16 de agosto de 2009

Tanoné


"Nossa história não é bonita, eu não gosto de falar porquê é muito sofrida. Só essa matança de 20 milhões de índios já representa uma grande tristeza. O bonito é que nós somos resistentes a tudo. Nós levamos tudo com festa e com fé, fazemos brincadeiras, trocamos ideias, aprendemos costumes antigos com os mais velhos, vivemos nossas experiências com o sol, a luz, as estrelas, com o fogo, a chuva, a natureza. Esse conhecimento que eu venho aprendendo com meus avós e meus pais fortalece nosso espírito. É bom saber que não estamos sós."

Ivanice Tanoné, liderança Kariri-Xokó, faz parte do grupo que vive na periferia de Brasília desde 1970, e vem requerendo a demarcação de uma terra indígena no âmbito do Distrito Federal.

Leiam: Entrevista de Tanoné no IX Encontro de Culturas Tradicionais, "Preconceito: até quando iremos alimentar esse sentimento?", em Repórter do Futuro, e "Santuário dos Pajés". Fonte do Vídeo: Cenouta

15 de agosto de 2009

Revoluções nos meios de massa

"Zeitgeist" é um polêmico documentário amador ramificado em três partes distintas. Seus detratores vêm classificando-o como mera Teoria da Conspiração, mas porcerto isto não invalida sua insurgente importância a partir da difusão no meio alternativo da rede mundial de computadores. Podemos na verdade pensar neste "Zeitgeist" como um esforço neo-voltairiano, ou o afloramento de um novo racionalismo, embora Voltaire procurasse pregar a reforma social sem a destruição do regime já estabelecido, o que não fica claro quanto à revolução proposta pelo documentário de agora. Mas é bom a propósito lembrar ainda a célebre frase de Voltaire: "A mais terrível enfermidade do espírito humano é a mania do domínio".
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O título "Zeitgeist" surgiu na verdade de um conceito alemão de "espírito de época", o qual remonta a Johann Gottfried Herder e outros românticos alemães, mas ficou melhor conhecido pela obra de Hegel, "Filosofia da História" - em 1769, Herder escreveu uma crítica ao trabalho "Genius seculi" do filólogo Christian Adolph Klotz, introduzindo a palavra Zeitgeist como uma tradução de genius seculi (Latim: genius - "espírito guardião" e saeculi - "do século"). Os alemães românticos, tentados normalmente à redução filosófica do passado às essências, trataram de construir o "espírito de época" como um argumento histórico de sua defesa intelectual.
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Este documentário independente norte-americano foi realizado, produzido e escrito pelo anônimo Peter Joseph, e lançado pela primeira vez no serviço Google Video (aqui legendado em português), em Junho de 2007, tornando-se em poucas semanas o filme mais visto alojado nos servidores da Google (8 milhões no final de novembro, sendo que foi retirada desde dessa altura o contador, ninguém sabe bem porquê). Tal fama levou a que Peter Joseph fosse convidado pelos responsáveis do "4th Annual Artivist Film Festival & Artivist Awards" a apresentar a sua controversa obra caseira ao circuito cinematográfico. Já existe agora inclusive um "Movimento Zeitgeist", propondo o fim da nossa sociedade injusta: "o fim de todo um sistema, e o nascimento de um novo, de mais união, de mais solidariedade, propõe o fim da economia capitalista, a religiosidade e as crendices populares da era medieval, além de estabelecer o controle do mundo para nós mesmos, como um todo".
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É bom colocar aqui mais uma frase lapidar de Voltaire: "Posso não concordar com uma só palavra do que dizeis, mas defenderei até a morte vosso direito de dizê-lo", já que as polêmicas surgem sempre quando não possuímos a necessária abertura para aceitar/compreender/conviver a expressão cultural do "outro", e este abismo intercultural costuma ser uma velha fonte de muitas mazelas civilizatórias. Assim, a partir das legendas busquei reproduzir aqui algumas das principais assertivas do documentário:
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"Quanto mais aprofundamos aquilo que julgamos conhecer, de onde viemos, aquilo que fazemos, começamos a compreender ao que estamos presos. Estamos aprisionados a todas as instituições. (...)
Chegou o tempo de acordar. Quem está no poder segue o seu caminho com a certeza que estás embrulhado nesta manipulação. A arena política já tem pouco a ver com a realidade. Ela foi-nos imposta com astúcia sem que sequer nos apercebêssemos. (...)
A melhor maneira de se destruir um oponente é levando-o a destruir a si próprio, dividindo para conquistar. Alimentando ambos os lados, com agentes em ambos os lados, inflamando os dois lados. E matam-se uns aos outros. E é tempo de acordarmos para esta dura realidade, para perceber que as pessoas que tentam manter e criar impérios, fazem-no manipulando as pessoas que têm tentado conquistar. Podes se perguntar a razão pela qual uma cultura inteira está atulhada de entretenimento de mass media por todos os lados, enquanto o sistema educacional Americano continua a estupidificar a camada jovem desde que os EUA decidiu tomar conta e subsidiar as escolas públicas. O governo só paga por aquilo que quer. Quando compreendemos isto, olhamos para o financiamento das escolas e vemos o tipo de estudantes e o tipo de educação que foi programado por este governo, a lógica te dirá que aquilo que está sendo ensinado naquelas escolas e não estiver de acordo com o que o governo federal quer, eles mudam. A questão principal é que o governo está a ter aquilo para o qual pagou. Eles não querem que as nossas crianças sejam educadas. Eles não querem que pensemos muito. Esta é a razão pela qual o nosso mundo se tornou tão cheio de entretenimento, mass media, programas de televisão, parques de diversão, drogas, álcool. Todo o tipo de entretenimento serve para manter o humano entretido. Para que não te metas no caminho das pessoas importantes, nem a pensar muito. É melhor acordares e perceberes que há pessoas que tomam decisões que influenciam a tua vida e tu andas distraído. Nós estamos com um grande Problema!
(...) Isto é alienação em massa, seus dementes. Vocês é que são reais, pensem: nós somos a ilusão? A última coisa que os homens por detrás da cortina querem é um público bem informado capaz de fazer pensamento crítico. Esta é a razão pela qual existe um contínuo e fraudulento "Zeitgeist" via religião, mass media e educação. Procuram manter-te distraído como uma bolha de sabão, e estão fazendo um trabalho excelente.
(...) Religião, Patriotismo, Raça, Saúde, Classe, e todas as outras formas de identificação separatista têm servido para criar uma população controlada, totalmente maleável e nas mãos de alguns. Dividir para Conquistar é a epígrafe, e enquanto as pessoas continuarem a se ver como separadas de todo o resto, estarão se entregando completamente à escravatura. Os homens por trás da cortina sabem-no. E também sabem, que se as pessoas descobrirem a sua verdadeira relação com a natureza, e a verdadeira dimensão do seu EU, o Zeitgeist que nos está sendo preparado desmoronará como um castelo de cartas. Todo o sistema em que vivemos nos leva a acreditar que somos impotentes, fracos, a sociedade é horrível, cheia de crime e por aí adiante. ISSO É TUDO UMA MENTIRA! Nós somos poderosos, belos e extraordinários. Não há razão para não percebermos quem somos na realidade e para onde vamos. Não há nenhum razão para qualquer indivíduo não ser realmente forte. Nós somos seres extraordinários. (...)
Agora, na nossa cultura fomos treinados para nos diferenciarmos de todos. Se olhares para cada pessoa, a tua reação é inseri-la num modelo: esperto, burro, velho, novo, rico, pobre... E fazemos todas estas distinções dimensionais, colocamos em categorias e tratamos dessa maneira. Daí concluis que só vemos os outros separados de nós do modo em que eles estão afastados. Uma das características mais dramáticas da existência é estar com outra pessoa e de repente reparar em certos aspectos que são exatamente iguais aos teus, não muito diferentes de ti, e se experimenta o fato de que a essência que há em ti, e a essência que há em mim, são no fundo, uma só. A compreensão que não há um outro!... Somos todos UM. (...)
As velhas apelações ao chauvinismo racial, sexual e religioso, ao fervor nacionalista, estão começando a não resultar. Uma nova consciência começa a desenvolver-se que vê a Terra como um só organismo, e a reconhecer, que um organismo em guerra consigo próprio está condenado. Bill Hicks costumava terminar os seus shows assim: “A vida é como uma viagem num carrossel, e quando lá vais pensas que é real por causa do poder das nossas mentes”. A viagem sobe e desce, andas às voltas, tem emoções fortes, é brilhante e colorida. Há muito barulho e é divertido por um tempo. Alguns já andam nessa viagem há algum tempo e começam a colocar questões: Será isto real? Ou isto é apenas uma viagem? As outras pessoas lembram-se, viram-se para nós e dizem: Ei, não te preocupes, não tenhas medo. Isto é só uma voltinha. E matamos essas pessoas: “Calem-se! Eu investi muito nesta viagem, calem-no! Olhem para a minha cara de chateado. Olha para minha conta bancária e a minha família, isto tem que ser real...”. Mas é só uma voltinha. E matamos sempre aquelas boas pessoas que sempre o vem dizendo, já reparaste? E assim deixamos nos entregar às feras... Mas não importa, porque é só uma viagem e podemos mudá-la sempre que quisermos. É apenas uma escolha. Sem esforço, sem trabalho, sem profissão, sem poupanças. Só uma escolha: entre o medo e o amor. A Revolução É AGORA!”
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Fonte: Cinema Notebook. Leiam mais em Memes.org

