29 de junho de 2009
Detalhe de "Mural Histórico del Qosqo", obra de Juan Bravo que mede 50 metros de largura por 6 de altura. Tematicamente, o mural de Bravo abarca desde a época mítica até nossos dias. Foi inaugurado em Junho de 1992, no marco das celebrações da Semana de Cusco. Amplie para ver melhor a imagem clicando nela: o detalhe, no quadrante noroeste do mural, retrata os espíritos fundadores do Tawantinsuyu junto às muralhas de Ollantaytampu.
22 de junho de 2009
Sabedoria estelar
"A cidade de Wagner, em Dakota do Sul, Estados Unidos, é palco de um acontecimento de importância histórica. Desde 1996 a reserva Yankton do índios Sioux tem sediado um dos mais concorridos eventos na área ufológica dos EUA. Trata-se de um grande encontro entre os líderes de tribos indígenas norte-americanas e de todo o mundo, chamado Star Knowledge, a conferência sobre o conhecimento das estrelas. O evento é organizado por uma comitiva de índios chefiada pelo líder místico Standing Elk [Alce em Pé], da tribo Lakota. Standing Elk teve a idéia do encontro após uma visão em que lhe foi revelado que o conhecimento espiritual dos índios nativos dos EUA tinha grande relação com o que chama de “Nações das Estrelas”, seres extraterrestres. O chefe crê ainda que tal conhecimento deva ser compartilhado com outros povos da Terra e por isso convoca, a cada ano, indígenas de todo o planeta para trocarem informações e experiências. A conferência é sempre organizada em obediência às profecias dos sábios das tribos Lakota e Hopi, mas até hoje não recebeu nenhum enviado das tribos brasileiras. (...)
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O objetivo das conferências é divulgar de maneira mais clara e ampla as tradições e os conhecimentos indígenas dos nativos norte-americanos – os peles-vermelhas –, que até o início dessa série de eventos somente eram mencionadas dentro do próprio grupo. Todos os participantes deste acontecimento, ao longo dos 15 anos em que vem sendo realizado, têm plena consciência de que os desastrosos acontecimentos que ocorrem hoje em várias partes do mundo já haviam sido anunciados aos nativos através de antigas profecias de suas tribos. Se já era conhecimento deles as mudanças pelas quais a Terra irá passar, decidiu-se através destes eventos difundir as profecias indígenas para o restante da população planetária. De acordo com o que foi discutido no último evento, por exemplo, a origem de vários grupos nativos dos EUA é considerada pelos próprios como de procedência extraterrestre, pois suas culturas são fortemente influenciadas pelos ensinamentos transmitidos pelo que chamam de “Povos das Estrelas”, quando em visitas aos peles-vermelhas. A mais importante das profecias é seguramente a que se refere à iminente manifestação sobre a Terra das civilizações alienígenas, o que os indígenas acreditam que deverá acontecer muito brevemente. O idealizador do evento e guardião do chamado “altar da nação da estrela de seis pontos”, Standing Elk, revelou em sua apresentação que “os homens remediadores” – uma espécie de líderes místicos de cada tribo –, têm a capacidade de comunicar-se com entidades espirituais da Mãe-Terra, como a águia, o alce, o coiote e principalmente com seres provenientes das Nações das Estrelas. Este poder de transmissão constituiria, segundo ele, uma séria ameaça para as instituições religiosas, econômicas e governamentais do planeta, pois civilizações do Universo estariam entrando em contato com os peles-vermelhas através de métodos espirituais – o que é abominado pelo governo dos EUA.
O objetivo das conferências é divulgar de maneira mais clara e ampla as tradições e os conhecimentos indígenas dos nativos norte-americanos – os peles-vermelhas –, que até o início dessa série de eventos somente eram mencionadas dentro do próprio grupo. Todos os participantes deste acontecimento, ao longo dos 15 anos em que vem sendo realizado, têm plena consciência de que os desastrosos acontecimentos que ocorrem hoje em várias partes do mundo já haviam sido anunciados aos nativos através de antigas profecias de suas tribos. Se já era conhecimento deles as mudanças pelas quais a Terra irá passar, decidiu-se através destes eventos difundir as profecias indígenas para o restante da população planetária. De acordo com o que foi discutido no último evento, por exemplo, a origem de vários grupos nativos dos EUA é considerada pelos próprios como de procedência extraterrestre, pois suas culturas são fortemente influenciadas pelos ensinamentos transmitidos pelo que chamam de “Povos das Estrelas”, quando em visitas aos peles-vermelhas. A mais importante das profecias é seguramente a que se refere à iminente manifestação sobre a Terra das civilizações alienígenas, o que os indígenas acreditam que deverá acontecer muito brevemente. O idealizador do evento e guardião do chamado “altar da nação da estrela de seis pontos”, Standing Elk, revelou em sua apresentação que “os homens remediadores” – uma espécie de líderes místicos de cada tribo –, têm a capacidade de comunicar-se com entidades espirituais da Mãe-Terra, como a águia, o alce, o coiote e principalmente com seres provenientes das Nações das Estrelas. Este poder de transmissão constituiria, segundo ele, uma séria ameaça para as instituições religiosas, econômicas e governamentais do planeta, pois civilizações do Universo estariam entrando em contato com os peles-vermelhas através de métodos espirituais – o que é abominado pelo governo dos EUA.
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Segundo Standing, as Nações das Estrelas, como se sabe há milênios, não adotam qualquer sistema monetário em seus planetas, porque sua estrutura social é baseada em práticas mentais, espirituais e universais. Ele vê com apreensão o risco de colapso nos métodos financeiros mundiais, especialmente dentro dos Estados Unidos, e das instituições religiosas. Este é o motivo principal que induziu os donos do poder a considerar ilegal o credo das tribos Lakota e Dakota, banindo suas tradições culturais seculares. A censura valeu até o momento em que o ex-presidente Jimmy Carter promulgou, em agosto de 1978, uma lei que reconhecia a capacidade de os nativos terem suas próprias formas de religiosidade – conhecida como Ato para a Liberdade de Religião. Nos anos que precederam a promulgação da lei, o governo dos Estados Unidos punia os líderes espirituais com severidade, chegando a condená-los a mais de trinta anos de detenção caso fossem vistos ou se realizassem atos de prece às Nações das Estrelas durante as cerimônias tradicionais celebradas em sua língua original. “Para cristianizar os pagãos, os EUA cortavam as rações de comida necessárias à sobrevivência dos peles-vermelhas. Usavam este meio para constranger os nativos a aprender o modo do viver de um cristão”, explicou Standing. Com isso, impediam que se alastrasse sua cultura tradicional, que os levou a crer que eram descendentes de seres não-terrestres. De acordo com o líder da nação Lakota, as pessoas que se esforçavam para preservar seus ritos místicos e sua cultura eram privadas do fornecimento de comida por vários meses. “E quem realmente executava essas barbaridades, inclusive com crianças” – conforme declarou em cerimônia durante um dos últimos eventos da série – “eram chefes religiosos e não propriamente as autoridades do governo norte-americano”. Por estes motivos e pela tentativa do homem branco em explorar o conhecimento dos homens das estrelas apenas por interesses de caráter econômico, os líderes espirituais das tribos indígenas decidiram manter a mais total discrição em relação aos seus conhecimentos cósmicos, informando aos seus descendentes somente o que fosse necessário para a construção de seu espírito. Isso vem acontecendo gradativamente, há muitos anos.
Segundo Standing, as Nações das Estrelas, como se sabe há milênios, não adotam qualquer sistema monetário em seus planetas, porque sua estrutura social é baseada em práticas mentais, espirituais e universais. Ele vê com apreensão o risco de colapso nos métodos financeiros mundiais, especialmente dentro dos Estados Unidos, e das instituições religiosas. Este é o motivo principal que induziu os donos do poder a considerar ilegal o credo das tribos Lakota e Dakota, banindo suas tradições culturais seculares. A censura valeu até o momento em que o ex-presidente Jimmy Carter promulgou, em agosto de 1978, uma lei que reconhecia a capacidade de os nativos terem suas próprias formas de religiosidade – conhecida como Ato para a Liberdade de Religião. Nos anos que precederam a promulgação da lei, o governo dos Estados Unidos punia os líderes espirituais com severidade, chegando a condená-los a mais de trinta anos de detenção caso fossem vistos ou se realizassem atos de prece às Nações das Estrelas durante as cerimônias tradicionais celebradas em sua língua original. “Para cristianizar os pagãos, os EUA cortavam as rações de comida necessárias à sobrevivência dos peles-vermelhas. Usavam este meio para constranger os nativos a aprender o modo do viver de um cristão”, explicou Standing. Com isso, impediam que se alastrasse sua cultura tradicional, que os levou a crer que eram descendentes de seres não-terrestres. De acordo com o líder da nação Lakota, as pessoas que se esforçavam para preservar seus ritos místicos e sua cultura eram privadas do fornecimento de comida por vários meses. “E quem realmente executava essas barbaridades, inclusive com crianças” – conforme declarou em cerimônia durante um dos últimos eventos da série – “eram chefes religiosos e não propriamente as autoridades do governo norte-americano”. Por estes motivos e pela tentativa do homem branco em explorar o conhecimento dos homens das estrelas apenas por interesses de caráter econômico, os líderes espirituais das tribos indígenas decidiram manter a mais total discrição em relação aos seus conhecimentos cósmicos, informando aos seus descendentes somente o que fosse necessário para a construção de seu espírito. Isso vem acontecendo gradativamente, há muitos anos.
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Fonte: Leiam o artigo completo em: "A interação dos povos indígenas com seres extraterrestres", de Sonia Cordella (PORTAL UFO). Relatórios das reuniões do Star Knowledge podem ser visitados em inglês no Star Conference Directory. Abaixo, links para cento e cinquenta histórias da sabedoria dos nativos americanos :
Fonte: Leiam o artigo completo em: "A interação dos povos indígenas com seres extraterrestres", de Sonia Cordella (PORTAL UFO). Relatórios das reuniões do Star Knowledge podem ser visitados em inglês no Star Conference Directory. Abaixo, links para cento e cinquenta histórias da sabedoria dos nativos americanos :
01. Buffalo and the Mouse / 02. Origin of the Buffalo Dance Blackfoot / 03. Comrades / 04. The Raccoon and the Bee-Tree / 05. Big Long Mans Corn Patch / 06. How Coyote Stole Fire / 07. The Frog and the Crane / 08. The Falcon and the Duck / 09. How Fly Saved the River Anishnabeg / 10. Geow-lud-mo-sis-eg : Little People Maliseet / 11. How Glooskap Found the Summer Algonquin / 12. The Origin of Light Inuit / 13. The Magic Arrows / 14. The Runnaways / 15. The Legend of Wountie Squamish / 16. The Snake with the Big Feet / 17. Ravens Great Adventure / 18. Porcupine Hunts Buffalo / 19. The Legend of the Bear Family / 20. Coyote and the Rolling Rock / 21. MicMac Creation Story Mic Mac / 22. How Bear Lost His Tail / 23. Ableegumooch, the Lazy Rabbit Algonquin / 24. Buffalo and Eagle Wing /25. Coyote and Multnomah Falls / 26. The Hungry Fox and His Boastful Suitor / 27. Raven and His Grandmother / 28. Blessed Gift of Joy is Bestowed Upon Man / 29. Yellowstone Valley and the Great Flood Cheyenne / 30. Origin of the Lakotas Peace Pipe Lakota / 31. Mooin, The Bear's Child Algonquin / 32. The Buffalo Dance Mandan / 33. Bluebird and the Coyote / 34. Apache Creation Lore Apache / 35. The Origin of Earth Tuskegee / 36. How the Old Man Made People / 37. Origin of the Iroquois Nation Iroquois / 38. Spider Rock Dine/Navajo / 39. Eagle Stories / 40. Rabbit and Fox / 41. Grandfather Stories /42. California Creation Lore Yokut / 43. When the Animals and Birds were Created Makah / 44. Men Visit the Sky Seminole / 45. Origin of Medicine Men Passamaquoddy / 46. Yellow Jacket and Ant NezPrece/Nee-me-Poo / 47. Coyote and the Monster of Kamiah NezPrece/Nee-me-Poo / 48. Mt. Shasta Grizzly Legend / 49. The Buffalo Rock / 50. In the Beginning / 51. Buffalo Woman, a Story of Magic Caddo / 52. How the Buffalo Hunt Began Cheyenne / 53. How the Buffalo Were Released on Earth / 54. Bear Legend Cherokee / 55. Puma and the Bear /56. Chipmunk and Bear / 57. The White Faced Bear /58. Coyote and the Another One / 59. Creation of the First Indians Chelan / 60. Creation of the Red and White Races / 61. How Rabbit Brought Fire to the People /62. The First Fire Cherokee / 63. The Story of Creation Diguenos / 64. The Great Flood Salish / 65. How the Hopi Indians Reached Their World Hopi / 66. The Hunting of the Great Bear / 67. The Coyote and the Hen Mayan / 68. In the Beginning Yuchi / 69. The Ancient One /70. Godasiyo the Woman Chief Seneca / 71. The First Moccasins /72. The Flood on Superstition Mountain Pima / 73. How Corn Came to the Earth / 74. How the Great Chiefs Made the Moon and the Sun Hopi / 75. Why Mount Shasta Erupted Shasta / 76. Men Visit the Sky Seminole / 77. Origin of Fire Jicarilla Apache / 78. Coyote and the Monsters of the Bitterroot Valley Flathead / 79. How Rabbit Fooled Alligator Creek / 80. The Origin of Game and of Corn Cherokee / 81. Coyote Kills a Giant / 82. The Origin of Medicine Cherokee / 83. The Origin of Summer and Winter Acoma/Laguna / 84. Origin of the Animals Jicarilla-Apache / 85. Origin of the Buffalo Cheyenne / 86. Coyote's Adventures in Idaho / 87. How Rabbit Fooled Wolf / 88. Origin of the Clans Hopi / 89. Origin of the Sweat Lodge Blackfeet/Piegan / 90. The Origin of the Thunderbird Passamaquoddy / 91. The Origin of the Winds Aleuts / 92. Coyote vs. Duck / 93. Turtle's Race With Bear Seneca / 94. How the Rabbit Lost His Tail / 95. Battle With the Snakes Iroquois / 96. Origin of Tu-Tok-A-Nu-La Yosemite / 97. The Origin of Yosemite Miwok / 98. At The Rainbow's End Dine/Navajo / 99. Seek Your Father Seneca / 100. The Strange Origin of Corn Abnaki / 101. The Warm Wind Brothers vs. The Cold Wind Brothers / 102. Coyote's Salmon Sanpoils / 103. Rabbit and Otter, The Bungling Host / 104. Why the North Star Stands Still Paiute / 105. Rabbit and the Moon Man Micmac / 106. Fire Race Karuk / 107. Rabbit Calls a Truce / 108. The Man and the Ravens Anishinabe / 109. Rabbit and The Coyote / 110. Rabbit shoots the Sun / 111. Great Serpent and the Great Flood Chippewa / 112. Skunk Outwits Coyote / 113. Run, Rabbit, Run / 114. Why the Opussum's Tail Is Bare Cherokee / 115. Two Fawns and a Rabbit / 116. The Story of Jumping Mouse / 117. The White Potato Clan Creek / 118. Tahina-Ca Caraja, South America / 119. The Twin Brothers Caddo / 120. Grandmother Spider Steals the Fire Choctaw / 121. Old Man at the Beginning Crow / 122. Race with Buffalo Cheyenne / 123. Bears' Lodge Kiowa / 124. The Four Brothers, or Inyanhoksila (Stone Boy) Sioux / 125. The Unktomi (Spider), Two Widows, And The Red Plums Sioux / 126. The Great Flood Ottawa / 127. Cricket and Cougar Alta and Baja Tribes of California / 128. Ghost of the White Deer Chickasaw / 129. The Resuscitation Of The Only Daughter Sioux / 130. Origin Of Our Tribal Flower, The Trailing Arbutus Ottawa / 131. Dance of the Dead Luiseño / 132. Little People of the Cherokee Cherokee / 133. Warriors of the Rainbow / 134. Tatanka Hunkesi : The Wisdom of Experience Sioux / 135. The Hunter & The Dakwa Cherokee / 136. Origin of Tobacco Crow and Hidatsa / 137. THE PET DONKEY Sioux / 138. THE FORGOTTEN EAR OF CORN Sioux / 139. THE HERMIT, OR THE GIFT OF CORN Sioux / 140. Legend of the Cedar Tree Cherokee / 141. The Wolf Dance / 142. Hero with the Horned Snakes Cherokee / 143. Return of Ice Man Cherokee / 144. A LITTLE BRAVE AND THE MEDICINE WOMAN Sioux / 145. STORY OF THE LOST WIFE Sioux / 146. THE ARTICHOKE AND THE MUSKRAT Sioux / 147. THE STORY OF THE PET CRANE Sioux / 148. The Origin of Strawberries Cherokee / 149. THE MYSTERIOUS BUTTE Sioux / 150. UNKTOMI AND THE ARROWHEADS Sioux
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Revoluções solares
"Para os cientistas de nosso tempo a história geológica da Terra é um livro aberto. Ali está escrito que em 4,5 milhões de anos a Terra passou, pelo menos por catorze vezes, por inversões de seus polos magnéticos. Para chegar a estas conclusões os cientistas investigam as capas geológicas, onde existem sedimentos correspondentes às diferentes idades do planeta. O que antes foi lava, contém ainda minerais que conservam seu alinhamento magnético original, que pode medir-se com a tecnologia de rádio-carbono. Assim se sabe que a última inversão dos polos magnéticos ocorreu no ano 13.200 a.C., e se suspeita que esta data coincide com o afundamento da Atlântida.
