A sociedade tribal contra o cativeiro deste mundo
Entrevista com Daniel Quinn, traduzida e legendada pelo grupo Uma Nova Cultura, onde o escritor fala a respeito da civilização e outros modelos organizacionais, bem como de suas perspectivas sobre o futuro.
Daniel Quinn nasceu em 1935, em Omaha (Nebraska), e estudou na Universidade de Viena, na Áustria, e na Universidade Loyola, de Chicago. Em 1975 abandonou a carreira de editor para tornar-se um escritor free-lance. Sua obra "Ismael" começou a ser escrita em 1977, e seguiram-se seis outras versões, até chegar à final, em 1992, quando ganhou o Turner Fellowship Award, destinado a obras de ficção "a oferecer soluções criativas e positivas para problemas globais". "Ismael" foi o primeiro livro de uma trilogia que inclui "A História de B" (1996) e "My Ishmael" (1997).
Eduarda Sousa resume: "O livro, escrito na primeira pessoa, começa com o sobressalto do autor ao encontrar um anúncio estranho no jornal: «PROFESSOR PROCURA ALUNO. Deve ter um desejo fervoroso de salvar o mundo. Candidatar-se pessoalmente». Curioso, ele responde e vai ter com o professor. Qual não é a sua surpresa ao verificar que o professor é um gorila. Ismael começa a contar a história da sua vida, fala-lhe dos anos de cativeiro e como posteriormente desenvolveu a sua inteligência. E assim começa a viagem do aluno pela verdadeira história do homem e da sua relação com o mundo."
"E ensinas o quê?"
Ismael selecionou um ramo novo da pilha à sua direita, examinou-o por um momento e começou a mordiscá-lo, olhando-me languidamente. Por fim, respondeu: "Com base na minha história, que matéria dirias estar eu mais qualificado para ensinar?"
Pestanejei e disse-lhe que não sabia.
"Sabes, é claro. A matéria que ensino é: cativeiro".
"Cativeiro".
"Exato".
Fiquei calado por um minuto, dizendo então: "Estou a tentar imaginar o que tem isto a ver com salvar o mundo".
Ismael pensou um pouco. "Dentre as pessoas da tua cultura, quais são as que querem destruir o mundo?"
"Quais são as que querem destruir o mundo? Tanto quanto sei, ninguém quer especificamente destruir o mundo".
"E no entanto destruí-lo, cada um de vós. Cada um de vós contribui diariamente para a destruição do mundo".
"É verdade, sim".
"E não parais porquê?"
Encolhi os ombros. "Francamente, não sabemos como".
"Sois cativos de um sistema civilizacional que mais ou menos vos compele a prosseguirem com a destruição do mundo de forma a continuarem a viver".
"É o que parece, sim".
"Sois portanto cativos — e fizestes do próprio mundo um cativo. É isso que está em jogo, não é? — o vosso cativeiro e o cativeiro do mundo".
"É verdade, sim. Só que nunca o pensara desta maneira".
"A teu modo, tu mesmo és um cativo não és?"
"Como assim?"
Ismael sorriu, revelando uma grande parede de dentes brancos como mármore. Até então eu não o sabia capaz de sorrir.
"Tenho a impressão de ser um cativo, mas não sei explicar por que motivo tenho eu tal impressão," disse eu.
"Faz alguns anos — à época devias ser tu criança, talvez não estejas recordado —, muitos jovens deste país tiveram a mesma impressão. Fizeram um esforço ingénuo e desorganizado para escaparem do cativeiro, mas acabaram por fracassar, por não terem sido capazes de encontrar as grades da jaula. Se não descobrirmos o que nos está a prender, a vontade de sair em breve se torna confusa e ineficaz".
"Foi essa a sensação que tive, sim.
Ismael assentiu.
Mas, insisto, como está isto relacionado com a salvação do mundo?"
"O mundo não sobreviverá por muito mais tempo como cativo da humanidade. Carece de explicação, isto?"
"Não. Pelo menos para mim, não".
"Acho que dentre vós muitos existem que gostariam de libertar o mundo do seu cativeiro".
"Concordo".
"O que é que os impede de o fazer?"
"Não sei".
"Eis o que os impede: São incapazes de encontrar as grades da jaula".
