Amazonía Sumaq Kawsay
«Nós nos questionamos se um povo pequeno como o nosso pode mudar o mundo. Não pode! Mas nós estamos seguros que dentro de cada coração existe um povo que luta com a mesma força, e assim, mesmo sendo pequeno, nós somos símbolo da potência da vida.» (José Gualinga falando no documentário "Soy defensor de la selva", de Eriberto Gualinga).
MENSAGEM DOS YACHAKS DE SARAYAKU - AMEMOS A VIDA, A NATUREZA É VIDA:
"No transcurso de nossa existência somos responsáveis do que a natureza nos brindou para que o utilizemos de modo racional e possamos subsistir harmonicamente, e é de nossa completa responsabilidade viver em um ambiente são o que implica viver gozando de boa saúde física e mental.
Tudo o que existe na humanidade tem uma razão de existir, os recursos naturais não são a exceção, o petróleo não é a exceção, para muitos indivíduos o que vou dizer poderia soar poético e irreal, mas não é assim, o que vou dizer é real, tão real como a vida mesmo. A natureza tem vida própria, os rios, lagos, montanhas, árvores e tudo o que existe na natureza tem vida própria, atentar contra elas significa ocasionar imprudentemente um desequilibrio irreversível e alterar o transcurso normal da existência, e começam os desastres naturais para muitos inexplicáveis mas para nós explicáveis, essa é a maneira como protesta A MÃE NATUREZA pedindo a ouvidos surdos ser escutada.
Em meus 80 anos de vida vi muitas transformações, o que hoje defendemos não é o que existia antes: nesse tempo que passou, com a entrada da companhia Shell já se depredou parte de nossa natureza, com dor observamos como se extinguiam muitas espécies, que hoje não lhes encontramos mais, nos lagos encontrávamos mortas as imensas sucuris, botos, peixes-boi, jacarés, e pouco a pouco os seres dos rios e das montanhas buscaram refúgio, e muito recentemente é que se encontram agora em recuperação porque, a sábia Mãe Natureza torna a recuperar-se mas isto leva muitos anos e talvez as espécies que antes existiam já não voltem a se encontrar.
O petróleo, tão cobiçado por seu valor econômico monetário, não é nada mais e nada menos que o sangue que dá vida à Mãe Terra e sua natureza - agora se tenta tirar o sangue de seu corpo e viver na morte, não é lógico desangrar à mãe terra e pedir que a natureza não reaja, mas esta lógica possivelmente não funciona com os que à custa de tudo querem explorar o petróleo: de que lhes vai servir todo o dinheiro do mundo se vão rumo a sua própria desdita e morte, será que os grandes edifícios, as grandes mansões são imunes à reação da natureza, será que os terremotos, as erupções vulcânicas, as inundações, as tempestades não lhes afetam? Imagino que quando seja demasiado tarde nos daremos conta que a humanidade se equivocou e se autodestruiu mas já será tarde.
Muitos jovens, que ainda não viveram o suficiente para amar o que são, crêem que decidir sobre a vida é fácil, ou que por haver saído afora podem decidir sobre a vida interna das comunidades sem pedir a opinião dos anciãos, não se dão conta que cavam sua própria desdita, pois viver dignamente é importante, isso implica em ter consciência e princípios sólidos - lamentavelmente nos temos dado conta que muitos jovens que pedem que ingressem as companhias petroleiras dizendo falar em nome das comunidades, achando que vão contribuir ao desenvolvimento das comunidades, não possuem a mínima idéia de que desenvolvimento querem, o que pretendem é copiar algo perdendo a identidade e a dignidade.
A perda de identidade tem muitas formas, mas a pior perda é atentar contra os princípios de quem somos e para que estamos: uma pessoa pode estar em qualquer parte do mundo, interrelacionar-se com respeito com outros povos e ainda assim não perde sua identidade quando é consciente de quem é.
Senhores, lhes solicito encarecidamente, ajudem-nos a cuidar da humanidade, respeitando a terra e a mãe natureza, se cada indivíduo põe um grãozinho de sua parte será suficiente e a vida continuará."
Palavras de Sabino Atanacio Gualinga Cuji, representante dos Yachak (pajés) da Comunidade Kichwa de Sarayaku. O nome "Sarayaku" vem dos sábios ancestrais da nação Kichwa há centenas de anos, e em português significa RIO DO MILHO, mas nesta região o pão de cada dia na atualidade tem sido o assalto, o ultraje e injustiças contra os líderes e organizações que representam a comunidade. Estes ultrajes são parte dos métodos das empresas petroleiras estrangeiras, que não têm constrngimento algum: quando se trata de extrair petróleo, realizam provas sísmicas sem o consentimento das comunidades. O anterior governo equatoriano chegou a aludir "que os direitos de propriedade das comunidades indígenas se aplicam à superfície e não ao subsolo, que é patrimônio nacional", inclusive que "se não permitem o desenvolvimento petroleiro da zona, deveriam pagar ao Estado os 60 bilhões de dólares que vale o óleo cru que está no subsolo".
A comunidade de Sarayaku resiste sob o exemplo de Beatríz Gualinga Cuji, que em sua infância viveu a febre do caucho, emigrou para a cidade, para trabalhar como empregada doméstica, para depois regressar para lutar e defender o direito a viver em paz em sua terra. Durante mais de 25 anos, foi defensora da vida indígena, defensora da natureza, defensora do direito de seu povo. Quando morreu tinha 65 anos, a chamavam com carinho "Bacha". Beatríz Gualinga impulsionou a unificação indígena, protagonizando a marcha histórica dos indígenas do Pastaza em 1992, quando os indígenas conseguiram obter títulos legais de 2 milhões de hectáreas de territórios ancestrais. Sua voz se fazia ouvir e retumbava nos salões do "Señor Gobierno", como ela os denominava, quando se referia ao presidente do Equador. Antes de morrer e com lágrimas nos olhos, invocava aos céus e dizia: " até quando tanta injustiça!" e pediu a seu povo "Ima urasbas llaktata jarkanata ama sakinguichichu", "nunca deixem de lutar por nossa comunidade".
Para se ler: "Violações dos Direitos Econômicos: Um Roteiro das Obrigações do Estados - e suas Falhas!", no site DHNet. "En Sarayaku, la Mujer ejerce un fuerte liderazgo", é um artigo interessante disponibilizado em Quechua Network , e "Demandas y Propuestas de los Pueblos Indígenas al Estado Ecuatoriano" é uma publicação da Universidade de Princeton em 2001 que faz um retrospecto do movimento indígena no Equador. Conheçam também um álbum de fotos de Sarayaku no Espace Bolivarien, de onde saquei algumas imagens para esta matéria.
Para se ler: "Violações dos Direitos Econômicos: Um Roteiro das Obrigações do Estados - e suas Falhas!", no site DHNet. "En Sarayaku, la Mujer ejerce un fuerte liderazgo", é um artigo interessante disponibilizado em Quechua Network , e "Demandas y Propuestas de los Pueblos Indígenas al Estado Ecuatoriano" é uma publicação da Universidade de Princeton em 2001 que faz um retrospecto do movimento indígena no Equador. Conheçam também um álbum de fotos de Sarayaku no Espace Bolivarien, de onde saquei algumas imagens para esta matéria.
Fontes: sites Sarayacu e Vulcanus.
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