Nosso planeta alterna sua polaridade cada vez que completa um ciclo, umas vezes os polos magnéticos da Terra estiveram alinhados tal como nós os conhecemos agora, e em outros ciclos estiveram invertidos. Também a direção, na qual rota a Terra ao redor de seu eixo, mudaram de acordo à orientação que hajam tido os polos magnéticos.
O campo magnético da Terra se origina no núcleo incandescente de ferro no centro da Terra. A velocidade de rotação deste núcleo é variável, e segundo esta se incremente ou desacelere, os campos magnéticos se manifestarão com maior ou menor intensidade. A maior velocidade na rotação, corresponde um campo magnético mais forte, e a menor velocidade de giro, um campo magnético mais fraco.
No ciclo atual, o ponto de máxima intensidade do campo magnético foi alcançado a 2000 anos, enquanto que, em nossos dias, o campo magnético veio enfraquecendo-se. E o faz em progressão geométrica: enquanto mais rápido cai, com mais velocidade segue caindo.
Em uma escala de 1 a 10, sendo 10 a medida de magnetismo mais forte, em 1996 estávamos em 1.5 e agora nos encontramos abaixo de 1. Este indicador nos mostra que estamos na antessala de uma inversão dos polos magnéticos, que, segundo os entendidos, pode ocorrer a qualquer momento. Quando isto acontecer, o campo magnético, que antes nos protegia da radiação solar e estelar também desaparecerá. Permaneceremos em um estado nulo de magnetismo por aproximadamente três dias e logo nosso planeta começará a girar, mas em sentido contrário. Os polos terão se invertido: o norte estará mudado em sul, e o sul em norte. Há que advertir que esta mudança se dá só a níveis eletro-magnéticos, e que não se trata de que a Terra venha a dar fisicamente um salto de 180 graus.
Durante os três dias em que a Terra permaneça imóvel, a metade do planeta ficará de cara ao sol e terá um dia muito longo, e a outra metade observará uma noite prolongada. Existem narrações antigas que relatam uma experiência similar, e que nos fazem suspeitar que esta inversão polar foi vivida na Terra em um tempo mais recente ao anteriormente anotado. A Bíblia conta que Josué "mandou parar o sol". Também papiros do antigo Egito narram que uma vez houve um dia muito longo no qual o sol saiu primeiro pelo ocidente e se ocultou no oriente, e logo, sem que intermediasse a noite, saiu pelo oriente e se ocultou pelo ocidente. Desde os antípodas no Peru, se conta com o testemunho de os antigos Incas, os quais pela mesma época experimentaram uma noite muito longa na qual "não houve amanhecer por mais de vinte horas".
Os três dias em que a Terra permaneça quieta serão os mais sagrados que viveu o homem desde sua criação. Três dias precisou o mestre Jesus para converter sua carne mortal em corpo de luz, e esse mesmo tempo necessitará nossa matéria densa para viver o processo de ressurreição, desta vez sem necessidade de haver tido que passar pela experiência da morte. Ao planeta de todas modos corresponde ascender e situar-se na escala evolutiva como mundo de quinta dimensão. Mas o processo de ascensão dos humanos é assunto individual e de livre eleição. O conseguirão aqueles que para então tenham criado sua própria zona nula, ou seja: zero em medos e reações emocionais. E tenham feito a inversão polar correspondente, com a bússola interna calibrada segundo os valores do espírito; e não com o norte apontando para a busca do poder, da fama e do dinheiro. "
Fonte: Hortensia Galvis - "A Inversão Dos Polos Magnéticos"
Nosso planeta alterna sua polaridade cada vez que completa um ciclo, umas vezes os polos magnéticos da Terra estiveram alinhados tal como nós os conhecemos agora, e em outros ciclos estiveram invertidos. Também a direção, na qual rota a Terra ao redor de seu eixo, mudaram de acordo à orientação que hajam tido os polos magnéticos.
O campo magnético da Terra se origina no núcleo incandescente de ferro no centro da Terra. A velocidade de rotação deste núcleo é variável, e segundo esta se incremente ou desacelere, os campos magnéticos se manifestarão com maior ou menor intensidade. A maior velocidade na rotação, corresponde um campo magnético mais forte, e a menor velocidade de giro, um campo magnético mais fraco.
No ciclo atual, o ponto de máxima intensidade do campo magnético foi alcançado a 2000 anos, enquanto que, em nossos dias, o campo magnético veio enfraquecendo-se. E o faz em progressão geométrica: enquanto mais rápido cai, com mais velocidade segue caindo.
Em uma escala de 1 a 10, sendo 10 a medida de magnetismo mais forte, em 1996 estávamos em 1.5 e agora nos encontramos abaixo de 1. Este indicador nos mostra que estamos na antessala de uma inversão dos polos magnéticos, que, segundo os entendidos, pode ocorrer a qualquer momento. Quando isto acontecer, o campo magnético, que antes nos protegia da radiação solar e estelar também desaparecerá. Permaneceremos em um estado nulo de magnetismo por aproximadamente três dias e logo nosso planeta começará a girar, mas em sentido contrário. Os polos terão se invertido: o norte estará mudado em sul, e o sul em norte. Há que advertir que esta mudança se dá só a níveis eletro-magnéticos, e que não se trata de que a Terra venha a dar fisicamente um salto de 180 graus.
Durante os três dias em que a Terra permaneça imóvel, a metade do planeta ficará de cara ao sol e terá um dia muito longo, e a outra metade observará uma noite prolongada. Existem narrações antigas que relatam uma experiência similar, e que nos fazem suspeitar que esta inversão polar foi vivida na Terra em um tempo mais recente ao anteriormente anotado. A Bíblia conta que Josué "mandou parar o sol". Também papiros do antigo Egito narram que uma vez houve um dia muito longo no qual o sol saiu primeiro pelo ocidente e se ocultou no oriente, e logo, sem que intermediasse a noite, saiu pelo oriente e se ocultou pelo ocidente. Desde os antípodas no Peru, se conta com o testemunho de os antigos Incas, os quais pela mesma época experimentaram uma noite muito longa na qual "não houve amanhecer por mais de vinte horas".
Os três dias em que a Terra permaneça quieta serão os mais sagrados que viveu o homem desde sua criação. Três dias precisou o mestre Jesus para converter sua carne mortal em corpo de luz, e esse mesmo tempo necessitará nossa matéria densa para viver o processo de ressurreição, desta vez sem necessidade de haver tido que passar pela experiência da morte. Ao planeta de todas modos corresponde ascender e situar-se na escala evolutiva como mundo de quinta dimensão. Mas o processo de ascensão dos humanos é assunto individual e de livre eleição. O conseguirão aqueles que para então tenham criado sua própria zona nula, ou seja: zero em medos e reações emocionais. E tenham feito a inversão polar correspondente, com a bússola interna calibrada segundo os valores do espírito; e não com o norte apontando para a busca do poder, da fama e do dinheiro. "
Fonte: Hortensia Galvis - "A Inversão Dos Polos Magnéticos"
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18 de junho de 2009
Maury e as veias abertas da Amazônia
“Grupo de Escravos (?) com Mercadores Árabes” - Zanzibar, 1850-1890
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Quando presenciei pela primeira vez essa foto histórica do tráfico negreiro da África Oriental, em "The Winterton Collection of East African Photographs", confesso que fiquei impressionado também em dar-me conta de que nunca vira fotos de um Navio Negreiro, apenas ouvira e lera descrições e uma ou outra pintura. Em 1850, data presumível da imagem, a Inglaterra já combatia o tráfico de escravos há algumas décadas, mas aqui no Brasil ainda estava por ser publicada uma lei rígida a fim de impedir a entrada de novos escravos (leiam aqui). A imagem da fotografia, além de carregada de signos e leituras, também me permitiu recordar um dado curioso que pesquisei dez anos atrás quando elaborava minha monografia "Do Prata ao Amazonas - A Navegabilidade do MERCOSUL e a Questão Ambiental", que finalizei em São Pedro do Sul – RS , no ano 2000.
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Esta informação, oculta nos velhos arquivos, dizia respeito à propaganda realizada por um eminente Tenente da Marinha norte-americana nessa mesma época de 1850: Matthew Maury, escrevendo sob o pseudônimo "Inca", fomentava que os negros do sul dos Estados Unidos fossem libertos e enviados para colonizar a Amazônia. Como o Império do Brasil não abrira o Amazonas à navegação internacional, os Estados Unidos então procuraram cercá-lo por todos os lados, inclusive apoiando ocultamente a Guerra do Paraguai como forma de pressão contra D. Pedro II. O resultado da Guerra da Secessão nos Estados Unidos não deram seguimento ao Plano Maury, e tampouco houve algo similar aqui no Brasil quando em 1888 foi abolida oficialmente a escravidão, mas a tese de colonizar a Amazônia para dela sacar o máximo proveito temsequência até os dias de hoje. Publico portanto o que a citada monografia, em suas páginas 54 a 58, contava sobre a História da Navegação no Rio Amazonas:
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"Após a Independência do Brasil, os interesses da primeira Imperatriz, Dona Leopoldina de Habsburgo, junto ao ministro José Bonifácio de Andrada, pelas Ciências Naturais, representaram um estímulo à entrada de cientistas em viagem de estudos no país, até então pouco explorado por cientistas portugueses. Ainda antes da Independência, Von Martius e Spix haviam podido viajar de Juazeiro, no Rio São Francisco, até o Piauí, atravessando a caatinga, depois do que alcançaram o Maranhão, passaram ao Amazonas navegando até a altura de Tefé, de onde Spix subiu até o Peru enquanto Von Martius ia pelo Japurá até a República da Grã-Colômbia. Ambos voltaram a se encontrar de regresso em Belém, embarcando em 1820 para Munique com ricas coleções de botânica. Outros os seguiram no afã de descobrir a Amazônia para o mundo científico: Mawe, em 1828; Poepping, em 1831; Smyth, em 1834; Von Tschudi, em 1845; De Castelneau, em 1846, e Edwards, nesse mesmo ano.
