17 de agosto de 2007

Águas da Amazônia

Águas da Amazônia. Nova Iorque - EUA, Point-Music, 1999

O nome do grupo UAKTI se origina de uma lenda dos índios Tukano. Uakti era um ser mitológico que vivia às margens do Rio Negro. Seu corpo era repleto de furos que ao serem atravessados pelo vento emitiam sons que encantavam as mulheres da tribo. Os homens perseguiram Uakti e o mataram. No local onde seus restos foram enterrados nasceram palmeiras que os índios usaram para fazer flautas de som encantador como os produzidos pelo corpo de Uakti. (...) Em 1993 Philip Glass é comissionado pelo Grupo Corpo para produzir uma composição para balé. Glass escolhe então o Uakti como intérprete da sua composição "Águas da Amazônia - Sete ou oito peças para um balé". O arranjo é entregue a Marco Antônio Guimarães, que o adapta ao instrumental do Uakti. Pela primeira vez um arranjo de Philip Glass é feito por outro compositor. A gravação desta música foi lançada em 1999, encerrando o contrato com a Point Music. Em 2004 Glass convidou o Uakti para uma nova parceria, dessa vez no projeto Orion. A cidade de Atenas, como parte das celebrações pré-olímpicas, contratou Glass para uma série de shows ao ar livre. o Uakti foi um de seus convidados e apresentou composições de Glass. (fonte Wikipedia)

No texto de apresentação do CD, Philip Glass escreveu:

"Anos atrás, quando encontrei o UAKTI por primeira vez, vi em sua música e performance algo único e uma bela contribuição ao novo e experimental no mundo da música. Me tornei, desde então, amigo de todos eles; especialmente tornei-me um admirador da extraordinária capacidade de Marco Antônio no que diz respeito ao ouvir e compor. Fiquei muito feliz, quando, anos mais tarde, eles me propuseram um trabalho em parceria. Seria a partitura de um balé, composto para a companhia de dança Grupo Corpo, de sua cidade, Belo Horizonte. Este CD representa uma verdadeira integração entre a minha música e a sensibilidade deles. Para mim, é um deleite e um enorme prazer ouvir o resultado final" (Glass, 1999).

Lançado nos EUA cinco anos depois, este álbum traz composições de Philip Glass, escritas em 94 para o espetáculo do Grupo Corpo, adaptadas para os instrumentos peculiares do grupo. A respeito leiam o livro "Uakti - Um Estudo sobre a Construção de Novos Instrumentos Musicais Acústicos", de Artur Andrés Ribeiro, que também cita sobre o Uakti o que escreveu o sociólogo brasileiro Herbert de Souza:

METADE DEUS. METADE DIABO. Na exata e mineira medida, como é a vida. Num único espaço e tempo estão juntos porque necessariamente diferentes e necessários um ao outro: não há vida sem morte, prazer sem dor, sim sem não, princípio sem fim, agudo sem grave, veloz sem lento, grande sem pequeno. Deus sem Diabo.

Tudo é metade e o contrário da outra parte, diferente para fazer a unidade do que é contrário. Foi escutando o UAKTI que aprendi o que sempre me recusei a aceitar: que todo diferente é, no fundo, parte de um mesmo igual. 'Yin' e 'Yang'. Deus e o Diabo, num empate aceito pelos dois, eis o mistério. Negado em todas as partes, mas não em Minas Gerais, onde o empate é reconhecido no se, no talvez, no não sei se sim ou se não, na indefinição que define todo o saber e fazer. Em Minas o normal é o empate. O desempate é puramente provisório.

Minas Gerais, um estado particular e único do Brasil. Central, no meio de tudo, com extremos, mas sem se definir. Um lugar onde a vida e a morte conversam todo o tempo sem se despedir. Terra de Milton Nascimento, de João Guimarães Rosa e do UAKTI, sem mar, mas com imensidão. Terra onde a liberdade foi esquartejada na Inconfidência Mineira de Tiradentes no século 18, mas permanece de corpo inteiro. O lugar onde a liberdade dura ainda que tardia. Enfim, o mistério.

Foi lá que nasceu o UAKTI e só poderia ser. Quatro anjos vertidos em demônios entraram na música e fizeram uma grande filosofia pela via das notas, do estalo, do contraste, do espanto, da doçura e da violência sem limites do som que ultrapassa todas as barreiras. Transcenderam o tempo e o espaço, rescreveram Einstein por cima de toda relatividade. Foram tão acima de tudo que tiveram que inventar até os instrumentos. E inventaram como Deus fez no começo e o Diabo ajudou. Deus inventou a humanidade, o UAKTI inventou o instrumento da música.

Não se pode entender o UAKTI sem se levar esse choque do totalmente Deus e totalmente Diabo, uma coisa que todo mineiro entende e aqueles que podem praticam.

O fim do mundo está no começo e o UAKTI é esse Verbo.

Clique para download das mp3: Uakti & Philip Glass - Águas da Amazônia (1999)

Faixas:
01. Tiquiê River
02. Japurá River
03. Purus River
04. Negro River
05. Madeira River
06. Tapajós River
07. Paru River
08. Xingu River
09. Amazon River
10. Metamorphosis I

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