28 de abril de 2009

Encantes encantados

O Japim - Cacicus cela. foto: Birds in Suriname

“(...) os Ashaninka do alto Juruá têm uma consideração muito especial por toda a família dos japós. Em seu conjunto (que abarca a família Icteridae), os japós são chamados pelo nome genérico txowa, que designa também uma espécie particular, o Psarocolius sp. Todos os japós são humanos. Isso todo mundo percebe, já que eles vivem em sociedade, e tecem seus ninhos: são, em suma, tecelãos como os Ashaninka. Os xamãs que, sob efeito do ayahuasca, sabem ver de forma adequada, comprovam essa condição humana dos japós: vivem ao modo dos homens, cultivam mandioca, bebem kamarãpi (ayahuasca), bebem cerveja de mandioca (caiçuma). São inclusive superiores aos homens, na medida em que observam a paz interna e vivem sem discórdia. São os filhos que Pawa, o sol, deixou na terra, são os filhos da ayahuasca. Entre os japós, pássaros tecelãos, o tsirotsi ou japim (Cacicus cela) ocupa uma posição particular e suscita um interesse muito especial. Os tsirotsi vivem em bandos de uns trinta pássaros, particularmente associados, e tecem seus ninhos muito perto uns dos outros em uma mesma árvore. Escolhem a árvore por ela abrigar ninhos de certas vespas ou formigas cuja picada é especialmente dolorosa. É esta, diz-se, a sua polícia, que os protege dos predadores, como o gambá, por exemplo. Os tsirotsi são pacíficos e só se tornam ferozes quando é o caso de defender os ovos brancos com pintas contra a cobiça dos tucanos e dos araçaris. O macho e a fêmea guardam os ovos juntos, mas só a fêmea trabalha, ao passo que o macho canta. Nada disso é muito excepcional entre os japós. O que no entanto distingue os japins de todos os outros pássaros é a capacidade que lhes é atribuída de imitar os chamados e os ruídos que escutam, sejam estes os cantos de outros pássaros, o tambor dos Ashaninka, o latido dos cães ou o choro das crianças (...)”.

Fonte: Carneiro da Cunha, Manuela. “Xamanismo e Tradução”. A versão original deste artigo foi apresentada como conferência anual Robert Hertz, a convite da Association pour la Recherche em Anthropologie Sociale, em Paris, em junho de 1997, e publicada na revista Mana.

Da espuma do mar


Uma história muito importante e bem menos conhecida, que me foi passada pelo Prof. Enrico Clemente Mattievich Kunich, eminente Físico e Arqueólogo e que consta na sua obra “Viagem ao Inferno Mitológico”, especificamente detalhada no capítulo VI – “Cadmo Vence a Serpente Geográfica”, onde temos a ligação da palavra Brasil a uma antiga cidade grega chamada Brasiae.

Contemporânea do legislador Sólon que era avô de Platão, que se declarava “um Homem Lacônico” embora não tivesse nascido lá (...) por causa do modo de vida com que era conhecido este pedaço da Grécia. Este modo de vida muito austero é que deu lugar ao termo “vida espartana”, que significa – vida rigorosa e sem luxo algum. O nome antigo de Lacônia foi citado por Homero com o epíteto de “A Amável Lacedemone”. Parecia pelas indicações dos versos um lugar agradável e de belas paisagens. (...) No meio de Lacônia, a Oeste do que foi a cidade de Brasiae, está Esparta, banhada pelo rio Eurotas. Seus habitantes, chamados “espartoi”, se diziam ser “homens semeados” (...).

Narravam os habitantes da cidade de Brasiae, que a filha de Cadmo, Sêmele, após ter de Zeus seu filho Dionísio, foi depositada num cesto, e junto a seu filho foi lançada nas costas da cidade litorânea de Brasiae. (...) a cidade se chamava Oreitae, foi mudada por Brasiae. Efetivamente, Brasis expressa em grego a ação pela qual as ondas arrojam na praia os objetos que flutuam no mar. Quando Pausarias se refere aos habitantes de Lacônia dá o nome do lugar ao qual foram levados os homens e seus objetos pelas ondas do mar.

Brasilas ou Brasidas eram nomes próprios de pessoas encontrados na cidade de Esparta, sendo que Brasis significa borbulho da água, fermentação e fervura. Também significa a ação de rejeitar, por borbulho na praia.

Outro fato que chama atenção é a ligação deste borbulho com o nascimento da deusa Afrodite que significa para Hesíodo na sua obra “Teogonia, a origem dos deuses” versos 155-200, “espuma do mar” (...)
“.

Fonte: “Purpúreo: As Histórias do Nome do Brasil”, de João Antenógenes Prudencio da Costa (2002).

23 de abril de 2009

Ritos Secretos


O esplendor das grandes festas religiosas no antigo Cusco é sugerido no seguinte trecho de Siegfried Huber:

“Cristóvão de Molina enumera quatro festas principais: a Capac-Raimi, ou festa do Inca e da Iniciação; a Situa, festa da purificação pelo fogo, que dava ensejo a desfiles noturnos e terminava com abluções (Sarmiento compara a Situa à festa de São João); a Inti-Raimi, ou festa do Sol; e a Amoray, a mais antiga de todas, durante a qual se desenrolavam estranhos ritos. A crer nas crônicas baseadas nos relatos dos amauta, Yupanki Pachakuteq mandara confeccionar uma corda de 292 metros de comprimento, formada de pedaços de lã multicor adornada de plaquetas de ouro. Era conservada no templo do Sol. Com grande pompa, os príncipes, em procissão, dirigiam-se ao recinto sagrado e, entre cantos e hinos, davam volta ao santuário com essa corda. Esse rito recordava um culto inka arcaico, mas sua origem desde muito se esquecera. Tratava-se de honrar a serpente mítica que guardava o segredo da vida e da morte nas entranhas da terra”.

