9 de julho de 2007

A Escola está criada!

Universidade da Floresta

O primeiro curso do Centro Yorenka Ãtame (Saberes da Floresta) dos Ashaninkas, construído no rio Amônia na margem oposta ao município de Marechal Thaumaturgo - Acre, reuniu índios e brancos da Reserva Extrativista do Alto Juruá (Reaj).

O encontro teve o objetivo de treinar os monitores da Reaj, disse Benke, Ashaninka coordenador e criador do Centro.

"Esse Centro pode ser um braço muito importante para a Universidade da Floresta, no futuro", afirma Benke. Também participaram do encontro os antropólogos Mauro Almeida e Manuela Carneiro da Cunha, da Unicamp.

"Foi uma experiência muito importante. Não tem muita coisa a ficar discutindo. Temos que fazer mesmo. As coisas já estão prontas", disse o coordenador do Centro.

Benke avalia que hoje há muita discussão sobre como vamos fazer com relação aos problemas ambientais. "Tem muitas pessoas quase gritando que está se acabando a floresta, o ar, as águas, estão mudando o clima. Mas isso está acontecendo porque a gente não está construindo para amenizar o que está acontecendo. A parte científica deve se voltar para o lado prático também", aconselha.

O líder Ashaninka observa que muitas pessoas jovens estão aprendendo a parte acadêmica. "Mas quem está avançado deve colocar essa coisa na prática, tanto ensinar como colocar na prática. O Centro Yorenka Ãtame está pra isso", assinala.

"Se a Universidade da Floresta quer desenvolver algo ligado à Amazônia, ao Acre e ao povo da região, temos que ter um olhar mais profundo sobre a sobrevivência do povo", disse Benke.

Após participar de um encontro na Reunião Anual da SBPC sobre manejos florestais, ele criticou o enfoque econômico dado ao tema, à visão de apenas tirar madeira.

Como manejar, segundo Benke, é a coisa mais séria. "Estão estudando o que vem de fora: a experiência de manejo florestal que aconteceu na Europa - França, Alemanha, Inglaterra - e Estados Unidos, a parte acadêmica sobre os planos de manejo dos recursos de uma forma econômica. Para a gente, não dá para copiar aquele modelo de fora".

Na Europa tem pouca floresta nativa, muito já foi destruído e o que resta na maioria é monocultura de pinheiro e outras espécies, observa Benke. "Temos que ter o nosso inventário porque muitas coisas boas já foram construídas com essa diversidade de madeira, a ciência e a consciência que o povo tem aqui sobre esse manejo", acrescenta.

"Se a Universidade da Floresta está prevendo uma sustentabilidade dos recursos florestais, precisa ter uma visão do que o povo aprendeu na floresta. A experiência daqui pode ser um primeiro modelo universal", avalia Benke.

Segundo ele, temos uma grande diversidade de madeira, de plantas e experiência do povo da floresta - seringueiros, índios e agricultores.

Na concepção de Benke, "a Universidade da Floresta tem uma coisa estratégica científica grande que deve ter um olhar mais profundo sobre a realidade daqui".

Enquanto o projeto da Universidade da Floresta não sai do campo da discussão e permanece como um campus avançado da Ufac com cinco cursos em Cruzeiro do Sul, o Centro Yorenka Ãtame procura por em prática a transmissão dos saberes da floresta dos índios para os extrativistas e ribeirinhos.

"O Centro é um desafio grande para o nosso povo para enfrentar até mesmo os conhecimentos acadêmicos. A gente aposta nessa experiência que pode ser uma estratégia para essa população da região do Juruá", acentua Benke.

Para ele, a Yorenka Ãtame pode ser um exemplo de como restaurar o meio ambiente e ter uma facilidade muito mais prática de ensinar os ribeirinhos.

De acordo com Benke, o Centro veio com o fim de mostrar um novo modelo que a comunidade Ashaninka desenvolveu voltado à segurança e sustentabilidade alimentar.

A experiência, ele conta, "surgiu de uma necessidade por falta de organização dos representantes municipais. As coisas ficam muito entregues na mão do governo, prefeitura, dos políticos, e muito pouco nas mãos dos representantes do cooperativismo", constata.

O Centro está prevendo receber até 80 pessoas de uma vez, 40 pessoas em cada curso. O primeiro passo que é a construção, já foi dado e a obra física foi terminada. Falta colocar água com um poço artesiano e luz, mas a Internet já está chegando, relata Benke.

Mesmo sem ter terminado a infra-estrutura, foi dado um curso em parceria com a Unicamp. Benke conta que já está sendo preparado o projeto para receber as pessoas no Centro. "Precisamos de recursos para o primeiro curso", informa.

Fonte: Flávio Araripe / JC e-mail

Conheça o blog Imperceptíveis, de onde a foto da Escola Saberes da Floresta foi extraída, e leia as últimas cartas-denúncia da APIWTXA - Associação Ashaninka do Rio Amônia.

2 comentários:

corisco disse...

car@ amig@
é um prazer fazer parte dessa rede; agora que conheci esta casa espero estar sempre em contato;
acabo de chegar da aldeia e da inauguração do centro yorenka ãtame e tenho novidades;
abraço amigo
amiltohm
imperceptiveis

Jose Pedro disse...

Mensagem ao Blog.

Amigos.

Bom dia.

Enquanto os Governantes nao se entendem, soubemos da existencia do Page Benke da Tribo Ashaninka, sou um Ecologista e temos um grande Projeto de Educar todas as Pessoas do planeta para a Sustentabilidade, como uma unica forma de seguirmos em frente com nossa longa jornada.

Voces podem nos enviar o contato do Benke Ashaninka, ele é indispensavel pra nossa causa.

Obrigado,

Jose pedro naisser.
Ecologista.
Curitiba.pr.
email. jpnaisser@hotmail.com