15 de março de 2008

Kreen-Akarore

KREEN-AKARORE (Carlos Drummond de Andrade)

Gigante que recusas
encaarar-me nos olhos,
apertar minha mão
temendo que ela seja
uma faca, um veneno,
uma tocha de incêndio;
gigante que me foges,
légua depois de légua,
e se deixo os sinais
de minha simpatia,
os detróis: tens razão.
Malgrado meu desejo
de declarar-te irmão
e contigo fruir
alegrias fraternas,
só tenho para dar-te
em turvo condomínio
o pesadelo urbano
de ferros e fúrias
em contínuo combate
na esperança de paz
- uma paz que se esconde
e se furta e se apaga
medusada de medo,
como tu, akarore,
na espessura da mata
ou no espelho sem fala
das águas do Jarina.

(In: Discurso de Primavera e Algumas Sombras, Ed. Record)

Nenhum comentário: