30 de novembro de 2009
29 de novembro de 2009
Exploração petroleira na Amazônia
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Revelações (V)
“Os homens-deus, poderosos xamãs locais, se apresentam aos índios [da América do Sul] como chefes religiosos e hegemônicos, encarnações de um herói cultural do mito indígena, anunciadores de uma era de renovação e de uma nova religião. Eles se opõem mais ou menos sistematicamente ao domínio dos brancos, fazendo-se intérpretes da reação nativa contra os ultrajes e as humilhações sofridas da parte dos portugueses e espanhóis, leigos e missionários. Os homens-deus vêm, pois, criar em torno de si outros focos de resistência contra os brancos, fundando uma unidade de novo tipo entre aldeias e tribos, frente a um opositor comum. Os homens-deus, chamados pajés segundo as fontes originais, se vangloriam de poder conferir aos prosélitos longevidade e até imortalidade, e de curar doentes. Representam figuras institucionais de sacerdotes-xamãs, cuja origem é indubitavelmente anterior à época colonial e mergulha no cabedal religioso originário local, com o seu fundamento xamanístico. No entanto, a conquista dos brancos teve, por certo, o efeito imediato de incrementar o número e a difusão destes homens-deus. (...)
Fonte: LANTERNARI, Vittorio. “As Religiões dos Oprimidos – Um estudo dos modernos cultos messiânicos”. São Paulo: Perspectiva, 1974. Col. Debates, v.95. (págs. 196 a 198).
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28 de novembro de 2009
Revelações (IV)
GHOST DANCE
"Todos os índios devem dançar. Em todo lugar. Seguir a dança. Logo, com a próxima primavera, virá o Grande Espírito. Trará caça de todo tipo. Abundarão as presas por toda parte. Todos os índios mortos regressarão e viverão entre nós. Serão fortes, como nossos jovens guerreiros.
Quando o Grande Espírito vier a nós, os índios todos subirão às montanhas, ao mais alto e distante dos brancos, onde não nos possam fazer dano. Enquanto os índios permanecerem lá, uma grande inundação arrastará a seus inimigos e os afogará. Depois as águas se retirarão e ninguém senão os índios povoarão a terra e a caça generosa estará por toda parte.
Até lá, os homens-medicina dirão aos índios que dancem e que passem esse aviso adiante. Aqueles que não participarem na Dança dos Espíritos, que não acreditarem nestas palabras, crescerão pouco, apenas um palmo e assim ficarão. Outros se converterão em madeira e serão pasto das chamas."
(Wovoka)
"O mais importante entre os antecedentes da Ghost-Dance, segundo Mooney, que delineia as origens, o desenvolvimento e a decadência desta, é o movimento fundado por um profeta delaware anônimo (de Tuscarawas, Michigan) em 1762 como resultado de uma visão. Naquela época, a ocupação do território nativo por parte dos brancos, a imposição por meio desses de hábitos e condições de vida que contrastam com a tradição originária, provocam uma das mais graves crises registradas na história aborígine. O profeta delaware anunciava, no novo culto fundado por ele, a libertação dos brancos mediante luta aberta (deviam-se empregar armas tradicionais, isto é, arco e flexa e não espingardas). Propugnava a fraternidade e união entre todos os índios, a cessação das guerras intertribais que haviam perturbado sua existência, a renúncia à poligamia, ao uso do álcool. Estas constituíam as causas mais graves de desagregação social e cultural para as tribos. Além disso, requeria-se o abandono de usos e costumes adquiridos depois da vinda dos brancos (por exemplo, o fuzil). O antigo ‘culto da medicina’ era definitivamente substituído pelo novo culto, o qual cumpria uma função de cura e salvação de todo mal físico, moral e social. Os ritos de sacrifício arcaicos, as preces ao Grande Espírito foram conservados. A luta cruenta devia endereçar-se contra os invasores ingleses, enquanto que os franceses deviam ser tratados como amigos e aliados.
A revelação desse culto provinha diretamente, segundo as palavras do próprio profeta, do Grande Espírito. A profecia culminava com a anunciação de uma nova era de liberdade, beatitude, fim do domínio dos brancos. No culto do profeta delaware encontram-se em germe todos os temas que, a seguir, inspirarão outros movimentos proféticos, como, setenta anos depois, o do profeta Kanakuk e, depois, de Smohalla, de Tenskwatawa, de Wowoka.
(...) Em 1805 Tenskwatawa teve sua visão profética em estado de transe, entrava no reino dos espíritos e recebia do Grnde Espírito em pessoa as instruções para fundar a nova religião, a qual ordenava o retorno à cultura original, a luta contra a feitiçaria, contra os cultos mágico-médicos arcaicos e contra o álcool, a reconstituição da propriedade coletiva, a proibição de matrimônios com os brancos, o abandono das vestimentas e instrumentos europeus. Apresentaram-se a Tenskwatawa delegações de tribos vizinhas e longínquas, para aprender suas instruções. O profeta era tido como a encarnação de Manabozo, herói-demiurgo da mitologia algonquina. (...)
Nos decênios sucessivos, numerosos profetas surgiram entre os índios das pradarias, antes de Wowoka com seu grande movimento da Ghost-Dance (1890). Entre os outros, destacam-se as figuras de Kanakuk (do grupo Kikapu, 1827), Tavibo (Ute, 1870), Smohalla (índios do rio Colúmbia, 1870). (...) Por volta de 1870 surge entre os Paviotso (próximos dos Paiute, na Grande Bacia, limites de Nevada com a Califórnia) a Ghost-Dance, a qual em uns dois anos se difundiu por todo o ocidente (Oregon, Nevada, Califórnia) dos Estados Unidos. Passando de tribo em tribo, ela se associa a contextos culturais diferenciados localmente, ora assumindo nomes locais e todavia mantendo sua identidade essencial no núcleo central do culto. O núcleo é constituído pelo tema do retorno dos mortos. O profeta, caído em transe, declara ter morrido e ressuscitado; revela a viagem empreendida por ele rumo aos espíritos dos mortos e anuncia seu iminente retorno por ocasião da renovação do mundo. Os profetas são xamãs-curadores. Nessa qualidade, gozam de um prestígio religioso justificado pela tradição cultural.
