26 de junho de 2007

Em busca do Tabaco

Artefato chamado "ídolo do tabaco". Madeira de Guayacán. De quase um metro de altura e escavado interiormente até a altura do umbigo, se supõe tenha sido ou urna funerária ou pote de rapés alucinógenos. Museu Antropológico Montané, Universidad de la Habana, Cuba. Fotomontagem realizada por Marlene García).

(Trechos de uma narrativa feita em Shuimïwei, comunidade Yanomami)

Graças a Kuripowë, conhecemos o tabaco...

— Estou ansioso, ansioso. Sinto uma necessidade que me deixa insensível a qualquer outra sensação — afirmava a voz que se aproximava.

— Estou ansioso, sinto uma ansiedade tão forte — seguia Kuripowë sem se interromper.

— Não é minha intenção encher-lhes o saco, só me queixo por sentir-me ansioso. Estou sentindo uma necessidade de algo, só por isso espalho esta queixa por toda parte.

— Vá transar com as mulheres, fazer-lhes crianças. Elas foram pra lá.

— Por que se queixa? Está de luto? Acham-se reunidos por causa de uma morte?

— Não. Queixo-me porque algo me falta, queixo-me porque sinto uma falta muito profunda.

— Quem é você?

— Sou eu, e estou me lamentando. Sou eu.

— Está de luto para se lamentar desse modo?

— Não. Estou me lamentando sem razão.

— As mulheres estão por aí, transe com elas, faça-lhes crianças.

— Não, estou falando sem razão. Estou atormentado por uma necessidade — acrescentou.

Finalmente, chegou até aquele que realmente tinha saber. Também ele achava-se em cima de uma árvore.

— Qual é a razão para estar se lamentando?

— Não há uma razão precisa. Falta-me algo. Sinto uma terrível falta e carrego meu lamento. Quebre um galho, cunhado, acrescentou, quebre um galho e deixe-o cair. Estou com fome.

Comeu o invólucro das sementes [do fruto pahi]. Ninguém lhe prestava atenção.

— Cunhado, deixo-lhe as sementes aqui.

Urinou em cima, e depois acrescentou:

Estão aqui, cunhado. Cozinhe-as e retire-as da água ainda quentes, e ponha na boca ainda quentes.

— Sim! Mas o que estava dizendo quando chegou?

— Estava me lamentando que algo me fazia falta.

— Veja aí, está perto de você, tem uma faca de pedra no chão, sobre o cabo tem uma masca de tabaco.

Queria provavelmente propagar o tabaco; em todos os lugares onde cuspiu o suco da masca, cresceu um pé de tabaco. A planta se elevou imediatamente e começou a florescer, os beija-flores chegaram para sugar. Foram estas as marcas que Kuripowë deixou em seu trajeto; foi graças a ele que o tabaco se propagou.

Ayë! ayë! ayê! — foram as exclamações do herói em narração registrada na comunidade Karohi. “Foi Nosiriwë — diz essa versão — quem propagou o tabaco por toda parte. Foi Cuchicuchi quem o descobriu”.

Esta é uma tradução de AmaZone de “En busca del tabaco (II)”, In Yanomami. Los pueblos indios en sus mitos Nº 4, pp. 68-70, de Jacques Lizot, Luis Coco & Juan Finkers (Abya-Yala, 1993). O mito pertence ao conjunto compilado por Lizot. Ler também: "O Uso Tradicional do Tabaco, a Erva do Diabo" , de minha autoria, que publiquei na última edição da Revista "A Arca da União".

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