O Sol e a Lua entre os Kamayurá
O onça tinha duas mulheres. Um dia, a mãe do onça matou a que esperava criança. Quando o onça chegou, chamou as formigas. Elas tiraram duas crianças da onça morta e as penduraram em cestas, no teto da casa. No outro dia, o onça pediu que colocassem os filhos no chão. As formigas desceram as crianças e fizeram que o onça e a mulher ficassem num outro quarto, para que não as vissem. "As crianças ainda não andam. Por isso nós as penduramos outra vez." disseram elas.
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Dias depois, o onça e sua mulher viram marcas de pés no chão da casa. "É das crianças mas ainda nem sabemos se são homens ou mulheres."
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No outro dia, deixaram peneiras e colares no chão. As crianças não pegaram. O onça deixou então arcos e flechas. Se viessem buscá-los, ele saberia que eram homens. O onça se escondeu e as crianças desceram, levaram os arcos e as flechas. Então, o onça apareceu e disse: "Fiquem aqui no chão que é melhor."
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As crianças eram homens e o onça deu-lhes nomes: Tapé e Tapé-Akaná. Um dia, uma cigarra perguntou seus nomes. Quando eles responderam ela falou: "São muito feios. De hoje em diante vocês se chamarão Kwat (Sol) e Yaí (Lua)."
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Um dia, Kwat e Yaí foram na roça de um pássaro que disse: "Vocês chamam de mãe a mulher errada. Sua mãe de verdade morreu há muito tempo. Foi sua avó quem a matou." As crianças choraram muito e quiseram saber onde estava enterrada a mãe. Quando o pai mostrou, começaram a cavar, chorando. "Vocês não podem tirar sua mãe daí." disse ele. "Mas nós queremos que ela viva mais."
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Quando viram que a mãe não poderia voltar a viver, eles a enterraram outra vez, só que de outro jeito - em pé. E as crianças cortaram pedaços de madeira que colocaram cercando a cova (os cemitérios Kamayurás são cercados de madeira e os mortos são enterrados em pé ou sentados).
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Kwat e Yaí fizeram uma festa para a mãe morta e convidaram os peixes. Foi organizada uma grande dança. No dia seguinte aconteceram as lutas. Após as lutas, as danças continuaram e os peixes pintaram-se todos para elas, como ainda estão pintados até hoje.
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Quando terminou a festa Kwat e Yaí fizeram os Kamayurás e os caraíbas (homens brancos). Eles foram feitos com pedaços de madeira: os caraíbas de madeira branca e os Kamayurás de madeira vermelha. Os outros índios do Parque foram feitos de pedaços de cobra (é por isso que eles furam os lábios e as orelhas).
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Quando os Kamayurás começaram a comer carne, foram Kwat e Yaí que levaram a caça para eles. Um dia, um índio que não caçava nada foi atacado pelos Kamayurás, porque só comia. Eles cortaram seus pés e suas mãos e o deixaram na floresta, para morrer. Yaí apareceu, colou os pés e as mãos no índio e o salvou. Assim, surgiram as juntas nos pés e nas mãos dos homens.
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Mas os bichos eram gente e se revoltaram contra o Sol e a Lua, que os matava para os Kamayurá comerem. O Sol e a Lua, então, fizeram muitas flechas e espalharam na floresta: eles iam transformar as flechas em gente e depois desaparecer da Terra. Levariam com eles animais selvagens, para os proteger. Kwat e Yaí, espalharam as flechas pela floresta. Depois, começaram a subir, abandonando a Terra. E disseram: "Flechas, transformem-se em índios. E apareçam os bichos."
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Os animais, que eram gente, transformaram-se em bichos e hoje são caçados pelos Kamayurás, que também pescam todos os peixes. Kwat (Sol) e Yaí (Lua) subiram para o céu. E estão lá, brilhando, até hoje.
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Fonte: Resumo de texto de Anélio Barreto, in Jornal da Tarde, Xingu, 1969.
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