Fonte: HUBER, Siegfried. O Segredo dos Incas. 2ª ed., Belo Horizonte, Ed. Itatiaia, 1962. Col. Descoberta do Mundo, n.9. Ver também: De Cuatro a Seis e "Amaru", de Daniel Sanchéz León (livro infantil sobre o mito de Amaru, disponível para leitura on-line). Imagem: Mira Bolivia

22 de abril de 2009

Dia da Pachamama


Á todos os que amam a natureza. Dia dos povos, filhos da mãe natureza:

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NATIVOS - Sons e cores da natureza

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Oh verde louro que em teu ventre imenso

Guarda a imensidão de seres diferentes

Um conjunto lindo de vários elementos

Sons e cores vivem harmoniosamente

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De onde vem as cores que nas flores vejo

Será que vem do sol da lua ou dos ventos

Se nem um pintor conhece todos os tons de cores

Pra pintar as flores com esses pigmentos

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A lua que passa as vezes prateada

Sorrindo baixinho pra esse verde louro

Conhece as riquezas que estão guardadas

Como um mistério de um grande tesouro

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Pra cada estação existe um adorno

Pra cada evento um som diferente

Os sons e as cores que ali convivem

Desse verde louro são todos dependentes

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Nem um poeta não consegue descrever

Todo o mistério d'haver tantas belezas

Nem se um mil anos eu pudesse viver

Nunca veria tudo o que há na natureza.

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Ad. Ant. De Karai Tataendy

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Fontes: Agência de Notícias do Acre e CMI Brasil

20 de abril de 2009

Os maracás da História do Futuro

Guará-Piranga (Eudocimus ruber)
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O jesuíta português Antonio Vieira, emérito pelo seu talento de argumentador, escreveu no século 17 um importante documento por nome “História do Futuro”, onde relata os épicos feitos de Portugal como indicativos de um futuro grandioso reservado àquele reino cristão que um dia seria o Quinto Império do Mundo, qual florão do antigo Império Romano. Nessa obra inacabada, Vieira, do alto de uma genial erudição, utiliza profecias da Bíblia para justificar o poderio da navegação lusitana nos Sete Mares, e fala do Brasil amazônico de modo extremamente mítico:

