6 de novembro de 2007

As tribos remanescentes no Brasil

Kanunxi, chefe da tribo Irantxe no Brasil, olha através de campos de milho e soja que circundam as terras de sua tribo no extremo sul da floresta amazônica. Foto por Monte Reel -- The Washington Post

Feito em 1900, o primeiro levantamento antropológico-cultural do País revelou a existências das seguintes 218 tribos — totalizando cerca de 1.250.000 índios — designadas de acordo com a convenção para a grafia dos etnônimos aprovada em 1953, pela I Reunião Brasileira de Antropologia:

Apinayé, Amniapé, Arawine, Aré (conhecidos como Xetás), Ariken, Aruá, Asurini, Avá (conhecidos como Canoeiros), Aweti, Amanayé, Afiaka, Agavotokueng, Alpatsé, Araras, Atruahi, Apalai, Apaniekra, Aiwateri, Arikapu, Amahuaka, Barawana, Bakairi, Baenan, Boróro, Botocudos, Dióre, Desana, Emerilon, Espinhos, Fulnió, Guajá, Guarategaja, Guajajara, Guarani, Galibí, Gorotire, Guabaribo, Guatô, Huari, Hobodene, Ipotewat, Itogapúk, Ipurinán, Irantxe, Mondé, Mudjetire, Mundurukú, Mawé, Mandawaká, Maopityán, Mehinaku, Manitenerl, Marawa, Matipuhy, Mayongong, Makuxi, Mentuktire, Maku, Makunabodo, Marinawa, Marakaná, Marúbo, Matanawi, Mayorúna, Mura, Mirania, Nahukuá, Naravúte, Nambikuára, Natú, Nukuini, Oyanpik, Ofaié, Oll, Paranawat, Parakanan, Parintintim, Purubora, Paumari, Palikur, Paresi, Pasé, Parikotó, Pianokotó, Purukotô, Pauxi, Pauxiana, Palmelas, Pakáánovas, Pakifal, Pataxó, Pakánáwa, Pokanga, Parawa, Poyanawa, Pakarara, Pankararú, Potiguára, Rama-Rama, Ramkólamékra (conhecidos como Canelas), Sanamaika, Salumá, Sikiána, Ipewi, Ingarikó, Iawano, Jabitiféd, Juruna, Javaé, Jabuti, Kaapor (conhecidos como Urubus), Kabixiana, Kamayura, Karitiana, Kawahib (conhecidos como Boca-Negras), Kayabi, Kepririwat, Kuruaya, Karipúna, Kokana, Kulino, Kustenao, Kanamari, Karutana, Kaxarari, Koripako, Kujijeneri, Katiana, Kuniba, Kayuixana, Kinikinão, Kalapalo, Kuikúro, Katawian, Kaxuiana, Kaingang (conhecido como Coroados), Kubén-Kran-Kégn (conhecidos comos Cabeças peladas), Kubén-Kragnotire, Kayapó-Kradaú, Krem-Yé, Krahó, Kenkateye, Krikati, Kabixi, Kanamari, Kapanawa, Karajá, Katukina, Kaxinawa, Kobewa, Kurina, Kadiweu, Karipúna, Kuyanawa, Kamakan, Layána, Manitsawa, Makurap, Mialat, Suyá, Sakuyá (conhecidos como Remos), Takuatép, Tapirapé, Tukumanféd, Tupari, Tembé, Turiwará, Tariana, Terena, Tirió, Tsuva, Taulipang, Timbira, Txakamekrá (conhecidos como Mateiros), Tapayúna, Trumai, Txikão, Tukaná, Tukuna, Tuxinawa,Tuxá, Torá, Urami, Umotina (conhecidos como Barbados), Urupá, Uampé, Wiraféd, Waurá,Warekéna, Wapitxána, Wainumã, Waimiri, Waiwai (conhecidos como Tapiocas), Wayaná, Waiká, Wayoró, Wanána, Waikino, Witóto, Wakona, Xipaia, Xiriana, Xavante, Xikrin, Xerente, Xokleng, Xipinawa, Xoró, Xukuru, Yabááná, Yawalapitj, Yamamadl, Yuberi, Yaminawa, Yumã, Yuri.

Como não há um censo indígena no Brasil, os cômputos globais têm sido feitos – seja pelas agências governamentais (IBGE, FUNAI ou FUNASA), pela Igreja Católica (CIMI) ou pelo ISA – com base numa colagem de informações heterogêneas, que apontam para estimativas globais que oscilam entre 350.000 e mais de 700 mil.Variam os critérios censitários e as datas; há povos sobre os quais simplesmente não há informações; sabe-se pouco sobre os índios que vivem nas cidades... Até o número de povos varia, seja porque índios isolados vêm a ser conhecidos, seja porque novos povos passem a reivindicar a condição indígena (identidades emergentes).

