8 de maio de 2007

Luzmila, a voz dos Andes

"Ela canta para as plantas, os pássaros, e de sua voz cristalina, ela lhes fala. Luzmila Carpio não é uma cantora como as outras".

Luzmila Carpio Sangüeza nasceu em 1949 na comunidade de Ch´iuta Qala Qala, no ayllu chamado Pachacati, na região norte de Potosí (localizada nos Andes Bolivianos a 4000 metros acima do nível del mar). Uma região da Bolívia conhecida por ser o centro do ouro durante quase mais de um século, aonde as mulheres mantém viva a tradição do canto, de geração em geração e onde o canto significa gratidão à natureza pela água concedida, agradecimento pelas colheitas, agradecimento pela beleza.

"Minha mãe era uma enciclopédia de ecologia: nós cantávamos ao campo. Me dizia: a ver esta florzinha pequenina cante para ela e ela por si só vai se abrir, olhe suas pétalas, canta-lhe, e ela vai fechar também. E para meu assombro a florzinha também se fechava e se abria, e é porque as plantas quando escutam música reagem. Minha mãe explicava: é que as florzinhas têm vergonha. Hoje em dia dão tão pouco valor a tudo isso. Minha mãe me ensinou a viver o presente sempre enxergando o passado, e nas grandes cidades impera a individualidade e não existe o sentido da solidariedade e da comunidade".

O canto esteve desde sempre na voz e no coração de Luzmila Carpio. A curiosidade e o desejo a levaram aos estúdios de diversas rádios da região. Na Radio Universidad de Oruro conheceu a um músico cego, o pianista Ricardo Cortes, que a escutou cantar as toadas de sua terra.

Assim, desde 1969, ano no qual gravou seus primeiros títulos, começou a se tornar uma grande embaixadora da cultura quechua para a qual "a música e o canto constituem um meio privilegiado para comunicar-se com as forças da natureza, as plantas, as montanhas, os lagos, o sol e a lua". O canto para Luzmila Carpio é um compromisso. A mensagem que ela gosta de expressar em sua música não é outra senão a cosmovisão de sua cultura (a forma de ver o mundo a partir de uma perspectiva própria), da qual o mundo pode aprender muito. Ganhou a admiração do público não só pela pureza excepcional de sua voz capaz de subir até alturas insuspeitadas mas justamente pela grande qualidade de seu repertório, alimentado das fontes mais puras de uma tradição de raiz.

Luzmila teve formação acadêmica como bacharel em Humanidades na cidade de Oruro, e realizou seminários de formação etnográfica e antropológica; sendo que entre alguns trabajos desempenhados foi Consultora em Educação Intercultural Bilingüe como Assesora Artística para o componente de sensibilização comunitária da UMSS Cochabamba, Consultora Pedagógica em línguas aymara e quechua no Projeto Yuyay Jap’ina dirigido pela UNICEF, e com a ajuda dessa instituição colaborou na instalação de água potável em comunidades camponesas de Potosí. Em abril de 2006, o presidente boliviano Evo Morales a indicou para a Embaixada da nação em Paris: "Já era nossa embaixadora na França, era uma embaixadora legítima; só estou legalizando que nossa companheira Luzmila Carpio seja nossa embaixadora na França (...) Assim, vamos somando intelectuais, profissionais, irmãos indígenas, artistas, para que possam ajudar-nos neste processo de mudança", declarou o Mandatário.

Luzmila Carpio percorre o mundo para fazer conhecer a voz de seu povo e lutar pelo respeito de sua identidade, porque quando ela canta, não é ela só, e sim gerações milenares que passam por sua voz.

Conheça o cd "El Mejor de Luzmila Carpio - Cantos Quechua-Aymaras de los Andes", com as faixas:
1. Produciremos buena papa (wayñu)
2. El agua cristalina es vida (llamerada)
3. Seremos reconocidos (wayñu)
4. Ayudennos (wayñu)
5. Inspiracion de Tunupa (wayñu)
6. Estoy regresando (llaky)
7. Adoremos a la madre tierra (wayñu)
8. Piedra sobre piedra (wayñu)
9. Gran señor (wayñu-sicuri)
10. Arawi (yaravi)
11. Las mujeres debemos ser respetadas (khiwi)
12. La vida de las mujeres (wayñu)
13. Buena tejedora
14. Jula jula wawku
15. Que vivan nuestras comunidades (wayñu-lawutakuna)
16. Profundamente (wayñu-lawutakuna)
17. Señor condor (llaky)
18. Melodias de danzas para bebes (tradicional da cultura quechua)

Veja fotos do show que Luzmila realizou em São Paulo em 2003. Conheça mais sobre sua discografia. Escute on-line músicas de seus cds: Huaynos (1989), Arawi (1998), e Kuntur Mallku (2000). Assista-a no YouTube interpretando ao vivo: Wiñay Llaqta e Ama sua, ama llulla, ama qhella . Conheça o site pessoal da cantora e compre seus cds clicando aqui.

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