Ponhamos fim a Isaías com um celebradíssimo texto do cap. XVIII, o qual foi sempre julgado por um dos mais dificultosos e escuros de todos os Profetas, e é este: Vae terrae cymbalo alarum, quae est trans flumina Æthiopiae, qui mittit in mare legatos. et in vasis papyri super aquas! Ite, Angeli veloces, ad gentem convulsam et dilaceratam; ad populum terribilem, post quem non est alius; ad gentem expectantem et conculcatam, cujus diripuerunt flumina terram ejus.
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Trabalharam sempre muito os intérpretes antigos por acharem a verdadeira explicação e aplicação deste texto; mas nem atinaram nem podiam atinar com ela, porque não tiveram notícia nem da terra nem das gentes de que falava o Profeta. Os comentadores modernos acertaram em comum com o entendimento da profecia, dizendo que se entende da nova conversão à Fé daquelas terras e gentes também novas, que ultimamente se conheceram no Mundo com o descobrimento dos Antípodas; e notaram alguns com agudeza e propriedade, que isso quer dizer a energia da palavra: ad gentem conculcatam - `gente pisada dos pés’, porque os antípodas, que ficavam debaixo de nós, parece que os trazemos debaixo dos pés e que os pisamos; mas chegando mais de perto à gente e terra ou província de que se entende a profecia, também os modernos não acertaram até agora com o sentido próprio, germano e natural dela, e este é o que nós havemos de descobrir ou escrever aqui, por havermos recebido de pessoa douta e versada nas Escrituras, que, havendo visto as gentes, pisado as terras e navegado as águas de que fala este texto, acabou de o entender, e verdadeiramente o entendeu, como veremos e verão melhor os que tiverem lido as exposições antigas e modernas dele.
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(...) Porque esta terra que descreve o Profeta está além da Etiópia: trans flumina Æthiopiae, e é terra depois da qual não há outra: ad populum post quem non est alius. Estes dois sinais tão manifestos só .se podem verificar da América, que é a terra que fica da outra banda da Etiópia, e que não tem depois de si outra terra senão o vastíssimo mar do Sul. Mas porque Isaías nesta sua descrição põe tantos sinais particulares e tantas diferenças individuantes, que claramente estão mostrando que não fala de toda a América ou Mundo Novo em comum, senão de alguma província particular dele; e os autores alegados nos não dizem que província esta seja, será necessário que nós o digamos, e isto é o que agora hei de mostrar. Digo primeiramente, que o texto de Isaías se entende do Brasil, porque o Brasil é a terra que direitamente está além e da outra banda da Etiópia, como diz o profeta: quae est trans flumina Æthiopiae, ou como verte e comenta Vatablo: terra, quae est sito ultra Æthiopiam quae Æthiopia scatet fluminibus e o hebreu ao pé da letra tem: de trans flumina Æthiopiae. A qual palavra - de trans - como notou Malvenda, é hebraísmo, semelhante ao da nossa língua. Os Hebreus dizem - de trans - e nós dizemos, detrás; e assim é na geografia destas terras, que em respeito de Jerusalém, considerado o círculo que faz o globo terrestre, o Brasil fica imediatamente detrás da Etiópia. Diz mais o profeta que a gente desta terra é terrível: ad populuin terribilem e não pode haver gente mais terrível entre todas as que têm figura humana, que aquela (quais são os Brasis) que não só matam seus inimigos, mas depois de mortos os despedaçam e os comem e os assam, e os cozem a este fim, sendo as próprias mulheres as que guisam e convidam hóspedes a se regalarem com estas inumanas iguarias; e assim se viu muitas vezes naquelas guerras. que estando cercados os Bárbaros, subiam as mulheres às trincheiras ou paliçadas, de que fazem os seus muros, e mostravam aos nossos as panelas em que os haviam de morrer. (...) Em lugar de gentem conculcatam, lê o Sírio - gentem depilatam - gente sem pelo; e assim são também os Brasis, que pela maior parte não têm barba, e no peito e pelo corpo têm a pele lisa e sem cabelo, com grande diferença dos Europeus.(...)
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Diz pois o Profeta, que são estes homens uma gente a quem os rios lhe roubaram a sua terra: Cujus diripuerunt flunina terram ejus. E é admirável a propriedade desta diferença, porque em toda aquela terra, em que os rios são infinitos e os maiores e mais caudalosos do Mundo, quase todos os campos estão alagados e cobertos de água doce, não se vendo em muitas jornadas mais que bosques, palmares e arvoredos altíssimos, todos com as raízes e troncos metidos na água, sendo raríssimos os lugares por espaço de cento, duzentos e mais léguas. em que se possa tomar porto, navegando-se sempre por entre árvores espessíssimas de uma e outra parte, por ruas, travessas e praças de água, que a natureza deixou descobertas e desimpedidas do arvoredo, e posto que estes alagadiços sejam ordinánios em toda aquela costa, vê-se este destroço e roubo que os rios fizeram à terra, muito mais particularmente naquele vastíssimo arquipélago do rio chamado Orelhana, e agora das Amazonas, cujas terras estão todas senhoreadas e afogadas das águas, sendo muitos contados e muito estreitos os sítios mais altos que eles, e muito distantes uns dos outros, em que os Índios possam assentar suas povoações, vivendo por esta causa não imediatamente sobre a terra, senão em casas levantadas sobre esteios a que chamam jiraus, para que nas maiores enchentes passem as águas por baixo; bem assim como as mesmas árvores, que, tendo as raízes e troncos escondidos na água, por cima dela se conservam e aparecem. diferindo só as árvores das casas porque umas são de ramos verdes, outras de palmas secas.
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Diz pois Isaías que esta gente de que fala é um povo: Quae mittit in mare legatos et in vasis papyrí super aquas. `Que manda de uma parte para outra seus negociantes em vasos de casca de árvore sobre as águas’. As palavras do Profeta todas têm mistério e todas declaram muito a propriedade da gente de que fala. Diz que as manda o povo, com quem concorda o relativo quae, porque é gente que não tem reis, mas o mesmo povo e a mesma nação é a que elege aqueles que lhe parecem de melhor talento, assim para os negócios da paz, como para os da guerra, que tudo isso quer dizer a palavra legatos, como se pode ver na língua latina. Diz mais que vão sobre as águas em vasos de casca de árvores, porque esta era a matéria e fábrica de suas embarcações. Depois que tiveram uso do ferro, cavam os troncos das árvores e fazem de um só madeiro muito grandes canoas, de que o autor desta explicação viu alguma que tinha dezessete palmos de boca e cento de comprimento; mas antes de terem ferro despiam estes mesmos madeiros, cujos troncos são muito altos e direitos e, tirando-lhes as cascas assim inteiras, delas formavam as suas embarcações. E não faz dúvida dizer o Profeta que estas embarcações iam ao mar: Qui mittit in mare; porque, além de entrarem com elas pelo mar Oceano, o mesmo arquipélago que dizemos, de água doce, se chama na língua, por sua grandeza, mar, e daqui veio o nome que os Portugueses lhe puseram de Grão-Pará ou Maranhão, o que tudo quer dizer mar grande, porque Pará significa mar.
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Do que temos dito até aqui ficará mais fácil de entender aquele grande enigma do Profeta, que está nas primeiras palavras deste texto: Vae terrae cymbalo alarum, o qual foi sempre o que maior trabalho deu aos intérpretes e os obrigou a dizerem cousas mui violentas e impróprias, como aqueles que falavam a adivinhar, e não adivinhavam nem podiam. Os Setenta Intérpretes, em lugar de terrae cymbalo alarum, leram terrae navium alis e uma e outra coisa significam as palavras de Isaías, porque os nomes hebreus de que estas versões foram tiradas, têm ambas as significações e querem dizer: Ai da terra que tem navios com asas ou, ai da terra que tem sinos com asas. Se são sinos, como são navios? E se são navios, como são sinos?
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Esta dificuldade foi até agora o torcedor de todos os entendimentos dos expositores sagrados, de 1600 anos a esta parte; mas como podia ser que entendessem o enigma da terra, se não tinham as notícias, nem a língua dela? Para inteligência do verdadeiro entendimento deste texto ou enigma, se há de supor que a palavra latina cymbalum, com que significamos os nossos sinos de metal, significa também qualquer instrumento com que se faz som e estrondo; e tais eram os címbalos de que usavam antigamente os Gentios, que se chamavam por nomes particulares sistros, crótalos, ou crepitáculos e por nome geral címbalos. (...) Também se há de supor que os Maranhões usavam de uns instrumentos que chamavam maracás, não de metal, porque o não tinham, senão de cabaços ou cocos grandes, dentro dos quais metiam seixos ou caroços de várias frutas, duros e acomodados a fazer muito estrondo e ruído, servindo-se dás menores nas festas e nos bailes e dos maiores nas guerras. Estes maracás eram propriamente os seus címbalos ou sinos, tanto assim que, depois que viram os sinos de que nos usamos, lhes chamam itamaracás, que quer dizer, maracás ou sinos de metal.
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(...) As maiores embarcações dos Maranhões chamam-se maracatim, derivado o nome da palavra maracá, que como dissemos, significa entre eles sino e a razão de darem este nome às suas maiores embarcações era porque, quando iam às batalhas navais, quais eram ordinariamente as suas, punham na proa um destes maracás muito grandes, atados aos gurupés ou paus compridos; e bulindo de indústria com eles, além do movimento natural das canoas e dos remeiros, faziam um estrondo barbaramente bélico e horrível; e porque a proa da canoa se chama tim, tirada a metáfora do nariz dos homens ou do bico das aves, que têm o mesmo nome, e juntando a palavra tim com a palavra maracá, chamavam àquelas canoas ou embarcações maiores maracatim, e este nome usam até hoje, e com ele nomeiam os nossos navios.
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(...) Mas não está ainda explicada toda a dificuldade ou propriedade do enigma, porque diz o Profeta que estas embarcações ou estes sinos eram sinos e embarcações com asas: cymbalo alarum, navium alis. (...) Digo, pois, que fala o texto de verdadeiras asas de aves. Como aqueles gentios não tecem, nem têm panos, é grande entre eles o uso das penas pela formosura das cores com que a natureza vestiu os pássaros, e particularmente o chamado guará, de que há infinita quantidade, grandes e todos vermelhos, sem mistura de outra cor; destas penas se enfeitam quando se querem pôr bizarros, e principalmente quando vão à guerra, ornando com elas todo o gênero de armas, porque não só levam empenadas as setas, senão também os arcos e rodelas, e as partasanas de pau e pedra que chamam fanga-penas e quando a guerra era naval, empavesavam-se as canoas com asas vermelhas dos guarás, e as mesmas levavam penduradas dos gurupés e maracás das proas; e por isto o Profeta diz que todas estas cousas via e notava como tão novas: chamou as lanças sinos e sinos com asas: Navium alis, cymbalo alarum”.
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Fonte: Marlon Vicente da Silva (foto). Leiam ambém "A História do Futuro no País do Futuro", de George Zarur, e "Do Mito à Ficção: A História do Futuro de Antonio Vieira".