O fundador da Ghost-Dance dos Paviotso é o profeta Wodziwob, na região de Walter Lake (Nevada Ocidental), no ano de 1869. (...) Segundo Mooney, a revelação viera a Wodziwob durante uma ascenção solitária à montanha, onde se encontrou com o Grande Espírito: este lhe havia revelado estar iminente um cataclisma ou agitação geral do mundo, com consequente desaparecimento dos brancos do território. Os brancos serão engolidos pelos abismos que se abrirão na terra e seus bens – edifícios, mercadorias, objetos, instrumentos – ficarão à disposição dos índios, os quais gozarão assim de uma era feliz, livres de toda sujeição. Outras revelações subsequentes precisavam que brancos e índios seriam engolidos igualmente pelo terremoto, mas que os índios seguidores do culto ressurgiriam depois de alguns dias para viver em prosperidade. Para eles retornaria a caça abundante como antes. O Grande Espírito, junto com os espíritos dos mortos, desceria à terra para instaurar a nova era paradisíaca. A dança circular do novo culto é muito semelhante à dança posterior do profeta Wowoka.
(...) Ora, os mórmons de Salt Lake City (Utah) acreditaram identificar as míticas tribos perdidas de Israel precisamente com os índios seguidores do profeta Wodziwob. (...) Vários mórmons aderiram à Ghost-Dance; o próprio Smohalla acabará por incorporar na sua ‘religião do sonho’ elementos derivados dos mórmons. Finalmente, quando mais tarde, em 1892, a Ghost-Dance do profeta Wowoka alcançar seu resplendor, os mórmons de Salt Lake City publicarão um manifesto anônimo, no qual se dará por cumprida a profecia de Joseph Smith. Este havia predito na realidade, no ano de 1843, que quando houvesse transcorrido o octogésimo quinto ano do seu nascimento, o messias desceria à terra e se mostraria corporalmente. Isto deveria acontecer precisamente em 1890. Os mórmons reconheciam portanto no profeta Wowoka a encarnação do Messias.
(...) Filho do profeta Numataivo ou Tavibo (morto em 1870), Wowoka (= ‘o Cortador’) nasceu por volta de 1856 em Mason Valley (Nevada) entre os Paiute. Adotado pela família de um agricultor local, David Wilson, recebeu o nome inglês de Jack Wilson (ou também John Wilson). Já antes de receber a primeira revelação profética, era famoso como xamã-curandeiro. Jazia doente e febril, quando, em 1886, teve uma visão, em estado de transe. Apenas mais tarde, em 1888, anunciava ao povo dos Paiute a nova religião, a Ghost-Dance, a qual em breve seria eficaz e amplamente difundida entre os Washo, os Bannock, os Shoshoni, os Arapaho, os Cheyenne, os Kaiowa, os Sioux, os Pawni, os Cado, em resumo entre os mais diversos grupos de indígenas das pradarias, difundindo-se de ocidente a oriente em direção nordeste e na direção sul entre os Walapai, os Cohonino, os Mohave (Arizona). O culto da Ghost-Dance, apesar das variantes locais, devia conservar em toda parte os temas centrais do retorno dos mortos, da catástrofe e da renovação do mundo, depois da derrota dos brancos. (...) O profeta recebeu do Grande Espírito o prodigioso poder de governar o tempo, os elementos, a chuva. Wowoka convidava os índios a usar roupas de corte e feitio ocidental e ele mesmo dava o exemplo.
‘Abstém-te da guerra, não faças o mal, mas sempre o bem!’: são esses os preceitos da religião de Wowoka. (...) Não obstante a atitude cordata e benévola do fundador para com os brancos, - especialmente se a confrontarmos com a dos profetas precdentes - , é notável o fato de que no seu mito quiliástico não haja um lugar efetivo para os brancos e que o advento da era prometida se refira unicamente aos brancos, livres uma vez para sempre da ocupação européia. Na palingenesia cósmica, os índios se reencontrariam com seus ancestrais mortos. Não é pois de surpreender que tal doutrina, mesmo no seu pacifismo declarado, tenha desaguado logo, num terreno excepcional, em aberto conflito insurrecional. O anseio de renovação, a esperança quiliástica do novo culto deviam dar frutos entre os Sioux, onde uma situação de frustração crônica tornara-se ainda mais grave pelas recentes usurpações dos brancos. A Ghost-Dance tornava-se assim abertamente movimento de libertação, de guerra."
