Solstício de Fertilidade
Quando tudo termina, é hora do recomeço: é chegado o Solstício de Inverno no hemisfério Sul! Segundo o site Xamanismo Ancestral, este é o ciclo no qual os espíritos de nossos ancestrais estão mais próximos dos vivos, e o véu entre os dois mundos torna-se mais fino e transparente. Por essa razão os xamãs ancestrais celebram o festival de Solstício de Inverno convidando os espíritos ancestrais para se funtar à festa, com finalidade de ensinar os antigos segredos, tradições e sabedorias. A cerimônia do Ano Novo Andino (marat'aqa) coincide com o solstício de inverno, que é quando o sol está mais distante do hemisfério sul do planeta: tem sua origem no fato de que o indígena sempre utilizou a natureza como uma fonte de sabedoria para saber como viver. O homem andino sempre considerou o movimento do sol, as correntes do vento e a época das chuvas para determinar o momento propício para obter alimentos. Desde tempos imemoriais ele se valeu da observação da natureza para determinar quando é tempo de semear e quando é tempo de colher. É por isso que o ritual do Ano Novo Andino compreende uma série de simbolismos que corroboram a inter-relação que existe entre o indígena e a natureza.
Há vários simbolismos que se podem observar nesta celebração. Tal é o caso da fertilidade da terra com o sacrifício de lhamas cujo sangue é uma oferenda ao Sol, a Terra e a outras deidades andinas, para dessa forma assegurar a prosperidade agrícola e pecuária. Além de significar um ato de ligação do homem com a natureza, a celebração do solstício de inverno é um símbolo de identidade cultural dos países andinos. A celebração nasceu no final do século passado como um movimento de resgate e reivindicação da identidade indígena depois que os ritos religiosos andinos foram proibidos na Bolívia Colonial. Para os sociólogos o ano novo aymará também se constitui num ato de caráter político onde alguns movimentos indígenas buscaram espaço de reivindicação política nos anos 60 e 70 na Bolívia. As principais reivindicações era poderem contar com uma religião própria, um partido político próprio e serem identificados como uma nação cuja historia tem a sua própria leitura. O ritual de solstício de inverno se constitui em uma cerimônia que consta de símbolos tanto quéchuas como aymarás, o que mostra a unidade étnica dos povos andinos. Eles procuram se destacar dos brancos e mestiços e formar uma só unidade através do culto ao deus Sol dos quéchuas junto com o culto a Pachamama dos aymarás. Com isso querem contar uma nova história diferente da história da Bolívia que é a história contada pelos brancos.
Tiwanaku representa o lugar mais sagrado para os aymaras porque as ruínas da cidade representam a presença física de seus antepassados e é ali onde eles se sentem como uma só unidade e rendem homenagens aos Achachilas, aos Tunupas e às demais deidades que formam parte do mundo andino aymará.
¡Willka Tata, Inti Tata! Que este ano haja boa colheita, que não haja fome! As mãos do amauta elevam ao céu uma oferenda a Pachamama.
Ao lado dele uma enorme fogueira dá o tom místico à cerimônia. ¡Willka Tata, Inti Tata! (pai sol), que este ano haja boa colheita!, repete o amauta (sábio), para logo depois depositar a wajta (oferenda) sobre o fogo. Soam os pututus. Os amautas despejam álcool sobre o fogo para que arda com intensidade. As ñustas cantam e as bandeiras wiphalas se agitam. Ao redor do templo de Kalasasaya centenas de visitantes observam em silencio respeitoso.
É o prelúdio da chegada do deus Sol, um Novo Ano Andino. Em 2007 será o ano de 5515 segundo os amautas. Ocorreu no amanhecer do dia 21 de junho como ocorre há uma centena de anos entre as 06.30 e 07.30 da manhã nas ruínas de Tiwanaku. Os amautas do povoado darão a Pachamama uma oferenda agradecendo pelas colheitas do ano passado, mesmo que não tenham sido boas: uma tarwa illa, para que o gado se multiplique, e uma espalla, ou tributo a terra. Quando saem os primeiros raios de sol os amautas pedem que todos os que estão presentes se dêem às mãos e as mostrem abertas ao céu para receber a energia positiva.
