10 de janeiro de 2008

Os tumbalalá e seu peixe vivo

Projeto de Transposição do Rio São Francisco no Nordeste brasileiro

"Dados Cru(do)s a Coze(i)r :::::: TUMBALALÁ ::::::: (ou a aldeia que nunca foi aldeia e que é muito mais que aldeia) ::::::: DESAFIATLux TUMBALALÁ

O reconhecimento oficial ocorreu após uma mobilização iniciada em meados de 1998 e direcionada para a adoção de projetos de articulação coletiva que gravitavam em torno de uma história, destino e origem comuns para as pessoas que formam hoje uma comunidade com fronteiras sociais em processo e ainda sem território demarcado. Habitando o sertão de Pambú, uma área na margem baiana do sub-médio São Francisco ocupada no passado por várias missões indígenas e alvo de criação extensiva de gado bovino durante os séculos XVII, XVIII e XIX, os Tumbalalá estão historicamente ligados a uma extensa rede indígena de comunicação interétnica, sendo, assim, parte e produto de relações regionais de trocas rituais e políticas que sustentam sua etnogênese no plano das identidades indígenas emergentes e os colocam no domínio etnográfico dos índios do Nordeste brasileiro.

Os Tumbalalá ocupam uma antiga área de missões indígenas e colonização portuguesa ao norte do estado da Bahia, entre os municípios de Curaçá e Abaré, na divisa com Pernambuco e às margens do rio São Francisco. Tem-se por referência o pequeno e antigo povoado de Pambú (S 08o 33’ W 039o 21’), a ilha da Assunção (TI Truká) e a cidade de Cabrobó (PE).

A história da colonização do sertão de Pambú remete ao século XVII e foi incrementada pela criação extensiva de gado bovino e pela formação de missões indígenas nas ilhas do sub-médio São Francisco. Essas duas agências coloniais, somadas a outros fatores tanto políticos quanto naturais, responderam por fluxos de deslocamentos e convergência de pessoas e famílias que fizeram desta parte do sertão uma referência regional no século XVIII.

Formando um importante núcleo de atração e povoamento interior, o sertão de Pambú foi ocupado até este período por ajuntamentos portugueses, vilas e aldeias de índios cariri, fazendas de gado, grupos de índios nômades não reduzidos, mas contatados, e outros ainda sem comunicação com os colonizadores. Dessa babilônia étnica que colocou lado a lado, em um complexo e tenso campo intersocial, pessoas e instituições com interesses e estilos culturais mais diversos derivam os Tumbalalá e as demais comunidades indígenas do sertão do sub-médio São Francisco.

A estimativa do número de famílias que hoje compõem o grupo tumbalalá é bastante imprecisa, haja vista que o processo de auto-identificação está em curso e os critérios de pertença estão sendo internamente formulados. Durante o processo de identificação étnica realizado em 2001 foram confirmadas cerca de 180 famílias, mas, baseado em dados propostos por lideranças, o limite máximo potencial da população tumbalalá chega perto de 400 famílias, só devendo haver maior clareza quanto esse número após o término do processo de regularização fundiária do território.

A diminuição de áreas antes freqüentadas e habitadas por animais silvestres de porte maior, como veado e tamanduá, fez da caça uma atividade restrita a animais de pequeno porte que habitam a caatinga ou a vegetação que nasce ao longo do curso intermitente dos riachos. São codorna, preá, cutia, camaleão e, mais raramente, tatu.

Devido às várias intervenções ao longo do curso do rio São Francisco que acabaram por diminuir o seu potencial piscoso e navegabilidade, a pesca já não participa significativamente da economia doméstica local, apesar de o rio ainda oferecer uma boa variedade de peixes aproveitados na alimentação, além de ser habitat de jacarés, capivaras e tartarugas pouco consumidos em função da escassez e dificuldade de serem pegos.

Etnogênese tumbalalá – assim como dos outros grupos da região do sub-médio São Francisco – é, portanto, um processo descontínuo e de longa duração. Em sua fase contemporânea o principal registro é a criação do terreiro de toré na fazenda São Miguel, propriedade da família Fatum, após a revelação feita a um membro desta família pelo encanto (sobre encanto, ver o item “ritual e cosmologia”) Manoel Ramos sobre a existência da aldeia Tumbalalá e seus limites. Isso na década de 50, quando algumas famílias locais trocavam regularmente experiências rituais e políticas com famílias da ilha da Assunção e de outras localidades, outrora missões indígenas. O ingrediente político que faltava para que os Tumbalalá seguissem o exemplo de seus vizinhos que obtiveram do Governo Federal a tutela, como os Tuxá, Atikum e Truká, veio após o encontro com a ANAI (Associação Nacional de Ação Indigenista) e o CIMI (Conselho Indigenista Missionário) no ano de 1998, configurando-se a seguir o início de um movimento organizado visando o diálogo com a Funai.