Visita de líderes arapahoe a Wowoka
Fonte: LANTERNARI, Vittorio. "As Religiões dos Oprimidos – Um estudo dos modernos cultos messiânicos". São Paulo: Perspectiva, 1974. Col. Debates, v.95. (págs. 148 a 168). Imagens: Oso Blanco
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27 de novembro de 2009
Chiquitanos em ação
A Organização Indígena Chiquitana (OICH), através de seu principal Cacique Rodolfo López, denunciou os impactos sócio-ambientais da Rodovia Bioceânica durante a audiência pública "Situación de las comunidades indígenas afectadas por el proyecto Iniciativa para la Integración de Infraestructura Sudamericana" (IIRSA) que é parte do 137º período de sessões da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, CIDH. Os solicitantes desta audiência são: a Confederación Andina de Organizaciones Indígena de Perú (CAIO) / Organización Indígena Chiquitana de Bolivia (OICH) / Centro de Estudios Aplicados a los Derechos Económicos, Sociales y Culturales de Bolivia (CEADESC) / Comunidades Nativas de Povos Indígenas de Rondônia - Brasil / Indian Law Resource Center. Estas organizações apresentaram perante a Comissão uma série de estudos técnicos e jurídicos da construção de megaprojetos como a Carretera Interoceanica Sur no Peru, a Carretera Bioceanica Santa Cruz - Puerto Suárez em Bolívia e a construção de represas no Rio Madeira no Brasil, entre outros. A OICH foi a encarregada de expor sobre a rodovia Bioceânica que atravessa várias comunidades indígenas e segundo López “os impactos sociais e ambientais são muitos e as medidas de compensação e mitigação não foram executadas como estabeleciam os compromissos firmados”. Além disso o povo Chiquitano denunciou ante a Comissão a falta de transparência por parte das empresas construtoras e das autoridades nacionais para realizar as consultas e entregar informação sobre os trabalhos às comunidades, “Estes megaprojetos como os que existem em outros países sul-americanos têm um grande problema, a falta ou a enganosa forma de fazer a consulta às comunidades indígenas antes e durante a realização das obras”. O cacique da OICH espera que o CIDH leve em conta suas denúncias e se pronuncie a respeito do tema da consulta livre, prévia e informada, “esperamos que esta Comissão leve em conta nossas demandas onde o que pedimos é o cumprimento dos convênios internacionais como a Declaração da ONU e o Convênio 169 da OIT que em alguns países como a Bolívia estão ratificados em suas Constituições ou são leis”. “A Rodovia Santa Cruz - Puerto Suárez é um dos principais projetos complicados da Agenda IIRSA. A construção deste corredor, é um projeto que demonstrou ser muito complicado devido a que têm e terá impactos sócio-ambientais afetando especialmente a comunidades indígenas, povoadores da região, assim como a parques nacionais, zona de reserva forestal e inclusive zonas protegidas por Convênios Internacionais” (extraído do informe independente "Los Impactos Socio-Ambientales por la Construcción de la Carretera Bioceánica Santa Cruz - Puerto Suárez)" . Fonte: Biodiversidad en América Latina y El Caribe Imagem: Wikimedia
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Revelações (III)
OS TREMULANTES
“No ano de 1881 surgia, junto à tribo squaxin de Puget Sound (estado de Washington, a leste de Olympia), uma nova religião, o Shakerismo, a qual anuncia a cura dos males, salvação das penas ultraterrenas através de uma conduta ‘cristã’ e manifestações particulares de caráter emocional e místico-ritual produzidas por intensas crises de frêmito corporal por parte dos seguidores. Digamos logo que tais manifestações são, de um lado, ligadas à tradição xamanística local e, de outro, são justificadas pelos shakeristas segundo o modelo bíblico da ‘dança’ de Davi diante do Senhor.
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Fonte: LANTERNARI, Vittorio. “As Religiões dos Oprimidos – Um estudo dos modernos cultos messiânicos”. São Paulo: Perspectiva, 1974. Col. Debates, v.95. (págs. 139 a 143)
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26 de novembro de 2009
ONU e os Nasos ameaçados no Panamá
Segundo informes confiáveis, em 20 de novembro de 2009, aproximadamente 150 policiais antimotim desalojaram com bombas de gás lacrimogênio, a mais de 200 indígenas Naso que habitam nas comunidades de San San e San San Druy. Depois que as pessoas foram retiradas, empregados da empresa pecuária Ganadera Bocas entraram na área com maquinaria e procederam a derrubar as moradias dos indígenas.
A empresa reclama a área do desalojamento para suas atividades comerciais pecuaristas, com base em um suposto título outorgado pelo Estado, enquanto que as comunidades Naso que tem vivido ali reclamam direitos anteriores com base em sua posse de terra tradicional. Os Naso levaram um processo de reivindicação de terras desde os anos setenta, no qual solicitam, em particular, a criação de sua própria jurisdição sobre suas terras tradicionais. Apesar do tempo transcorrido, até agora os Naso não contam com o reconhecimento legal de suas terras tradicionais.
"Faço um chamado às autoridades panamenhas e do povo Naso para buscar vias de diálogo e de entendimento sobre a base de respeito aos direitos humanos," expressou o experto da ONU. "Em particular, insto ao Governo que se retome de imediato um processo de diálogo com os indígenas Naso afetados para chegar a uma solução pacífica para esta situação."
Além disso, o Relator Especial insta às autoridades judiciais competentes para que adotem medidas para esclarecer os fatos do desalojamento, sancionar aos responsáveis de qualquer violação aos direitos das comunidades afetadas, e reparar o dano causado às vítimas, incluindo indenização.
A este respeito, o Relator Especial enfatiza que o artigo 10 da Declaração sobre os Direitos dos Povos Indígenas da ONU estabelece que "os povos indígenas não serão removidos à força de suas terras ou territórios. Não se procederá a nenhuma transferência sem o consentimento livre, prévio e informado dos povos indígenas interessados, nem sem um acordo prévio sobre uma indenização justa e equitativa e, sempre que seja possível, a opção do regresso."
À presente situação se soma o anterior desalojamento dos membros das comunidades San San e San San Druy em março e abril deste ano. Em 23 de abril de 2009 o Relator Especial enviou um chamado urgente ao Governo do Panamá, pedindo esclaracimento sobre as circunstâncias dos desalojamentos e a reclamação territorial dos Naso. Lamenta não haver recebido uma resposta do Governo do Panamá.
