20 de novembro de 2007

Um tempo para cada coisa

foto: Tomas Abella - Altaïr

¡Ayaw haylli, yaw! ¡Ayaw haylli, yaw! ¡Ayaw haylli, yaw! ¡Ayaw haylli, yaw! Chaymi coya, chaymi palla [Aquí está reina, aquí está señora], Ahaylli. Ahaylli. [¡Viva! ¡Viva!]

Sendo a agricultura a principal atividade do Império Inca do Tawantinsuyu, o cultivo supunha que a semeadura, a colheita ou a rega fossem realizadas de acordo com um calendário anual, que foi desenvolvido durante milhares de anos até o período Inca. O conhecimento daquele cronograma se deveu aos cronistas quinhentistas como Guamán Poma, que descreveu o funcionamento do calendário agrícola imperial ilustrando-o com desenhos, que demonstram também a existência de um pensamento ambiental mágico.

Existia um calendário imperial e calendários regionais conforme as necessidades agrícolas de cada zona. O aspecto religioso-cultural era óbvio, pois a metade do ano era do Inca (Rei) e do Sol, um semestre masculino, enquanto que a outra metade era a da Luna e da Qoya (Rainha), ou seja, um semestre feminino. O calendário inca era lunisolar., e continua sendo praticado pelos remanescentes dos antigos ayllus no altiplano peruano e boliviano.

Começava-se o ano com o solstício de inverno, e reconheciam este momento graças a um sistema de observação, havendo ao redor da cidade do Cusco doze pilares dispostos de tal modo que a cada mês um deles assinalava por onde saía o sol e por onde se punha. Estes pilares se chamavam sucanga; e com eles se anunciavam as festas e os tempos de semear e colher.

A grande extensão do território do Império compreendia os dois hemisférios. Foi quando eles descobriram a existência da zona equatorial, onde o sol de meio-dia não fazia sombra em algumas colunas ou pilares durante determinadas jornadas, as do equinócio.

Esta descoberta foi feita em Quito, que eles pensavam estar muito mais perto do sol do que qualquer outro lugar. Provavelmente esta constatação influiu na decisão do Inca Huayna Cápac de mudar a corte para Tomebamba (Equador). Apesar de terem uma idéia pragmática do equador terrestre e das jornadas do equinócio, os incas não chegaram a compreendê-las em um processo científico, mas religioso.

Os astrônomos incas estabeleceram um calendário de 365 dias, cada um deles era materializado em uma huaca ou lugar sagrado. Dez destas huacas representavam uma espécie de semana, e três destas formavam o mês, ou quilla, doze das quais davam lugar ao ano.

Este calendário foi utilizado para os trabalhos agrícolas e para as festas, O ano começava em meses diferentes para as distintas etnias do território. Em geral, entre os agricultores, o ano começava em agosto-setembro, com a semeadura, e acabava em junho-julho depois das colheitas.

O site Novo Milênio compara assim o calendário inca com o Zodíaco:

Tarruca (Animal veloz e dotado de chifres) - Capricórnio
Mirku-Kcoyllur (Estrelas juntas) - Gêmeos
Chackana (Balança) - Balança
Mama-Hana (Mãe do céu ) -Virgem
Miki-Kiray (Tempo da água) - Aquário

Os meses e celebrações do calendário são os seguintes:

Janeiro: Huchuy Pacoy (Pequena colheita)
Fevereiro: Hatun Pocoy (Grande colheita)
Março: Pawqar Waraq (Ramo de flores)
Abril : Ayriwa (Dança do milho jovem)
Maio: Aymuray (Canção da colheita)
Junho: Inti Raymi (Festival do Sol)
Julho: Anta Situwa (Purificação terrena)
Agosto: Qapaq Situwa (Sacrifício de purificação geral)
Setembro: Qoya Raymi (Festival da rainha)
Outubro: Uma Raymi (Festival da água)
Novembro: Ayamarqa (Procissão dos mortos)
Dezembro: Qapaq Raymi (Festival magnífico)

Fontes: Telepolis, Bolivia en La Red, Discovery Brasil. Para se ler: "El calendario de los incas - Agricultura y comunidad" . Para ver uma apresentação em PDF do calendário agrícola de Guamán Poma de Ayala de 1580, com as imagens digitalizadas dos meses do ano adaptadas ao calendário de doze meses introduzido pelos espanhóis, clique em Calendario Agrícola Incaico Según Guaman Poma de Ayala. (organizado pelo historiador boliviano Luis Reynaldo Gomez Zubieta). No Digital Research Center of the Royal Library, da Dinamarca, se pode ler no original a obra de Felipe Guaman Poma de Ayala, El primer nueva corónica y buen gobierno (1615/1616).

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