19 de abril de 2009

Caraíbas

foto: News for Natives


Os Caraíbas (Coribantes?) foram os remanescentes de um sacerdócio extinto. Tinham um processo de evocar os oráculos que faz lembrar de longe o das pitonisas ou sibilas. Tomavam um fruto grande e arredondado, mais uma cabaça que uma mandrágora, no qual, natural ou artificialmente, apareciam os cabelos, olhos, boca, orelhas e nariz de uma cabeça humana. O fruto redondo era atravessado por uma flecha, talvez simbolizando a Terra e seu eixo; em seguida era enchido com fumaça de tabaco ou de outro narcótico que, ao perturbar o oficiante, chegava a provocar nele um frenesi mântico ao qual era associado o dom da profecia, como Simão de Vasconcelos descreve detalhadamente.
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Este símbolo astronômico da Terra, ou antes, do espírito que dirige a Terra, não era o único símbolo dos aborígenes brasileiros, que também contavam com os círculos mágicos ou danças sagradas, eco longínquo das solenidades misteriosíssimas da iniciação em cujo segredo teria sido transmitida no Adita dos templos a verdadeira doutrina heliocêntrica, tanto na Caldéia como no Egito e na Grécia e até na Igreja Católica e na Maçonaria, sem que estas duas últimas jamais tenham penetrado em todo o seu alcance cosmogônico.
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Mais de mil guerreiros, ataviados de maneira luxuosa e estranha, davam-se as mãos e formavam um ou mais círculos concêntricos em volta do pajé ou sacerdote, o Hierofante Sol assistido por dois anciãos. Essas cerimônias tinham diversos objetivos, de origens profundas contidas na mais declarada astrologia.
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Entre as várias estrelas e constelações conhecidas por esse povo, um lugar proeminente é ocupado por Pira-panem, Vênus ou piloto da manhã. Aquele povo acreditava nas influências dos astros e dos espíritos custódios dos mesmos. (Dario Vellozo, A Teogonia e a Magia entre os Aborígenes do Brasil - Revista Sophia, 1, XI, 1903).

Fonte: Roso de Luna, Mario. "O Simbolismo das Religiões". Tradução de J.E. Smith Caldas. São Paulo: Siciliano, 1990. p.279.

17 de abril de 2009

A História em Movimento


Cristina Férnandez de Kirchner, Presidenta da República Argentina, faz discurso histórico na Abertura da V Cumbre de las Américas em Trinidad e Tobago. Na véspera, Evo Morales afirmara (pela primeira vez publicamente) em Cumaná, na Venezuela, ser marxista-leninista e comunista-socialista.

Fontes: Una Lectura e Agencia Bolivariana de Noticias.

16 de abril de 2009

Grafismo Assurini



Animação desenvolvida como projeto de conclusão do curso de Desenho Industrial/ Comunicação Visual, pela PUC-Rio. A animação trata da interpretação dos padrões da pintura corporal Asurini, registrados e descritos pela antropóloga Regina Pollo Miller, em sua relação formal com os objetos representados. O vídeo apresenta os motivos geométricos "Onça" e "Jabuti" e busca relacionar as formas dos grafismos àquelas dos animais representados.
Para o trabalho foram levantados os grafismos registrados no livro "Grafismo Indígena", somada às observações dos animais realizadas nos setores de Mastologia e Herpetologia do Museu Nacional (UFRJ).