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Em razão da riqueza dessas novas descobertas, despertou-se o interesse comercial dos Estados Unidos: entre 1849 e 1855, um oficial da Marinha de guerra norte-americana, o Tenente Matthew Fontaine Maury, publicou com o pseudônimo "Inca" uma série de artigos em jornais e revistas de seu país (1) , conclamando a opinião pública dos Estados Unidos pela abertura do "rei dos rios" ao comércio internacional. Segundo Maury, a abertura do rio-mar teria em relação à prosperidade dos Estados Unidos o mesmo efeito que teve a aquisição da Louisiana, e o governo americano aparentemente fez ouvido às suas idéias passando a sugerir ao Brasil as vantagens que adviriam do aproveitamento comercial do Amazonas. O próprio Henry David Thoreau comentaria em seu ensaio “Life without Principle”:
Em razão da riqueza dessas novas descobertas, despertou-se o interesse comercial dos Estados Unidos: entre 1849 e 1855, um oficial da Marinha de guerra norte-americana, o Tenente Matthew Fontaine Maury, publicou com o pseudônimo "Inca" uma série de artigos em jornais e revistas de seu país (1) , conclamando a opinião pública dos Estados Unidos pela abertura do "rei dos rios" ao comércio internacional. Segundo Maury, a abertura do rio-mar teria em relação à prosperidade dos Estados Unidos o mesmo efeito que teve a aquisição da Louisiana, e o governo americano aparentemente fez ouvido às suas idéias passando a sugerir ao Brasil as vantagens que adviriam do aproveitamento comercial do Amazonas. O próprio Henry David Thoreau comentaria em seu ensaio “Life without Principle”:
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"Lieutenant Herndon, whom our Government sent to explore the Amazon, and it is said, to extend the area of slavery, observed that there was wanting there a industrious and active population, who knows what the comforts of life are, and who have artificial wants to draw out the great resources of the country”.
"Lieutenant Herndon, whom our Government sent to explore the Amazon, and it is said, to extend the area of slavery, observed that there was wanting there a industrious and active population, who knows what the comforts of life are, and who have artificial wants to draw out the great resources of the country”.
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Matthew Fontaine MauryEnvolto nos artigos de Maury, segundo Sérgio Teixeira de Macedo, então ministro do Brasil em Washington, havia em andamento um plano da iniciativa privada norte-americana para transferir os negros do sul do país para o norte do Brasil, sendo que Belém do Pará seria o ponto de irradiação prática destes para o resto da Amazônia brasileira (2) . Publicados no Brasil em 1853 através do "Correio Mercantil", os artigos de Maury despertaram a apreensão dos nacionalistas, juntamente com a notícia de que se preparava em New York uma expedição de flibusteiros para forçar a abertura do Amazonas (3) . Outros intelectuais brasileiros sustentariam um ponto de vista mais aprofundado sobre a questão, como Gonçalves Dias, que em carta a Tavares Bastos declarou:
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"A respeito de Maury, V. me permitirá manifestar-lhe a minha opinião quanto ao resultado final do seu impresso. Autor infesto ao Brasil e mesmo odiado por muitos dos nossos homens ilustrados como advogado de desenfreadas ambições dos Americanos, Maury, no meu entender, deve ser qualificado como um dos beneméritos do Amazonas. As suas exagerações mesmo serviram... e data de então o maior cuidado que o governo tem tido com as coisas daquelas províncias, futuro paraíso, como se antolhou a Humboldt...” (4).
"A respeito de Maury, V. me permitirá manifestar-lhe a minha opinião quanto ao resultado final do seu impresso. Autor infesto ao Brasil e mesmo odiado por muitos dos nossos homens ilustrados como advogado de desenfreadas ambições dos Americanos, Maury, no meu entender, deve ser qualificado como um dos beneméritos do Amazonas. As suas exagerações mesmo serviram... e data de então o maior cuidado que o governo tem tido com as coisas daquelas províncias, futuro paraíso, como se antolhou a Humboldt...” (4).
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A liberdade de navegação na Bacia do Amazonas foi estabelecida através de uma série de tratados bilaterais, a partir dessa mesma época, entre Brasil e Peru, entre Estados Unidos e Peru, entre Estados Unidos e Colômbia, entre Brasil e Venezuela e entre Equador e Peru. Também foi assegurado por meio de regulamentações unilaterais efetuadas por via legislativa, como foi o caso no Brasil, na Colômbia, no Equador e no Peru. A 23 de outubro de 1851, o Brasil e o Peru declararam, por meio de um tratado bilateral, que a navegação sobre o Amazonas, desde a sua foz até o território peruano, pertencia exclusivamente aos Estados ribeirinhos respectivos. A 15 de Abril de 1853, através de um decreto, o governo peruano reconfirma a concessão feita ao Brasil dois anos antes, especificando que o Peru estava disposto a estender os mesmos direitos, no concernente ao território peruano, aos cidadãos e sujeitos de outras nações que houvessem concluído com ele tratados comportando a cláusula de nação mais favorecida, ou seja, com privilégios no comércio exterior. Foi assim que os Estados Unidos, que em 1851 haviam firmado com o Peru um tratado com esta cláusula de tratamento com prerrogativas, passou a reclamar desse país as mesmas vantagens que acabavam de ser outorgadas ao Brasil quanto à navegação no trecho peruano do Amazonas.
A liberdade de navegação na Bacia do Amazonas foi estabelecida através de uma série de tratados bilaterais, a partir dessa mesma época, entre Brasil e Peru, entre Estados Unidos e Peru, entre Estados Unidos e Colômbia, entre Brasil e Venezuela e entre Equador e Peru. Também foi assegurado por meio de regulamentações unilaterais efetuadas por via legislativa, como foi o caso no Brasil, na Colômbia, no Equador e no Peru. A 23 de outubro de 1851, o Brasil e o Peru declararam, por meio de um tratado bilateral, que a navegação sobre o Amazonas, desde a sua foz até o território peruano, pertencia exclusivamente aos Estados ribeirinhos respectivos. A 15 de Abril de 1853, através de um decreto, o governo peruano reconfirma a concessão feita ao Brasil dois anos antes, especificando que o Peru estava disposto a estender os mesmos direitos, no concernente ao território peruano, aos cidadãos e sujeitos de outras nações que houvessem concluído com ele tratados comportando a cláusula de nação mais favorecida, ou seja, com privilégios no comércio exterior. Foi assim que os Estados Unidos, que em 1851 haviam firmado com o Peru um tratado com esta cláusula de tratamento com prerrogativas, passou a reclamar desse país as mesmas vantagens que acabavam de ser outorgadas ao Brasil quanto à navegação no trecho peruano do Amazonas.
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O Peru, entretanto, recusou atender a demanda norte-americana, e a 4 de janeiro de l854 seu governo emitiu um decreto declarando não dar direitos sobre a navegação do Amazonas peruano senão ao Brasil, excluindo-se todas as outras nações estrangeiras, mesmo se elas houvessem assinado convenções especiais com o Peru em matéria de navegação. O fato foi que o Brasil desde pronto mostrara-se hostil à idéia de abrir o Amazonas à navegação dos Estados Unidos, precavendo-se talvez da possibilidade de aplicação do plano aventado por Sérgio Teixeira de Macedo, e havia portanto protestado contra o decreto peruano de abril de 1853. A posição brasileira era de que o direito de navegação na Bacia do Amazonas devia pertencer somente aos seus ribeirinhos e não podia ser estendida aos não-ribeirinhos por meio da aplicação de cláusulas de favorecimento.
O Peru, entretanto, recusou atender a demanda norte-americana, e a 4 de janeiro de l854 seu governo emitiu um decreto declarando não dar direitos sobre a navegação do Amazonas peruano senão ao Brasil, excluindo-se todas as outras nações estrangeiras, mesmo se elas houvessem assinado convenções especiais com o Peru em matéria de navegação. O fato foi que o Brasil desde pronto mostrara-se hostil à idéia de abrir o Amazonas à navegação dos Estados Unidos, precavendo-se talvez da possibilidade de aplicação do plano aventado por Sérgio Teixeira de Macedo, e havia portanto protestado contra o decreto peruano de abril de 1853. A posição brasileira era de que o direito de navegação na Bacia do Amazonas devia pertencer somente aos seus ribeirinhos e não podia ser estendida aos não-ribeirinhos por meio da aplicação de cláusulas de favorecimento.
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Sem sucesso os Estados Unidos continuaram insistindo em negociar com Brasil e Peru a abertura do Amazonas, mas colheram melhores resultados adiantando-se com os outros países ribeirinhos, mesmo que seus navios jamais pudessem chegar até lá sem passar primeiramente por território brasileiro. A 26 de novembro de 1853, a República do Equador, por meio de um decreto-lei, declarou abrir a todas as nações os rios que passavam por seu território (e obviamente os afluentes do Amazonas). Seguiu-se um Tratado de Amizade entre Estados Unidos e Bolívia, em virtude do qual este último país atestava reconhecer que o rio e seus afluentes estavam abertos, por natureza, ao comércio de todas as nações. Colômbia já havia promulgado, a 24 de maio de l856, uma lei autorizando a circulação sobre as vias navegáveis colombianas de todos os navios de comércio nacionais ou estrangeiros.
Sem sucesso os Estados Unidos continuaram insistindo em negociar com Brasil e Peru a abertura do Amazonas, mas colheram melhores resultados adiantando-se com os outros países ribeirinhos, mesmo que seus navios jamais pudessem chegar até lá sem passar primeiramente por território brasileiro. A 26 de novembro de 1853, a República do Equador, por meio de um decreto-lei, declarou abrir a todas as nações os rios que passavam por seu território (e obviamente os afluentes do Amazonas). Seguiu-se um Tratado de Amizade entre Estados Unidos e Bolívia, em virtude do qual este último país atestava reconhecer que o rio e seus afluentes estavam abertos, por natureza, ao comércio de todas as nações. Colômbia já havia promulgado, a 24 de maio de l856, uma lei autorizando a circulação sobre as vias navegáveis colombianas de todos os navios de comércio nacionais ou estrangeiros.
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Foi graças à Guerra do Paraguai, surgida após o rompimento do acordo de livre navegação dos rios Paraná e Paraguai assinado em 1852, que o Brasil se viu obrigado a atender à demanda norte-americana e abrir o Amazonas. Já Inglaterra e França haviam obtido anos antes o acesso ao Rio da Prata, e desde 1853 os Estados Unidos garantira-se o direito de navegar o Rio Paraguai em todo o seu percurso até a fronteira do Brasil, mantendo as melhores relações com a jovem república criada em Asunción, de modo que pode assim influenciar secretamente os interesses bélicos do Paraguai no Brasil. Lawrence F.Hill confirmou a respeito que a abertura do sistema fluvial do Prata (e portanto a Guerra do Paraguai) foi usada como cunha para conseguir-se a abertura do Amazonas aos Estados Unidos da América (5) .
Foi graças à Guerra do Paraguai, surgida após o rompimento do acordo de livre navegação dos rios Paraná e Paraguai assinado em 1852, que o Brasil se viu obrigado a atender à demanda norte-americana e abrir o Amazonas. Já Inglaterra e França haviam obtido anos antes o acesso ao Rio da Prata, e desde 1853 os Estados Unidos garantira-se o direito de navegar o Rio Paraguai em todo o seu percurso até a fronteira do Brasil, mantendo as melhores relações com a jovem república criada em Asunción, de modo que pode assim influenciar secretamente os interesses bélicos do Paraguai no Brasil. Lawrence F.Hill confirmou a respeito que a abertura do sistema fluvial do Prata (e portanto a Guerra do Paraguai) foi usada como cunha para conseguir-se a abertura do Amazonas aos Estados Unidos da América (5) .
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Enfraquecido pela prolongada conflagração militar nos sertões de Mato Grosso e no sul do país, o governo imperial brasileiro, pelos decretos de 7 de dezembro de 1866 e 31 de julho de 1867, declarou o Amazonas e seus afluentes abertos, a partir de 1º de setembro de 1867, aos navios e ao comércio de todos os países. Em 17 de dezembro de 1868, o Peru aquiesceu proclamando por decreto que "a navegação de todos os rios da república está aberta aos vasos mercantes de qualquer nacionalidade”. A guerra com o Paraguai, concluída em 1870 e seguida por seis anos de ocupação brasileira no país vizinho, seria por motivos econômicos causa da falência da monarquia no Brasil, havendo fortalecido também em demasia o setor militar, o qual proclamaria a República em 1889, pouco depois da abolição da escravatura no país, aproveitando-se da insatisfação dos latifundiários escravocratas contra a família real. Quanto à abertura do Amazonas, esta propiciou, entre outras expropriações por contrabando (como no caso de madeiras nobres e metais preciosos, até os dias de hoje levados da região sem uma possibilidade efetiva de controle total das fronteiras), a falência dos seringais da Amazônia, emergentes no final do século 19, pelo roubo de 70 mil sementes que o inglês Alexander Wickham, ingressado no Pará como botânico, levou da região do Rio Tapajós: “em 1901, além das plantações inglesas no Ceilão, começa o cultivo da Hevea brasiliensis nas colônias holandesas do Oriente; os alemães fazem experimentos de plantio na África e os franceses na Indochina” (6).