13 de agosto de 2009

Corumbiara, a verdade



Leiloada durante o governo militar, a gleba Corumbiara, no sul de Rondônia, é o cenário, em 1985, de um massacre de índios isolados. Apesar dos visíveis sinais da tentativa de apagar as evidências de sua existência, filmadas pelo documentarista Vincent Carelli, e das denúncias do indigenista da FUNAI Marcelo Santos, o caso é esquecido. Dez anos depois, o encontro de dois índios desconhecidos numa fazenda oferece a primeira oportunidade a Santos e Carelli de retomar o fio desta história, que registra muitas lacunas, mas revela aos poucos os inequívocos sinais da continuidade dos crimes contra os povos indígenas, num processo de selvagem apropriação da terra na Amazônia. Neste filme, realizado ao longo de mais de 20 anos, abre-se espaço também a uma autocrítica das próprias estratégias indigenistas, além de se dar voz aos próprios índios.
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O massacre de índios na gleba Corumbiara, no sul de Rondônia, é o tema do filme Corumbiara que começa a ser exibido agora em São Paulo e Rio de Janeiro. A história de que índios isolados, ainda sem contato com os brancos, haviam sido dizimados durante a construção de uma estrada no sul de Rondônia - frente de expansão da fronteira agrícola iniciada na década de 1970 durante o governo militar - começou a circular em 1986. Avisado pelo sertanista Marcelo Santos, que trabalhava na Fundação Nacional do Índio, em Vilhena (RO), Vincent Carelli, que estava começando as atividades da Vídeo nas Aldeias, decidiu acompanhá-lo para registrar as evidências do massacre. Conseguiu filmar restos de utensílios e vestígios do que havia sido uma aldeia e logo em seguida foram expulsos pelos fazendeiros e proibidos depois de colocar os pés naquelas terras. Os relatos do massacre acabaram por cair no descrédito - considerados fantasia- e no esquecimento.

