15 de agosto de 2009

Revoluções nos meios de massa

"Zeitgeist" é um polêmico documentário amador ramificado em três partes distintas. Seus detratores vêm classificando-o como mera Teoria da Conspiração, mas porcerto isto não invalida sua insurgente importância a partir da difusão no meio alternativo da rede mundial de computadores. Podemos na verdade pensar neste "Zeitgeist" como um esforço neo-voltairiano, ou o afloramento de um novo racionalismo, embora Voltaire procurasse pregar a reforma social sem a destruição do regime já estabelecido, o que não fica claro quanto à revolução proposta pelo documentário de agora. Mas é bom a propósito lembrar ainda a célebre frase de Voltaire: "A mais terrível enfermidade do espírito humano é a mania do domínio".
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O título "Zeitgeist" surgiu na verdade de um conceito alemão de "espírito de época", o qual remonta a Johann Gottfried Herder e outros românticos alemães, mas ficou melhor conhecido pela obra de Hegel, "Filosofia da História" - em 1769, Herder escreveu uma crítica ao trabalho "Genius seculi" do filólogo Christian Adolph Klotz, introduzindo a palavra Zeitgeist como uma tradução de genius seculi (Latim: genius - "espírito guardião" e saeculi - "do século"). Os alemães românticos, tentados normalmente à redução filosófica do passado às essências, trataram de construir o "espírito de época" como um argumento histórico de sua defesa intelectual.
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Este documentário independente norte-americano foi realizado, produzido e escrito pelo anônimo Peter Joseph, e lançado pela primeira vez no serviço Google Video (aqui legendado em português), em Junho de 2007, tornando-se em poucas semanas o filme mais visto alojado nos servidores da Google (8 milhões no final de novembro, sendo que foi retirada desde dessa altura o contador, ninguém sabe bem porquê). Tal fama levou a que Peter Joseph fosse convidado pelos responsáveis do "4th Annual Artivist Film Festival & Artivist Awards" a apresentar a sua controversa obra caseira ao circuito cinematográfico. Já existe agora inclusive um "Movimento Zeitgeist", propondo o fim da nossa sociedade injusta: "o fim de todo um sistema, e o nascimento de um novo, de mais união, de mais solidariedade, propõe o fim da economia capitalista, a religiosidade e as crendices populares da era medieval, além de estabelecer o controle do mundo para nós mesmos, como um todo".
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É bom colocar aqui mais uma frase lapidar de Voltaire: "Posso não concordar com uma só palavra do que dizeis, mas defenderei até a morte vosso direito de dizê-lo", já que as polêmicas surgem sempre quando não possuímos a necessária abertura para aceitar/compreender/conviver a expressão cultural do "outro", e este abismo intercultural costuma ser uma velha fonte de muitas mazelas civilizatórias. Assim, a partir das legendas busquei reproduzir aqui algumas das principais assertivas do documentário:
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"Quanto mais aprofundamos aquilo que julgamos conhecer, de onde viemos, aquilo que fazemos, começamos a compreender ao que estamos presos. Estamos aprisionados a todas as instituições. (...)
Chegou o tempo de acordar. Quem está no poder segue o seu caminho com a certeza que estás embrulhado nesta manipulação. A arena política já tem pouco a ver com a realidade. Ela foi-nos imposta com astúcia sem que sequer nos apercebêssemos. (...)
A melhor maneira de se destruir um oponente é levando-o a destruir a si próprio, dividindo para conquistar. Alimentando ambos os lados, com agentes em ambos os lados, inflamando os dois lados. E matam-se uns aos outros. E é tempo de acordarmos para esta dura realidade, para perceber que as pessoas que tentam manter e criar impérios, fazem-no manipulando as pessoas que têm tentado conquistar. Podes se perguntar a razão pela qual uma cultura inteira está atulhada de entretenimento de mass media por todos os lados, enquanto o sistema educacional Americano continua a estupidificar a camada jovem desde que os EUA decidiu tomar conta e subsidiar as escolas públicas. O governo só paga por aquilo que quer. Quando compreendemos isto, olhamos para o financiamento das escolas e vemos o tipo de estudantes e o tipo de educação que foi programado por este governo, a lógica