Enfraquecido pela prolongada conflagração militar nos sertões de Mato Grosso e no sul do país, o governo imperial brasileiro, pelos decretos de 7 de dezembro de 1866 e 31 de julho de 1867, declarou o Amazonas e seus afluentes abertos, a partir de 1º de setembro de 1867, aos navios e ao comércio de todos os países. Em 17 de dezembro de 1868, o Peru aquiesceu proclamando por decreto que "a navegação de todos os rios da república está aberta aos vasos mercantes de qualquer nacionalidade”. A guerra com o Paraguai, concluída em 1870 e seguida por seis anos de ocupação brasileira no país vizinho, seria por motivos econômicos causa da falência da monarquia no Brasil, havendo fortalecido também em demasia o setor militar, o qual proclamaria a República em 1889, pouco depois da abolição da escravatura no país, aproveitando-se da insatisfação dos latifundiários escravocratas contra a família real. Quanto à abertura do Amazonas, esta propiciou, entre outras expropriações por contrabando (como no caso de madeiras nobres e metais preciosos, até os dias de hoje levados da região sem uma possibilidade efetiva de controle total das fronteiras), a falência dos seringais da Amazônia, emergentes no final do século 19, pelo roubo de 70 mil sementes que o inglês Alexander Wickham, ingressado no Pará como botânico, levou da região do Rio Tapajós: “em 1901, além das plantações inglesas no Ceilão, começa o cultivo da Hevea brasiliensis nas colônias holandesas do Oriente; os alemães fazem experimentos de plantio na África e os franceses na Indochina” (6).
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Exceção feita à Questão do Acre, levantada entre Bolívia e Brasil em 1901 por motivo da disputa do vale do Rio Acre, afluente do Purus habitado por bolivianos e seringueiros brasileiros, a qual implicou em uma interrupção da livre-navegação do Amazonas, afetando igualmente à França, Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos, sendo resolvida apenas em 1903, já não houveram entraves diplomáticos quanto ao Amazonas. Finalmente, por um tratado concluído a 12 de outubro de 1910 entre Bolívia e Brasil, a liberdade de navegação sobre o Amazonas e seus afluentes navegáveis (entre a Bolívia e o mar) estavam confirmados para os navios de todas as bandeiras. "
Exceção feita à Questão do Acre, levantada entre Bolívia e Brasil em 1901 por motivo da disputa do vale do Rio Acre, afluente do Purus habitado por bolivianos e seringueiros brasileiros, a qual implicou em uma interrupção da livre-navegação do Amazonas, afetando igualmente à França, Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos, sendo resolvida apenas em 1903, já não houveram entraves diplomáticos quanto ao Amazonas. Finalmente, por um tratado concluído a 12 de outubro de 1910 entre Bolívia e Brasil, a liberdade de navegação sobre o Amazonas e seus afluentes navegáveis (entre a Bolívia e o mar) estavam confirmados para os navios de todas as bandeiras. "
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(1) Citam-se o "Southern Literary Messenger", o "National Intelligencer", o "Washington Union" e a "De Bow's Review", além de panfletos como "Letters on the Amazon and Atlantic Slopes of South America".
(2) TEIXEIRA SOARES. "Um Grande Desafio Diplomático no Século Passado", p.54, op.cit.
(3) Ver KIDDER & FLETCHER, "Brazil and the Brazilians". Philadelphia, 1857, p.578-579.
(4) Citado por TEIXEIRA SOARES, "Um Grande Desafio Diplomático do Século Passado", p.54, op.cit.
(5) HILL, Lawrence F. "Diplomatic relations between the United States and Brazil". Duke University Press, 1932, p.218.
(6) RIBEIRO, Berta G. “Amazônia Urgente – Cinco Séculos de História e Ecologia”. Belo Horizonte, Itatiaia, 1990. p.166.
(1) Citam-se o "Southern Literary Messenger", o "National Intelligencer", o "Washington Union" e a "De Bow's Review", além de panfletos como "Letters on the Amazon and Atlantic Slopes of South America".
(2) TEIXEIRA SOARES. "Um Grande Desafio Diplomático no Século Passado", p.54, op.cit.
(3) Ver KIDDER & FLETCHER, "Brazil and the Brazilians". Philadelphia, 1857, p.578-579.
(4) Citado por TEIXEIRA SOARES, "Um Grande Desafio Diplomático do Século Passado", p.54, op.cit.
(5) HILL, Lawrence F. "Diplomatic relations between the United States and Brazil". Duke University Press, 1932, p.218.
(6) RIBEIRO, Berta G. “Amazônia Urgente – Cinco Séculos de História e Ecologia”. Belo Horizonte, Itatiaia, 1990. p.166.
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AcriLírico
"São deuses menos duradouros, os modernos –
Assim como invisíveis os seus templos e altares
Implantados que foram na rede neuronal desta raça
Consumidora em massa de bens descartáveis.
Não são deuses menos justos
Porque justos nunca foram os deuses com a humanidade
E mesmo quando benévolos sempre o faziam por broma
A fim de divertirem-se às custas da ingênua adoração dos mortais:
São deuses construídos à imagem do que não somos,
Prisioneiros que estamos nessa dimensionalidade estreita (e eles não),
E por isso servem como contraste inefável do que ultrapassa o tempo
De nossa existência frágil, mas igualmente esfarelam-se qual pedra em areia.
Nós e nossos laços sanguíneos e ânsia de perpetuidade criamos famílias,
Estabelecemos clãs, tribos, nações, identidades e diferenças entre nó e nó,
Cada qual com seu deus e sua gíria para demarcar os limites e omitir limitações
A partir de individualidades: mas eles nos traíram e se mostraram cegos, surdos e mudos.
Por mais que eu chamasse pelo diabo, só encontraria o diabo que existe dentro de mim.
Esse nem mesmo quer ser um deus, esse se diverte em ser a lei da relatividade, e lhe basta.
O bicho homem, torpe em seu contínuo arar da terra dele farta, suor salgado nos olhos,
Apenas geme suas ideias, seus ideais, acreditando em ideologias que ao final nada são
Senão a distração necessária para compensar dor e prazer
Para que assim a vida lhe seja ou pareça suportável (enquanto dure).
Os novos deuses, estes que não se invocam, cabem em um espaço diminuto de memória:
São focos culturais que pautam o entendimento para os que não o possuem bem certo,
São reciclagens de muitas faces que plasmamos com a força de nossas emoções orgânicas
Que parecem ao leigo o cintilar da faísca da presença do Deus Criador
Mas são rastros de brasa que alguém descobre na madrugada após pisar um fogo morto
E com essas luzes se encanta como se nelas houvesse presenciado desconhecida magia,
São impressões tênues em que nos deparamos dependentes de fugidia força a perseguir.
O dia em que outra força vier a subjugar o que sobrexistiu fugaz nesse planeta,
É aí que isto se anula: deuses abandonados, memórias devoradas, valores descontruídos,
Pedacinho a pedacinho serão esfacelados e não deixarão testemunho algum,
Para que então a raça, a nação, os grandes feitos, tudo passe como um holocausto de Ar,
Como vento leve que adentra com vigor a casa velha e maltratada e parece renová-la
Nos fazendo melhores dentro dela e dentro de nós, mesmo não sendo palpável -
Sorte que refletimos hoje o riso que novas crianças oferecerão, seja sol ou hajam estrelas!..."
16.jun.2009 – de Eduardo Bayer Neto
Acrilírico
(Caetano Veloso/Rogério Duprat)
Olhar colírico
Lirios plásticos do campo e do contracampo
Telástico cinemascope teu sorriso tudo isso
Tudo ido e lido e lindo e vindo do vivido
Na minha adolescidade
Idade de pedra e paz
Teu sorriso quieto no meu canto
Ainda canto o ido o tido o dito
O dado o consumido
O consumado
Ato
Do amor morto motor da saudade
Diluído na grandicidade
Idade de pedra ainda
Canto quieto o que conheço
Quero o que não mereço
O começo
Quero canto de vinda
Divindade do duro totem futuro total
Tal qual quero canto
Por enquanto apenas mino o campo ver-te
Acre e lírico o sorvete
Acrilíco Santo Amargo da Putrificação
Assim como invisíveis os seus templos e altares
Implantados que foram na rede neuronal desta raça
Consumidora em massa de bens descartáveis.
Não são deuses menos justos
Porque justos nunca foram os deuses com a humanidade
E mesmo quando benévolos sempre o faziam por broma
A fim de divertirem-se às custas da ingênua adoração dos mortais:
São deuses construídos à imagem do que não somos,
Prisioneiros que estamos nessa dimensionalidade estreita (e eles não),
E por isso servem como contraste inefável do que ultrapassa o tempo
De nossa existência frágil, mas igualmente esfarelam-se qual pedra em areia.
Nós e nossos laços sanguíneos e ânsia de perpetuidade criamos famílias,
Estabelecemos clãs, tribos, nações, identidades e diferenças entre nó e nó,
Cada qual com seu deus e sua gíria para demarcar os limites e omitir limitações
A partir de individualidades: mas eles nos traíram e se mostraram cegos, surdos e mudos.
Por mais que eu chamasse pelo diabo, só encontraria o diabo que existe dentro de mim.
Esse nem mesmo quer ser um deus, esse se diverte em ser a lei da relatividade, e lhe basta.
O bicho homem, torpe em seu contínuo arar da terra dele farta, suor salgado nos olhos,
Apenas geme suas ideias, seus ideais, acreditando em ideologias que ao final nada são
Senão a distração necessária para compensar dor e prazer
Para que assim a vida lhe seja ou pareça suportável (enquanto dure).
Os novos deuses, estes que não se invocam, cabem em um espaço diminuto de memória:
São focos culturais que pautam o entendimento para os que não o possuem bem certo,
São reciclagens de muitas faces que plasmamos com a força de nossas emoções orgânicas
Que parecem ao leigo o cintilar da faísca da presença do Deus Criador
Mas são rastros de brasa que alguém descobre na madrugada após pisar um fogo morto
E com essas luzes se encanta como se nelas houvesse presenciado desconhecida magia,
São impressões tênues em que nos deparamos dependentes de fugidia força a perseguir.
O dia em que outra força vier a subjugar o que sobrexistiu fugaz nesse planeta,
É aí que isto se anula: deuses abandonados, memórias devoradas, valores descontruídos,
Pedacinho a pedacinho serão esfacelados e não deixarão testemunho algum,
Para que então a raça, a nação, os grandes feitos, tudo passe como um holocausto de Ar,
Como vento leve que adentra com vigor a casa velha e maltratada e parece renová-la
Nos fazendo melhores dentro dela e dentro de nós, mesmo não sendo palpável -
Sorte que refletimos hoje o riso que novas crianças oferecerão, seja sol ou hajam estrelas!..."
16.jun.2009 – de Eduardo Bayer Neto
Acrilírico
(Caetano Veloso/Rogério Duprat)
Olhar colírico
Lirios plásticos do campo e do contracampo
Telástico cinemascope teu sorriso tudo isso
Tudo ido e lido e lindo e vindo do vivido
Na minha adolescidade
Idade de pedra e paz
Teu sorriso quieto no meu canto
Ainda canto o ido o tido o dito
O dado o consumido
O consumado
Ato
Do amor morto motor da saudade
Diluído na grandicidade
Idade de pedra ainda
Canto quieto o que conheço
Quero o que não mereço
O começo
Quero canto de vinda
Divindade do duro totem futuro total
Tal qual quero canto
Por enquanto apenas mino o campo ver-te
Acre e lírico o sorvete
Acrilíco Santo Amargo da Putrificação
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16 de junho de 2009
À Demanda da Verdade
"Não é hora para ficarmos calados" - Alberto Chirif
"Os antecedentes são conhecidos. Aproveitando faculdades legislativas outorgadas pelo Congresso, o Executivo peruano despachou uma centena de decretos de diverso corte e que porcerto vão muito além do objetivo da delegação recebida, que era adequar certas normas nacionais para poder implementar melhor o Tratado de Livre Comércio, subscrito pelo Peru com os Estados Unidos. Entre eles, por exemplo, há um que exime de juízo aos policiais que matem ou firam civis “em cumprimento de suas funções” e que permite a detenção de pessoas sem mandato judicial. E há vários que o seguem contra os povos indígenas, que ao longo de anos conseguiram que lhes reconheçam uma série de direitos, tanto no âmbito nacional como no internacional.
As análises jurídicas já foram feitas por muitos advogados, uns especialistas em temas indígenas e outros em assuntos constitucionais e, não sendo nossa especialidade, não queremos abundar no tema que eles examinaram com propriedade. Sobre o tema, recomendamos ler o contundente informe de Francisco Eguiguren, a quem ninguém poderá acusar de responder a interesses políticos partidários, nem sequer de ter vinculações com o movimento indígena. Hoje muitos alegam que o governo deve manter o estado de direito, mas passam por alto que o primeiro em transgredi-lo tenha sido precisamente o governo ao promulgar leis que não têm nada que ver com o TLC e que são anticonstitucionais por violar o direito de consulta, por afetar direitos reconhecidos aos indígenas na Constituição e as leis e por derrogar normas de maior hierarquia.
O massacre acontecido dia 5 de junho é consequência de uma longa sucessão de agressões, do Executivo em geral e do presidente Garcia em particular, contra os indígenas, aos quais desde o começo qualificou de "cachorros do roceiro", para indicar que tinham recursos que não aproveitavam, mas que ao mesmo tempo não deixavam que fossem explorados por outros. Os indígenas, que não tem porque saber de ditados espanhóis ["el perro del hortelano no come ni deja comer"; em português: "o cachorro do roceiro nem come nem deixa os outros comerem"] nem de hortelãos, receberam a mensagem cientes de serem qualificados como cães pelo presidente, e logicamente reagiram com respostas escritas e comentários a seus artigos, que desta maneira havia começado a exacerbar seus ânimos.