Dez anos depois, o mesmo Marcelo Santos que se tornara chefe da área de isolados da Funai em Rondônia, mais uma vez foi com Carelli à região em busca de sobreviventes. Desta vez estavam acompanhados por dois jornalistas do jornal O Estado de S. Paulo. No meio da mata, depois de encontrar uma aldeia abandonada o grupo ou frente de contato como era chamado acabou se deparando com dois índios isolados. O contato provou a existência de índios naquela área. Fotografados e filmados, os índios terminaram nas primeiras páginas dos jornais e no Fantástico da TV Globo. Os fazendeiros, por sua vez, contestaram a versão dizendo que se tratava de uma montagem da Funai, e que eles não eram índios. Os dois índios então contatados faziam parte de um grupo de quatro. A língua que falavam era desconhecida. Assim, muitas conversas foram gravadas e a partir delas descobriu-se que falavam uma língua quase extinta, o Kanoê. Sabe-se que os índios Kanoê foram deportados em 1952 para Guajará Mirim (RO) e que muitos morreram de gripe e de sarampo. Os que ficaram para trás foram esses, contatados em 1995.

Os Kanoê levaram o grupo de contato pela mata em busca de outros isolados, os Akuntsu, sobreviventes de um ataque. Um deles relatou como seu povo foi atacado e morto pelos brancos. Ele escapou porque não estava na aldeia na hora. Saiba mais sobre os akuntsu.Na busca por vestígios de sobreviventes de massacres, a frente de contato ia encontrando pequenas malocas abandonadas no interior das quais sempre havia um buraco. Por isso, apelidaram seu morador, provavelmente um sobrevivente, de “índio do buraco”. A caminhada na mata prosseguiu até que o grupo se deparou com uma nova maloca e o único índio dentro dela ameaçava o grupo com uma lança por entre as palhas. Vincent conseguiu se aproximar dando a volta na maloca e fotografou seu rosto através das frestas. O contato não foi possível. A cada nova tentativa de aproximação ele se mudava, deixando para trás a sua roça. Cenas históricas como o registro desses contatos fazem parte do filme.
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A esperança de Carelli, autor do roteiro e diretor de Corumbiara, é que a divulgação do filme colabore para que se abra uma investigação sobre o caso, porque crime de genocídio não prescreve. “Persegui esta história com tanta gana porque raramente conseguimos documentar um caso tão emblemático do genocídio brasileiro. A historia se repete: no final do século XX, na linha de frente da ocupação da Amazônia, o mesmo gesto bárbaro, “digno” de bandeirantes”, afirma Vincent. “Corumbiara é um relato autobiográfico da busca para esclarecer uma chacina, apesar da lei do silêncio e da dificuldade de se comunicar com sobreviventes de povos desconhecidos. Depois de vinte anos, vem a triste constatação de que era tudo verdade, e que tudo poderia ter sido diferente. Finalizar este filme é de certa maneira superar o sentimento de derrota e impotência, jogar uma mancha sobre o nosso orgulho conquistador e deixar mais um marco na memória dos povos indígenas".

VINCENT CARELLI : OLINDA@VIDEONASALDEIAS.ORG.BR
http://www.videonasaldeias.org.br/

Leiam mais em: "A Nova Democracia - 14 Anos da Resistência Histórica em Corumbiara", e "Corumbiara: O Massacre dos Camponeses", de Helena Mesquita. Fonte: Chico Terra

Alce Negro, o grande Wichasha Wakan

Alce Negro (Hehaka Sapa) nasceu em Dezembro de 1863 e faleceu a 17 ou 19 de Agosto de 1950. Foi um famoso "Wichasha Wakan" (Medicine Man ou Holy Man) dos Oglala Lakota (Sioux). Alce Negro (em inglês conhecido como "Black Elk") participara, aos doze anos de idade, da Batalha de Little Big Horn de 1876, e foi ferido no Massacre de Wounded Knee em 1890. Anteriormente, em 1887, Black Elk viajou para a Inglaterra com o Buffalo Bill's Wild West Show. Em seu livro "Black Elk Speaks", de 1932, John G. Neihardt publicou algumas de suas memórias:
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"Meu amigo, vou contar a você a história da minha vida, como quer; e se fosse apenas a história da minha vida acho que não a contaria; pois o que é um homem que ele deva fazer muito de seus invernos, mesmo quando estes o curvam como uma nevasca pesada? Da mesma forma muitos outros homens viveram e irão viver essa história, até tornarem-se grama sobre as colinas. É a história de toda a vida que é sagrada e boa de se contar, e de nós bípedes partilhando-a com os quadrúpedes e as asas do ar e todas as coisas verdes; pois estes são os filhos de uma única mãe e seu pai é um único Espírito. Esta, então, não é a história de um grande caçador ou de um grande guerreiro, ou de um grande viajante, embora eu tenha feito muita carne no meu tempo e lutado por meu povo tanto como menino quanto como homem, e tenha ido longe e visto terras e homens estranhos. Da mesma forma muitos outros o fizeram, e melhor do que eu. Essas coisas irei lembrar de passagem, e freqüentemente elas parecerão ser a história em si, como quando eu a estava vivendo em felicidade e tristeza. Mas agora que posso ver toda ela como se do topo solitário de uma colina, eu sei que foi a história de uma visão poderosa dada a um homem fraco demais para usá-la; de uma árvore sagrada que deveria ter florescido no coração de um povo com flores e pássaros cantando, e agora está seca; e do sonho de um povo que morreu na neve coberta de sangue. Mas se a visão era verdadeira e poderosa, como eu sei, ela é verdadeira e poderosa ainda; pois tais coisas são do espírito, e é na escuridão de seus olhos que os homens se perdem. "