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Revelações (II)
O CULTO GAI’WIIO OU A BOA MENSAGEM DOS IROQUESES
“Handsome Lake nasceu por volta de 1735 de uma família Sêneca, do clã Lobo, numa aldeia próxima a Avon (Estado de Nova York), de onde em 1799 teve de fugir com toda a população para Tonawanda sob a pressão dos invasores brancos, os quais avançavam incendiando casas, campos e povoados. Handsome Lake era um dos chefes (sachem) seneca, que faziam parte do conselho (executivo, legislativo e judiciário) da Liga Iroquesa. (...) A revelação profética ocorreu pela primeira vez a Handsome Lake no dia 15 de junho de 1799. Há tempos ele vivia doente e sofrendo, na casa de Cornplanter [seu meio-irmão]. Já tinha abandonado qualquer esperança de sobreviver quando um dia caiu subitamente em transe e ouviu uma voz que o chamava de fora. Saiu de casa e avistou três figuras ou espíritos com forma humana que, apresentando-lhe alguns ramos e folhas frutíferas, convidaram-no a colher os frutos, com os quais seria curado milagrosamente. Eles o advertiram da parte do Grande Espírito, que deplorava profundamente a intemperança dos homens e sobretudo a embriaguez e o uso de álcool e uísque, a fim de que se fizesse divulgador da nova doutrina de salvação. (...)
O profeta, reduzido já a condições físicas desesperadoras pela vida dissoluta que levara sistematicamente até então e pelo álcool, restabeleceu-se depois de ter recebido a prodigiosa revelação.
Os três ‘anjos’ anunciavam o iminente aparecimento de um outro personagem, que se mantivera afastado anteriormente e os havia enviado na frente. De fato, numa visão subsequente apresentou-se ao profeta o Grande Espírito em pessoa, compadecido com os seus sofrimentos. Em estado de transe, viu Ganeoda’yo [nome indígena de Handsome Lake] vir ao seu encontro seu falecido filho e uma sobrinha também falecida, deplorando entre si a intemperança dos vivos. O Grande Espírito impôs-lhe o abandono do álcool (‘água de fogo’) e lhe transmitiu os preceitos da nova religião. Entre outras coisas, deviam-se abandonar várias danças e festas tradicionais profanas, mas não a Dança do Culto (Worship-Dance) que, segundo uma sucessão do calendário e de estações fixada pela tradição em relação aos trabalhos agrícolas, constituía o núcleo das festas religiosas mais importantes e significativas da cultura iroquesa. Entre essas festas locais as principais a manter na nova religião (e que constituíam assim o seu núcleo cultual) eram a festa do Ano Bom (ou festa do Cão Branco), caracterizada pelo sacrifício de um cachorro branco ao Grande Espírito, a festa dos Morangos, a festa ‘das Plumas’ ou da colheita do milho, com a Dança do Agradecimento dedicada ao Grande Espírito, a Terra, ao grande antepassado mítico Heno, aos antepassados da estirpe, às Três Irmãs e outras figuras míticas de tradição pagã; finalmente, a festa do ‘Grão Verde’, a do solstício de inverno além de ritos de cura. Trata-se de festas tradicionais de caráter religioso, unidas num grande ciclo cerimonial em relação com o ciclo dos trabalhos de cultivo (milho) e de colheita (morangos), ou com a exigência de curar doentes. A tais festas e à sua conservação aludem evidentemente os emblemas vegetais apresentados ao profeta, numa espécie de sincretismo quacre-pagão, pelos ‘anjos’ mensageiros do Grande Espírito. As cerimônias rituais do ciclo da Casa Comprida desenrolam-se perto do bosque. No culto recorre-se a objetos rituais tradicionais como wampum, matracas. Executam-se oferendas de tabaco e danças rituais com cantos segundo textos e modelos arcaicos.
(...) O desenvolvimento da Nova religião iroquesa prossegue, depois da fundação, até os dias de hoje sem mudanças substanciais por parte dos sucessivos pregadores e profetas, sujeitos a visões e revelações. (...) Fato que poderia ser importante no destino do novo culto foi a declaração do Presidente Jefferson, o qual aprovou como eficaz e positiva a mensagem do profeta Handsome Lake. Os nativos viram nele portanto o profeta oficial e reconhecido. Quanto às relações entre nativos e brancos, segundo a revelação profética de Handsome Lake, os brancos devem ser acolhidos nos centros habitados pelos indígenas e os filhos destes podem ser instruídos pelos brancos (Quacres). Por outro lado, os indígenas podem e devem ter fé nos antigos costumes de vida.”
Fonte: LANTERNARI, Vittorio. “As Religiões dos Oprimidos – Um estudo dos modernos cultos messiânicos”. São Paulo: Perspectiva, 1974. Col. Debates, v.95. (págs 132 a 137). Visitem o site Oneida Nation
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25 de novembro de 2009
Revelações (I)
“A Dream-Dance é uma formação religiosa que preconiza a unidade intertribal dos índios sem distinção de origem, o fim de toda hostilidade e luta entre os vários grupos locais. (...) Trata-se de uma dança que se repete nas estações (as mais importantes são as celebrações de primavera e do outono), ou ocasionalmente (semanalmente – por influência cristã – ou por ocasião de nascimentos, curas etc.), e conserva íntegro o seu conteúdo pagão. É um rito destinado a estabelecer uma relação imediata entre os participantes e o Grande Espírito, a fim de impetrar – mediante cantos, danças, invocações – a prosperidade, a abundância, o bem-estar. (...)
Foi uma mulher sioux – conta o mito – que fundou a cerimônia entre os Chippewa, antigos inimigos dos Sioux. Não é por acaso que, entre os cantos da cerimônia, há um grupo intitulado ‘Aperto de mão dos Chippewa com os Sioux’: são cantos que celebram a pacificação entre tribos adversas, realizada em nome da nova religião pela sua fundadora.
