3 de novembro de 2007

A alma e a vida dos Yanacona

Nos povos andinos da América e neste caso o povo yanacona existe um mundo plasmado de conhecimentos e tradições que nossos avós nos transmitiram de geração em geração, estes conhecimentos são para nós o saber, que não se pode medir nem levar aos laboratórios já que esta se constrói com o viver e a experiência do homem em meio à natureza.

Nossos conhecimentos não são estáticos, mas sim estão em constante movimento, assim como oscilam as fases do tempo, onde o atrás e o adiante se vinculam para renovar cada instância da vida e da resistência do povo. Por isso durante o transcurso da vida do povo yanacona existe uma grande quantidade de modos de perceber e entender todo o existente. Dentro deste existe um espaço simbólico que se encontra imerso em nossa mãe natureza, pois o que tecnicamente é denominado nos livros como signos naturais sem razão nem explicação, é para nós o sentido de nossa existência.

Nós, os povos indígenas temos interiormente uma série de ícones ou símbolos como: lagoas, rios, montanhas, montes, a chimirimia, a dança, a indumentária, o kuychi, chakahana, cerimônias e ritos ancestrais, que são de grande importância porque nos unem e nos identificam como povo.

O “caminhar no tempo” é a maneira como vamos transmitindo o ensino para que nossos irmãos (Waykis) e nossas crianças (Wuawuas), não percam a essência nem o sentido da existência do que é o mundo, do que demarca em cada espaço a aplicação e apropriação de um caminho simbólico. Quando entendemos que o atrás está adiante, nos referimos ao fato de que vamos pelo caminho de nossos ancestrais (Qhapaq Ñan), os quais já viveram para ensinar-nos, nos referimos ao caminho que foi aberto por aqueles líderes e sábios que já se foram deste mundo, que nós apenas estamos percorrendo e que nossos filhos ou os que virão, devem seguir. Um modo de transmitir estes saberes é o tecido, é por isso que os yanakuna organizados estamos tecendo a Coberta Yanacona.

No povo Yanacona existiu e existe o saber e o tecido ancestral construído por nossos maiores, sábios que através do tempo o transmitiram a nós seus filhos e que hoje o possuímos em cada uma de nossas comunidades.

Nossos maiores transmitem seu pensamento através de seus tecidos, pois unindo cada nó se fortalece um mundo de sabedoria para o caminho de identidade e resistência de nosso povo.

Com o tecido próprio se constrói a unidade e irmandade do homem com a natureza, onde se reflete o espírito ameríndio, com a alma cheia de alegria, reflexão e amor para com nossa Pacha Mama. Sendo este um trabalho fundamental, que desde a hawanga até a ruana fazem parte de nossa grande luta por conservar e fortalecer nossa identidade.

Dentro de nossos territórios, culturas alheias nos fizeram perder o verdadeiro valor de nossas diferentes expressões culturais e artesanais até chegar ao ponto de que algumas autoridades e companheiros nos envergonhemos de levar ou colocar-nos nosso traje típico.

Hoje é a partir dos jovens que queremos expor um grito de unidade e fortaleza, para que valorizemos o grande esforço que vêm fazendo nossos sábios artesãos para manter e conservar a arte, o pensamento, e o equilíbrio para com a mãe terra.


O Nascimento

O homem veio ao mundo da natureza, por isso os avós falam de que foram capazes de amansar as lagoas, quando se fala do nascimento dos bebês nossos avós dizem que era costume amarrá-los à mãe terra e para fazê-lo o costume era enterrar a placenta. Quanto mais profundo fosse o enterro da placenta o bebê tinha melhor fortuna e fortalezas como também a dentadura era boa.

Se conhecem três formas de enterrar a placenta: no pé da porta, para que seja andarilho; na horta para que seja trabalhador; na cozinha para que nunca saia do território.

Este tipo de elementos que estamos esquecendo, são os que constróem nossos saberes e conhecimentos; e que em outras partes do mundo estão sendo copiados como parte de subsistência na terra, por isso nós como povos indígenas devemos dia após dia manter nossas tradições ancestrais para a sobrevivência no mundo.

A Vida

A primera escola dos Yanaconas foi o fogão, já que a seu redor se sentam os pais a conversar, a intercambiar e desta manera as crianças aprendiam sobre o mundo cultural, desde antigamente o princípio da educação foi neste círculo pois ao redor das panelas se contavam anedotas, lendas e mitos para que a obediência dos filhos fosse boa e existisse o respeito aos maiores, através do fogão os pais ensinam aos filhos a forma de trabalhar a terra e às filhas a elaboração do tecido.

Hoje em dia os povos indígenas estão enfrentando um ritmo de vida acelerado que nos está fazendo perder o tiempo, por isso é tarefa dos líderes, jovens e comunidade em geral fortalecer este processo através de nossos filhos já que são a alma e a esperança de um futuro digno de existência.

Devemos buscar mecanismos de resistência para enfrentar os meios tecnológicos como o rádio e a televisão que pouco a pouco estão matando o diálogo entre filhos e pais em nosso povo yanacona, tratando de cultivar toda essa riqueza cultural que ainda persiste no tempo.

A Morte

Se diz no povo yanacona que a morte é conectar-se com o mais além, antes se realizava um ofertório de produtos aos mortos, se selecionava a melhor comida que em vida a pessoa gostava e a colocavam debaixo de uma árvore para que ele a degustasse, particularmente se realizava a oferenda nas horas dla noite pois nossos maiores argumentam que quando no mundo dos vivos é de dia para o mundo dos espíritos é de noite, por isso a oferenda se realizava a cada ano e em horas da noite porque dizem também que quando neste mundo passa um ano (ou seja os trezentos e sessenta e cinco dias) para o mundo dos espíritos passa apenas um dia e uma noite.

O processo de vida para nós os Yanacona é em espiral, pois quando se chega ao final se retorna ao ponto de partida (nascimento) para cumprir um ciclo. Ainda se conserva em nosso pueblo um grande legado de lendas e mitos acerca da morte. Por exemplo, se diz que a morte é um sonho e que enquanto dormimos nosso espírito se sai do corpo e se conecta a outro espaço com outros espíritos.

O povo yanacona tem grande diversidade de simbologia, a qual permitiu-lhe manter-se e identificar-se como filhos e guardiães do Maciço Colombiano, nossos usos e costumes são parte da simbologia , dentro disso encontramos o comportamento do verdadero sentir do indígena, cada uma destas montanhas guarda no mais recôndito de seu espaço uma sabedoria incomparável para nós pois cabe ressaltar que é a parte simbólica a que permitiu que ainda estejamos sobrevivendo como povos neste território, a simbologia a encontramos ao nosso redor e dia após dia nos alimenta de sabedoria, uma chirimia por exemplo é símbolo de harmonia e alegria , nossa roupa ademais de que nos faz ver como Yanas é símbolo de calor em nossos páramos, a guarda indígena símbolo de autoridade e controle social no interior de nossas comunidades, todo o nosso viver cotidiano está rodeado do simbólico e isso nos torna dignos de existir.

Hoje em dia faz falta que nossos líderes se apropriem cada dia mais do que possuímos para serem coerentes com o discurso da preservação do nosso que é de todos, os líderes devem ter conhecimento integral para poder falar de resistência e defesa de nosso território, e para isto é preciso conhecer a riqueza simbólica que temos em nosso território.

Texto de: Víctor Tintinago Piamba. Governador Juvenil - Programa de Jovens do Povo Yanacona. Ler texto completo em espanhol aqui. Contatos com o autor: 3103706203 – 8279208 emisora rioblanco , e-mail: loboyanacona@hotmail.com

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