Em 1904, Black Elk foi batizado no catolicismo como "Nicholas Black Elk", e passou a dedicar-se a converter os Sioux a essa religião. Em 1953, Joseph Brown publicaria seu livro póstumo, "The Sacred Pipe", onde se descreviam os rituais tradicionais sioux.

Vejam mais em Wikipedia. Fonte da Imagem: Buffalo Saloon

12 de agosto de 2009

Hatun Amauta

Evo Morales recebendo o título de "Hatun Amauta" em Quito, no Equador
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Evo Morales, líder esquerdista dos plantadores de coca que se tornou o primeiro presidente indígena da história da Bolívia e da América do Sul, foi investido antes como "chefe supremo dos indígenas dos Andes", segundo um ancestral ritual indígena. Na véspera da posse como chefe de Estado, Morales participou no ritual descalço, vestido com um ponche de tecidos multicoloridos de alpaca e coroado por um "unco" de quatro pontas numa cerimônia mística num templo da cidade em ruínas de Tiwanaku, a 70 km de La Paz, centro da cultura mais longeva dos Andes sul-americanos.

Aos gritos de "Viva Evo" e de "Uka jacha uru jutasjiway" (o grande dia chegou), cerca de vinte mil indígenas camponeses saudaram a chegada do líder cocalero em Tiwanaku. Vários camponeses agitavam "whipalas", bandeiras com as cores do arco-íris que representam as etnias da Bolívia. Morales foi ao templo de Kalasasaya, onde um grupo de yatiris (xamãs) realizaram nele uma 'limpeza espiritual' antes de entregar-lhe o poder dos povos indígenas andinos resumidos num simbólico báculo, feito de sete metais e pedras preciosas.

Evo Morales nascera então há 46 anos num casario indígena de Orinoca, na esplanada do planalto andino, à beira de um lago e apesar de ter migrado para os vales do Chapare, no centro subandino e de população quechua, mantém usos culturais aymaras e andinos. Esse bastão de comando, fundido principalmente em ouro e prata - metais só ornamentais sem valor mercantil para a ancestral cultura aymara - é coroado por duas cabeças de condor (totem religioso) que representam o sistema de autoridade dos povos 'llameros' (pastores de lhamas) indígenas do oeste da Bolívia, sul do Peru e norte do Chile. Morales foi coroado com uma espécie de chapéu de lã, tipo barrete, de quatro pontas, que representam as regiões pré-colombinas do Estado pré-incaico do Tiawantinsuyo: Collasuyo, Antisuyo, Chinchasuyo e Contisuyo, que abrange a região do Copiapó (Vale das Turquesas em língua nativa, atualmente no Chile) ao sul, e até o atual território do Equador, no norte.

Investido dos poderes, Morales se instalou na esplanada do templo tiwanacota totalmente descalço, vestindo um chunco - poncho de tecidos cujos motivos datam de 800 anos, pouco antes da conquista pelos Incas dos territórios aymaras. Ao pé das 'achachilas' ou montanhas andinas que rodeiam este centro cerimonial de uma cultura cujo apogeu se estendeu por quase três milênios, o ritual, inscrito na cosmovisão andina, foi presidido pelo sábio sacerdote secundado por 24 'mallkus' (autoridades supremas) da zona. Em língua nativa e com alguns vocábulos da antiga língua puquina, já desaparecida, fonte do aymara, Morales contraiu um compromisso telúrico com a Pachamama (mãe terra) e o Tata Inti (pai sol) num ritual sobre uma 'huajta' (mesa) no principal terraço do Kalasasaya. Tiwanaku foi a cultura mais antiga da América do Sul, com 27 séculos e meio de duração de 1580 AC a 1172 de nossa era.