A atuação dos achuares do Corrientes em defesa de sua saúde e a de seu meio ambiente começou uma série de protestos indígenas no ano 2006. Diante delas, o governo, assim como agora, assim como sempre, negou as evidências de contaminação e se omitiu de assumir sua responsabilidade de defender a seus cidadãos. Entretanto, a irresponsável tática de dilação para cansar aqueles que reclamam não funcionou neste caso e os achuares, exacerbados pelo governo, tomaram as instalações e, após tensa situação, o obrigaram a assumir seu rol. A ata de Dorissa, que selou os acordos dos indígenas com a empresa e o Estado para começar a sanear a zona (reinjetando as águas de formação), recolhendo os restos de petróleo acumulado em poças e reconhecendo demandas sociais (educação e saúde, que porcerto não foram atendidas) é apresentada pelo ministro do ambiente, Antonio Brack, como uma mostra de que a extração mineradora e de hidrocarburos é agora una operação “limpa” e que a contaminação é problema do passado. Um mundo de fantasias o que apresenta o ministro, porque remediar os estragos ambientais e recuperar a saúde das pessoas afetadas pela presença de metais pesados em seu sangue levará muitos anos e porque em zonas onde a população não teve a força dos achuares para reivindicar seus direitos as coisas seguem piorando ano a ano. O caso de Doe Run, em La Oroya, à qual, pela quarta vez, o Estado deu novo prazo para cumprir com o PAMA (Plan de Adecuación al Medio Ambiente) é significativo. A César o que é de César, senhor ministro, e o senhor deve reconhecer que as mudanças que se produziram no Corrientes se devem à inteireza das reclamações dos indígenas e não à vontade do governo, que não os aceitaram até o último momento. Que o governo tire uma lição disso e não repita como papagaio seus manuseados argumentos sobre indígenas manipulados, interesses de países estrangeiros que não querem que o Peru progrida e outros no estilo.
Mas o governo peruano não aprendeu a lição. Neste caso, outra vez o governo apelou à mesma tática de dilatar, de tentar cansar as pessoas, de driblá-la. Diante das reclamações de AIDESEP ao Executivo para a derrogatória dos decretos, a resposta foi que a organização tinha que falar com o Legislativo, já que o tema era de sua responsabilidade. E frente ao pedido expresso de derrogatória ante o Congresso, formulado dessa vez pela Comissão de Constituição e avalizado por uma demanda neste sentido da Defensoria do Povo ante o Tribunal Constitucional, a maioria legislativa respondeu que tinha que esperar o resultado do diálogo entre os indígenas e o Executivo. Se tratou de uma atitude evasiva, irresponsável e covarde da maioria parlamentária.
A perfeita sucessão entre a negativa do Congresso para derrogar os decretos e o ataque no dia seguinte aos manifestantes aguarunas e huambisas que tinham tomado a estrada próxima a Bagua, fala acerca de uma estratégia planificada por parte do gobierno. O Congresso não esperava os resultados do diálogo entre os representantes indígenas e o Executivo, tal como o disseram congressistas da maioria, mas sim aguardavam a repressão violenta daqueles que haviam fechado a estrada. Fica também claro que a resposta violenta do governo foi para adiantarse à resposta do Tribunal Constitucional, ante o qual a Defensoria do Povo havia apresentado, um par de dias antes, a demanda de inconstitucionalidade contra o decreto 1064.
As mentiras depois do ataque aos que bloquevam a estrada se sucedem e se reforçam dia a dia. O argumento da manipulação externa, que culpa aos presidentes de Venezuela e Bolivia pelos protestos, ou ao líder do Partido Nacionalista, é patético não apenas por falso, mas porque é uma maneira do governo de seguir evadindo sua responsabilidade frente às causas que estão na raiz dos protestos. A mentira não é boa conselheira, nem serve para que a gente assuma seus erros e busque soluções aos problemas. O próprio presidente do Conselho de Ministros, Yehude Simons, apelou a esta estratégia em uma recente entrevista televisionada, ao referir-se de modo indireto que por detrás do levantamento indígena estava o governo do Equador, com a finalidade de prejudicar a capacidade produtiva petroleira do Peru e evitar a competição. Sendo benévolos, poderíamos pensar que se trata de uma expressão de ignorância total acerca do que acontece nesse país, onde os indígenas atravessam problemas similares aos do Peru e protestam contra as petroleiras e contra o governo com similar energia que no Peru. Como exemplos podemos mencionar o juízo a Texaco interposto pelos cofanes, e as demandas dos kichwas de Sarayaku contra a Compañía General de Combustibles de Argentina e dos shuares contra outras empresas petroleiras. Mas nos dá trabalho pensar que pessoas que governam um país possam ser tão ignorantes, razão pela qual pensamos que o argumento foi maliciosamente desenhado para distrair a atenção.
A associação das reclamações indígenas com o terrorismo e o narcotráfico é também outra mentira grosseira. A nenhuma organização terrorista nem dedicada ao narcotráfico lhe passaria pela cabeça levantar tamanha poeira como a originada pelas manifestações indígenas em grande parte da Amazônia, porque seria um ato suicida ficar assim a descoberto. Surpreende escutar ao senhor Simons somando-se a este coro de falsidades, dado que ele próprio, fazem alguns anos, foi vítima de acusações semelhantes, que conseguiu superar graças à solidariedade de cidadãos que denunciaram o atropelo contra sua pessoa e ao papel de algumas instituições, entre elas ONGs e a Defensoria do Povo às quais agora ele desacredita.
O acontecido em Bagua é lamentável pela morte de policiais e indígenas, cujas famílias se esfacelaram e devem acostumar-se a continuar sua vida com esposas viúvas e descendentes órfãos. Após mais de uma década de violência, o enfrentamento entre peruanos é algo que nunca deveria voltar a acontecer. Ainda que não se trata de estabelecer uma competição de mortos, as notícias atuais nos produzem profunda desconfiança e pensamos que deverá passar um tempo para que se descubra a verdadeira dimensão desta tragédia. O governo deverá responder pela morte dos indígenas e dos próprios policiais, aos quais mandou para resolver um assunto que deveria haver solucionado pela via política e não a da repressão armada.
O que sim é objetivo é que a violência se originou no governo, primeiro com os ataques do cão do roceiro, e logo com a promulgação de decretos confiscatórios e, finalmente, com o ataque armado empregando armas de guerra contra uma população que só tinha lanças, como o reconheceu o próprio diretor geral da Polícia Nacional, general José Sánchez Farfán, em uma entrevista televisionada. Também sobre isto se mentiu ao se dizer que os indígenas dispararamn contra um helicóptero, quando na realidade este fato sucedeu na zona do VRAE, a centenas de quilômetros de Bagua, e num contexto no qual, efetivamente, se enfrentava o Exército contra narcotraficantes. Porta-vozes do governo distorsionaram as notícias buscando impressionar à cidadania.
Todo ato de crueldade deve ser sancionado, mas antes há que prová-lo, e nas circunstâncias atuais, com as notícias dominadas pelo governo, não existem condições que garantam a objetividade da informação. Assim como circulam notícias de atos de barbárie cometidos pelos indígenas, há outras que se referem a atrocidades realizadas pela polícia. Cair em sua difusão é colaborar a confundir as coisas, em vez de buscar soluções. Entretanto, o governo peruano e alguns meios estão avivando antigas imagens sobre os indígenas que os apresentam como selvagens e, ao mesmo tempo, aproveita a situação para declarar una caça às bruxas contra o movimento indígena e contra o presidente de AIDESEP, Alberto Pizango. Apresentar a este como responsável do massacre de Bagua é absurdo. A incursão da polícia se realizou no mais absoluto segredo, apenas algumas horas depois da mentira do Congresso de que aguardaria os resultados da negociação do Executivo com AIDESEP. Seu rol foi atuar como porta-voz de uma posição definida pelas bases. Foi o governo que desencadeou a reação dos manifestantes ao atacá-los com armas de guerra.
Para aguarunas e huambisas a agressão externa e a venta de seus recursos pelo governo a empresas estrangeiras não só está na letra dos decretos como possibilidade futura, mas é algo que já se plasma na realidad. Já fazem alguns anos, o governo assinou contrato com HOCOL para explorar recursos petroleros em parte do Alto Rio Marañón, sem haver-se dado o menor trabalho para tentar consultar a medida antes de tomá-la. Por ouro lado, a empresa mineradora, Borato Peru, subsidiária de uma transnacional canadense, se instalou na zona da Cordilheira do Condor com a finalidade de explorar ouro. O Ministério de Energia e Minas disse que ela não tem permissão para trabalhar ali, mas tampouco fez nenhum esforço para retirá-la. Como denunciou o jornalista César Hildebrandt e um especial de La Primera faz apenas uma semana, esta empresa, que opera em zona de fronteira vedada pela Constituição a estrangeiros, tem como gerente geral ninguém menos que a Carlos Ballón, assessor principal em questões de mineração do plano de campanha do atual governo.
Aguarunas e huambisas são culturas de antiga tradição guerreira, com grande capacidad de união frente a agressões externas, como o demostraram ao longo da história. O que está acontecendo agora é mostra disso e o governo deveria sabê-lo a fim de deter sua irresponsável cadeia de provocações que pode gerar situaciones nefastas para o desenvolvimento da paz no país.
Apesar de ser difícil que nas condições atuais o governo retifique sua atitude e aceite sua responsabilidade em todo este cúmulo de barbaridades, devemos pedir que faça isso como única manera de plantear condições claras e sadias para o diálogo com os povos indígenas.
Não é hora para ficarmos calados."
Há 40 anos a vida de Alberto Chirif está centrada em temas amazônicos, especialmente aqueles que dizem respeito aos direitos coletivos dos povos indígenas. Antropólogo e escritor peruano, dirige o Programa Integral de Desenvolvimento e Conservação Pacaya Samiria. Representa no Paraguai a Nouvelle Planète, instituição suíça que apóia projetos no Peru e outros países sul-americanos. Contato: alberto.chirif@gmail
Leiam também: "Masacre: ¿por qué contra aguarunas y huambisas?", de Marco A. Huaco. Fontes: Blog Interpretações de um Sujeito e Diário Gauche
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15 de junho de 2009
Genocídio contra os Awajun
Um grupo de ONGs e entidades manifestaram, quarta-feira passada, seu "repúdio" ao "massacre" de indígenas ocorrido na semana passada na Amazônia peruana. As organizações brasileiras entregaram uma carta à Embaixada do Peru em Brasília, após protagonizarem um ato de protesto em frente à sede. A carta foi assinada por várias organizações religiosas e sociais, como o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), o Conselho Indigenista Missionário e a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil.
De acordo com o texto, as informações oferecidas por representantes da etnia peruana Awajun indicam que os conflitos ocorridos durante o final da semana passada deixaram mais de 60 mortos, incluindo 30 indígenas. Tais confrontos começaram na sexta-feira dia 5, quando agentes policiais tentaram retirar os nativos de uma estrada que tinham bloqueado, em protesto contra decretos do Governo que consideram prejudiciais a seus interesses.
Os indígenas peruanos começaram os protestos no início de abril, em rejeição a uma série de leis aprovadas pelo Governo e que, segundo ele, permitem a prospecção petrolífera e gasística de suas terras. "A convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho garante aos povos indígenas a consulta prévia, livre e informada sobre qualquer tipo de projeto que afete seus territórios tradicionais", alegam as organizações.
Segundo a carta, para justificar a "covarde agressão", o Governo de García se disse vítima de uma "agressão subversiva contra a democracia e a política nacional", frente à qual precisava "responder com firmeza".
"A severidade e a firmeza resultaram no assassinato de 60 pessoas, além da perseguição e da detenção de dezenas de líderes indígenas", disseram. "Os índios foram executados por defender a terra mãe, por crer que não deve ser explorada até a morte. Foram executados, em último, por proteger o equilíbrio climático, fundamental para a vida da Terra e, consequentemente, para a vida de todos na Terra", acrescentaram.
Os signatários da carta se comprometeram a lutar para que os responsáveis do massacre sejam julgados e punidos, e anunciaram que já apresentaram um requerimento à Corte Interamericana de Direitos Humanos.
Alan García, que parece desconhecer o significado das palavras "genocídio" ou "etnocídio", declarou sexta-feira (12) que o protesto indígena em Bagua foi um "genocídio de policiais promovido pelo comunismo internacional". Já a Defensoria do Povo solicitou um diálogo sem exclusões com os grevistas. E milhares de camponeses acirraram o protesto ao tomarem o Aeroporto de Andahuaylas, no sul do Peru.
Garcia negou que tenha havido erros na operação repressiva que resultou, conforme números oficiais, em pelo menos 34 mortos na semana passada, na selva amazônica, norte do Peru. Em vez disso o presidente insistiu em apresentar os fatos como um "genocídio de policiais" promovida pelo "comunismo internacional".
"Comunismo não tem votos mas tem armas" : Garcia respondeu assim quando os jornalistas perguntaram-lhe sobre erros na operação policial, em especial por tentar desbloquear uma estrada tomada por índígenas sem levar em conta que naquele momento 38 policiais estavam rodeados por cerca de 1.500 nativos em um campo de petróleo próximo.
"Houve um genocídio de polícias por elementos extremistas que pretendem nos entregar a governos estrangeiros", defendeu o presidente. "O comunismo e o extremismo não têm votos, mas têm armas", disse ainda o presidente.
Por seu lado, a Defensora do Povo, Beatriz Merino, convidada pelas autoridades a facilitar uma aproximação entre as partes, advertiu que o diálogo entre o governo e as populações indígenas amazônicas no Peru deve se desenvolver "sem nenhum veto", pois caso contrário corre o risco de "desacreditar-se e fracassar". A Defensoria do Povo é um órgão público autônomo criado em 1993 para proteger os direitos constitucionais e humanos.