Concepção e realização: Ricardo Artur Pereira de Carvalho
Orientador: Luiz Antonio Coelho
Professora Tutora: Rita Maria de Souza Couto
Co-orientador: José Francisco Sarmento
Co-orientador: Roberto Verschleisser
Música : Shindo (Cid e Carlos Manga)
Interpretação: Pé do Lixo

Apoio: Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e Museu Nacional (UFRJ)

Deu na National Geographic

Menina Awá-Guajá (Maranhão, Brasil)
©1992 Fiona Watson/Survival

"A discreta cicatriz entre a barba e a bochecha esquerda concentra um pouco da história do sertanista José Carlos Meirelles dos Reis Júnior. Ele ganhou a marca nas águas do rio Envira, no oeste do Acre, em julho de 2004. Índios isolados lançaram flechas contra Meirelles enquanto ele pescava. Uma delas penetrou em sua face e saiu no pescoço. Meirelles correu. Mas o único tiro que deu com a arma que levava na mão foi para o ar - um grito de socorro para seus funcionários. No posto da Funai, ele pediu resgate ao Exército. Seis meses depois, recuperado, estava de volta à ativa. Não é dos índios, contudo, que vem a ameaça que mais o faz temer. Conflitos ainda piores se anunciam. Com a intensa atividade madeireira no Peru e a chegada de garimpeiros atrás de ouro, algumas etnias estão em fuga no território brasileiro protegido por Meirelles. Dos quatro povos isolados que se estima existirem na região, três foram fotografados em uma expedição aérea de fiscalização realizada há um ano. As imagens rodaram o mundo. Mas pouco se falou sobre as ameaças reais à sobrevivência desses indígenas. Com o aumento da pressão humana em torno das reservas, diz Meirelles, 'infelizmente, o destino dos índios isolados não está nas mãos deles'.

Quanto tempo ainda os índios isolados vão ter para escolher o momento de iniciar um contato com nossa sociedade?
Depende da pressão que eles sofrem em cada local. No caso da região do rio Envira, onde atuo, espero que ainda haja um bom tempo antes que aconteça esse contato inicial. A pressão sobre eles agora não é mais brasileira, ela vem do Peru, o que gera um problema novo para nós resolvermos. Creio que nestes últimos anos os índios descobriram, no caso particular dos entornos do rio Envira, que nós, da Frente de Proteção Etnoambiental Envira, da Funai, somos vizinhos diferentes daqueles que eles tiveram no passado e que os caçavam. Não nos temem como temiam seringueiros, madeireiros e garimpeiros. Já não mascaram tanto os vestígios quando andam perto de nossas bases, o que não significa, creio, que haja uma intenção de contato. Temos de ficar atentos a pressões externas e aos sinais que esses povos nos dão para que o futuro contato, se ocorrer um dia, seja o menos traumático possível para eles.

Um ano atrás, foram divulgadas fotografias feitas em uma expedição aérea coordenada pelo senhor. Quais são as conclusões desse trabalho?
O principal é que a terra deles foi demarcada sem nenhum problema, como era o nosso objetivo ao realizar o voo de reconhecimento. As fotos são do grupo que vive na cabeceira do rio Humaitá e nos igarapés da margem esquerda do rio Envira, em território brasileiro. Entretanto, outras fotos do mesmo sobrevoo nas quais aparecem duas malocas dos isolados do igarapé Xinane, oriundos do Peru, foram encaminhadas à Funai para pesquisa. Essas malocas não existiam em 2004, quando sobrevoamos a mesma região. A importância da divulgação é que as imagens podem ajudar a proteger esses povos. A opinião pública tem de entender que tais índios existem, e que temos o dever de garantir o direito deles de permanecer isolados.

Uma vez o senhor foi flechado e por pouco não morreu. Como é a aproximação desses indígenas do posto da Funai?
Eu já vi um bocado de índios da etnia masko piro, que andam pelas cabeceiras do Envira no verão. Uma vez a gente se encontrou sem querer pelas praias e eles correram atrás de nós. Outra vez eles apareceram lá mesmo no posto. Foi em 2004. Mais de 100 homens desse grupo invadiram a casa, mexeram em tudo e foram embora. Mas não levaram nada. Além deles, um outro grupo, o que aparece nas fotos divulgadas apontando flechas para o avião, uma vez invadiu a base e colocou fogo nos telhados. Havia dois trabalhadores no local, e eles tiveram de fugir, à noite, de barco. A ordem, quando acontece uma coisa dessas, é que todos no posto partam imediatamente. A gente tem um barco com motor, com combustível, sempre preparado para uma fuga de emergência.

Logo no início da carreira o senhor fez os primeiros contatos com o povo awa-guajá.
Essa história de que é o sertanista que faz o contato com o índio tem de ser revista. Na verdade, é sempre o índio quem faz o contato. É ele que vai até o branco. Chega uma hora em que o território está tão pressionado que eles não têm mais para onde correr. Foi o que aconteceu com o povo awa-guajá, que estava espremido pelos urubu-caapor e guajajara e pelos arrozeiros que não paravam de chegar ao Maranhão. Os awa-guajá do rio Turiassú fizeram contato com um caçador chamado Antônio Raposo, em 1972, e em 1973 conosco, da Funai, nas cabeceiras do Turiassú. Eles estavam acuados.

Como se dá a aproximação entre culturas tão diferentes?
O contato é uma coisa maluca. Você está no mato e de repente avista três índios pelados te olhando. A comunicação tem de ser por mímica. Depois, os índios encontram todas aquelas coisas que não existem no universo deles, mexem em tudo... Nunca fomos preparados para lidar com essa situação. Eles sofrem dois impactos depois do contato. Primeiro vem a doença. Até criarem resistência, mais da metade já morreu. Outra violência sobre eles é psicológica: nossa tecnologia muda a vida deles radicalmente. É como dar um pulo de 10 mil anos em uma semana. Muitos grupos têm de repensar a própria cosmologia porque veem que aquilo que o pajé falou não é bem assim. Os awa-guajá pensavam que nuvem fosse fumaça de fogo. Mas depois andaram de avião e viram que a história estava errada.

