informaçoes: Parks Watch, Forest Peoples, Palabra Viva e SERVINDI. Leiam também "Alto Purús: Bello y Maldito", de Diego Shoobridge Borno.