Beatriz fez a observação em uma reunião com correspondentes estrangeiros em Lima, referindo-se à recusa do governo em reconhecer como interlocutor a Associação para o Desenvolvimento da Selva Peruana (Aidesep). Esta organização conduz a greve, que já dura há 64 dias; seu presidente, Alberto Pizango, pediu asilo na embaixada da Nicarágua em Lima.
A defensora salientou também a importância de se definir com clareza a representação dos indígenas. Disse que o governo previu o diálogo com dez deles, mas na selva existem cerca de 1.400 apus (chefes). Neste contexto, Beatriz lembrou que os índios são representados principalmente pela Aidesep, que congrega 1.350 comunidades e 70 federações indígena, e a Confederação de Nacionalidades Amazônicas do Peru (Conap), com 750 comunidades e 40 federações. Ela disse ainda que das 12 organizações regionais, sete estão sob a influência da Aidesep e cinco da Conap.
A rádio RPP, de Lima informou que os protestos sociais no Peru se acirraram, em apoio das comunidades indígenas: milhares de camponeses tomaram de assalto o aeroporto Hancabamba em Andahuaylas. Eles também bloquearam as estradas, isolando a cidade, enquanto os mercados e lojas fechavam as portas.
Os grevistas protestam contra a lei de recursos hídricos e exigem do governo que informe com objetividade o que aconteceu na última Bagua em 5 de junho, quando milhares de indígenas fizeram frente a policiais e forças especiais de repressão, equipadas com veículos blindados.
De acordo a Defensora do Povo, as lideranças indígenas por sua vez insinuaram um veto ao primeiro-ministro, Yehude Simon, argumentando que o gabinete "tem as mãos manchadas de sangue". Encarregada da tarefa por Simon, Beatriz prepara junto com a Conferência Episcopal Peruana uma proposta de recomposição do diálogo após os sangrentos episódios de sexta-feira da semana passada.
Além de facilitar o diálogo, a Defensora do Povo, que goza de uma elevada credibilidade, segundo a imprensa peruana, disse que vai mover ações de inconstitucionalidade contra os decretos contestados pelos nativos, pois as medidas legais desconhecem uma cláusula de Organização Internacional do Trabalho, que exige consulta prévia às comunidades indígenas no caso de medidas que possam afetá-las.
Fontes: Página 12 , Amazon Watch e Intercontinental Cry
De acordo com o texto, as informações oferecidas por representantes da etnia peruana Awajun indicam que os conflitos ocorridos durante o final da semana passada deixaram mais de 60 mortos, incluindo 30 indígenas. Tais confrontos começaram na sexta-feira dia 5, quando agentes policiais tentaram retirar os nativos de uma estrada que tinham bloqueado, em protesto contra decretos do Governo que consideram prejudiciais a seus interesses.
Os indígenas peruanos começaram os protestos no início de abril, em rejeição a uma série de leis aprovadas pelo Governo e que, segundo ele, permitem a prospecção petrolífera e gasística de suas terras. "A convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho garante aos povos indígenas a consulta prévia, livre e informada sobre qualquer tipo de projeto que afete seus territórios tradicionais", alegam as organizações.
Segundo a carta, para justificar a "covarde agressão", o Governo de García se disse vítima de uma "agressão subversiva contra a democracia e a política nacional", frente à qual precisava "responder com firmeza".
"A severidade e a firmeza resultaram no assassinato de 60 pessoas, além da perseguição e da detenção de dezenas de líderes indígenas", disseram. "Os índios foram executados por defender a terra mãe, por crer que não deve ser explorada até a morte. Foram executados, em último, por proteger o equilíbrio climático, fundamental para a vida da Terra e, consequentemente, para a vida de todos na Terra", acrescentaram.
Os signatários da carta se comprometeram a lutar para que os responsáveis do massacre sejam julgados e punidos, e anunciaram que já apresentaram um requerimento à Corte Interamericana de Direitos Humanos.
Alan García, que parece desconhecer o significado das palavras "genocídio" ou "etnocídio", declarou sexta-feira (12) que o protesto indígena em Bagua foi um "genocídio de policiais promovido pelo comunismo internacional". Já a Defensoria do Povo solicitou um diálogo sem exclusões com os grevistas. E milhares de camponeses acirraram o protesto ao tomarem o Aeroporto de Andahuaylas, no sul do Peru.
Garcia negou que tenha havido erros na operação repressiva que resultou, conforme números oficiais, em pelo menos 34 mortos na semana passada, na selva amazônica, norte do Peru. Em vez disso o presidente insistiu em apresentar os fatos como um "genocídio de policiais" promovida pelo "comunismo internacional".
"Comunismo não tem votos mas tem armas" : Garcia respondeu assim quando os jornalistas perguntaram-lhe sobre erros na operação policial, em especial por tentar desbloquear uma estrada tomada por índígenas sem levar em conta que naquele momento 38 policiais estavam rodeados por cerca de 1.500 nativos em um campo de petróleo próximo.
"Houve um genocídio de polícias por elementos extremistas que pretendem nos entregar a governos estrangeiros", defendeu o presidente. "O comunismo e o extremismo não têm votos, mas têm armas", disse ainda o presidente.
Por seu lado, a Defensora do Povo, Beatriz Merino, convidada pelas autoridades a facilitar uma aproximação entre as partes, advertiu que o diálogo entre o governo e as populações indígenas amazônicas no Peru deve se desenvolver "sem nenhum veto", pois caso contrário corre o risco de "desacreditar-se e fracassar". A Defensoria do Povo é um órgão público autônomo criado em 1993 para proteger os direitos constitucionais e humanos.
Beatriz fez a observação em uma reunião com correspondentes estrangeiros em Lima, referindo-se à recusa do governo em reconhecer como interlocutor a Associação para o Desenvolvimento da Selva Peruana (Aidesep). Esta organização conduz a greve, que já dura há 64 dias; seu presidente, Alberto Pizango, pediu asilo na embaixada da Nicarágua em Lima.
A defensora salientou também a importância de se definir com clareza a representação dos indígenas. Disse que o governo previu o diálogo com dez deles, mas na selva existem cerca de 1.400 apus (chefes). Neste contexto, Beatriz lembrou que os índios são representados principalmente pela Aidesep, que congrega 1.350 comunidades e 70 federações indígena, e a Confederação de Nacionalidades Amazônicas do Peru (Conap), com 750 comunidades e 40 federações. Ela disse ainda que das 12 organizações regionais, sete estão sob a influência da Aidesep e cinco da Conap.
A rádio RPP, de Lima informou que os protestos sociais no Peru se acirraram, em apoio das comunidades indígenas: milhares de camponeses tomaram de assalto o aeroporto Hancabamba em Andahuaylas. Eles também bloquearam as estradas, isolando a cidade, enquanto os mercados e lojas fechavam as portas.
Os grevistas protestam contra a lei de recursos hídricos e exigem do governo que informe com objetividade o que aconteceu na última Bagua em 5 de junho, quando milhares de indígenas fizeram frente a policiais e forças especiais de repressão, equipadas com veículos blindados.
De acordo a Defensora do Povo, as lideranças indígenas por sua vez insinuaram um veto ao primeiro-ministro, Yehude Simon, argumentando que o gabinete "tem as mãos manchadas de sangue". Encarregada da tarefa por Simon, Beatriz prepara junto com a Conferência Episcopal Peruana uma proposta de recomposição do diálogo após os sangrentos episódios de sexta-feira da semana passada.
Além de facilitar o diálogo, a Defensora do Povo, que goza de uma elevada credibilidade, segundo a imprensa peruana, disse que vai mover ações de inconstitucionalidade contra os decretos contestados pelos nativos, pois as medidas legais desconhecem uma cláusula de Organização Internacional do Trabalho, que exige consulta prévia às comunidades indígenas no caso de medidas que possam afetá-las.
Fontes: Página 12 , Amazon Watch e Intercontinental Cry
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11 de junho de 2009
Peles-Vermelhas
foto: Edward S. Curtis (1905)
"QUANDO LEIO sobre crimes e violências nos jornais, penso nos velhos índios sioux e cheyennes caçadores de búfalo, e na educação que dão aos filhos. O pele-vermelha, tal como o conheci, tinha muito que nos ensinar na arte de orientar os pequenos numa vida livre útil, e bem ajustada.
Eu cresci perto da região reservada aos sioux em Pine Ridge, Estado de Dakota do Sul. Meus pais se ocupavam com o amanho do solo. Sendo eu a mais velha dos seis filhos, era minha obrigação cuidar das crianças.
Certa manhã de verão, quando eu tinha oito anos, uma companheira de folguedos de um acampamento índio do outro lado da estrada bateu timidamente à porta da nossa cozinha.
—Sabe? Eu agora também tenho um irmão! disse ela, com os olhos negros fitos no bebê escarranchado no meu quadril. Acaba de nascer. Venha ver!
No interior escuro de uma velha e fumarenta barraca de lona, uma índia estava curvada sobre o recém-nascido que tinha no regaço. Entramos alvoroçadas, e com o barulho a carinha vermelho-parda enrugou-se toda. A mãe segurou delicadamente o narizinho entre o polegar e o indicador e, com a palma da mão na boca, fez parar o choro. Quando a criança começou a debater-se para respirar, a mãe afrouxou um pouco a pressão, mas só um pouco, e ao primeiro indício de mais choro ela tapou de novo a boca e o nariz da criança, enquanto trauteava baixinho uma "canção de crescimento" cheyenne, para tornar a criança direita de membros e forte de corpo e de ânimo.
Eu já sabia por que as minhas amiguinhas índias não faziam escarcéu quando se machucavam, apenas choramingavam baixo. Uma velha avó me havia dito que as mães. índias sempre abafavam o primeiro vagido do recém-nascido, e tantas vezes quantas achassem necessário. O intuito disso é ensinar a mais importante lição da velha sabedoria índia, a saber, que a ninguém é lícito pôr em perigo a vida do povo; nenhum grito deve guiar até à aldeia um inimigo emboscado ou deitar a perder uma caça que pode ser carne de inverno para toda a tribo.
Mas eu sabia também que nunca na vida daquele recém-nascido uma mão se ergueria para puni-lo. Sem nenhum castigo físico ele acompanharia as exigências do seu mundo em expansão. Recordo-me dos rostos severos dos sioux quando, num assomo de ira, meu pai nos batia. Esses índios ainda consideram os brancos um povo cruel, que trata os filhos como inimigos que precisam ser subornados, punidos ou mimados como frágeis brinquedos. Acreditam eles que as crianças assim tratadas crescerão dependentes e sujeitas a acessos de raiva incontida dentro do círculo familial, e jamais atingirão a maturidade, e chamam a atenção para a crescente rebeldia e violência dos nossos jovens, muitas vezes até com os seus maiores, coisa nunca ouvida entre os índios.
Os nossos vizinhos de pele acobreada evitavam qualquer excesso de proteção dos jovens, particularmente o favoritismo materno em relação ao filho mais velho. Segundo o costume, o filho mais velho ganhava um segundo pai, geralmente um homem que tivesse uma esposa afetuosa, em cujo lar o rapazinho passava grande parte do tempo e a quem podia tratar com menos cerimônia do que tratava sua mãe. Mais tarde, se o rapaz mostrava alguma inclinação especial, podia êle escolher ainda outro homem que fosse apto para orientá-lo nesses novos interesses. Noutro tempo seria um guerreiro, um caçador, um santo ou um artista. Agora seria um lavrador, um criador de gado, um mecânico.
Quando o indiozinho começava a engatinhar, ninguém lhe gritava— "Aí não!"—e o puxava para longe do vermelho sedutor da chama. "Com a queimadura é que se apren de que com fogo não se brinca." Quando o pequeno puxava a mão, choramingando, seus olhos irados não se dirigiam para qualquer adulto presente, mas para os lindos carvões, causa da sua dor. Êle poderia arrastar-se novamente para o lado da chama, porém mais devagar, cautelosamente, e não tardaria a aprender onde o calor começava a queimar.
Pela época em que o menino índio do outro lado da estrada fêz seis semanas, já sabia o que era a água.
—Ele precisa entrar no rio antes de se esquecer de nadar, disse-me a mãe.
Aquela mulher estava convencida de que essa habilidade era concedida igualmente aos filhos de todas as criaturas: ao cachorrinho, ao potro, ao büfalozinho, à criança. O menino nadava bem já antes de saber andar, não havendo assim perigo de deixá-lo brincar à margem dum rio de águas plácidas.
A atitude do jovem índio em relação às meninas firmava-se desde cedo. "Vê como o rapaz se porta com as mulheres de sua casa e saberás como o moço se portará com tua filha", dizia um velho ditado cheyenne. A familiaridade excessiva é combatida desde os tempos das barracas de pele, quando talvez sete ou mais viviam em torno do mesmo fogo no inverno. O pai ocupava o lugar de honra ao fundo, os moços e os meninos ficavam à sua esquerda, as mulheres e as meninas à direita, e a entrada era guardada por uma velha que via todos que entravam e saíam. Esse modo de vida exigia regras de conduta bem definidas para que houvesse ordem e paz durante os meses de reclusão no inverno.
Desde que nasce, o pequeno índio vê em toda a sua volta a religião de seu povo. Provavelmente os homens mais velhos da sua família ainda hoje oferecem a primeira baforada do cachimbo do conselho e o primeiro bocado de comida em cada refeição ao céu, à terra e aos quatro ventos, que formam juntos as Grandes Forças em que o homem e a natureza estão unidos em fraternidade. Com tal filosofia, nunca pode haver ódio, nem mesmo ódio a um inimigo. Durante os conflitos entre tribos, na era do búfalo, às vezes as prisioneiras de guerra tornavam-se esposas dos chefes e iam com seus maridos visitar a sua gente. Também homens e meninos aprisionados podiam ser recebidos na tribo. O irmão adotivo do índio Touro Sentado era prisioneiro de guerra e foi toda a sua vida respeitado pelos sioux.