E como é possível controlar essa situação do pós-contato?
Depois do contato o índio vai se relacionar com o "beiradão", ou seja, aquela gente que vive na beira do rio, na fronteira de colonização, uma terra sem lei: a prostituta, o cachaceiro, o madeireiro, o garimpeiro. Não é com um grupo seleto de antropólogos que ele vai conviver. Não é com o pessoal que faz passeata no Rio de Janeiro a favor da Amazônia, com as moças bonitas de Ipanema. Ele vai descobrir de cara o que há de pior na sociedade, concentrado nessas fronteiras. Por isso, a primeira coisa que se deve dar é tempo pra que se adapte às novidades. Junto a isso tem de vir o cuidado com a saúde, pois os índios não têm resistência às doenças que para nós são corriqueiras.

Como era a situação dos povos indígenas no Acre quando o senhor chegou, nos anos 1970?
Quando ali cheguei, em 1976, vi os índios "trabalhando" como seringueiros para os patrões da borracha, e em alguns lugares ainda se faziam as "correrias" (expedições de caça aos indígenas organizadas por seringalistas). Era um regime de escravidão. Para conseguir reverter essa situação, tivemos de oferecer uma alternativa econômica para eles deixarem os seringais. Criou-se um sistema que operava com cooperativas de trabalho. A ajuda financeira possibilitou que eles se organizassem para lutar por suas terras. No rio Iaco, onde trabalhei com os manchineri e os jaminawa, os índios saíram do seringal Petrópolis e foram para um local que hoje se chama Extrema, onde foi criado um posto da Funai. Fizemos a primeira proposta de demarcação do território deles, que quase dez anos depois foi concretizada na Terra Indigena Mamoadate. Isso aconteceu com a maioria dos índios do Acre até quase todas as reservas serem demarcadas.

Em duas décadas na Frente Envira, o que ainda falta fazer?
Já demarcamos três terras indígenas, a Kampa e Isolados do Rio Envira, a Alto Tarauacá e, no final do ano passado, a Riozinho do Alto Envira. O objetivo daquela expedição aérea era verificar a localização dos índios para que essa demarcação física não passasse perto de suas aldeias. Essas três terras somam mais de 600 mil hectares que se estendem ao longo do paralelo 10 graus, fronteira do Brasil com o Peru. A Frente Envira protege quatro povos isolados. Três de etnias ainda desconhecidas que vivem em território brasileiro. E os masko piro, um povo nômade que circula entre a fronteira do Brasil com o Peru.

Tais povos estão protegidos nesse território?
O problema é que agora a gente não depende só da política do Brasil. A exploração ilegal de madeira na fronteira peruana está provocando um processo de migração forçada de outros grupos para as florestas do Acre. Índios isolados estão vindo do Peru para o Brasil, expulsos pelos madeireiros, cuja mão de obra é indígena. São índios aculturados que matam os isolados na floresta, com bala e chumbo. Os isolados do Peru vêm para o Brasil e encontram índios daqui que são parentes desses que atacam eles lá, como os kampa. Isso gera um conflito territorial.

Há indícios de que a Rodovia Transoceânica, que liga Rio Branco, no Acre, ao litoral peruano, afetará esses indígenas?
A rodovia vai, em longo prazo, afetar os indígenas isolados, pois aumentará a pressão e a exploração sobre seus territórios. Pequenos produtores e extrativistas serão deslocados de suas terras e não terão opção senão invadir a terra dos índios isolados à procura de caça, peixe e, principalmente, madeira. Vi esse filme no Maranhão, com a BR-314, que vai de Teresina a Belém. Então, o fim da história é conhecido. Não é a estrada em si, mas seus efeitos colaterais, que não são controlados.

Missões cristãs contataram povos isolados no passado. Como o senhor analisa a presença dos missionários nas aldeias?
Missionário contata índio pra salvar sua alma. Não se preocupa com a terra e imbeciliza os índios. O proselitismo religioso é uma das piores pragas que se pode imaginar para os índios. Se as missões e as ONGs querem ajudar os isolados, que entendam que eles devem ter o direito de permanecer isolados, de ter sua religião. Sua alma não precisa de salvamento.

O senhor está aposentado mas segue em atividade. Como serão as novas gerações de sertanistas?
Na Amazônia, está tudo em extinção: a floresta, os índios e os sertanistas. O ultimo curso que a Funai fez para indigenista foi em 1985. Nossa geração está ficando caduca. Quem vai continuar esse trabalho? Nós temos 70 referências de povos isolados no Brasil, trabalhamos em 22 delas, mas as outras precisam ser checadas. Quem saberá andar no mato para ver se o índio passou por ali? Novas tecnologias ajudam, mas não se pode monitorar a área ocupada pelos isolados via satélite ou por avião. Isso demanda um longo processo, anos de andanças na mata. Esse é um dos trabalhos do sertanista e de seu grupo de mateiros. Ainda não somos totalmente descartáveis. "

Fonte: "Pela liberdade dos índios", Reportagem de Felipe Milanez e Maria Emília Coelho em National Geographic Brasil - Abril de 2009. Foto Survival France

15 de abril de 2009

O neo-caudilhismo e o samba

Na fronteira norte da Bolívia com o Brasil, tanto tenho podido assistir os noticiários televisivos de um como de outro país. Ontem, dia 14, a aprovação da nova Lei Eleitoral boliviana saiu finalmente após longo impasse por parte da oposição que se negava a atender ao texto da nova constituição nacional. No Jornal Nacional, da Tv Globo brasileira, o assunto foi tratado com ironia mencionando-se a propósito o fato de Hugo Chávez, presidente venezuelano, haver recentemente garantido condições de reeleger-se indefinidamente, e agora Evo Morales também poder se reeleger. O senso de ironia dos jornalistas da Tv Globo, entretanto, acaba revelando por suas falhas ou uma falta de informação ou verdadeira falta de interesse por parte deles quanto aos aspectos da história político-econômica da América Latina.