te dirá que aquilo que está sendo ensinado naquelas escolas e não estiver de acordo com o que o governo federal quer, eles mudam. A questão principal é que o governo está a ter aquilo para o qual pagou. Eles não querem que as nossas crianças sejam educadas. Eles não querem que pensemos muito. Esta é a razão pela qual o nosso mundo se tornou tão cheio de entretenimento, mass media, programas de televisão, parques de diversão, drogas, álcool. Todo o tipo de entretenimento serve para manter o humano entretido. Para que não te metas no caminho das pessoas importantes, nem a pensar muito. É melhor acordares e perceberes que há pessoas que tomam decisões que influenciam a tua vida e tu andas distraído. Nós estamos com um grande Problema!
(...) Isto é alienação em massa, seus dementes. Vocês é que são reais, pensem: nós somos a ilusão? A última coisa que os homens por detrás da cortina querem é um público bem informado capaz de fazer pensamento crítico. Esta é a razão pela qual existe um contínuo e fraudulento "Zeitgeist" via religião, mass media e educação. Procuram manter-te distraído como uma bolha de sabão, e estão fazendo um trabalho excelente.
(...) Religião, Patriotismo, Raça, Saúde, Classe, e todas as outras formas de identificação separatista têm servido para criar uma população controlada, totalmente maleável e nas mãos de alguns. Dividir para Conquistar é a epígrafe, e enquanto as pessoas continuarem a se ver como separadas de todo o resto, estarão se entregando completamente à escravatura. Os homens por trás da cortina sabem-no. E também sabem, que se as pessoas descobrirem a sua verdadeira relação com a natureza, e a verdadeira dimensão do seu EU, o Zeitgeist que nos está sendo preparado desmoronará como um castelo de cartas. Todo o sistema em que vivemos nos leva a acreditar que somos impotentes, fracos, a sociedade é horrível, cheia de crime e por aí adiante. ISSO É TUDO UMA MENTIRA! Nós somos poderosos, belos e extraordinários. Não há razão para não percebermos quem somos na realidade e para onde vamos. Não há nenhum razão para qualquer indivíduo não ser realmente forte. Nós somos seres extraordinários. (...)
Agora, na nossa cultura fomos treinados para nos diferenciarmos de todos. Se olhares para cada pessoa, a tua reação é inseri-la num modelo: esperto, burro, velho, novo, rico, pobre... E fazemos todas estas distinções dimensionais, colocamos em categorias e tratamos dessa maneira. Daí concluis que só vemos os outros separados de nós do modo em que eles estão afastados. Uma das características mais dramáticas da existência é estar com outra pessoa e de repente reparar em certos aspectos que são exatamente iguais aos teus, não muito diferentes de ti, e se experimenta o fato de que a essência que há em ti, e a essência que há em mim, são no fundo, uma só. A compreensão que não há um outro!... Somos todos UM. (...)
As velhas apelações ao chauvinismo racial, sexual e religioso, ao fervor nacionalista, estão começando a não resultar. Uma nova consciência começa a desenvolver-se que vê a Terra como um só organismo, e a reconhecer, que um organismo em guerra consigo próprio está condenado. Bill Hicks costumava terminar os seus shows assim: “A vida é como uma viagem num carrossel, e quando lá vais pensas que é real por causa do poder das nossas mentes”. A viagem sobe e desce, andas às voltas, tem emoções fortes, é brilhante e colorida. Há muito barulho e é divertido por um tempo. Alguns já andam nessa viagem há algum tempo e começam a colocar questões: Será isto real? Ou isto é apenas uma viagem? As outras pessoas lembram-se, viram-se para nós e dizem: Ei, não te preocupes, não tenhas medo. Isto é só uma voltinha. E matamos essas pessoas: “Calem-se! Eu investi muito nesta viagem, calem-no! Olhem para a minha cara de chateado. Olha para minha conta bancária e a minha família, isto tem que ser real...”. Mas é só uma voltinha. E matamos sempre aquelas boas pessoas que sempre o vem dizendo, já reparaste? E assim deixamos nos entregar às feras... Mas não importa, porque é só uma viagem e podemos mudá-la sempre que quisermos. É apenas uma escolha. Sem esforço, sem trabalho, sem profissão, sem poupanças. Só uma escolha: entre o medo e o amor. A Revolução É AGORA!”
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Fonte: Cinema Notebook. Leiam mais em Memes.org

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