10 de junho de 2009

Deontologia Xamânica

Arte Huichol
[Preâmbulo] Há muito que as pessoas buscam enriquecer suas vidas e acordar para a sua própria natureza através das práticas espirituais, incluindo as preces, a meditação, as disciplinas do corpo e da mente, os serviços, os rituais, as liturgias comunitárias, as observâncias diárias ou sazonais e os ritos de passagem. “Práticas religiosas primevas” são aquelas que pretendem ou, muito provavelmente, provoquem estados excepcionais de consciência tais como a experiência em primeira mão com o Divino, a unidade cósmica ou a consciência onisciente.

Em qualquer comunidade existem aqueles que se sentem imbuídos em ajudar os outros ao longo de um caminho espiritual, conhecidos por nós como ministros, rabinos, pastores, curandeiros, xamãs, padres e afins. Nós chamamos tais pessoas de ‘guias’: aqueles experimentados em certa prática, familiarizados com o terreno e que atuam como facilitadores da prática espiritual dos outros. Um guia não pode reivindicar exclusivo, ou definitivo, conhecimento acerca do terreno.

Práticas espirituais, especialmente as práticas religiosas primevas, carregam consigo riscos. Dessa forma, quando um indivíduo escolhe a prática intermediada por um guia, ambos assumem responsabilidades especiais. O Conselho em Práticas Espirituais propõe o seguinte Código de Ética para aqueles que atuam como guias espirituais:

1. [Intenção] Guias espirituais são para praticar e servir de maneira a cultivar a consciência, a empatia e a sabedoria.

2. [Servindo a Sociedade] Práticas espirituais são para ser elaboradas e conduzidas de maneira a respeitar o bem comum, com a devida consideração à segurança pública, a saúde e a ordem. Porque o aumento da consciência advindo das práticas espirituais pode vir a estimular o desejo por mudanças pessoais e sociais, os guias devem dar especial atenção no auxílio e na canalização das energias daqueles por eles assistidos, assim como a deles próprios, de maneira responsável, assim como demonstrando consideração fraternal por todas as formas de vida.

3. [Servindo Indivíduos] Guias espirituais devem respeitar e buscar preservar a dignidade e a autonomia de cada pessoa. A participação em qualquer prática religiosa primeva deve ser voluntária e baseada na revelação prévia [do ritual] e no consentimento, individualmente declarado por cada participante, enquanto em um estado ordinário de consciência. A revelação deve incluir, no mínimo, a discussão de quaisquer elementos da prática que podem ser razoavelmente considerados de risco físico ou psicológico. Em particular, os participantes precisam ser advertidos de que as experiências primário-religiosas podem ser difíceis e dramaticamente transformadoras.

Os guias devem fazer razoáveis preparativos no intuito de proteger a saúde e a segurança de cada participante durante as práticas espirituais, assim como nos períodos de vulnerabilidade que podem se seguir depois. Os limites comportamentais impostos aos participantes e facilitadores devem ser feitos claros e de comum acordo antes de qualquer sessão. Costumes apropriados de confidencialidade hão de ser estabelecidos e honrados.

4. [Competência] Guias espirituais devem ajudar só com aquelas práticas para as quais eles são qualificados por experiência pessoal e por treinamento ou educação.

5. [Integridade] Guias espirituais devem se esforçar em estar cientes de como os seus próprios sistemas de crença, valores, necessidades e limitações afetam o seu trabalho. Durante práticas religiosas primárias os participantes podem estar especialmente abertos a sugestão, a manipulação e a exploração; deste modo, os guias se encarregam de proteger os participantes e não permitir que alguém tome proveito desta vulnerabilidade de maneira a prejudicar os participantes ou outrem.

6. [Presença Silenciosa] No auxílio à precaução contra as conseqüências prejudiciais da ambição pessoal e da ambição organizacional, as comunidades espirituais são, geralmente, aconselhadas a crescerem pelas leis da atração em lugar do proselitismo.

7. [Sem Fins Lucrativos] Práticas espirituais são para ser conduzidas com o espírito de serviço. Os guias espirituais devem se esforçar para acomodar os participantes sem levar em conta sua habilidade de pagar ou fazer doações.

8. [Tolerância] Guias espirituais devem praticar a receptividade e o respeito para com aqueles cujas crenças estão em contradição aparente com a deles próprios.

9. [Revisão Paritária] Cada guia deve buscar o aconselhamento de outros guias para ajudar a manter a qualidade das suas práticas, oferecendo esse mesmo aconselhamento quando houver necessidade.
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Tradução ao português: Rodrigo Tavares (A Família Juramidam)

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