Inequivocamente, a tv boliviana vem exibindo agora documentários venezuelanos sobre a revolução bolivariana proposta por Chávez, alguns dos quais revelando a ação da CIA na América Latina nos tempos da Guerra Fria e sua sanha anti-comunista. O alinhamento do governo Morales com o governo venezuelano, entretanto, deve ser analisado no contexto real da necessidade de formação de um eixo anti-liberal em oposição aos reacionários lobbies neo-liberais imperantes nos países da região (ainda derivados dos acordos oligárquicos instaurados nos tempos das ditaduras militares). O Brasil com o governo Lula "simpático a Bush" esteve sempre em cima do muro, e o papel mais antipático foi ocupado interessadamente por Chávez na Venezuela, e o fato é que o fantasma da ALCA (Associação de Livre Comércio das Américas) parece hoje extinto, sobremodo com a crise econômica mundial desencadeada em 2008. Evo Morales, assim como outros governos mais à esquerda na América do Sul, necessariamente caem na referência chavista mas não devem nem podem ser considerados sob essa ótica estreita sem que se leve em conta que a Bolívia possui características próprias que faz de seus movimentos populares não uma pantomima populista e sim uma autêntica explosão de anseios reprimidos desde a fundação do país há quase duzentos anos já, assim podemos dizer.

Evo Morales não é o presidente mais popular do planeta (quando o presidente Obama fez esse tipo de elogio ao presidente Lula na reunião do G-20 obviamente cumpria com a pauta indicada por seu serviço diplomático que deve te-lo assessorado para tal reunião norteando que tipo de adulação faz gosto aos brasileiros). Nos incidentes do ano passado em Pando, uma leva de bolivianos se asilou no Acre e o que chegou aqui deles aos meus ouvidos é que Evo nem sequer é índio, pois porta seu sobrenome de "branco". Essa alegação dos descontentes exemplifica bem a ignorância e o desconhecimento por parte dos cidadãos de muitos países edificados a ferro e fogo sobre os territórios ameríndios invadidos, de que os indígenas tem pleno direito à cidadania como qualquer outra "classe" de ser humano, e pode ser considerado indígena mesmo se perdeu seu clã, aldeia, território, cultura tradicional, pois se isso se deu foi apenas porque o indígena teve de lutar por sua sobrevivência pessoal, salvar sua própria pele, e por isso aceitou perder tais elementos constituintes de sua identidade. Evo é indígena, intrinsecamente e extrinsecamente, e como primeiro presidente ameríndio, eleito pelo voto popular, na América do Sul e no mundo, cumpre a árdua tarefa de lutar pelos direitos plurinacionais de seu país, não apenas tendo a iniciativa de ratificar a Lei dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas nas Nações Unidas (e diziam que os direitos humanos eram "universais", ora vejam...) mas também de desafiar toda rede de complôs e sabotagens que sempre fizeram da Bolívia, depois do Paraguai, um dos países de maior instabilidade política da região: desde sua independência, sabem os leitores quantos presidentes já possui a República da Bolívia?!...

Portanto, é bom a Tv Globo rever seus conceitos. Neo-caudilhismo é uma coisa, Evo Morales é outra. E como dizia o General Golbery do Couto e Silva, autor da Geopolítica que desde os anos sessenta norteia os ideários da Escola Superior de Guerra, a Bolívia é o hinterland, a "area core" do continente, e merece ser respeitada: quem dominar geopoliticamente a Bolívia, já dizia Golbery, dominará geopoliticamente todo a América do Sul. Que ninguém a domine, dirão meus amigos, que a Bolívia seja dos bolivianos. Em tempos de globalização, mesmo que essa ande capengando, é bom mesmo que a Bolívia tenha suas próprias iniciativas e mostre sua cara: não é, afinal, esse "coração do continente" um quintal dos Estados Unidos ou da Inglaterra ou da Espanha, não um quintal do Chile, não um quintal da Venezuela e nem do Brasil. Pelos meios democráticos, sob as instâncias populares, a Bolívia fará em dezembro próximo eleições livres e gerais, digitalizadas e seguras, e isso está se fazendo por vontade e iniciativa da nação, a fim de assegurar às gerações posteriores um futuro melhor.

À posteridade

"...es la hoja de coca verde, no la blanca.
Esta hoja de coca representa la cultura andina, el medio ambiente y la esperanza de los pueblos.
No es posible que la hoja de coca sea legal para la Coca-Cola e ilegal para otros tipos de consumo medicinal en nuestro país y en el mundo entero
."

Evo Morales Aima, Presidente da Bolívia, na Assembléia Geral das Nações Unidas em 19 de Setembro de 2006.

Fonte: evomorales.net

1 de abril de 2009

Mulheres Andinas e Amazônidas

"Chakana y Otorongo", pintura de Patries Van Elsen

"Nuestros territorios, recursos naturales y medio ambiente vienen siendo amenazados por las empresas transnacionales y desde los gobiernos de turno. Las leyes están siendo diseñadas para promover el saqueo de nuestros territorios a favor de las grandes transnacionales y empresas extractivas..."

Teniendo como escenario el territorio del Valle de Chanchamayo - Satipo, las mujeres indígenas andinas y amazónicas, representantes de las regiones de Ayacucho, Callao, Huancavelica, Huánuco, Junín, Lima y Pasco, nos congregamos los días jueves 12 y viernes 13 de marzo de 2009 en el “Encuentro Macroregional Centro de Mujeres Indígenas Andinas y Amazónicas rumbo a la I Cumbre Continental de Mujeres Indígenas y IV Cumbre Continental de Pueblos y Nacionalidades del Abya Yala”.

Con la finalidad de expresar nuestras preocupaciones, demandas y propuestas más sentidas, las mujeres de la Macro Región Centro.

AFIRMAMOS QUE :

- Nuestros territorios, recursos naturales y medio ambiente vienen siendo amenazados por las empresas transnacionales y desde los gobiernos de turno. Las leyes están siendo diseñadas para promover el saqueo de nuestros territorios a favor de las grandes transnacionales y empresas extractivas.

