30 de maio de 2009

A pintura indigenista de Guzmán de Rojas

"Cristo Aymara" - Guzmán de Rojas (Potosí, 1899 - La Paz, 1950)

"O indigenismo pôde ser visto durante muito tempo como parte de um movimento latino-americano de conteúdo nacionalista, antiimperialista e de crítica social, que se expressou inicialmente com grande intensidade na arena cultural. O indigenismo associado à crítica social marcou as sociedades em que havia desagregação de valores culturais e sociais tradicionais das comunidades e lutas internas de caráter classista e étnico. Este movimento, por um lado, buscava raízes e identidade nas origens históricas da América Latina e, ao mesmo tempo, na modernização que se dava através de vínculos com as vanguardas artísticas nas primeiras décadas do século XX. José Carlos Mariátegui assinalou ainda que era preciso realizar uma distinção entre o indianismo como produção cultural realizada pelos próprios índios através de seus códigos, do indigenismo como a vasta criatividade do lado ocidental das nações andinas buscando informar sobre o universo, e o homem indígena a partir de outras posições sociais e culturais e, nesta perspectiva, obra de mestiços no sentido histórico, social e cultural."
(Everaldo de Oliveira Andrade, in "O muralismo do boliviano M.Alandia Pantoja")

Cecilio Guzmán de Rojas é sem dúvida alguma o mais importante pintor boliviano e o mais influente da primeira metade do século 20. Começou a pintar aos 19 anos e logo foi discípulo de Avelino Nogales em Cochabamba, aquele que foi o mais destacado retratista boliviano do século anterior. Quando em 1919 Guzmán de Rojas imortaliza a um simples mendigo de rua com uma expressão de dignidade e orgulho mais que de pobreza, marcava o início de uma nova etapa na arte boliviana e na arte latino-americana com a utilização do indígena como elemento plástico protagônico em uma obra de arte, que o artista no caso utilizou com o chamado indigenismo, de importância decisiva na plástica nacional entre as décadas de 1930 e 1950, e depois nos artistas que fizeram parte da chamada Geração de 52, pós-revolucionária, onde havia maior liberdade de expressão só mais tarde cerceada pelos governos ditatoriais de turno na Bolívia.

Este pintor indigenista, a quem se deve a recuperação do índio como valor estético na pintura dentro de seu país, depois de receber sua primeira formação artística dos mestres Nogales e Georges Mattewie, recebeu bolsa do governo espanhol para completar seus estudos na Academia de San Fernando de Madri, estudos que prosseguiu logo na Escola de Artes e Ofícios de París. Após esta formação acadêmica, até hoje pré-requisito de sucesso para os pintores da América Latina, voltou a sua terra como Diretor Geral de Belas Artes (1932) e professor da Escola de Artes e Ofícios de sua cidade natal, Potosí, onde também fundou o Museo de Arte Retrospectivo. Em 1946 retornou a Europa convidado pelo British Council de Londres para realizar estudos de restauração de obras de arte.

Seis últimos anos foram passados na Bolívia dedicado ao estudio e experimentação de técnicas de pintura. Trabalhou as técnicas de óleo sobre tela, têmpera, aquarela, pastel, água-forte, gravado, desenho e técnicas mixtas experimentais. Realizou várias exposições também na Espanha, Chile, Argentina e nos Estados Unidos, antes de falecer em 1950.

O indigenismo como movimento cultural, ao disseminar-se pelos países andinos de maiorias indígenas, foi um dos elos que atraiu a atenção para as temáticas sociais. sendo que Guzman de Rojas era muito ligado ao indigenismo literário de Gamaliel Churata do Grupo Orkopata. Característico de sua pintura foi o realce do elemento indígena, como se pode ver em suas obras "El triunfo de la naturaleza" (Museo Nacional de Arte, La Paz) e "El beso del ídolo" (Casa de la Moneda, Potosí). Outros de seus quadros famosos são "Fruta paceña" e "Poemas de raza". Em sua carreira trabalhou a composição estrutural e a estilização próxima ao cubismo. A pintura "Ñusta", de 1931, representa a uma mulher de classe alta vestida como uma nobre do passado boliviano pré-colombiano. Depois da fracassada Guerra do Chaco contra o Paraguai (1932-1935), o estilo de Guzmán se tornou agressivamente expressionista, ao representar o sofrimento dos nativos na seca região do Chaco. O artista regressaria depois a seu estilo indigenista, como na pintura "Cristo Aymara", que parece arte colonial quanto à cor, composição e o uso de "pan-de-oro".

Durante os anos 40 Guzman se inspiraria em Machu Picchu para criar obras no estilo de cubismo sintético. Também pintou cenas do lago Titicaca neste estilo. Assim, Guzman defendeu o indigenismo durante sua carreira, especialmente em seus postos na Academia de Belas Artes de seu país. Na Bolívia o indigenismo tornou-se o estilo preferido das classes altas, as quais entretanto estavam separadas culturalmente da gente que esta arte representava. Foi o pintor mais influente entre seus contemporâneos, e su importância ainda. Na corrente indigenista por ele inaugurada sobressaem Jorge de la Reza (1901-1958), Jenaro Ibáñez (1903-1982) e Mario Illanes (1900-1960). Guzman de Rojas aparece como verdadeiro herói nacional na nota de dez pesos bolivianos, e seu filho Ivan Guzmán de Rojas, renomado matemático e linguista, é o responsável pelo Qopuchawi, um software para traduções multilinguisticas via ICQ que pode ser conhecido através de seu site ATAMIRI.

Visitem: HOMENAJE A CECILIO GUZMAN DE ROJAS (1899-195O)

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