A pintura indigenista de Guzmán de Rojas
Cecilio Guzmán de Rojas é sem dúvida alguma o mais importante pintor boliviano e o mais influente da primeira metade do século 20. Começou a pintar aos 19 anos e logo foi discípulo de Avelino Nogales em Cochabamba, aquele que foi o mais destacado retratista boliviano do século anterior. Quando em 1919 Guzmán de Rojas imortaliza a um simples mendigo de rua com uma expressão de dignidade e orgulho mais que de pobreza, marcava o início de uma nova etapa na arte boliviana e na arte latino-americana com a utilização do indígena como elemento plástico protagônico em uma obra de arte, que o artista no caso utilizou com o chamado indigenismo, de importância decisiva na plástica nacional entre as décadas de 1930 e 1950, e depois nos artistas que fizeram parte da chamada Geração de 52, pós-revolucionária, onde havia maior liberdade de expressão só mais tarde cerceada pelos governos ditatoriais de turno na Bolívia.
Este pintor indigenista, a quem se deve a recuperação do índio como valor estético na pintura dentro de seu país, depois de receber sua primeira formação artística dos mestres Nogales e Georges Mattewie, recebeu bolsa do governo espanhol para completar seus estudos na Academia de San Fernando de Madri, estudos que prosseguiu logo na Escola de Artes e Ofícios de París. Após esta formação acadêmica, até hoje pré-requisito de sucesso para os pintores da América Latina, voltou a sua terra como Diretor Geral de Belas Artes (1932) e professor da Escola de Artes e Ofícios de sua cidade natal, Potosí, onde também fundou o Museo de Arte Retrospectivo. Em 1946 retornou a Europa convidado pelo British Council de Londres para realizar estudos de restauração de obras de arte.
Seis últimos anos foram passados na Bolívia dedicado ao estudio e experimentação de técnicas de pintura. Trabalhou as técnicas de óleo sobre tela, têmpera, aquarela, pastel, água-forte, gravado, desenho e técnicas mixtas experimentais. Realizou várias exposições também na Espanha, Chile, Argentina e nos Estados Unidos, antes de falecer em 1950.
O indigenismo como movimento cultural, ao disseminar-se pelos países andinos de maiorias indígenas, foi um dos elos que atraiu a atenção para as temáticas sociais. sendo que Guzman de Rojas era muito ligado ao indigenismo literário de Gamaliel Churata do Grupo Orkopata. Característico de sua pintura foi o realce do elemento indígena, como se pode ver em suas obras "El triunfo de la naturaleza" (Museo Nacional de Arte, La Paz) e "El beso del ídolo" (Casa de la Moneda, Potosí). Outros de seus quadros famosos são "Fruta paceña" e "Poemas de raza". Em sua carreira trabalhou a composição estrutural e a estilização próxima ao cubismo. A pintura "Ñusta", de 1931, representa a uma mulher de classe alta vestida como uma nobre do passado boliviano pré-colombiano. Depois da fracassada Guerra do Chaco contra o Paraguai (1932-1935), o estilo de Guzmán se tornou agressivamente expressionista, ao representar o sofrimento dos nativos na seca região do Chaco. O artista regressaria depois a seu estilo indigenista, como na pintura "Cristo Aymara", que parece arte colonial quanto à cor, composição e o uso de "pan-de-oro".
Durante os anos 40 Guzman se inspiraria em Machu Picchu para criar obras no estilo de cubismo sintético. Também pintou cenas do lago Titicaca neste estilo. Assim, Guzman defendeu o indigenismo durante sua carreira, especialmente em seus postos na Academia de Belas Artes de seu país. Na Bolívia o indigenismo tornou-se o estilo preferido das classes altas, as quais entretanto estavam separadas culturalmente da gente que esta arte representava. Foi o pintor mais influente entre seus contemporâneos, e su importância ainda. Na corrente indigenista por ele inaugurada sobressaem Jorge de la Reza (1901-1958), Jenaro Ibáñez (1903-1982) e Mario Illanes (1900-1960). Guzman de Rojas aparece como verdadeiro herói nacional na nota de dez pesos bolivianos, e seu filho Ivan Guzmán de Rojas, renomado matemático e linguista, é o responsável pelo Qopuchawi, um software para traduções multilinguisticas via ICQ que pode ser conhecido através de seu site ATAMIRI.
Visitem: HOMENAJE A CECILIO GUZMAN DE ROJAS (1899-195O)