Eis o que narra o mito (...). No curso de um massacre perpetrado pelos brancos contra um grupo de Sioux – estávamos em 1878 – uma jovem, para fugir à morte certa, jogou-se nas águas de um lago, onde foi obrigada a permanecer durante muito tempo escondida – pois os soldados americanos estavam acampados nas proximidades – imersa entre os juncos e privada de todo auxílio. Nesta altura – quando já se encontrava no extremo das forças – veio a ela uma visão e uma voz do Grande Espírito, que lhe ensinou as formas da nova religião – a Dream-Dance – ordenando-lhe que a divulgasse entre as tribos índias. A Dança do Sonho devia substituir os ritos arcaicos, o seu grande tambor teria suplantado os tambores menores antes empregados cerimonialmente. As velhas formas religiosas – diz-se no mito – se mostraram inadequadas a manter distantes os espíritos maus. As instruções religiosas dadas pela fundadora giravam em torno do novo cânone ético de união pacífica de todos os índios. A fundadora realizava esta exigência com o primeiro ato formal de pacificação, levando diretamente aos Chippewa – ela, de origem sioux – a nova religião. Seja a tradição das origens, seja a personagem da fundadora aparecem com os traços tipicamente exemplares e intensamente simbólicos próprios dos mitos.”
FONTE: LANTERNARI, Vittorio. “As Religiões dos Oprimidos – Um estudo dos modernos cultos messiânicos”. São Paulo: Perspectiva, 1974. Col. Debates, v.95.(págs. 126-128)
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24 de novembro de 2009
Cultivos lícitos e ilícitos
A Terceira Comissão de Direitos Humanos de Nações Unidas (ONU) solicitou dia 19 de novembro aos Estados membros do organismo incrementar os investimentos em desenvolvimento alternativo e erradicar sem violência os cultivos ilícitos destinados à produção de drogas e substâncias psicotrópicas.
Entretanto, o embaixador boliviano perante a organização internacional, Pablo Solón, segundo a agência noticiosa oficial ABI, apontou que a Comissão “aprovou por consenso uma resolução que homologa os usos tradicionais lícitos dos cultivos transformados em drogas só após processos sintéticos ilícitos”.
A resolução mencionada estipula que os Estados membros devem comprometer-se “a aumentar os investimentos de longo prazo” em estratégias sustentáveis de controle de cultivos ilícitos, “coordenadas com outras medidas, a fim de contribuir à sustentabilidade do desenvolvimento social e econômico e à erradicação da pobreza nas zonas rurais afetadas”.
O documento adverte de que se devem ter “devidamente em conta os usos tradicionais lícitos dos cultivos, quando existam datos históricos sobre esse uso, e prestar a devida consideração à proteção do meio ambiente”.
As estratégias de controle de cultivos devem respeitar os direitos humanos e “aplicar-se de forma gradual (…) a fim de lograr a erradicação sustentável dos cultivos ilícitos, tendo em conta os usos tradicionais lícitos dos cultivos, quando existam dados históricos sobre esse uso” e com cuidado do meio ambiente.
O controle das plantações que podem ser empregadas na transformação de drogas exige “uma cooperação internacional baseada no princípio da responsabilidade compartilhada e um debate integral e equilibrado”, que respeite “a soberania e a integridade territorial dos Estados, o princípio de não-intervenção em seus assuntos internos e os direitos humanos e liberdades fundamentais”.
A Comissão apontou que “essas estratégias de controle de cultivos incluem, entre outras coisas, o desenvolvimento alternativo, e segundo corresponda, programas de desenvolvimento alternativo preventivo e medidas de erradicação e de aplicação da lei”.
De acordo com ABI, Solón saudou a aprovação por consenso da resolução, concordante com a proposta de emenda à Convenção Única de Estupefacientes de 1961, que promove Bolívia para eliminar a proibição ao mascado (acullico).
Um boletim da ONU dá conta de que “o representante de Bolivia acolheu com beneplácito o consenso sobre essa resolução, enquanto assinala que se pede aos Estados ter em conta o uso lícito dos cultivos tradicionais quando existam provas históricas de referida utilização. O mascado de folha de coca é um uso tradicional e legal dessa planta em seu país, respaldada por abundantes dados históricos. Toda resolução sobre esta questão deve ter em conta tais usos”.
A Terceira Comissão da ONU pede erradicação sem violência.
Ernesto Justiniano, analista e ex-viceministro de Defesa Social no último Governo de Gonzalo Sánchez de Lozada, explicou que a “folha de coca segue sendo interditada” nos países do mundo onde não é consumida tradicionalmente e que a mencionada decisão não modifica a posição do organismo internacional a respeicto.
“Já se conhecia que a coca se consome de forma lícita na Bolívia e Peru. Esta decisão não terá consequências nem aporta novos elementos ao tratamento do caso. Ademais, é a resolução da Terceira Comissão de Direitos Humanos, não da Assembléia Geral”.
Na opinião do experto, la hoja de coca continua sendo um produto proibido fora de Bolívia, Peru e Colômbia, os países produtores, “mas a decisão desta entidade não se refere aos outros dois países, só menciona a Bolívia” e que deveria levar-se adiante uma campanha para mostrar que seu consumo é pernicioso para a saúde. (sic)
Fontes: Los Tiempos e La Prensa . Saibam mais sobre os usos tradicionais da coca em Centro Yachak.
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23 de novembro de 2009
Territórios karipunas
“Médico, antropólogo e educador brasileiro, filho de Manuel Menelio Pinto e Josefina Roquette-Pinto Carneiro de Mendonça, nascido no Rio de Janeiro, no bairro de Botafogo, em 25 de setembro de 1884, Roquette-Pinto foi o precursor da radiodifusão brasileira, sempre com o objetivo de difundir cultura e educação. Graduou-se em medicina, com especialização em medicina geral, mas logo rumou para a Antropologia, sendo nomeado professor assistente de antropologia do Museu Histórico Nacional em 1906.
Conheceu então uma das figuras mais marcantes para sua biografia e para história do Brasil, o Tenente-Coronel Cândido Mariano da Silva Rondon. Roquette-Pinto acompanhou Rondon em uma de suas expedições à Serra do Norte, tendo contato com os índios Nhambiquaras e pioneiramente filmando uma civilização que ainda vivia na pré-história em plena alvorada do século XX. Filmava e tomava apontamentos a todo instante em seus cadernos de viagem.
