A Família Pano
Julio Cusurichi, líder Shipibo da região amazônica do Peru, que ganhou o Prêmio Ambiental Goldman 2007 para América Central e do Sul, falando com os jornalistas em Lima durante um protesto contra os direitos de exploração concedidos a companhias internacionais de petróleo pelo governo peruano em áreas onde afirmam que as tribos indígenas vivem em isolamento voluntário. O letreiro diz em espanhol "Parcela 113, Indígenas Isolados Mashcu-Piro, Yine e Amahuaca. Madre de Dios Reserva Territorial. Descanse em Paz".
Segundo ERIKSON (1998), a família Pano possui uma grande homogeneidade territorial, linguística e cultural distribuída em três países: Brasil, Bolívia e Peru. De acordo com SHELL (1975), essa família conta com cerca de três dezenas de línguas faladas por aproximadamente 40.000 pessoas, sendo 30.000 só no Peru, cerca de 8.200 no Brasil e umas 800 na Bolívia. Segundo AMARANTE RIBEIRO (2003), as etnias Pano ocupam juntamente com povos falantes de outras famílias linguísticas um vasto território (100 milhões de hectares) de forma aproximadamente quadrangular limitado pelos paralelos 3° S e 14º S e pelos meridianos 72° W e 64° W na região amazônica. Seus representantes habitam as áreas adjacentes aos rios Purus, Juruá, Madeira e seus afluentes.
Quanto às línguas que compõem a família Pano, a literatura menciona 26 vivas, ou seja, aquelas que ainda são faladas por povos localizados no Brasil, Bolívia e Peru. A distribuição das línguas nos três países é a seguinte: 12 no Brasil (Arara, Katukina, Kaxarari, Korubo, Kulina, Marubo, Matis, Nawa, Nukini, Poyanáwa, Shanenawa e Yawanawa), duas na Bolívia (Chácobo e Pakawara) e nove no Peru (Amawaka, Iskonawa, Kapanawa, Kashibo-kakataibo, Mastanawa, Shipibo-Konibo, Sharanawa, Xitonawa e Yoranawa). Outras duas, o Kaxinawa e o Matsés, são faladas tanto no Brasil como no Peru e uma última, o Yaminawa, é falada concomitantemente nos três países que possuem povos Pano. Infelizmente, uma parte considerável dessas 26 línguas encontra-se em processo de extinção, correndo o risco de se juntarem a outras 10 que, no século passado, não puderam escapar desse processo. São elas: o Nokaman, o Panobo, o Remo, o Atsawaka, o Arazaire e o Yamiaka (todas faladas no Peru); o Kanamari Pano, o Tuxinawa e o Karipuna Pano (faladas no Brasil).
Uma característica singular dos povos Pano é o contraste entre sua homogeneidade linguística, cultural e territorial, e o fato de que, em geral, esses povos ignoram a existência de outras etnias de línguas da mesma família a não ser que sejam vizinhos muito próximos. A exceção ocorre no contato que se estabelece durante os encontros realizados pelas Secretarias de Educação para treinamento de professores bilíngues ou encontros políticos multilaterais. Muitos povos Pano, como se nota na citação acima, têm nas palavras usadas para nomeá-los um sufixo peculiar {-bo} ou o radical {-nawa} que significam ‘povo’, ‘estrangeiro’ ou mesmo ‘inimigo’, dependendo do contexto em que são usados. Isso nos faz concluir que os nomes citados neste projeto não se tratam de auto-denominações, mas de atribuições feita por membros de outras etnias.
Do ponto de vista científico, as línguas Pano têm sido estudadas, além do GICLI, por pesquisadores de renomadas instituições brasileiras e sul-americanas como a UNICAMP, o Museu Nacional do Rio de Janeiro, a UFRJ, a UFG, a UFPE, UFAL, a Universidade de São Marcos, no Peru, entre outras.
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Foto: AP. Conheçam LINGUAMÓN -Casa das Línguas.
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