O sistema ritual dos Tumbalalá está baseado no culto aos encantos e no uso de um tipo de jurema (Pithecolobium diversifolium; Mimosa artemisiana) do qual se faz o “vinho” ingerido durante o toré. Esta planta, um arbusto de porte médio a grande típico do sertão do Nordeste, é central para a religiosidade indígena regional e apresenta algumas variedades que fazem parte do universo religioso de cultos afro-brasileiros, notadamente o catimbó ou candomblé de caboclo.

Os encantos, ou encantados – e ainda, mestres ou guias – tumbalalá são entidades sobrenaturais originadas do processo voluntário de “encantamento” de alguns índios ritual ou politicamente importantes, ao deixarem a existência humana, distinguindo-se dos espíritos produzidos pela inexorabilidade da morte. Neste caso eles são seres ontologicamente híbridos que transitam bem entre os homens e o sobrenatural porque não morreram – o que quer dizer que não assumiram completamente uma não-humanidade – e gozam de predicados inacessíveis a um humano." (...)

Transposição do Rio São Francisco
"Transposição do rio São Francisco movido pela máquina do governo pois o governo e seus seguidores querem acabar com o bem maior de todos os indígenas. pois é deste rio onde tiramos nosso sustento. AGRICULTURA E A PESCA. uma das fonte de renda indígena. o rio São Francisco está morrendo e o governo federal continua no plano transposição do São Francisco para outros estados do Nordeste: o governo federal e seus ministros querem beneficiar os ricos com água do velho chico, enquanto isso os pobres para beber é a preço de ouro: é essa a verdade, os índios que habitam no velho chico dizem: não transposição porque é um projeto de erro."

Aldeia Tumbalalá, 22 de maio de 2OO6
Texto escrito por: Noé Araújo Barbalho Tumbalalá.

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Índios Indomáveis

Somos índios e respeitamos para que sejamos respeitados, e com igualdade. Muitas pessoas falam que somos preguiçosos e ladrões, que queremos o que é nosso que é a terra, e não nos respeitam nem nossos costumes, hábitos e cultura, e nem nossas histórias. Durante muito tempo. ficamos a escondido sem nos identificarmos, fazendo nossos rituais a escondido por medo de sermos discriminados por nossas tradições. Nossos antepassados foram torturados, escravizados, roubados, massacrados, usados e abusados. Para os brancos e os poderosos, eles eram animais e ainda continuam sendo para alguns tipos da sociedade no mundo de hoje, eles não nos vêem como gente e como seres humanos. Igual aos outros se somos nós os roubados, eles que levaram nosso ouro e o pior, nossa paz, e muitos dizem que não somos índios por causa das nossas características mesmo eles sabendo da nossa história, onde começou a invasão dos crimes. Os invadores que mataram e violentaram nossos anterpassados. E nossas índias ficaram grávidas e pariram filhos brancos com cor igual a deles mas com sangue e espíritos índigenas, mesmo a cor e as características mudadas e os rostos marcados pelo sangue e pela morte, tornaram-se guerreiros e até hoje sofremos discriminações e desrespeitos, foi e continuam sendo com nós índios. Dona do Brasil, do rio, do mar, e da natureza, de um tudo somos fortes, temos um espirito indomável mesmo quando morremos. Temos um espírito de forças de paz, porque somos filhos de Deus, da natureza. Eles sabiam que roubaram nossas terras, ouro, pedras preciosas, petróleo, mas nunca vão roubar nossa integridade, nossa honra e nossas forças de vontade de alcançar o que de direito, com fé em Deus. Eles nunca vão comseguir destruir o que é bom em nós.

Tumbalalá.Abaré.Bahia
Texto escrito por:Rejane Kelly Marinheiro

Fontes: Blog Organismo.Art e http://www.flickr.com/photos/avesso/

O São Francisco na Barragem de Sobradinho, em Pernambuco

Assista: "A construção da auto-imagem de povos indígenas ressurgidos - Os Tumbalalá, os Kalankó e os Karuazu, Kóiupanká e Catókinn", de Siloé Soares de Amorim.

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