Fonte: Janos Biro. Leiam também: "Proteger o meio-ambiente: de quem é essa responsabilidade?", trecho de um discurso dado por Daniel Quinn para a Sexta Conferência Ambiental Anual da Universidade de Rice, Houston, Texas, 14 de Fevereiro de 1998. Outras informações: Ishmael Community e The Friends of Ishmael Society
Daniel Quinn nasceu em 1935, em Omaha (Nebraska), e estudou na Universidade de Viena, na Áustria, e na Universidade Loyola, de Chicago. Em 1975 abandonou a carreira de editor para tornar-se um escritor free-lance. Sua obra "Ismael" começou a ser escrita em 1977, e seguiram-se seis outras versões, até chegar à final, em 1992, quando ganhou o Turner Fellowship Award, destinado a obras de ficção "a oferecer soluções criativas e positivas para problemas globais". "Ismael" foi o primeiro livro de uma trilogia que inclui "A História de B" (1996) e "My Ishmael" (1997).
Eduarda Sousa resume: "O livro, escrito na primeira pessoa, começa com o sobressalto do autor ao encontrar um anúncio estranho no jornal: «PROFESSOR PROCURA ALUNO. Deve ter um desejo fervoroso de salvar o mundo. Candidatar-se pessoalmente». Curioso, ele responde e vai ter com o professor. Qual não é a sua surpresa ao verificar que o professor é um gorila. Ismael começa a contar a história da sua vida, fala-lhe dos anos de cativeiro e como posteriormente desenvolveu a sua inteligência. E assim começa a viagem do aluno pela verdadeira história do homem e da sua relação com o mundo."
"E ensinas o quê?"
Ismael selecionou um ramo novo da pilha à sua direita, examinou-o por um momento e começou a mordiscá-lo, olhando-me languidamente. Por fim, respondeu: "Com base na minha história, que matéria dirias estar eu mais qualificado para ensinar?"
Pestanejei e disse-lhe que não sabia.
"Sabes, é claro. A matéria que ensino é: cativeiro".
"Cativeiro".
"Exato".
Fiquei calado por um minuto, dizendo então: "Estou a tentar imaginar o que tem isto a ver com salvar o mundo".
Ismael pensou um pouco. "Dentre as pessoas da tua cultura, quais são as que querem destruir o mundo?"
"Quais são as que querem destruir o mundo? Tanto quanto sei, ninguém quer especificamente destruir o mundo".
"E no entanto destruí-lo, cada um de vós. Cada um de vós contribui diariamente para a destruição do mundo".
"É verdade, sim".
"E não parais porquê?"
Encolhi os ombros. "Francamente, não sabemos como".
"Sois cativos de um sistema civilizacional que mais ou menos vos compele a prosseguirem com a destruição do mundo de forma a continuarem a viver".
"É o que parece, sim".
"Sois portanto cativos — e fizestes do próprio mundo um cativo. É isso que está em jogo, não é? — o vosso cativeiro e o cativeiro do mundo".
"É verdade, sim. Só que nunca o pensara desta maneira".
"A teu modo, tu mesmo és um cativo não és?"
"Como assim?"
Ismael sorriu, revelando uma grande parede de dentes brancos como mármore. Até então eu não o sabia capaz de sorrir.
"Tenho a impressão de ser um cativo, mas não sei explicar por que motivo tenho eu tal impressão," disse eu.
"Faz alguns anos — à época devias ser tu criança, talvez não estejas recordado —, muitos jovens deste país tiveram a mesma impressão. Fizeram um esforço ingénuo e desorganizado para escaparem do cativeiro, mas acabaram por fracassar, por não terem sido capazes de encontrar as grades da jaula. Se não descobrirmos o que nos está a prender, a vontade de sair em breve se torna confusa e ineficaz".
"Foi essa a sensação que tive, sim.
Ismael assentiu.
Mas, insisto, como está isto relacionado com a salvação do mundo?"
"O mundo não sobreviverá por muito mais tempo como cativo da humanidade. Carece de explicação, isto?"
"Não. Pelo menos para mim, não".
"Acho que dentre vós muitos existem que gostariam de libertar o mundo do seu cativeiro".
"Concordo".
"O que é que os impede de o fazer?"
"Não sei".
"Eis o que os impede: São incapazes de encontrar as grades da jaula".
Fonte: Janos Biro. Leiam também: "Proteger o meio-ambiente: de quem é essa responsabilidade?", trecho de um discurso dado por Daniel Quinn para a Sexta Conferência Ambiental Anual da Universidade de Rice, Houston, Texas, 14 de Fevereiro de 1998. Outras informações: Ishmael Community e The Friends of Ishmael Society
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