Nessa expedição – e em toda a sua vida - foi etnógrafo, sociólogo, geógrafo, arqueólogo, botânico, zoólogo, linguista, farmacêutico, legista, fotógrafo, cineasta e folclorista. Com todas as experiências e anotações que trouxe na bagagem, Roquette-Pinto passou os 4 anos seguintes escrevendo um dos marcos da Etnografia brasileira, o livro ‘Rondônia’, que o levaria posteriormente à Academia Brasileira de Letras”. (Rádio FM 94,1 - Roquette-Pinto)
“No monstruoso percurso pelas selvas do Mato Grosso e do Amazonas e pelas bacias dos rios Paraguai, Jurena e Gi-Paraná, a morte acompanhou cada passo de Rondon, Roquette e seus homens. Dias e dias de caminhada podiam ser feitos sem sol visível, debaixo da espessa vegetação – e se avançassem um quilômetro por dia isso era considerado ótimo. O princípio da expedição era a pacificação dos Nhambiquaras, até então arredios a qualquer contato com o colonizador. Arredios e hostis. Os mateiros de Rondon eram flechados à distância por mãos invisíveis; outros eram capturados e devolvidos sem cabeças; e ainda outros se feriam nas armadilhas postas por eles. E havia as ameaças permanentes da selva, como os animais e as doenças - varíola, beribéri, impaludismo. Burros, cavalos e bois iam morrendo e sendo deixados para trás. Os Homens eram enterrados pelo caminho e Rondon batizava com seus nomes os acidentes geográficos do percurso. Mas, para o sacrifício de cada homem ou montaria, a expedição garantia um pedaço de chão que se incorporava efetivamente ao Brasil.
Para Roquette-Pinto, era tudo um milagre e esse milagre chamava-se Cândido Rondon. Sendo ele próprio mameluco por parte de avós indígenas, e falando os dialetos de várias tribos, Rondon conseguia repassar para os índios sua mensagem de paz – em nenhuma outra época, na história da América, o choque entre o ‘selvagem’ e o ‘civilizado’ foi tão suave e humano. Para isso, seu famoso lema, ‘Morrer, se preciso for, matar, nunca’, teve de ser, primeiro, entendido pelos brancos que o seguiam. (...)
Os Nhambiquaras contatados por Rondon e Roquette viviam na Idade da Pedra em 1912. Seus machados eram de pedra mal polida. As facas eram lascas de madeira. Não conheciam a navegação, a cerâmica ou as redes de dormir - donde atravessavam os rios a nado, comiam de mão para mão e dormiam direto no chão. Eram cobertos de bernes, pulgas e piolhos. Nunca tinham visto um homem branco ou negro. E o mal que faziam era, muitas vezes, por ingenuidade: ao ouvir o zumbido dos fios telegráficos, pensavam que o poste ocultava uma colméia e o derrubavam em busca do mel. Quando Rondon finalmente conseguiu que se aproximassem do acampamento (o que se deu a zero hora de uma noite memorável para Roquette), seus presentes para eles foram de um comovente simbolismo: machados de aço. Poucos anos depois, os Nhambiquaras, já ‘evoluídos’, iriam rir de seus velhos machados de pedra”. (Ruy Castro)
- Roquette e a Nova Raça
"É preciso ir lá para retemperar a confiança nos destinos da raça, e voltar desmentindo os pregoeiros de sua decadência. Não é, nem pode ser nação involuída, a que tem meia dúzia de homens capazes de tal heroísmo”. (Roquette Pinto)
Ao contrário das racistas teorias esposadas por pseudo-cientistas da época, Roquette acreditava na miscigenação e na formação de uma nova e formidável raça na ‘Terra Brasilis’. Contestava, veementemente, as teses, vigentes, de cientistas como Louis Agassiz e sua esposa Elizabeth Cary Agassiz que afirmavam categoricamente que: “Não se pode negar a deterioração causada pela mistura de raças, mais presente aqui do que em qualquer outro lugar do mundo. Ela está ceifando rapidamente as melhores qualidades do homem branco, do negro e do índio, deixando em seu lugar um tipo mestiço (mongrel) sem qualidades específicas, deficiente em suas energias físicas e mentais”.
- Roquette e Rondônia
“No futuro, mais precisamente em 1956, o crítico e ensaísta Álvaro Lins estabeleceria uma outra virtude de ‘Rondônia’: a literária. Segundo ele, era pela força estilista de seu tratado científico (e não pelos fracos contos e poemas que depois escreveria) que Roquette-Pinto fazia parte da literatura brasileira. E Gilberto Freyre, outro exigente no seu julgamento dos colegas, nunca deixaria de elogiar, ao lado da exuberante escrita de ‘Rondônia’, a ‘segura base cientifica’ de Roquette – distinção que não conferia a mais ninguém daquele tempo. Em seu livro ‘Ordem e Progresso’, Gilberto Freyre menciona treze vezes a seriedade de Roquette. O qual, não importavam as loas, sempre foi modesto ao falar de sua obra-prima: ‘É um instantâneo da situação social, antropológica e etnológica dos índios da Serra do Norte, antes que principiasse o trabalho de alteração que nossa cultura vai processando. É prova fotográfica – um clichê cru’.