Em fevereiro de 2009, Evo Morales recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Estatal de Humanidades de Moscou em reconhecimento por seus esforços por educar o povo boliviano. O reitor da universidade, Yefim Pivovar, destacou ainda a contribuição de Morales para preservar a cultura dos povos indígenas da Bolívia. Morales, por sua vez, afirmou que entre as grandes potências mundiais, "a Rússia, mais que os Estados Unidos, reconhece os méritos dos povos indígenas na luta pela independência de seus países". Evo Morales também recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Universidad Autónoma de Santo Domingo na República Dominicana, da Universidad de Panamá e da Universidad Nacional de La Plata, na Argentina. Agora no encontro da UnaSur em Quito, no Equador, foi titulado como "Hatun Amauta", pelos serviços eminentes e relevantes às nações originárias do Abya Yala e do mundo, por representar o paradigma do Abya Yala e dos povos em seu sonho de uma sociedade intercultural com equidade.
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8 de agosto de 2009

Hai-Kai

Índio Jicarilla

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Às vezes

Sucede que me compadeço

Enquanto que, levado pelo vento

Atravesso o céu.
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(Poesia Chippewa)

6 de agosto de 2009

Whipalas

Whipalas erguidas no Chamado do Beija-Flor, em 2005 em Alto Paraíso - Goiás - Brasil

A Whipala, Introdução a seu simbolismo (por Bruno Serrano Navarro)

"A Whipala é muito mais que a bandeira e o emblema da nação Andina e dos Aymará Quishwa, é a representação de sua filosofia andina e, atualmente, o símbolo da resurreição da cultura que fluiu dos primordiaies Quatro Estados do Tawantinsuyo.
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Durante muitos anos a colônia espanhola proibiu a sagrada Whipala que hoje volta a ser reconhecida e compreendida apesar das eras de perseguição e o intento de apagar seu significado. A continuação uma brevíssima introdução a seu simbolismo:
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A Whipala está composta de 49 espaços com as sete cores do arco-íris. No centro está atravessada por uma franja de sete quadrados brancos que simbolizam as Markas e Suyus, ou seja a coletividade e a unidade na diversidade geográfica e étnica dos Andes. Esta franja representa também ao princípio da dualidade, assim como a complementariedade dos opostos, portanto união dos espaços; e assim a oposição complementar ou força da dualidade, quer dizer: fertilidade, união dos seres e, por conseguinte, a transformação da natureza e dos humanos que implica no caminho vital, e a busca à qual este nos impulsa.
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Seus Quatro Lados comemoram tanto aos Quatro Irmãos Míticos: Ayar-kachi, Ayar-uchu, Ayar-laq'a e Ayar-k'allku, os quais foram os precursores dos Quatro Estados originais do Tawantinsuyu; bem como simbolizam ao calendário Cósmico dos Aymará Quishwa; as quatro épocas do ano divididas nas quatro festividades que as comemoran: Juyphi-Pacha ou estação fria; Lapaka-Pacha, estação do calor; Jallu-Pacha, estação da chuva; e finalmente, Awti-Pacha ou estação seca.
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As Sete Cores do Arco-Íris: Vermelho, representa ao planeta Terra (aka-pacha) bem como ao conhecimento dos Amawtas; Laranja, representa a sociedade, expressa a preservação e procriação da espécie assim como saúde e os conhecimentos da medicina, também à educação e juventude; Amarelo, Energia e força (ch'ama-pacha), doutrina do Pacha-kama e Pacha-mama, dualidade, leis e normas da prática coletiva; Branco, representa ao tempo e a sua dialética (jaya-pacha), transformação, a arte e o trabalho, reciprocidade; Verde, para alguns representa à economia e a produção andina, riquezas naturais, Terra e territorialidade, assim como a flora e fauna que também se consideram dons; Azul, Espaço cósmico, o infinito (araxa- pacha), é a expressão dos sistemas estelares e dos fenômenos naturais; Violeta, Expressão do povo e do poder comunitário, estado, organizações sociais, intercâmbio.
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A Whipala e a Simbologia Matemática: para interpretar a simbologia matemática da Whipala, devemos remontar à ideia do calendário, o qual podemos ler de três maneiras complementares - verticalmente, horizontalmente e diagonalmente, o qual conforma o Awaku andino.
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A parte superior da Whipala se identifica com o Sol, o dia, e a parte inferior com a Lua, ou seja, a noite. A Whipala permite que através do cálculo matemático sejam previstas as datas dos equinócios, solstícios e eclipses. No calendário andino a “Lua anual” tem treze meses divididos em 28 dias, entretanto o “Sol anual” tem 12 meses constituídos por 8 meses de 30 días mais quatro de 31 jornadas, o qual ao somar-se nos dá um total de 364 dias, mais um dia, o chamado Jach'a-Uru ou Dia Grande.

