6 de maio de 2007

Entre Jívaros

GAROTO Me chamo Pandu e sou shuar. Quando completei onze anos, o “uwishin” me levou aos montes de Cutucú.
XAMÃ Só comeremos banana com peixe, água e sem sal.
GAROTO Caminhamos. O “uwishin” me explicava tudo o que víamos na selva… o segredo de cada árvore… o idioma de cada pássaro…
CASCATA
GAROTO Chegamos à cascata sagrada. Todos os jovens shuar iniciamos sob suas águas.
XAMÃ Aqui tomaremos o “natem”.
GRILOS
LOCUTORA O natem ou ayahuasca é uma trepadeira da amazônia. Com ela se prepara uma bebida alucinógena. Os “uwishin” ou xamãs a usam há milhares de anos para comunicar-se com os espíritos. Ayahuasca, em quechua, significa “corda dos mortos”.
XAMÃ Com ela, passamos ao mundo dos espíritos.
LOCUTORA Para os shuar, o mundo em que estamos não é real, é só um trânsito para o verdadeiro. A ayahuasca é a porta para entrar nele.
XAMÃ Beba este copo, Pandu… Beba…
BEBENDO
LOCUTORA O xamã conhece bem essa outra dimensão, a verdadeira. A tem visitado muitas vezes. Aqui vivem os espíritos dos antepassados de shuar.
XAMÃ O que vês, Pandu?
RUÍDOS SELVA
GAROTO Vejo… papagaios… penas de cores… revoando… me levam à água… não, não!... O jaguar tem brasas nos olhos…
LOCUTORA Só o xamã sabe interpretar as visões…
GAROTO (RINDO) Estou voando até aonde nasce o sol… Vejo juntas a noite e o dia…
TAMBOR GRANDE
LOCUTORA Enquanto se toma ayahuasca, soa um tambor grande para chamar a Ayumpum, dono da vida e da morte.
TAMBOR GRANDE
LOCUTORA A ayahuasca não provoca adição. Com ela, os shuar e muitíssimos povos da Amazônia curam o corpo e libertam a alma... Um caminho místico.
MÚSICA SHUAR
LOCUTORA A nação shuar vive às margens dos rios Morona, Santiago e Pastaza, de lado e de outro da fronteira entre Equador e Peru. São mais de cem mil.
FRAGMENTO SHUAR
LOCUTORA Os shuar, também conhecidos como jívaros, têm fama justa de guerreiros indomáveis.
GAROTO Nossos avós faziam a “tzantza” . Cortavam a cabeça do inimigo. Com ervas especiais e cinzas quentes iam secando-a, diminuindo tanto, tanto, que ficava do tamanho de um punho... Lhe costuravam os lábios, para que a alma do vencido não entre nunca mais.
LOCUTORA A “tzantza” ou redução de cabeças era um rito religioso para apropriar-se da fortaleza dos agressores. Já não se pratica entre os shuar.
MÚSICA SHUAR
LOCUTORA A Federação Shuar está bem organizada. Destaca por sua autogestão, suas escolas, a luta por suas terras frente à voracidade das companhias petroleiras. Os shuar sabem defender-se. E contam para ele com a ajuda de Ayumpum, dono da vida e da morte.
GAROTO Me chamo Pandu. Me sinto orgulhoso de ser shuar, filho de valentes guerreiros. O povo das cascatas sagradas.
LOCUTORA Uma produção de Radialistas com o patrocínio da UNESCO e o apoio do Conselho Insular de Menorca, Espanha.

Para escutar o radioclip, clique aqui .

Para saber mais, leia: Juan Carlos Jintiach, La Tzantza, trofeo de guerreros , e em português depoimento de Tzamarenda Naychapi sobre o povo Shuar. Conheça publicações no site Arutam.

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