Centenas de mãos se elevam em direção ao sol. Mãos morenas e calejadas dos campesinos do norte de Potosí que chegaram para a celebração, mãos brancas dos moradores locais, e delicadas dos visitantes estrangeiros. Alguns entoam orações, outros se ajoelham, alguns tremem de emoção e há sempre aqueles que não conseguem conter as lágrimas. Os primeiros raios de Sol que surgem nas ruínas de Tiwanaku são considerados como energia positiva e também curativa. Os pututus vibram e começam a soar as tarkas e zampoñas. Depois da emoção vem a alegria e com ela as danças no centro do templo de Kalasasaya.
Um dia antes os amautas irão ler nas folhas de coca para ver se o próximo ano que se inicia será melhor que o ano que termina. Mas tudo irá depender de que os campesinos não se esqueçam de fazer oferendas à mãe terra. O ano será o resultado da reciprocidade. A terra nos provê como uma mãe e temos que pagar por isto. Dentro da cosmovisão andina, o homem não pode viver sem pagar á terra. Trata-se de uma filosofia de reciprocidade para se viver em harmonia.
O solstício não só se converte em um ritual onde se agradece a Pachamama (Mãe Terra) por todas as bênçãos efetuadas durante o ano, como também se constitui em uma forma de convidar o deus Sol a participar das atividades que a comunidade realizará durante todo o ano. Segundo os aymaras, o Sol fecunda e Pachamama germina.
Os amautas de Tiwanaku afirmam que 2007 é o ano 5515 do mundo andino. O cálculo teria sido realizado nas ruínas de Cusco, no Peru, com base em pedras que determinariam o rumo das épocas andinas. Seria um ciclo de 500 anos, pois o cinco é um número espiritual na concepção andina. O dígito representa o quinto ponto, o do centro, na constelação do Cruzeiro do Sul (Pusi Wara) que rege o calendário andino. De acordo com esse ciclo, a chegada dos espanhóis a América em 1492 representa o início de um ciclo de desgraças. Em 1992 começou um novo ciclo de bons presságios, o início de uma boa época para o mundo andino. Mas os arqueólogos asseguram que não existe uma base científica nessas afirmações. A cultura tiwanakota surgiu entre os anos 1500 e 1600 a.C. E se somarmos mais dois mil anos depois de Cristo, este grupo étnico teria no máximo 3.500 anos. Desta maneira, o solstício de inverno, 21 de junho, se constitui fundamentalmente no início de um ano agrícola. Período que dura até o solstício de verão em 22 de dezembro.
Texto original: © BOLIVIA.COM / Tradução ao português e adaptação: Marcelo Godoy e Eduardo Bayer
Sugiro que visitem o site da revista Ser Indígena onde encontrarão uma resenha completa dos ritos desta celebração. Ler também: Wetripantu, El Año Nuevo Indígena e Assim na Terra... como no Céu
Há vários simbolismos que se podem observar nesta celebração. Tal é o caso da fertilidade da terra com o sacrifício de lhamas cujo sangue é uma oferenda ao Sol, a Terra e a outras deidades andinas, para dessa forma assegurar a prosperidade agrícola e pecuária. Além de significar um ato de ligação do homem com a natureza, a celebração do solstício de inverno é um símbolo de identidade cultural dos países andinos. A celebração nasceu no final do século passado como um movimento de resgate e reivindicação da identidade indígena depois que os ritos religiosos andinos foram proibidos na Bolívia Colonial. Para os sociólogos o ano novo aymará também se constitui num ato de caráter político onde alguns movimentos indígenas buscaram espaço de reivindicação política nos anos 60 e 70 na Bolívia. As principais reivindicações era poderem contar com uma religião própria, um partido político próprio e serem identificados como uma nação cuja historia tem a sua própria leitura. O ritual de solstício de inverno se constitui em uma cerimônia que consta de símbolos tanto quéchuas como aymarás, o que mostra a unidade étnica dos povos andinos. Eles procuram se destacar dos brancos e mestiços e formar uma só unidade através do culto ao deus Sol dos quéchuas junto com o culto a Pachamama dos aymarás. Com isso querem contar uma nova história diferente da história da Bolívia que é a história contada pelos brancos.
Tiwanaku representa o lugar mais sagrado para os aymaras porque as ruínas da cidade representam a presença física de seus antepassados e é ali onde eles se sentem como uma só unidade e rendem homenagens aos Achachilas, aos Tunupas e às demais deidades que formam parte do mundo andino aymará.