Fontes: http://www.katari.org/ e Revista Ser Indigena

5 de agosto de 2009

Caboclos e caboclinhos

"São algumas características essenciais do Caboclinho: a dança guerreira, o cunho religioso propiciatório de boa colheita ou caçada, a recitação de versos heróico-nativistas etc. Tradicionalmente os Caboclinhos têm feito suas apresentações no Recife, em Olinda, Nazaré da Mata, Carpina, Tracunhaém, Camaragibe, São Lourenço, Paudalho e nos estados de Alagoas, Paraíba e Rio Grande do Norte. As tribos de Caboclinho se apresentam com rei (cacique), rainha (cacica), capitão, tenente, guia, contra-guia, perós ou indiozinhos, porta-estandartes, caboclinhos, caboclinhas, pajé, caboclinhos caçadores, princesas e curandeiro. A orquestra é formada pelos seguintes instrumentos: gaita ou flautim (de taquara, também chamado inúbia), caracaxás ou mineiros, tarol e surdo. (...) Sempre vestidos de tangas e cocar de penas de aves (ema, avestruz e pavão), os caboclinhos usam ainda uma variedade de adereços, tais como: pulseiras, braçadeiras em pena (caboclos), colares de contas e sementes (no pescoço), pequenas cabaças (na cintura), flechas grandes (para moças) preacas, que consistem em arcos com flechas retesadas, presas, que puxadas, produzem um estalido seco, marcando o ritmo. "
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"(...) O dicionário Aurélio, nos diz que Caboclo é o 1. Mestiço de branco com índio; cariboca, curiboca. 2. Antiga designação do indígena. 3. Caboclo de cor acobreada e cabelos lisos; caburé. 4. Sertanejo.
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Um dos maiores pesquisadores, se não o maior, de nossa cultura, folclore e suas influências, Luiz da Câmara Cascudo em seu Dicio­nário do Folclore Brasileiro, onde apa­­rece o verbete Caboco (assim mesmo sem o l de caboclo), des­cre­ve:
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O indígena, o nativo, o natural; mestiço de branco com Índia; mulato acobreado, com cabelo corrido. Mo­rais fazia provir de cobre, cor de cobre, avermelhado. Diz-se comu­mente do habitante dos sertões, caboclo do interior, terra de cabo­clos, desconfiado com caboclos. Foi vocábulo injurioso e El-Rei Dom José de Portugal, pelo alvará de 4 de abril de 1755, mandava expulsar das vilas os que chamassem os filhos das indígenas de caboclos: “Proíbo que os ditos meus vassalos casados com as índias ou seus descendentes se­jam tratados com o nome de cabouçolos, ou outro semelhante que possa ser injurioso.” Macedo Soa­res registra a sinomínia tradicional do caboclo: caburé, cabo-verde, cabra, cafuz, curiboca, cariboca, mame­luco, tapuia, matuto, restin­gueiro, caipira. Da antiga denomina­ção de caboclo aos mestiços avermelhados ainda há a imagem da cor maribondo caboclo, boi caboclo, formiga cabocla, pomba cabocla, todas com tonalidades vermelhas ou tijolo. Era até fins do séc. XVIII, o sinônimo oficial de indígena. Hoje indica o mestiço e mesmo o popular, um caboclo da terra. Discute-se ainda a origem do vocábulo, indígena ou africano. Folclore: Gustavo Barroso (Ao som da Viola, Rio de Janeiro, 1921) fixou o “Ciclo dos Caboclos” (403-419) com documentário poético e anedotal. O caboclo no folclore brasileiro é o tipo imbecil, crédulo, perdendo todas as apostas e sendo imcapaz de uma resposta feliz ou de um ato louvável. Gustavo Barroso lembra que essa literatura humilhante é toda de origem branca, destinada a justificar a subalternidade do caboclo e o tratamento humilhante que lhe davam. Os episódios vem, em boa percentagem de fontes clássicas, com a mera substituição da vitima escolhida. O caboclo é o Manuel tolo, o Juan tonto eu­ropeu, aclimatado no continente americano com o nome de João bobo, uma es­pécie de sábio de Gothan. Há muitas histórias em louvor do caboclo, sua inteli­gência, registradas no citado livro, assim como no de José Car­valho (um matuto cearense e o ca­boclo do Pará, 9-15, Belém, 1930). Namoro de caboclo é aquele em que a namorada ignora quem é seu apai­xonado. Num outro epsódio entre o caboclo, o padre e o estudante, repete-se o motivo do melhor sonho (Mt-1626, de Aarne-Thompson). Quem tiver o mais bonito sonho comerá o queijo. Pela manhã o padre descreveu a ascensão para o Céu; o estudante sonhara com o próprio paraíso. O caboclo informou que, ven­do um dentro do Céu e outro já perto, comera o queijo, porque ambos não mais precisariam. E tinha comido mesmo (Gustavo Barroso, 413-414). É a fábula XVII do Displina Cléricalis, de Padre Afonso (1062-1110), entre dois burqueses e um camponês, a caminho de Meca. Um dos divulgadores da novelística ita­liana foi Geraldo Sintio (um romano, numero 3 do Ecatommt), que a diz sucedida em Roma, no ano de 1527, com um filósofo, um astrólogo e um soldado. O tema está em quase todos os idiomas, formas e litera­tu­ras, dispensando bibliografia ilustra­dora. O caboclo aceitou, com a sujei­ção física, essa popularidade pe­jora­tiva para oficializar a inferio­ridade de seu estado (Luiz da Câma­ra Cascudo, 30 Estória Brasileiras, “O Preço do Sonho”), 30-32, Porto, 1955. Deviámos escrever Caboco, co­mo todos pronunciam no Brasil, e não Caboclo, convencional e mera­mente letrado. Caboco vem de Caá, Mato, Monte, Selva; e Boc, Retirado, Saído, Provindo, Ori­un­do do Mato, exata e fiel imagem da impressão popular, valendo o nativo, o indígena, caboco bravo, o roceiro, o matuto bruto, chabo­queiro, bronco, creduo, mas, vez por outra, astuto, finório, disfar­çado, zombeteiro. Cabôco, é a pronuncia nacional, mesmo para os letrados que escrevem “caboclo”, Caá-Boc, tirado ou procedente do ma­to, registra Mestre Thedóro Sam­paio.
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Depois de toda esta explicação de Câmara Cascudo, fica claro o que quer dizer a figura do caboclo em nos­sa cultura. Com a dizimação do índio em nosso convívio, o tempo vai dissociando sua imagem da palavra, e cada vez mais o vocábulo caboclo vai se tornando na figura de lin­guagem um homem simples.
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Os espíritos que militam na Umbanda, se dividem em falanges ou povos, sejam de caboclos ou de pretos-velhos, baianos, boiadeiros, marinheiros, crianças, ciganos, exu e pomba-gira. Vemos uma identificação desper­sonalizada de ego que caracteriza aqueles que estão acima da identi­dade individual, ou seja, as entida­des na maioria das vezes não usam seus nomes de batismo, estando aquém de qualquer identificação, transcenderam a individualidade. São muitos espíritos que usam o mesmo nome como: Pena Branca, Pena Verde, Pena Roxa, Pena Ver­melha, Pena Dourada, Flexa Branca, Folha Branca, Sete Flexas, Sete Penas, Sete Folhas, Sete Montan­has, Ventania, Rompe Mato, Uruba­tão, Ubirajara, Aimoré, Tupinambá, e outros.
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Chegamos até a encontrar num mes­mo terreiros dois ou mais cabo­clos que usam o mesmo nome, pois não é seu nome como indivíduo, e sim, um nome que identifica seu tra­balho e a força que o rege. Por exem­plo, Pena Branca é de Oxossi e Oxalá; Pena Dourada é de Oxossi e Oxum; Sete Montanhas de Xangô; Ubirajara de Oxossi e Ogum, etc.
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Caboclo é um Mistério na Umbanda, uma linha de trabalho, uma falange, um grau, o identi­ficador de entidades que trabalham nesta vibração que está ligada ao Orixá Oxossi, o Orixá das Matas. (...)".
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Fonte: Guia do Recife e Artigo de Alexandre Cumino, em Jornal de Umbanda Sagrada. Fonte da imagem dos "Caboclinhos" de Pernambuco: Mangueboy.