Os índios acrecentaram muito desse conceito e dos rituais das Grandes Forças à sua idéia das crenças cristãs. Num domingo de manhã eu fui ao regato buscar água. Quando me agachei para mergulhar o balde na corrente, escutei cântico indígena e rumorejo de água abaixo de mim. Um jovem sioux, ajoelhado entre os salgueiros da margem, lavava uma camisa azul. Tirava-a da água e a erguia para o céu, depois baixava-a em todas direções, com o ritual com que é consagrado o cachimbo e a comida. Afastei-me dali silenciosamente, e horas depois o jovem passou a cavalo, trazendo no corpo a camisa azul lavada. Ergueu a mão com a palma para fora, saudando no velhíssimo gesto de amizade, a mão esquerda por ser a do lado do coração e por não ter derramado sangue humano. Ele ia à missa na missão—com uma camisa consagrada, segundo o velho ritual, às Forças do mundo.
Entre esses povos não havia maus espíritos a aplacar ou iludir. Se as coisas não corriam bem, a causa não era a ira sobrenatural e sim porque o povo e seus chefes não estavam em uníssono com as Grandes Forças. Para descobrir o que cumpria fazer os homens iam jejuar em lugares elevados, na esperança de receberem orientação. Esses índios ainda não tomam muito a sério Satanaz e o fogo do Inferno ou o conceito de um Deus vingador. A idéia de criar medo é estranha à filosofia deles.
Os sioux e os cheyennes não tinham medo da morte nem sentiam mal-estar quanto aos mortos. Muitas vêzes, parentes e amigos iam sentar-se no cemitério, como teriam ido sentar-se à lareira do falecido. As crianças presenciavam a doença, a morte, o sepultamento e, freqüentemente, iam visitar o lugar de enterro.
Voltanto um dia para casa com um feixe de lenha, dei com um índio velho dançando sozinho, com ar grave, sobre um montículo. Quando êle reparou em mim, deitei a correr, sentindo-me culpada de espreitar um pessoa de mais idade. O índio, porém, chamou-me com uma única palavra: "Neta". Com desenhos no chão e linguagem de sinais contou-me êle a história da velha que morava na lua, que naquele momento se erguia, cheia, no oriente. Mostrou-me o feixe de lenha que ela havia reunido apressadamente antes da tempestade que sempre se seguia ao primeiro minguante da lua. Depois falou-me no motivo da sua ida àquele lugar, onde 50 anos antes um grande homem do seu povo tinha sido posto num esquife para tornar à erva que alimentava o búfalo, o qual, por sua vez, iria alimentar o índio.
Deixei lá o homem enchendo o seu cachimbo de pedra ornado de penas, enquanto os últimos raios do sol poente brincavam no seu rosto encarquilhado e nas suas tranças impecáveis, envolvidas em peles. Era um velho guerreiro cheio de cicatrizes, que fora à sepultura de um chefe morto por soldados brancos. No entanto, êle pôde chamar sua "neta" a uma filha de brancos e contar-lhe uma história que dignificava a detestada tarefa de carregar lenha.
Esse emprego das palavras "neto" e "neta" encerra, creio eu, a essência da atitude dos índios para com os moços. A primeira lição que a criança recebe é que, tratando-se da segurança pública, do bem coletivo, o indivíduo deve subordinar-se ao grupo. Em compensação, êle sente desde o início que toda a sua comunidade tem igual responsabilidade em relação a êle. Qualquer lar o acolherá bem, cada panela terá um pouco mais para matar a fome de um menino, todos os ouvidos estão abertos para ouvir as suas queixas, seus júbilos, suas aspirações. E à medida que o seu mundo se amplia, o índio se surpreende a crescer com êle numa sociedade que não precisa de fechaduras para defender-se, nem de pa pel para registrar a palavra. O índio é um homem livre porque aprendeu a disciplinar-se, um homem feliz porque pode dar conta de suas responsabilidades para com os outros e para consigo mesmo como parte intrínseca e bem orientada que é da sua comunidade, membro de uma fraternidade tão vasta que abarca o universo."
Fonte> Instituto René Guénon
"QUANDO LEIO sobre crimes e violências nos jornais, penso nos velhos índios sioux e cheyennes caçadores de búfalo, e na educação que dão aos filhos. O pele-vermelha, tal como o conheci, tinha muito que nos ensinar na arte de orientar os pequenos numa vida livre útil, e bem ajustada.
Eu cresci perto da região reservada aos sioux em Pine Ridge, Estado de Dakota do Sul. Meus pais se ocupavam com o amanho do solo. Sendo eu a mais velha dos seis filhos, era minha obrigação cuidar das crianças.
Certa manhã de verão, quando eu tinha oito anos, uma companheira de folguedos de um acampamento índio do outro lado da estrada bateu timidamente à porta da nossa cozinha.
—Sabe? Eu agora também tenho um irmão! disse ela, com os olhos negros fitos no bebê escarranchado no meu quadril. Acaba de nascer. Venha ver!
No interior escuro de uma velha e fumarenta barraca de lona, uma índia estava curvada sobre o recém-nascido que tinha no regaço. Entramos alvoroçadas, e com o barulho a carinha vermelho-parda enrugou-se toda. A mãe segurou delicadamente o narizinho entre o polegar e o indicador e, com a palma da mão na boca, fez parar o choro. Quando a criança começou a debater-se para respirar, a mãe afrouxou um pouco a pressão, mas só um pouco, e ao primeiro indício de mais choro ela tapou de novo a boca e o nariz da criança, enquanto trauteava baixinho uma "canção de crescimento" cheyenne, para tornar a criança direita de membros e forte de corpo e de ânimo.
Eu já sabia por que as minhas amiguinhas índias não faziam escarcéu quando se machucavam, apenas choramingavam baixo. Uma velha avó me havia dito que as mães. índias sempre abafavam o primeiro vagido do recém-nascido, e tantas vezes quantas achassem necessário. O intuito disso é ensinar a mais importante lição da velha sabedoria índia, a saber, que a ninguém é lícito pôr em perigo a vida do povo; nenhum grito deve guiar até à aldeia um inimigo emboscado ou deitar a perder uma caça que pode ser carne de inverno para toda a tribo.
Mas eu sabia também que nunca na vida daquele recém-nascido uma mão se ergueria para puni-lo. Sem nenhum castigo físico ele acompanharia as exigências do seu mundo em expansão. Recordo-me dos rostos severos dos sioux quando, num assomo de ira, meu pai nos batia. Esses índios ainda consideram os brancos um povo cruel, que trata os filhos como inimigos que precisam ser subornados, punidos ou mimados como frágeis brinquedos. Acreditam eles que as crianças assim tratadas crescerão dependentes e sujeitas a acessos de raiva incontida dentro do círculo familial, e jamais atingirão a maturidade, e chamam a atenção para a crescente rebeldia e violência dos nossos jovens, muitas vezes até com os seus maiores, coisa nunca ouvida entre os índios.
Os nossos vizinhos de pele acobreada evitavam qualquer excesso de proteção dos jovens, particularmente o favoritismo materno em relação ao filho mais velho. Segundo o costume, o filho mais velho ganhava um segundo pai, geralmente um homem que tivesse uma esposa afetuosa, em cujo lar o rapazinho passava grande parte do tempo e a quem podia tratar com menos cerimônia do que tratava sua mãe. Mais tarde, se o rapaz mostrava alguma inclinação especial, podia êle escolher ainda outro homem que fosse apto para orientá-lo nesses novos interesses. Noutro tempo seria um guerreiro, um caçador, um santo ou um artista. Agora seria um lavrador, um criador de gado, um mecânico.
Quando o indiozinho começava a engatinhar, ninguém lhe gritava— "Aí não!"—e o puxava para longe do vermelho sedutor da chama. "Com a queimadura é que se apren de que com fogo não se brinca." Quando o pequeno puxava a mão, choramingando, seus olhos irados não se dirigiam para qualquer adulto presente, mas para os lindos carvões, causa da sua dor. Êle poderia arrastar-se novamente para o lado da chama, porém mais devagar, cautelosamente, e não tardaria a aprender onde o calor começava a queimar.
Pela época em que o menino índio do outro lado da estrada fêz seis semanas, já sabia o que era a água.
—Ele precisa entrar no rio antes de se esquecer de nadar, disse-me a mãe.
Aquela mulher estava convencida de que essa habilidade era concedida igualmente aos filhos de todas as criaturas: ao cachorrinho, ao potro, ao büfalozinho, à criança. O menino nadava bem já antes de saber andar, não havendo assim perigo de deixá-lo brincar à margem dum rio de águas plácidas.
A atitude do jovem índio em relação às meninas firmava-se desde cedo. "Vê como o rapaz se porta com as mulheres de sua casa e saberás como o moço se portará com tua filha", dizia um velho ditado cheyenne. A familiaridade excessiva é combatida desde os tempos das barracas de pele, quando talvez sete ou mais viviam em torno do mesmo fogo no inverno. O pai ocupava o lugar de honra ao fundo, os moços e os meninos ficavam à sua esquerda, as mulheres e as meninas à direita, e a entrada era guardada por uma velha que via todos que entravam e saíam. Esse modo de vida exigia regras de conduta bem definidas para que houvesse ordem e paz durante os meses de reclusão no inverno.
Desde que nasce, o pequeno índio vê em toda a sua volta a religião de seu povo. Provavelmente os homens mais velhos da sua família ainda hoje oferecem a primeira baforada do cachimbo do conselho e o primeiro bocado de comida em cada refeição ao céu, à terra e aos quatro ventos, que formam juntos as Grandes Forças em que o homem e a natureza estão unidos em fraternidade. Com tal filosofia, nunca pode haver ódio, nem mesmo ódio a um inimigo. Durante os conflitos entre tribos, na era do búfalo, às vezes as prisioneiras de guerra tornavam-se esposas dos chefes e iam com seus maridos visitar a sua gente. Também homens e meninos aprisionados podiam ser recebidos na tribo. O irmão adotivo do índio Touro Sentado era prisioneiro de guerra e foi toda a sua vida respeitado pelos sioux.
Os índios acrecentaram muito desse conceito e dos rituais das Grandes Forças à sua idéia das crenças cristãs. Num domingo de manhã eu fui ao regato buscar água. Quando me agachei para mergulhar o balde na corrente, escutei cântico indígena e rumorejo de água abaixo de mim. Um jovem sioux, ajoelhado entre os salgueiros da margem, lavava uma camisa azul. Tirava-a da água e a erguia para o céu, depois baixava-a em todas direções, com o ritual com que é consagrado o cachimbo e a comida. Afastei-me dali silenciosamente, e horas depois o jovem passou a cavalo, trazendo no corpo a camisa azul lavada. Ergueu a mão com a palma para fora, saudando no velhíssimo gesto de amizade, a mão esquerda por ser a do lado do coração e por não ter derramado sangue humano. Ele ia à missa na missão—com uma camisa consagrada, segundo o velho ritual, às Forças do mundo.
Entre esses povos não havia maus espíritos a aplacar ou iludir. Se as coisas não corriam bem, a causa não era a ira sobrenatural e sim porque o povo e seus chefes não estavam em uníssono com as Grandes Forças. Para descobrir o que cumpria fazer os homens iam jejuar em lugares elevados, na esperança de receberem orientação. Esses índios ainda não tomam muito a sério Satanaz e o fogo do Inferno ou o conceito de um Deus vingador. A idéia de criar medo é estranha à filosofia deles.
Os sioux e os cheyennes não tinham medo da morte nem sentiam mal-estar quanto aos mortos. Muitas vêzes, parentes e amigos iam sentar-se no cemitério, como teriam ido sentar-se à lareira do falecido. As crianças presenciavam a doença, a morte, o sepultamento e, freqüentemente, iam visitar o lugar de enterro.
Voltanto um dia para casa com um feixe de lenha, dei com um índio velho dançando sozinho, com ar grave, sobre um montículo. Quando êle reparou em mim, deitei a correr, sentindo-me culpada de espreitar um pessoa de mais idade. O índio, porém, chamou-me com uma única palavra: "Neta". Com desenhos no chão e linguagem de sinais contou-me êle a história da velha que morava na lua, que naquele momento se erguia, cheia, no oriente. Mostrou-me o feixe de lenha que ela havia reunido apressadamente antes da tempestade que sempre se seguia ao primeiro minguante da lua. Depois falou-me no motivo da sua ida àquele lugar, onde 50 anos antes um grande homem do seu povo tinha sido posto num esquife para tornar à erva que alimentava o búfalo, o qual, por sua vez, iria alimentar o índio.
Deixei lá o homem enchendo o seu cachimbo de pedra ornado de penas, enquanto os últimos raios do sol poente brincavam no seu rosto encarquilhado e nas suas tranças impecáveis, envolvidas em peles. Era um velho guerreiro cheio de cicatrizes, que fora à sepultura de um chefe morto por soldados brancos. No entanto, êle pôde chamar sua "neta" a uma filha de brancos e contar-lhe uma história que dignificava a detestada tarefa de carregar lenha.
Esse emprego das palavras "neto" e "neta" encerra, creio eu, a essência da atitude dos índios para com os moços. A primeira lição que a criança recebe é que, tratando-se da segurança pública, do bem coletivo, o indivíduo deve subordinar-se ao grupo. Em compensação, êle sente desde o início que toda a sua comunidade tem igual responsabilidade em relação a êle. Qualquer lar o acolherá bem, cada panela terá um pouco mais para matar a fome de um menino, todos os ouvidos estão abertos para ouvir as suas queixas, seus júbilos, suas aspirações. E à medida que o seu mundo se amplia, o índio se surpreende a crescer com êle numa sociedade que não precisa de fechaduras para defender-se, nem de pa pel para registrar a palavra. O índio é um homem livre porque aprendeu a disciplinar-se, um homem feliz porque pode dar conta de suas responsabilidades para com os outros e para consigo mesmo como parte intrínseca e bem orientada que é da sua comunidade, membro de uma fraternidade tão vasta que abarca o universo."