Mas, naturalmente, era muito mais que isso. Suas experiências com os nativos e com os homens do sertão deram a Roquette os instrumentos para desfechar uma campanha anti-racista que atingiria em cheio o arianismo então vigente no Brasil. Para muitos naquela época (como para alguns ainda hoje), nossas mazelas seriam originárias da presença dos negros, mestiços e índios na composição racial brasileira. A tese original era do diplomata francês Joseph Arthur, conde de Gobineau (1816-1882), autor de uma teoria racial da História e que um dia resultaria no nazismo. Uma visão ‘benigna’ do problema, defendida pelo então diretor do Museu Nacional, o antropólogo João Batista de Lacerda, apostava no ‘embranquecimento’ do povo: em poucas décadas, os sucessivos cruzamentos extinguiriam a raça negra no Brasil... Mas Roquette, que via o Brasil como ‘um imenso laboratório de antropologia’, pensava diferente: ‘Nenhum dos tipos da população brasileira apresenta qualquer estigma de degeneração antropológica’, escreveu ele, ‘Ao contrário. As características de todos eles são as melhores que se poderiam desejar. (...) O número de indivíduos somaticamente deficientes em algumas regiões do pais é considerável. Isso, porém, não corre por conta de qualquer fator de ordem racial; deriva de causas patológicas cuja remoção, na maioria dos casos, independe da antropologia. É questão de política sanitária e educativa. (...) A antropologia prova que o homem no Brasil precisa ser educado e não substituído’. (Ruy Castro)
O livro enaltecia, sobremaneira, a figura notável de Rondon e para que o Brasil tivesse noção do quanto essa região devia a ele, propôs que o território, compreendido entre os 8° e 14° de latitude sul e entre 12° e 20° de longitude oeste viesse a se chamar Rondônia.
“A essas terras, ele sempre se referiria como ‘terras da Rondônia’, tais e tão importantes eram os elementos geológicos, geográficos, botânicos, zoológicos e etnográficos dela provenientes, através das expedições científicas de Rondon. Embora justificasse plenamente, desde 1915, a criação dessa província antropogeográfica, o nome de Rondônia só foi adotado para território brasileiro em 1956, quando o Congresso Nacional votou lei mudando o nome do Território do Guaporé, a fim de homenagear o Marechal Rondon.
Na ocasião, aliás, a Sociedade Brasileira de Geografia, em memorial dirigido ao Presidente da República, agradecia o gesto do Governo, mostrando, porém que, para manter a homenagem pretendida por Roquette-Pinto, seria preciso dividir a região em Rondônia Ocidental e Rondônia Oriental, a fim de que a denominação Rondônia pudesse alcançar águas do Juruena, onde foram notáveis as descobertas da Comissão Rondon. A Rondônia Ocidental seria o atual território, outrora denominado do Guaporé, e a Rondônia Oriental seria a região semi-virgem que prolonga aquela para o lado Leste, dentro do Estado de Mato Grosso, entrando em águas do Jurena. O memorial interpretativo da Sociedade Brasileira de Geografia não foi, contudo, levado em conta...” (Coutinho)
- Roquette-Pinto e a antropologia sul-americana
“Para Roquette-Pinto, a obra científica e social de Rondon não pode ser assaz admirada, conquistando milhares de quilômetros quadrados, fazendo de cada índio, cuja ferocidade não era lenda vã, e cuja animosidade sacrificou tantos homens, um amigo, abrindo à ciência um campo enorme de verificações e descobertas; à indústria, todas as riquezas de florestas seculares. Assinala, ao voltar da sua Rondônia, que, se como estudioso, as observações científicas que pode realizar - quase todas de grande alcance para o conhecimento da antropologia sul-americana - o encheram de alegria; brasileiro, deu-se por bem pago daqueles dias de privações e perigos, porque voltou daquelas terras com a alma refeita, ‘confiante na sua gente, que alguns acreditam fraca e incapaz, porque é povo magro e feio’.
Diz Roquette-Pinto: ‘São feios, efetivamente, aqueles sertanejos; muitos, além disso, vivem trabalhando, trabalhados pela doença. Pequenos e magros, enfermos e inestéticos, fortes, todavia, foram eles conquistando as terras ásperas por onde hoje se desdobra o caminho enorme que une o Norte ao Sul do Brasil, como um laço apocalíptico, amarrando os extremos da pátria’. (Coutinho)
Fontes: Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva - professor do CMPA (Colégio Militar de Porto Alegre) - Acadêmico da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB) - Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS) - hiramrs@terra.com.br ; Coutinho, Edilberto – Rondon - o civilizador da última fronteira - Brasil, Rio de Janeiro, 1969 – Olivé Editor.
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19 de novembro de 2009
Tótens sem tabus
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16 de novembro de 2009
Ticunas contra as FARC
Fonte: Vide Versus. Imagem da violencia: Homem Culto. Leiam mais sobre as FARC em PasseiWeb. Conheçam o movimento Colombia Soy Yo.
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11 de novembro de 2009
Princesa Ticuna
O Grupo Eware, da tribo Ticuna, já faz sucesso no Peru e na Colômbia. O cantor Netinho, líder da banda, produziu e editou o clipe da música ” Minha princesa”, agora no Youtube. A etnia Ticuna (também conhecida como Tukúna) celebra a paz com música e dança, na aldeia Umariaçu, em Tabatinga (AM). Dois grupos já fazem sucesso no Peru e na Colômbia e um deles, o Eware, gravou um clipe para a música “Minha princesa”, agora divulgado na internet.
“A nossa banda apresenta desde o forró brasileiro até a cumbia peruana. O nosso CD já está pronto, só falta levar para as prateleiras das lojas. Dá um trabalho danado. Foram vários dias de gravação e quase um dia inteiro para editar as imagens e fazer a montagem. Eu mesmo que cuidei disso”, disse Netinho. “Estamos felizes com o sucesso das duas músicas. Por isso fizemos o clipe. É a nossa forma de pedir paz. Na tribo Ticuna, ninguém fica triste. Não temos nada com as Farc e com essa violência envolvendo traficantes e guerrilheiros na nossa região amazônica. Vivemos na nossa aldeia e isso já é suficiente para sermos felizes".
Fonte: Web Brasil Indígena. Leiam mais sobre os Ticuna em Rosane Volpatto.
