Coacyaba, a beija-flor
Coacyaba, uma bondosa índia, ficara viúva muito cedo, passando a viver exclusivamente para fazer feliz sua filhinha Guanamby. Todos os dias passeava com a menina pelas campinas de flores, entre pássaros e borboletas. Dessa forma pretendia aliviar a falta que o esposo lhe fazia. Mesmo assim, angustiada, acabou por falecer.
Guanamby ficou só e seu único consolo era visitar o túmulo da mãe, implorando que esta também a levasse para o céu. De tanta tristeza e solidão, a criança foi enfraquecendo cada vez mais e também morreu. Entretanto, sua alma não se tornou borboleta, ficando aprisionada dentro de uma flor próxima à sepultura da mãe, para assim permanecer ao seu lado.
Enquanto isso, Coacyaba, em forma de borboleta, voava entre as flores, colhendo seu néctar. Ao aproximar-se da flor onde estava Guanamby, ouviu um choro triste, que logo reconheceu. Mas, como frágil borboleta, não teria forças para libertar a filhinha. Pediu, então, ao Deus Tupã que fizesse dela um pássaro veloz e ágil, que pudesse levar a filha para o céu. Tupã atendeu ao seu pedido, transformando-a num beija-flor, podendo, assim, realizar o seu desejo.
Outra lenda ameríndia (são inúmeras!) sobre o beija-flor conta assim:
Muitos séculos antes do português Martim Afonso de Souza chegar ao Brasil, na região onde hoje chamamos “Mata Atlântica” havia, perto da costa, na floresta densa, uma aldeia de índios guaranis. Um jovem caçador costumava descer por uma trilha beirando um riacho e parava muitas vezes para admirar a beleza da jovem filha do feiticeiro da tribo Tupi, que se banhava e brincava com os animais que vinham saciar a sede no córrego. Um dia, não resistindo aos encantos da moça, ele colheu algumas flores, encheu-as de mel e foi oferecê-las, convidando a jovem a vir morar com ele. Ela aceitou, mas deveria antes ter a permissão do pai. Eles resolveram encontrar-se à noite, perto da gruta dos sambaquis onde o feiticeiro atuava. O pai da jovem, quando soube da decisão, preparou algumas poções mágicas, especialmente uma, na casca de côco, que deveria transformar o caçador em um bicho repelente, a fim de afastá-lo da filha. À noite, no meio de muitas iguarias com peixes e frutas, a jovem, já saciada com o mel das flores, foi logo pegar a bebida enfeitiçada que estava destinada ao caçador. Ninguém percebeu. No raiar do dia, quem passasse perto dos sambaquis podia ver deitado, imóvel, o velho feiticeiro que acabara de se envenenar após perceber que a filha se tinha transformado em pássaro; um caçador chorando de desespero, encostado nas pedras e um beija-flor voando de flor em flor, sugando o néctar, sem preocupar-se com a cena. Dizem que o jovem enamorado chorou tanto que suas lágrimas transformaram-se em rios, sendo suas lamúrias ouvidas tempos depois vindas das pedras, próximas aos sambaquis, como se fosse um canto. Os tupis-guaranis chamaram o local de “Itanhaém”, que significa “pedra que canta”.
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