O caso dos Irantxe é exemplar a respeito da luta das tribos remanescentes para garantir às futuras gerações o espaço da terra de seus antepassados: hoje o povo Manõki (como eles próprios se intitulam) habita a região noroeste do Mato Grosso, entre as cidades de Campo Novo do Parecis e Brasnorte, próximo a rodovia que segue a cidade de Juína, o que permite chegar até mesmo com ônibus de linha (Cuiabá/Juína) a Terra Indígena Irantxe. Sua terra demarcada tem área de 45.555,95 hectares, a vegetação é de cerrado, tendo também mata de galeria e está fora de sua terra tradicional que fica entre os rios Cravari e Sangue e vegetação, em grande parte, de transição para floresta amazônica. Atualmente os Irantxe estão reivindicando parte de seu território tradicional, que já está em estudo.

As primeiras referências aos Irantxe datam de 1910 e foram registradas pelo Marechal Rondon. Em meados da década de 40, reduzidos por massacres cometidos por seringueiros, conflitos com povos visinhos e doenças, os Irantxe, em sua maioria, se dirigiram para a missão de Utiariti. Sua população chegou a ser de 52 pessoas e na maioria masculina. Em 1968, estimulados pelos missionários jesuítas de Utiariti, os irantxe deixaram a missão de Utiariti e se estabeleceram na atual T.I. Irantxe. O crescimento populacional voltou a crescer devido principalmente aos casamentos intertribais o que, por outro lado, prejudicou o uso cotidiano da língua nativa. Atualmente os Manoki somam por volta de 250 pessoas. A economia tradicional está bastante desestruturada, fazendo com que a juventude procure freqüentemente as lavouras mecanizadas em busca de trabalho remunerado.

Mei-Ling Hopgood escreveu em 2005 do norte do Mato Grosso para Cox Newspapers (a tradução é de Danilo Fonseca para o Jornal da Ciência):

Tupxi, um índio brasileiro, olha zangado para uma fileira de pés de milho que, segundo ele, estão crescendo sobre os ossos dos seus antepassados. Ele também nasceu nesta terra. Mas Tupxi, que calcula ter 77 anos, não sabe se será enterrado aqui. A sua tribo, os Irantxé, perdeu suas terras na década de 1950, quando agricultores vieram para cá a fim de plantarem seringueiras e outras culturas. Àquela época, o governo brasileiro removeu os índios. Os Irantxé foram transferidos para uma pequena reserva do outro lado do rio. Lá, a pequena tribo quase acabou.

"Esta é a minha terra", afirma Tupxi.

Na esperança de serem bem sucedidos como vários outros grupos indígenas que lutaram para reaver as suas terras, os Irantxé apelaram ao governo. Eles esperam que algum dia possam transformar as fazendas em matas e trazer de volta animais como a anta, o veado e o porco do mato, diz Tupxi. Eles querem produzir o seu próprio alimento, e deixar de depender dos brasileiros "brancos". Mas, por ora, os Irantxé precisam voltar, remando em suas canoas, para a única terra que o Brasil lhes deu, e aguardar. (...)

Os Irantxé ainda praticam danças rituais, e pintam os corpos com sementes de urucum. Mas eles vestem roupas ocidentais: camisetas, calças jeans e sandálias de dedo. Falam e estudam o português e a sua língua nativa. As famílias moram em casas de tijolos sem eletricidade, que à noite são iluminadas apenas por lamparinas. Eles conhecem essas florestas como a palma da mão. Até mesmo as crianças se movimentam com precisão no escuro.

A terra que desejam é quase cinco vezes maior do que a atual reserva, e, segundo eles, possui um solo mais fértil e recursos naturais abundantes. Os antropólogos os visitaram, tendo gravado as histórias orais e desenhado mapas a fim de provarem que a área pertence à tribo. Atualmente, a terra está dividida em várias fazendas, embora o governo tenha baixado restrições às atividades agrícolas na área enquanto as autoridades avaliam a disputa pendente. Os Irantxé deram entrada oficial com um pedido de posse em 1993, e não se sabe se tão cedo o governo anunciará uma decisão. Enquanto isso, a tribo garante que os fazendeiros continuam expandindo as suas plantações, derrubando mais matas a todo momento. Há muitos boatos de que o governo federal teria feito um acordo com os empresários rurais no sentido de interromper a expansão das terras indígenas na área.

Impacientes, alguns Irantxé querem ocupar parte da terra ilegalmente.

"O que não entendo é o fato de termos que lutar por algo que é nosso", reclama Kanuzi, um irantxé de 26 anos.

"No entanto, estamos confiantes", garante Arazi, 42. "Se Deus quiser, teremos as nossas terras de volta".


"Jãli Pasenamapinãtã Mãlêta: Nós cantamos bonito"
Cd de Cânticos Rituais do Povo Indígena Irantxe "Manoki"

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