4 de agosto de 2009

O equilíbrio da Natureza


Conta uma lenda indígena norte-americana que, nos primórdios da história da terra, houve uma grande conferência de todos animais existentes, em protesto contra a atitude devastadora e ignorante do Homem diante do meio ambiente.
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"A natureza é a grande mãe de todos os bichos e o homem deseja submete-la aos seus caprichos" - denunciou a serpente, cobrando de todos uma atitude.
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"A única forma é faze-lo sentir na própria pele o efeito de seus atos, mesmo que isso leve muitas gerações" - ponderou o coiote. E assim, ficou decidido que cada animal se transformaria em uma doença humana: o leão seria os males do coração; o elefante, a obesidade; os equinos, as doenças de pele. E quanto mais o Homem destruísse a fauna, mais seria vítima da vingança dos espíritos animais na forma de doenças..

Segundo a lenda, então, o mundo vegetal sentiu compaixão pelo Homem e decidiu ajudá-lo. E as plantas se transformaram em remédios, uma para cada tipo de doença gerada pelos instintos animais. Às plantas mais nobres, no entanto, foi dada a missão de despertar a consciência, para que um dia o Homem aprendesse a viver em harmonia com a terra e cumprisse seu destino.
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Fonte: Lenda Sioux, adaptação por Marcelo Bolshaw Gomes. Na imagem, Cernunos.

Poesia Ashiwi

"Os nossos grandes antepassados falavam em conjunto.
Levantaram-se e olharam-se, caminhando.
Inclinaram-se e saíram do quarto mundo, os seus tesouros estreitados contra o peito.
Inclinaram-se e saíram do mundo de espuma, os seus tesouros estreitados contra o peito.
Inclinaram-se e saíram do mundo de barro, os seus tesouros estreitados contra o peito.
Inclinaram-se e saíram do mundo da beira, os seus tesouros estreitados contra o peito.
Inclinaram-se e saíram.
Vieram até ao seu Pai, o Sol, e respiraram o alento sagrado da luz do dia."

Os Zuni, Zuñi, ou Ashiwi são uma tribo nativa norte-americana, e um dos chamados povos pueblo, a maioria deles vivendo no povoado de Zuñi, no oeste do estado do Novo México. Zuñi fica 55 km sul da cidade de Gallup e tem uma população de 12 mil pessoas - 80% descendentes de nativos norte-americanos. Os zuni falam a língua zuni, uma língua única, não relacionada a nenhum outro Povo Pueblo. Os membros da tribo continuam a praticar sua religião, com seus ritos sagrados.

Conheçam o site Zuni. Fonte da imagem: First American

3 de agosto de 2009

Consciência plurinacional

Ontem, 2 de Agosto de 2009, a Bolívia comemorou seu Dia do Índio com uma grande festa em Camiri, quando foi entregue o texto final da Autonomia Indígena, que no prazo de três semanas deve ser referendada pelas municipalidades que desejem inserir-se na proposta.