- Las mujeres indígenas vivimos en constante amenaza por culpa de las leyes que promueven la inversión privada en nuestros territorios, vulnerando nuestros derechos colectivos como pueblos indígenas. Como es el caso, de las concesiones mineras y energéticas (petróleo, gas); el intento de privatizar las aguas; las concesiones forestales; la promoción agresiva de la inversión en el cultivo de canola y otros agrocombustibles, que destruyen y contaminan nuestras tierras; conversión de nuestros suelos en infértiles por el uso de fertilizantes y químicos.

- Las mujeres indígenas andinas y amazónicas somos afectadas por la marginación, discriminación y exclusión. Esto se expresa en la falta de participación y de decisión de las mujeres en los diferentes espacios, desde el hogar, la comunidad, la organización. Por tanto es necesario una mayor atención a las mujeres indígenas para garantizar el respeto de los derechos de las mujeres de forma integral. Especialmente nuestro derecho a la educación; de manera singular en las familias andinas y amazónicas, donde se da más oportunidades a los varones para que estudien y dejan sin educación y en el analfabetismo a las niñas indígenas.

- Asimismo, somos afectadas por el “machismo” que, es una enfermedad impuesta por occidente que se manifiesta como un grave problema familiar y social en nuestros pueblos, comunidades y hogares. El pensamiento machista considera a las mujeres seres inferiores, por tanto no reconoce nuestros derechos, nuestras capacidades y se convierte en un obstáculo para nuestro desarrollo como mujeres, lideresas y madres. Sin embargo, tenemos que admitir que de manera consciente e inconsciente, somos nosotras, las propias mujeres las que reproducimos el machismo.

- En nuestras comunidades también se manifiesta la violencia familiar y la violencia sexual, que son enfermedades sociales; generan traumas irreparables en nuestros hijos e hijas y en nosotras mismas. Quienes somos víctimas de la violencia nos volvemos más inseguras, sumisas, temerosas y desconfiadas, sin capacidad de decidir, proponer y exigir derechos. Es necesario, seguir trabajando para “romper la cadena de la violencia” en nuestras familias, comunidades y en todos los espacios sociales donde nos encontremos.

RECHAZAMOS :

- Toda inversión privada que se promueva y/o ejecute en nuestros territorios sin previa consulta a nuestras comunidades y pueblos, como es el caso del mega proyecto de la hidroeléctrica de Pakitzapango en el valle del Ene-Satipo; de las empresas petroleras del Lote 108, 107 y el Lote 155 de la Selva Central; del Proyecto Toro Mocho con la transnacional Chinalco; la contaminación del Lago Chinchaycocha; la contaminación de los ríos Apurímac, Ene, Mantaro y Perené; la contaminación de plomo en la sangre en la Oroya, el Callao y, en los lugares donde las empresas extractivas estén afectando la salud humana y ambiental.

- La Ley que privatiza las aguas, por ser anticonstitucional y atentatoria de nuestros derechos colectivos y humanos. DEMANDAMOS: La constitución de un Estado plurinacional y multilingüe, que restituya el derecho de los pueblos indígenas/originarios, comunidades campesinas y nativas, el derecho al ejercicio de su libre autodeterminación, derecho consuetudinario. Que nos permita recuperar nuestros derechos que son inalienables, inembargables, e imprescriptibles sobre nuestras tierras y territorios.

Demandamos la intangibilidad de nuestras tierras/territorios, que abarca el suelo, subsuelo, flora, fauna y agua.

Que se declare en emergencia las regiones de la macro centro por la crisis económica que sufren nuestros pueblos a causa de la baja en los precios de la fibra de lana de alpaca, ovino y de sus derivados (cuero, carne, queso, otros); el precio del café, el cacao y otros. Que serán mucho mas afectados por los Tratados de Libre Comercio que no deben aplicarse.

Demandamos la producción y consumo de nuestros productos andinos y amazónicos que garantizan la soberanía alimentaria. No al consumo de productos transgénicos importados.

Demandamos el derecho a la dignificación de las mujeres andinas y amazónicas, con la erradicación de los programas sociales que no permiten el desarrollo de capacidades productivas de las mujeres. La reconversión de los programas sociales que apoyen las actividades productivas de las mujeres indígenas. Erradicar el machismo de nuestra cultura y de nuestras comunidades porque es una ideología externa a nuestros valores como pueblos originarios, que avala la violencia y el maltrato contra la mujer.

Que se aplique e implemente políticas de Estado para la erradicación de la violencia en todos sus niveles, y que promuevan de manera irrestricta la defensa de los derechos de las mujeres contra toda forma y clase de violencia psicológica, física y sexual; y discriminación y exclusión de las mujeres andinas y amazónicas.

Demandamos la Ley de la alternancia y su aplicación con la finalidad que se garantice la participación política de las mujeres, basada en las elecciones internas de las comunidades, respetando la igualdad de oportunidades entre varones y mujeres en la participación a todo nivel.

Demandamos la derogatoria de las leyes que criminalizan la protesta y exigimos que se eliminen los juicios de nuestros dirigentes injustamente procesados.

¡Basta de las concesiones y venta de tierras y territorios sin consultar a las comunidades andinas y amazónicas! ¡Basta del saqueo de nuestros recursos naturales, el agua, gas, petróleo y minerales! ¡La Ley que pretende privatizar el agua, no pasará! ¡Basta de producir agrocombustibles como la canola! ¡No a la contaminación de los ríos y los lagos! ¡Por la defensa de la vida y la biodiversidad! ¡Por el Derecho a la Consulta Previa e Informada! ¡Por la participación política de las mujeres indígenas en todos los niveles!

Satipo, 13 de marzo de 2009.

Fuente: Confederación Nacional de Comunidades del Perú Afectadas por la Minería - CONACAMI