1 de setembro de 2007

Spix e Martius

Cinco imagens de índios: Iurí-Taboca. Coretú. Passé. Coëruna.

Spix (1781-1826) e Martius (1794-1868) foram nomeados pelo Rei da Baviera para acompanhar no séqüito científico a jovem imperatriz, a arquiduquesa austríaca D. Leopoldina que vinha ao Brasil se casar com D. Pedro I. No período de 1817 a 1820 Dr. Johann Baptist von Spix (Zoólogo) e Dr. Carl Friedrich Philipp von Martius (Médico e Botânico) excursionaram pelo Brasil. Dessa andança, com o material recolhido, escreveram o livro "Reise in Brasilien" , editado em 1823 na cidade de Munique (Alemanha). Em 1938 foi traduzido por Lúcia Furquim Lahmeyer, revisto por B. F. Ramiz Galvão e Basílio de Magalhães com o nome de "Viagem pelo Brasil". Este trabalho foi promovido pelo Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro para a comemoração do seu centenário, e é George J. Shepherd, da Unicamp, que nos fala da importância da obra dos pesquisadores:
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Geralmente considerada uma das maiores obras botânicas de todos os tempos, a Flora brasiliensis impressiona até hoje pela sua escala monumental, o tamanho físico dos volumes e, acima de tudo, a qualidade e beleza das suas ilustrações. Até bem recentemente, a Flora brasiliensis era o maior projeto de Flora completado na história da botânica e só foi ultrapassada, em 2004, pela Flora Republicae Popularis Sinicae (Flora da República Popular da China).

A história da Flora brasiliensis começa com a grande viagem de Spix e Martius. Após chegarem ao Rio de Janeiro no dia 15 de julho de 1817, junto com um grupo de naturalistas e cientistas que acompanhavam a arquiduquesa Leopoldina como parte da Missão Austríaca, começaram uma viagem épica que percorreu 10.000 km durante um período de três anos e que passou por quase todos os principais tipos de vegetação do Brasil.

Após uma série inicial de expedições na vizinhança de Rio de Janeiro, Spix e Martius começaram a viagem, em dezembro de 1817, rumando primeiro em direção a São Paulo, onde chegaram ao final daquele ano. Em 1818, iniciaram uma etapa longa, viajando desde São Paulo até o sul da Bahia, fazendo extensas coleções especialmente em Minas Gerais e na Bahia, onde chegaram em novembro de 1818. Coletaram durante alguns meses no Nordeste, além da Bahia, nos estados de Pernambuco, Piauí e Maranhão e, em julho de 1919, embarcaram para Belém. Depois de coletar na Ilha de Marajó e diversas localidades ao redor de Belém, começaram a última etapa da expedição subindo o rio Amazonas até Manaus onde se separaram, Spix subindo pelo rio Negro e afluentes enquanto Martius seguia os rios Solimões e Jupará. Retornaram a Belém em abril de 1820 e embarcaram para Europa em junho do mesmo ano. Chegaram em Lisboa no dia 23 de agosto e, finalmente, em Munique em dezembro de 1820.

A expedição foi realizada sem nenhum acidente sério ou perda dos materiais coletados - algo incomum para expedições científicas naquela época - e trouxe de volta para Europa a coleção inteira de 20.000 exsicatas, contendo ao redor de 6.500 espécies de plantas, além de grande número de espécimes zoológicos e uma extensa coleção de artefatos das diferentes tribos de indígenas encontradas durante a viagem.

Vanzolini, em "O contexto científico e político da expedição bávara ao Brasil de Johann Baptist von Spix & Johann Georg Wagler" comenta:

A História Natural, como incluía na época a Etnologia, era uma parte - possivelmente a mais importante - da tarefa dos viajantes, mas de maneira alguma a única. Receberam instruções para obter toda informação possível sobre mineração comércio, agricultura, indústria, colonização, estradas, administração geral na verdade, sobre todas as atividades econômicas possíveis. Tinham um mandato amplo e, em grande parte, orientado para o comércio. Fizeram tudo isso e registraram em incrível detalhe. Logo que voltaram para a Europa, começaram a publicar a Reise, que continua inexaurível e em muitos aspectos é uma fonte insubstituível informação sobre os lugares e a época. Nesse quadro, a zoologia é uma infeliz exceção.
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De fato, a Reise contém descrições meticulosas e vivas do itinerário; quando estou lendo sobre regiões que conheço, não consigo deixar de me envolver constantemente e antecipar o que veria e recompor no pensamento a paisagem e a disposição. O livro tem uma preocupação constante com geografia, geologia e botânica das regiões visitadas, com muitas referências surpreendentes à literatura. A parte etnográfica, embora eminentemente dogmática (depois de um ou mais dias entre determinado grupo de índios, Martius escrevia: "estes índios são"...), é uma fonte insubstituível sobre uma série de tribos. As referências a animais, contudo, têm geralmente uma veia romântica, lírica, no caso dos pássaros e das borboletas, ou temerosa e trêmula sobre jacarés monstruosos. São poucas as notas específicas de história natural e muito raramente é possível ligar espécimes a lugares ou situações - um aspecto em que Wied, por exemplo, é excelente.
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A Reise foi publicada em três volumes de texto, um atlas e um apêndice. Supostamente Spix colaborou no 1º volume, o único publicado em vida, mas o estilo é evidentemente de Martius. Isso é compreensível: Spix estava consciente da proximidade da morte e esforçava-se ao máximo para terminar os textos zoológicos.
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Uma palavra final sobre a Reise refere-se à competência de Martius como botânico. Não esqueçamos que ele tinha 23 anos quando se decidiu por esse campo e que sua experiência botânica prévia limitava-se à flora da Europa Central. Durante suas viagens no Brasil desenvolveu-se em muitas direções. Não é preciso comentar sua coordenação e participação direta na Flora Brasiliensis. Menos conhecido é o fato de que foi o primeiro naturalista a compreender a natureza fundamental dos domínios morfoclimáticos intertropicais do Brasil. Algumas de suas definições (como silva horrida, aestu aphylla, das caatingas semi-áridas) são clássicas, mas, mais do que isso, percebeu que os habitantes tinham uma apreciação aguda das facies das principais formações vegetais. Assim, embora nosso assunto seja Spix, Martius nem sempre pode ser deixado de lado. A amizade entre eles foi desse tipo, durante a viagem (como somente uma leitura da reise pode fazer justiça) e ainda mais depois da morte de Spix, quando Martius cuidou com todo o zelo da herança intelectual do amigo.

Há um vasto documento etnográfico nas litografias de "Atlas zur Reise in Brasilien", atlas com 40 gravuras e 11 mapas que acompanha os três volumes da obra Reise in Brasilien, impresso sem indicação de local ou data de publicação [München: Gedruckt bei M. Lindauer, 1823?]. A Biblioteca Mário de Andrade possui três cópias desta obra, sendo um com gravuras em cores e dois em preto e branco. Faltam ao todo 24 gravuras, dos três álbuns, sendo algumas repetidas, e essa é a origem das imagens publicadas neste post.

Oito imagens de índios: Aroaqui. Catauuixis. (Katawixís) Yupuá. Miranha. Arara. Mundrucú. (Mundurucu.) Mauhé. (Mawé)

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