Fonte> Instituto René Guénon
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10 de junho de 2009
Deontologia Xamânica
Arte Huichol
[Preâmbulo] Há muito que as pessoas buscam enriquecer suas vidas e acordar para a sua própria natureza através das práticas espirituais, incluindo as preces, a meditação, as disciplinas do corpo e da mente, os serviços, os rituais, as liturgias comunitárias, as observâncias diárias ou sazonais e os ritos de passagem. “Práticas religiosas primevas” são aquelas que pretendem ou, muito provavelmente, provoquem estados excepcionais de consciência tais como a experiência em primeira mão com o Divino, a unidade cósmica ou a consciência onisciente.
Em qualquer comunidade existem aqueles que se sentem imbuídos em ajudar os outros ao longo de um caminho espiritual, conhecidos por nós como ministros, rabinos, pastores, curandeiros, xamãs, padres e afins. Nós chamamos tais pessoas de ‘guias’: aqueles experimentados em certa prática, familiarizados com o terreno e que atuam como facilitadores da prática espiritual dos outros. Um guia não pode reivindicar exclusivo, ou definitivo, conhecimento acerca do terreno.
Práticas espirituais, especialmente as práticas religiosas primevas, carregam consigo riscos. Dessa forma, quando um indivíduo escolhe a prática intermediada por um guia, ambos assumem responsabilidades especiais. O Conselho em Práticas Espirituais propõe o seguinte Código de Ética para aqueles que atuam como guias espirituais:
1. [Intenção] Guias espirituais são para praticar e servir de maneira a cultivar a consciência, a empatia e a sabedoria.
2. [Servindo a Sociedade] Práticas espirituais são para ser elaboradas e conduzidas de maneira a respeitar o bem comum, com a devida consideração à segurança pública, a saúde e a ordem. Porque o aumento da consciência advindo das práticas espirituais pode vir a estimular o desejo por mudanças pessoais e sociais, os guias devem dar especial atenção no auxílio e na canalização das energias daqueles por eles assistidos, assim como a deles próprios, de maneira responsável, assim como demonstrando consideração fraternal por todas as formas de vida.
3. [Servindo Indivíduos] Guias espirituais devem respeitar e buscar preservar a dignidade e a autonomia de cada pessoa. A participação em qualquer prática religiosa primeva deve ser voluntária e baseada na revelação prévia [do ritual] e no consentimento, individualmente declarado por cada participante, enquanto em um estado ordinário de consciência. A revelação deve incluir, no mínimo, a discussão de quaisquer elementos da prática que podem ser razoavelmente considerados de risco físico ou psicológico. Em particular, os participantes precisam ser advertidos de que as experiências primário-religiosas podem ser difíceis e dramaticamente transformadoras.
Os guias devem fazer razoáveis preparativos no intuito de proteger a saúde e a segurança de cada participante durante as práticas espirituais, assim como nos períodos de vulnerabilidade que podem se seguir depois. Os limites comportamentais impostos aos participantes e facilitadores devem ser feitos claros e de comum acordo antes de qualquer sessão. Costumes apropriados de confidencialidade hão de ser estabelecidos e honrados.
4. [Competência] Guias espirituais devem ajudar só com aquelas práticas para as quais eles são qualificados por experiência pessoal e por treinamento ou educação.
5. [Integridade] Guias espirituais devem se esforçar em estar cientes de como os seus próprios sistemas de crença, valores, necessidades e limitações afetam o seu trabalho. Durante práticas religiosas primárias os participantes podem estar especialmente abertos a sugestão, a manipulação e a exploração; deste modo, os guias se encarregam de proteger os participantes e não permitir que alguém tome proveito desta vulnerabilidade de maneira a prejudicar os participantes ou outrem.
6. [Presença Silenciosa] No auxílio à precaução contra as conseqüências prejudiciais da ambição pessoal e da ambição organizacional, as comunidades espirituais são, geralmente, aconselhadas a crescerem pelas leis da atração em lugar do proselitismo.
7. [Sem Fins Lucrativos] Práticas espirituais são para ser conduzidas com o espírito de serviço. Os guias espirituais devem se esforçar para acomodar os participantes sem levar em conta sua habilidade de pagar ou fazer doações.
8. [Tolerância] Guias espirituais devem praticar a receptividade e o respeito para com aqueles cujas crenças estão em contradição aparente com a deles próprios.
9. [Revisão Paritária] Cada guia deve buscar o aconselhamento de outros guias para ajudar a manter a qualidade das suas práticas, oferecendo esse mesmo aconselhamento quando houver necessidade.
Em qualquer comunidade existem aqueles que se sentem imbuídos em ajudar os outros ao longo de um caminho espiritual, conhecidos por nós como ministros, rabinos, pastores, curandeiros, xamãs, padres e afins. Nós chamamos tais pessoas de ‘guias’: aqueles experimentados em certa prática, familiarizados com o terreno e que atuam como facilitadores da prática espiritual dos outros. Um guia não pode reivindicar exclusivo, ou definitivo, conhecimento acerca do terreno.
Práticas espirituais, especialmente as práticas religiosas primevas, carregam consigo riscos. Dessa forma, quando um indivíduo escolhe a prática intermediada por um guia, ambos assumem responsabilidades especiais. O Conselho em Práticas Espirituais propõe o seguinte Código de Ética para aqueles que atuam como guias espirituais:
1. [Intenção] Guias espirituais são para praticar e servir de maneira a cultivar a consciência, a empatia e a sabedoria.
2. [Servindo a Sociedade] Práticas espirituais são para ser elaboradas e conduzidas de maneira a respeitar o bem comum, com a devida consideração à segurança pública, a saúde e a ordem. Porque o aumento da consciência advindo das práticas espirituais pode vir a estimular o desejo por mudanças pessoais e sociais, os guias devem dar especial atenção no auxílio e na canalização das energias daqueles por eles assistidos, assim como a deles próprios, de maneira responsável, assim como demonstrando consideração fraternal por todas as formas de vida.
3. [Servindo Indivíduos] Guias espirituais devem respeitar e buscar preservar a dignidade e a autonomia de cada pessoa. A participação em qualquer prática religiosa primeva deve ser voluntária e baseada na revelação prévia [do ritual] e no consentimento, individualmente declarado por cada participante, enquanto em um estado ordinário de consciência. A revelação deve incluir, no mínimo, a discussão de quaisquer elementos da prática que podem ser razoavelmente considerados de risco físico ou psicológico. Em particular, os participantes precisam ser advertidos de que as experiências primário-religiosas podem ser difíceis e dramaticamente transformadoras.
Os guias devem fazer razoáveis preparativos no intuito de proteger a saúde e a segurança de cada participante durante as práticas espirituais, assim como nos períodos de vulnerabilidade que podem se seguir depois. Os limites comportamentais impostos aos participantes e facilitadores devem ser feitos claros e de comum acordo antes de qualquer sessão. Costumes apropriados de confidencialidade hão de ser estabelecidos e honrados.
4. [Competência] Guias espirituais devem ajudar só com aquelas práticas para as quais eles são qualificados por experiência pessoal e por treinamento ou educação.
5. [Integridade] Guias espirituais devem se esforçar em estar cientes de como os seus próprios sistemas de crença, valores, necessidades e limitações afetam o seu trabalho. Durante práticas religiosas primárias os participantes podem estar especialmente abertos a sugestão, a manipulação e a exploração; deste modo, os guias se encarregam de proteger os participantes e não permitir que alguém tome proveito desta vulnerabilidade de maneira a prejudicar os participantes ou outrem.
6. [Presença Silenciosa] No auxílio à precaução contra as conseqüências prejudiciais da ambição pessoal e da ambição organizacional, as comunidades espirituais são, geralmente, aconselhadas a crescerem pelas leis da atração em lugar do proselitismo.
7. [Sem Fins Lucrativos] Práticas espirituais são para ser conduzidas com o espírito de serviço. Os guias espirituais devem se esforçar para acomodar os participantes sem levar em conta sua habilidade de pagar ou fazer doações.
8. [Tolerância] Guias espirituais devem praticar a receptividade e o respeito para com aqueles cujas crenças estão em contradição aparente com a deles próprios.
9. [Revisão Paritária] Cada guia deve buscar o aconselhamento de outros guias para ajudar a manter a qualidade das suas práticas, oferecendo esse mesmo aconselhamento quando houver necessidade.
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Code of Ethics for Spiritual Guides by Council on Spiritual Practices,R. Jesse, Convenor is licensed under a Creative CommonsAttribution-Share Alike 3.0 United States License. Copies and derivative works must contain a link to www.csp.org/code.html
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Tradução ao português: Rodrigo Tavares (A Família Juramidam)
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2 de junho de 2009
Curtis, Edward Sheriff
"Blanket weaver", foto de mulher cheyenne por Edward S. Curtis (1905)
A arte fotográfica histórica deixada por Edward Sheriff Curtis em sua obra The North American Indian preserva algo da magnifiscência, a beleza e a herança desses maravilhosos Ameríndios, mas é também retrato do resultado do etnocídio imposto pelos conquistadores europeus na América do Norte aos chamados "peles-vermelhas".
Por volta de 1890, Edward Curtis iniciou sua carreira fotografando nativos de Puget Sound, no norte do estado de Washington, escavando atrás de moluscos. Um de seus primeiros modelos indígenas foi "Princesa Angeline", filha do Chefe Seatlh, o cacique Suquamish depois conhecido como Seattle e do qual a história também preservou seu eloquente pronunciamento ao Presidente Pierce em 1854:
"(...) Nas cidades do homem branco não há um só lugar onde haja silêncio, paz. Um só lugar onde ouvir o farfalhar das folhas na primavera, o zunir das asas de um inseto. Talvez seja porque sou um selvagem e não possa compreender. O barulho serve apenas para insultar os ouvidos. E que vida é essa onde o homem não pode ouvir o pio solitário da coruja ou o coaxar das rãs à margem dos charcos à noite? O índio prefere o suave sussurrar do vento esfrolando a superfície das águas do lago, ou a fragrância da brisa, purificada pela chuva do meio-dia ou aromatizada pelo perfume das pinhas. (...)"
Em 1900 Edward Curtis inspirou-se a fotografar The North American Indian enquanto observava a Dança do Sol reunindo os Blackfeet, Bloods, e Algonquin na Reserva Piegan em Montana. Ele estimou que sua história fotográfica levaria quinze anos para ser completada. Levou trinta! Curtis estudou mais de oitenta tribos tirando mais de quarenta mil fotografias. Ele publicou vinte volumes da coleção entre 1907 e 1930.
Em 1935 os direitos e o material remanescente não publicado foi vendido pelo hipotecárioMorgan para a Charles E. Lauriat Company em Boston por mil dólares mais uma porcentagem de algum royalty futuro. Isto incluía 19 exemplares completos de The North American Indian, milhares de papéis de impressão individuais, os moldes de impressão em cobre, e os negativos originais em vidro que eram usados na época. Lauriat vendeu tudo que pode e o que sobrou intocado em Boston só foi redescoberto em 1972. Curtis faleceu em 1952 aos oitenta e quatro anos de vida.
Por volta de 1890, Edward Curtis iniciou sua carreira fotografando nativos de Puget Sound, no norte do estado de Washington, escavando atrás de moluscos. Um de seus primeiros modelos indígenas foi "Princesa Angeline", filha do Chefe Seatlh, o cacique Suquamish depois conhecido como Seattle e do qual a história também preservou seu eloquente pronunciamento ao Presidente Pierce em 1854:
"(...) Nas cidades do homem branco não há um só lugar onde haja silêncio, paz. Um só lugar onde ouvir o farfalhar das folhas na primavera, o zunir das asas de um inseto. Talvez seja porque sou um selvagem e não possa compreender. O barulho serve apenas para insultar os ouvidos. E que vida é essa onde o homem não pode ouvir o pio solitário da coruja ou o coaxar das rãs à margem dos charcos à noite? O índio prefere o suave sussurrar do vento esfrolando a superfície das águas do lago, ou a fragrância da brisa, purificada pela chuva do meio-dia ou aromatizada pelo perfume das pinhas. (...)"
Em 1900 Edward Curtis inspirou-se a fotografar The North American Indian enquanto observava a Dança do Sol reunindo os Blackfeet, Bloods, e Algonquin na Reserva Piegan em Montana. Ele estimou que sua história fotográfica levaria quinze anos para ser completada. Levou trinta! Curtis estudou mais de oitenta tribos tirando mais de quarenta mil fotografias. Ele publicou vinte volumes da coleção entre 1907 e 1930.
Em 1935 os direitos e o material remanescente não publicado foi vendido pelo hipotecárioMorgan para a Charles E. Lauriat Company em Boston por mil dólares mais uma porcentagem de algum royalty futuro. Isto incluía 19 exemplares completos de The North American Indian, milhares de papéis de impressão individuais, os moldes de impressão em cobre, e os negativos originais em vidro que eram usados na época. Lauriat vendeu tudo que pode e o que sobrou intocado em Boston só foi redescoberto em 1972. Curtis faleceu em 1952 aos oitenta e quatro anos de vida.
Para se ler em português: "Edward Curtis, uma construção imagética do índio norte-americano", de Sara Brandon. Vejam fotos e mais informações em Wikipedia e no site www.edwardcurtis-nativeamericanpictures.com. Há também uma exposição virtual de Curtis em Curtis Collection.
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