De acordo com o texto da nova Constituição boliviana, que criou o Estado Plurinacional de Bolivia, são criadas várias autonomias regionais e étnicas, sem uma clara hierarquia e uma sendo responsável por fiscalizar a outra. Além do reconhecimento das línguas existentes antes da invasão espanhola – muitas delas usadas até hoje em concorrência com o espanhol -, passa a ser válido o poder dos indígenas de administrarem os próprios territórios, o direito a tratamentos de saúde gratuitos que respeitem os conhecimentos das medicinas alternativas e aos lucros gerados pelos recursos não-renováveis que saiam das propriedades comunitárias. Quem desejar também poderá expressar na carteira de identidade a qual povo pertence – além do boliviano.
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Sendo a mais específica das autonomias previstas na nova Constituição, a indígena-originária “consiste no autogoverno como exercício da livre determinação das nações e dos povos indígenas originários camponeses”. Cada povo deverá definir se quer ou não a autonomia, que prevê que essas comunidades devam gerir seus patrimônios históricos e culturais e os recursos do solo – como hidrocarbonetos, por exemplo. Além disso, quem decidir pela autonomia deverá definir a própria forma de organização de acordo com os costumes tradicionais, inclusive no que diz respeito à Justiça, com a formação de tribunais próprios compostos por moradores locais.
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O governo boliviano veio realizando estudos de forma a determinar quantos são os povos originários ainda existentes no país. Segundo o Censo de População e Moradia de 2001, existiam 160 municípios na Bolívia onde mais de 50% de seus habitantes têm um idioma indígena como língua materna. Todos estes poderão aceder a este referendo sempre e quando seus conselhos municipais façam o trâmite a tempo. Ademais, existem 149 municípios que têm uma Terra Comunitária de Origem dentro de sua jurisdição. A cifra se eleva a 187 municípios quando se toma como referência a auto-identificação étnica.
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Vários territórios indígenas mostraram em Camiri seus avanços para converterem-se em municípios indígenas. O mais adiantado de todos é o Território Indígena de Lomerío, que já tem uma resolução de suas organizações, declarando-se autônomo, e redigiu sua proposta de estatuto. Também apresentaram suas resoluções os municípios de Jesús de Machaca (sede dos ponchos rojos), os quechuas cochabambinos de Rajaipampa, os potosinos de Chayanta (berço de Juan Huallparrimachi), Chaqui, Tarabuco, Mojocoya (em Chuquisaca) e J’acha Carangas em Oruro.
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Em meio a todas as nações indígenas presentes à cerimônia em Camiri, destacaram-se os chamados afro-bolivianos, o que indica que para a nova Bolívia os direitos dos povos indígenas aprovados há dois anos pela ONU são realmente extensivos a todas as etnias "de raiz", como esse grupo que vive no que restou de uma floresta na região de Los Yungas, Andes, em um simbólico reino. O som dos tambores pode ser ouvido na cerimônia, bem como a tradicional saya. A comunidade, que está localizada a três horas de La Paz, foi recentemente tema de reportagem da britânica BBC:
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Julio Bonifaz Pinedo disse à publicação que era o primeiro rei afro-boliviano do grupo. Orgulhoso ao lado da esposa Angélica, afro-boliviana com o tradicional traje andino (chapéu, saia em várias camadas e manta), Pinedo admitiu ter uma responsabilidade imensa porque precisa trabalhar muito pelo povo, e não tem meios para isso.

O rei Julio é, segundo a BBC, um dos muitos afro-bolivianos atingidos pela pobreza, e há poucos anos descobriu que era descendente direto de Bonifaz, rei tribal da África Central. A reportagem explica que quase dois anos atrás ele foi coroado numa cerimônia como o primeiro rei afro-boliviano, iniciativa cujo objetivo era fortalecer a causa do grupo e ganhar reconhecimento na nova Constituição do país.

O Bonifaz original foi trazido para a Bolívia como um escravo no século 16 para trabalhar nas minas de prata de Potosí, lembra a BBC. Como a maioria dos escravos que sobreviveram as minas, Bonifaz foi vendido posteriormente aos proprietários de terras nas plantações de Los Yungas, onde o clima é mais parecido com o da África Subsaariana.

Negligência

A reportagem diz que hoje, mais de 35 mil afro-bolivianos continuam a se sentir negligenciados em um país que recentemente aprovou a primeira Constituição “multi-étnica e multicultural”.

– Ainda há muita pobreza entre os afro-bolivianos, estamos entre os mais pobres do país – disse o rei Julio à BBC, enquanto mostrava sua humilde loja de conveniências, onde vende bananas e pão, entre outros mantimentos.

Tradicionalmente agricultores, os afro-bolivianos cultivam frutas cítricas, café e banana. Hoje, entretanto, muitos plantam coca, diz lembrar que Los Yungas é um dos dois lugares na Bolívia onde a coca – matéria prima da cocaína – pode ser cultivada legalmente, desde que em quantidades limitadas. Os bolivianos a têm cultivado por séculos, desde o império Inca.

Em entrevista à rede britânica, Irene Morales, afro-boliviana que cultiva coca em um pequeno e íngreme pedaço de terra, disse que a pobreza atual é semelhante à escravidão.

Podemos até não ser mais escravos, mas nós negros somos muito pobres, o que é semelhante à escravidão – disse. – Se não cuidarmos bem de nossas pequenas plantações, não temos nada, nada mesmo; e sempre fomos odiados e discriminados.

Os “cocaleros” afro-bolivianos adotaram, segundo a reportagem, essa tradição indígena e trabalham duro na plantação e colheita de coca. Mas agora, pela primeira vez desde que chegaram à Bolívia como escravos, acreditam que as atitudes em relação a eles estão mudando muito lentamente, diz a matéria.

A reportagem da BBC conversou também com o líder afro-boliviano Jorge Medina, locutor do programa African Roots (Raízes Africanas) na rádio Yungasna, na cidade de Chulumani. Medina disse à BBC que os negros não têm fronteiras. Para ele, os tambores conectam os negros de toda a América Latina e Caribe com a África, com as raízes no Senegal, Congo, Guiné e Angola.

Visitem o site Cultura Afro Boliviana. Leiam também: Escueta Relación de las Etnías Originarias , de Marcos Serrate Suárez.
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