¡Willka Tata, Inti Tata! Que este ano haja boa colheita, que não haja fome! As mãos do amauta elevam ao céu uma oferenda a Pachamama.
Ao lado dele uma enorme fogueira dá o tom místico à cerimônia. ¡Willka Tata, Inti Tata! (pai sol), que este ano haja boa colheita!, repete o amauta (sábio), para logo depois depositar a wajta (oferenda) sobre o fogo. Soam os pututus. Os amautas despejam álcool sobre o fogo para que arda com intensidade. As ñustas cantam e as bandeiras wiphalas se agitam. Ao redor do templo de Kalasasaya centenas de visitantes observam em silencio respeitoso.
É o prelúdio da chegada do deus Sol, um Novo Ano Andino. Em 2007 será o ano de 5515 segundo os amautas. Ocorreu no amanhecer do dia 21 de junho como ocorre há uma centena de anos entre as 06.30 e 07.30 da manhã nas ruínas de Tiwanaku. Os amautas do povoado darão a Pachamama uma oferenda agradecendo pelas colheitas do ano passado, mesmo que não tenham sido boas: uma tarwa illa, para que o gado se multiplique, e uma espalla, ou tributo a terra. Quando saem os primeiros raios de sol os amautas pedem que todos os que estão presentes se dêem às mãos e as mostrem abertas ao céu para receber a energia positiva.
Centenas de mãos se elevam em direção ao sol. Mãos morenas e calejadas dos campesinos do norte de Potosí que chegaram para a celebração, mãos brancas dos moradores locais, e delicadas dos visitantes estrangeiros. Alguns entoam orações, outros se ajoelham, alguns tremem de emoção e há sempre aqueles que não conseguem conter as lágrimas. Os primeiros raios de Sol que surgem nas ruínas de Tiwanaku são considerados como energia positiva e também curativa. Os pututus vibram e começam a soar as tarkas e zampoñas. Depois da emoção vem a alegria e com ela as danças no centro do templo de Kalasasaya.
Um dia antes os amautas irão ler nas folhas de coca para ver se o próximo ano que se inicia será melhor que o ano que termina. Mas tudo irá depender de que os campesinos não se esqueçam de fazer oferendas à mãe terra. O ano será o resultado da reciprocidade. A terra nos provê como uma mãe e temos que pagar por isto. Dentro da cosmovisão andina, o homem não pode viver sem pagar á terra. Trata-se de uma filosofia de reciprocidade para se viver em harmonia.
O solstício não só se converte em um ritual onde se agradece a Pachamama (Mãe Terra) por todas as bênçãos efetuadas durante o ano, como também se constitui em uma forma de convidar o deus Sol a participar das atividades que a comunidade realizará durante todo o ano. Segundo os aymaras, o Sol fecunda e Pachamama germina.
Os amautas de Tiwanaku afirmam que 2007 é o ano 5515 do mundo andino. O cálculo teria sido realizado nas ruínas de Cusco, no Peru, com base em pedras que determinariam o rumo das épocas andinas. Seria um ciclo de 500 anos, pois o cinco é um número espiritual na concepção andina. O dígito representa o quinto ponto, o do centro, na constelação do Cruzeiro do Sul (Pusi Wara) que rege o calendário andino. De acordo com esse ciclo, a chegada dos espanhóis a América em 1492 representa o início de um ciclo de desgraças. Em 1992 começou um novo ciclo de bons presságios, o início de uma boa época para o mundo andino. Mas os arqueólogos asseguram que não existe uma base científica nessas afirmações. A cultura tiwanakota surgiu entre os anos 1500 e 1600 a.C. E se somarmos mais dois mil anos depois de Cristo, este grupo étnico teria no máximo 3.500 anos. Desta maneira, o solstício de inverno, 21 de junho, se constitui fundamentalmente no início de um ano agrícola. Período que dura até o solstício de verão em 22 de dezembro.
Texto original: © BOLIVIA.COM / Tradução ao português e adaptação: Marcelo Godoy e Eduardo Bayer
Sugiro que visitem o site da revista Ser Indígena onde encontrarão uma resenha completa dos ritos desta celebração. Ler também: Wetripantu, El Año Nuevo Indígena e Assim na Terra... como no Céu
Um comentário:
http://www.luzdegaia.org/alertas/kbishop/paz.htm
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