24 de janeiro de 2008

Vídeo nas aldeias


Em novembro passado, o presidente Lula nomeou os 15 representantes da sociedade civil para integrar o Conselho Curador da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) responsável pela TV pública. Ao lado de Claudio Lembo, Delfim Neto e Luiz Gonzaga Belluzzo, está o professor e líder indígena, da comunidade ashaninka, Isaac Pinhanta. "É o Acre brilhando mais uma vez", afirmou a respeito o deputado estadual Edvaldo Magalhães. Isaac é o coordenador da Organização dos Professores Indígenas do Acre (Opiac). Recentemente filiou-se ao PC do B em Marechal Thaumaturgo onde disputará uma das vagas na câmara de vereador em 2008.

Na seção Textos do "Video in the Villages", Pinhanta assim expressa a importância do trabalho videográfico para as comunidades indígenas, dizendo ser o Vídeo mais um instrumento para se defender as culturas indígenas:

"No Acre tem povos que já estão com a sua língua quase extinta. Os oitenta e cinco mil hectares do nosso território já estão todos arrodeados com estrada, com tudo. Se a gente não se organizar, arranjar instrumentos para organizar o pequeno território, a gente vai morrer sem poder se defender. Esse é o grande problema de toda a sociedade indígena. E nós temos muitos problemas: tem o Peru que vem do nosso lado construindo estradas e envolvendo os Ashaninka de lá, tem o assentamento do Incra, tem a Reserva Extrativista, enfim, a gente não tem mais para onde correr, então a gente tem que trabalhar aquele entorno.

E os instrumentos que a gente tem de fora, para poder nos defender e para segurar a nossa cultura são a escrita - ter algumas pessoas que aprendam a dialogar, falar e escrever o português - e a câmera, porque você transmite a sua imagem sem precisar sair todo mundo de lá, sai uma pessoa e transmite o que está acontecendo, para as pessoas te ajudarem, te respeitarem. É daí é que vão sair os nossos aliados não indígenas, as pessoas que vão começar a combater esse preconceito.

Então nós estamos usando o instrumento com outro sentido, assim da nossa maneira mesmo. E também para ajudar a sociedade a nos conhecer melhor, mas da maneira que a gente pensa, nós aqui e vocês aí. Nós somos desse jeito, nós temos o domínio do nosso conhecimento e seria bom que todas as pessoas daqui para frente comecem a ver isso. É bom a gente ter esse diálogo. Tem gente que diz: "Ah! vocês querem ser branco, né?" Todo o povo hoje domina a tecnologia do japonês, mas o japonês não é brasileiro, nem brasileiro é japonês. É a mesma coisa, eu não sou Xavante, eu sou Ashaninka, ele é Xavante. Mas a gente pode se organizar com o mesmo instrumento que o branco usa mas com visual diferente, você vai usar ele de acordo com a sua necessidade, com a sua maneira de pensar."



Fontes: VÍDEO NAS ALDEIAS, Vermelho e Apiwtxa. Leiam também, na Revista Cinestesia: "Tratado de alteridade" - Entrevista com Isaac Pinhanta por Eduardo Ades, Luciana Penna e Tatiana Monassa. O vídeo "Dancing with a Dog", ("Dançando com Cachorro"), de Adalberto Kaxinawá, Isaac Pinhanta e Jaime Llullu Manchineri, pode ser adquirido em DVD.

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