11 de agosto de 2007

O eterno retorno

arte: John Jude Palencar

Na visão maya do cosmos, as cavernas são entradas ao aquoso inframundo - o Xibalbá, ou Lugar do Medo - , que desempenha um papel chave na história da criação, segundo se descreve no Popol Vuh, livro sagrado dos mayas. A lenda fala de uns irmãos gêmeos muito hábeis no tradicional jogo de bola. Quando jogavam, faziam tanto barulho que perturbavam aos deuses do Xibalbá, os quais os desafiaram para um torneio. Os deuses venceram aos gêmeos, os sacrificaram e sepultaram seus corpos debaixo do campo de jogo. A cabeça de um deles, Hun Hunahpú, foi dependurada numa árvore que produzia cabaças com forma humana. Uma deusa chamada Xquic ouviu falar da estranha árvore e decidiu ir conhecê-la. Quando se aproximou dela, a cabeça de Hun Hunahpú lhe cuspiu na mão, fecundando-a. Assim concebeu a Hunahpú e Xbalanqué, conhecidos como os Heróis Gêmeos. Com o tempo se converteram em jogadores como seu pai e seu tio. Os deuses os convocaram ao Xibalbá e os venceram no campo de jogo, moeram seus ossos e os esparziram em um rio, onde os gêmeos renasceram, primeiro como peixes e logo como atores itinerantes.

Ao regressar ao Xibalbá, para tomar vingança, urdiram uma armadilha. Depois de interpretar diversos números assombrosos, Xbalanqué decapitou a Hunahpú e voltou a colocar-lhe a cabeça. Os deuses, encantados com o espetáculo, rogaram que os decapitassem e devolvessem a vida também a eles. Os Heróis Gêmeos simularam obedecer e procederam a decapitar aos deuses. Ao final conseguiram consumar sua vingança: se negaram a recompor seus corpos e os derrotaram para sempre. Foi assim que o bem triunfou sobre o mal, e o mundo esteve preparado para a criação dos seres humanos. Xbalanqué e Hunahpú emergiram do Xibalbá como o sol e a lua - dons para os mayas - e se elevaram ao céu. A cada dia reinterpretam sua viagem ao mundo do Mais Além e seu jubiloso retorno.

Fonte: National Geographic e Bitácora Almendrón

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