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10 de novembro de 2009
Rapé dos Apurinã
Para se conhecer mais sobre os Apurinã, pode-se ler na web: "Tronco velho, histórias apurinã", de Juliana Schiel (Unicamp). De acordo com a autora da tese, a história mais recorrente narrada pelos índios tinha como enredo a criação do mundo, em variadas versões. Elas falavam de Tsora, o “Deus” dos Apurinã, “criador de todas as coisas”. Também surgiram narrativas sobre a migração daquele povo. Uma delas falava da saída de uma terra sagrada, esta última localizada para além do mar. Encantados pelas frutas que encontraram pelo caminho, vários indivíduos optaram por se estabelecer antes de alcançar o destino final, decisão que teria lhes custado a imortalidade. Um aspecto que chamou a atenção de Juliana, que se valeu de um tradutor Apurinã, foi a beleza das histórias, construídas com sutilezas e contadas com habilidade dramática pelos índios, principalmente os mais velhos. Ao se referirem a animais, por exemplo, eles imitavam os sons dos bichos. “Em Apurinã, as histórias são quase que só onomatopéias”, revela. Atualmente, destaca Juliana, ocorrem reuniões cotidianas em comunidades e aldeias, durante as quais são feitas narrativas. Nessas ocasiões, os índios mascam uma folha denominada katsoparu, que poderia ser uma variedade da folha da coca, e tomam rapé (awire, em Apurinã), uma mistura de tabaco com cascas de árvores.
Os Apurinã da área 45 não possuem meios de telecomunicação. Para entrar em contato com eles: Grupo de Pesquisa e Extensão em Sistemas Agroflorestais do Acre - PESACRE, Rio Branco, AC - e-mail: pesacre@pesacre.org.br , ou através do seu representante comercial Amazon - Fairtrade (Michael F.Schmidlehner ME): michael@amazonlink.org fone/fax: +55 68- 3223 8085
Fonte: Jornal da Unicamp
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9 de novembro de 2009
Sian Kanabixi em missão
- Sian, fale um pouco sobre como é a formação de pajé em sua cultura e como os jovens hunikuins vêm se interessando em aprender essa ciência?
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Querem punir os índios pelos crimes dos brancos
A Câmara analisa o Projeto de Lei 5442/09, do deputado Dr. Ubiali (PSB-SP), que retira o usufruto das terras indígenas onde seus habitantes cometerem crimes ambientais - previstos na Lei de Crimes Ambientais (9.605/98). A medida valerá apenas para as ações transitadas em julgado . "Quando a União destina uma determinada área para o usufruto indígena, centenas de agricultores, posseiros de boa-fé e proprietários são expulsos para que seja entregue e ocupada unicamente pelos índios", destacou o parlamentar.
Para o deputado, constatado o uso criminoso de determinada gleba, "nada mais justo que ela seja desafetada e possa vir a ter nova destinação, transformando-se numa unidade de conservação da natureza, ou, se vocacionada para as atividades agropecuárias, possa ser destinada ao assentamento de trabalhadores rurais", acrescentou.
A proposta não detalha se a regra terá aplicação distinta se o crime for cometido individual ou coletivamente. O projeto será analisado em caráter conclusivoa pelas comissões de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável; de Direitos Humanos e Minorias; e de Constituição e Justiça e de Cidadania.
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Pelo projeto de lei, qualquer condenação em última instância – depois que são apresentados todos os recursos – por um crime ambiental cometido em uma terra indígena faria com que essa reserva fosse cancelada, e todas as pessoas que morassem ali perdessem o direito de viver no local. “Se você tiver uma exploração ilegal em uma área de uma determinada tribo, é quase certo que isso é do conhecimento de todos, e se eles ignoram, são coniventes”, diz Ubiali.
Para a advogada Paula Souto Maior, do Instituto Socioambiental (ISA), o projeto fere a constituição, pois estabelece uma punição coletiva aos indígenas. “A pena não pode passar para a família da pessoa que cometeu o ato ilegal”, afirma.
Segundo Ubiali, contudo, a punição à comunidade toda pode ser aplicada no caso dos índios. “É uma punição coletiva porque o crime é coletivo. Na tribo, você não tem um indivíduo cometendo um ilícito. Não há a figura do indivíduo dentro de uma tribo. A tribo tem um comportamento como um todo”, argumenta o parlamentar.
O líder indígena Aílton Krenak, conhecido por defender a Amazônia junto com Chico Mendes na década de 1980, discorda do deputado. Segundo ele, cada pessoa deve ser tratada separadamente e a própria legislação brasileira já prevê punição individual para índios que cometem crimes. “Como se pode dizer que crianças, velhos e outras pessoas da comunidade devam responder por quem cometeu um crime?”, questiona.
Apesar de haver problemas ambientais dentro de terras indígenas, esse é o tipo de reserva em que há menos desmatamento. Segundo os dados de devastação de setembro de 2009, publicados pela ONG Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia), houve 216 km² de desmatamento nesse mês. Desses, apenas 5 km² (3%) teriam ocorrido dentro de terras indígenas, apesar desses territórios ocuparem 21,6% da Amazônia brasileira. Os parques e reservas estaduais, por sua vez, sofreram 15 km² de desmatamento, e ocupam 20% da Amazônia.
“As terras indígenas têm se mostrado mais eficazes para a conservação da floresta do que as unidades de conservação [parques e reservas] que se beneficiam do aparato do Ibama, das secretarias de meio ambiente dos estados, e que têm gente trabalhando fazendo a manutenção e monitoramento dessas unidades”, diz Krenak.
Questionado sobre a possibilidade de seu projeto ser aplicado também a propriedades privadas, Ubiali afirma que pretende apresentar uma emenda para que donos de terra também possam perder suas fazendas. De acordo com ele, a ideia será apresentada durante as discussões na Câmara para alterar o Código Florestal – lei que define, entre outras coisas, o quanto deve ser preservado dentro de cada terreno rural.
A proposta sobre terras indígenas tramita na Comissão de Meio Ambiente e, caso seja aprovada por essa e outras comissões, não precisará ir para votação no plenário para seguir ao Senado".
Fonte: Reportagem de Iberê Tenório em Globo Amazônia.
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