14 de fevereiro de 2008

O Segundo Tawantinsuyo

"El Sacerdote", arte de Alexei Farfán Pino

«O Segundo Tawantinsuyo será a imagem e semelhança do que criaram os Incas no passado. Será um retorno a trilha histórica do povo andino. Será sua segunda edição, aumentada e corrigida, porque seu povo está aqui, assim como seu clima, sua organização e sua consciência coletivista. Nao é, portanto, um sonho utópico; é o retorno a uma prática coletivista que se aperfeiçoará através dos séculos e sob as bandeiras de uma política e de uma filosofia cósmica, que estao aqui, que só esperam sua reatualização».

Fonte: Periodico Pukara

Guardiães da Biodiversidade


Em 21 de janeiro em Genebra, Suíça, se realizou a Sexta reunião do grupo especial de composição aberta sobre acesso e participação nos benefícios do convênio de Diversidade Biológica (CDB), em continuação da reunião realizada em Montreal (Canadá) em outubro de 2007.

O Foro internacional indígena sobre biodiversidade (FIIB) e a Rede de mulheres indígenas sobre biodiversidade, tiveram um papel fundamental na defesa e proteção dos conhecimentos tradicionais e recursos genéticos associados aos povos indígenas.

O FIIB solicitou que as Partes incluam no objetivo do regime a proteção do conhecimento tradicional e recursos genéticos associados e o respeito aos direitos dos povos indígenas.

O FIIB em sua proposta enquanto ao certificado de origem propôs "Quanto à divulgação de origem a exigência obrigatória de divulgação nas solicitaçoes de patentes debe provar através de um certificado de cumprimento que evidencie o consentimento, livre, prévio e informado dos povos indígenas e a participação justa e equitativa dos benefícios, antes de solicitar direitos de propriedade intelectual. Ademais, as autoridades sobre patentes devem exigir este certificado de cumprimento como condição para outorgar uma patente".

O Convênio de Diversidade Biológica (CDB) está formado por 190 partes e tem por objetivos: "A conservação da diversidade biológica, o uso sustentável de seus componentes e a participação justa e equitativa nos benefícios que se derivem da utilização dos recursos genéticos".

Fonte: Consejo autónomo aymara

Ecocídio anunciado


O Prêmio Nobel de Química de 1988, Hartmut Michel, criticou severamente aqueles que estao impulsando o desenvolvimento e uso dos agrocombustíveis. O cientista estima que esses biocarburantes nao economizam emissões de CO2 e promovem o deflorestamento da Amazônia e outros bosques del mundo. “... para produzir etanol se tem que investir tanta energia fóssil em fertilizante, transporte, destilado de álcool, como a que há nesse biocarburante, e se acaba emitindo mais CO2 que usando gasolina no carro”.

Também devemos considerar o seguinte: - Os grãos necessários para encher um tanque de combustível de um Land Rover com Etanol, sao suficientes para alimentar a uma pessoa por um ano. Assumindo que o tanque é enchido a cada duas semanas, a quantidade de grãaos poderia ser utilizada para alimentar uma comunidade por um ano.

Fala Frei Betto em recente crônica:

"Não existe cana na Amazônia. Não temos conhecimento de nenhum projeto na região, nem recente nem antigo”, afirmou Reinhold Stephanes, ministro da Agricultura, dando eco ao boato oficial de que a cana se mantém distante da floresta (O Globo, 29-07-2007). Dados oficiais revelam que o plantio de cana-de-açúcar avança sobre a Amazônia, apesar das negativas do governo federal. Projetos sucroalcooleiros instalados no Acre, Maranhão, Pará e Tocantins vivem momento de expansão acelerada. A região não só é fértil como também competitiva. Lula se equivocou ao afirmar que a cana "fica muito distante da Amazônia".

Segundo levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento - Conab -, vinculada ao Ministério da Agricultura, a safra de cana na Amazônia Legal - que compreende estados como Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará e Tocantins -, aumentou de 17,6 milhões de toneladas para 19,3 milhões de toneladas no período 2007/2008.

Esse cultivo na Amazônia atrai inclusive investidores estrangeiros. O fundo de investimento Cooper Fund, de aposentadas estadunidenses, agora é sócio do grupo TG Agro Industrial/Costa Pinto, que produz álcool em Aldeias Altas, no Maranhão. No município de Campestre do Maranhão, o empresário Celso Izar, da Maity Bioenergia, negocia com investidores estrangeiros quatro projetos, cada um orçado em US$ 130 milhões, para produzir 1,2 milhão de toneladas de cana. A empresa produz atualmente um milhão de toneladas.

O Greenpeace acredita que o governo não tem condições de fazer valer a proibição do plantio de cana na Amazônia. Ainda que haja leis proibitivas, como o governo pretende fiscalizar? Não basta proibir, é preciso inibir o plantio. Seria bem mais eficiente se o governo levasse a efeito o que cogitou o presidente Lula: fechar a torneira dos bancos públicos aos investidores e parar de liberar financiamentos. Só assim seria possível coibir novos projetos.

Outro problema grave na região amazônica é a extração ilegal de madeira nobre: ipê, cedro, freijó, angelim, jatobá. A cada dia, 3.500 caminhões circulam no interior da floresta, carregando madeira ilegal. Com a escassez no mundo, o preço do metro cúbico da madeira retirada da Amazônia é pago, pelos madeireiros aos proprietários da área, em média R$ 25 por metro cúbico. Depois, eles serram e exportam em pranchas ou blocos quadrados.


Na Europa, a mesma madeira é vendida pelos comerciantes locais aos fabricantes de móveis ou consumidores comuns a um preço equivalente a R$ 3.200 o metro cúbico. Uma diferença de 1.280%!! O Brasil é o segundo maior exportador de madeira do mundo, atrás da Indonésia.

Nos últimos 37 anos, desde que a ditadura acionou a corrida para a Amazônia, foram desmatados 70 milhões de hectares, dos quais 78% são ocupados por 80 milhões de cabeças de gado. No entanto, pela madeira exportada o Brasil amealhou apenas US$ 2,8 bilhões. Menos do que um ano de exportações da Embraer, fabricante de aviões.

Pecuaristas desmatam para abrir pasto. Basta conferir. Os maiores produtores de carne estão exatamente nos municípios paraenses onde há mais desmatamento: São Félix do Xingu, Conceição do Araguaia, Marabá, Redenção, Cumaru do Norte, Ourilândia e Palestina do Pará. Detalhe: 62% dos casos de trabalho escravo ocorrem em fazendas de pecuária.

Grandes empresas, que possuem vastas extensões de terra na Amazônia legal, desmatam para plantar eucalipto e transformá-lo em carvão vegetal destinado às suas siderúrgicas na região. Põem abaixo a floresta tropical mais rica em biodiversidade do mundo e implantam o monocultivo de eucalipto, sem nenhuma diversidade vegetal, e o transformam em carvão, que aumenta o aquecimento global. Enquanto as empresas se agigantam, a nação fica com o ônus da degradação ambiental.

A Amazônia é vítima de um ecocídio em função da ganância do capital. Se a sociedade não pressionar e o governo não agir, no futuro haverá ali um novo Saara, com graves conseqüências para a sobrevivência da humanidade e da Terra. "


Frei Betto é escritor, autor de “Calendário do Poder” (Rocco), dentre outros livros.

Fontes: Canto Vivo, Hunnapuh, Revuelta Verde e MST