23 de novembro de 2008

O trabalho das Pajés Yawanawa


Em 2006, o jornal britânico Independent chamou a atenção para o "ressurgimento da população indígena brasileira e do seu delicado equilíbrio entre adaptar o mundo moderno e a sua visão de mundo tradicional". Como exemplo das mudanças, foi citada a pajé Katia Luísa, da tribo dos Yawanawa, no Acre, a primeira mulher a ocupar essa função na história da tribo. De acordo com a reportagem, os Yawanawa, "como outras tribos, chegaram perto de desaparecer", mas hoje têm uma população de 620 pessoas e "devem ultrapassar os mil em dois anos". O jornal destacou a importância da primeira pajé como um exemplo de "deixar de lado objeções tradicionais" e cita as palavras do cacique Yawanawa, Taska: "O espírito é o espírito, não tem sexo, então, uma mulher pode ser iniciada no espiritual".

No mesmo ano, em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, cinco mulheres foram escolhidas para receber o prêmio Bertha Lutz, uma homenagem, realizada no Senado Federal, em reconhecimento às mulheres que atuam em defesa da cidadania, dos direitos humanos e políticos da mulher brasileira. Entre os vários currículos enviados ao Conselho Mulher-Cidadã Bertha Lutz, foi escolhido o da indígena acreana Raimunda Putani Yawanawá, primeira pajé mulher do Brasil.“Esse prêmio é um reconhecimento à nossa luta, uma forma de respeito às tradições do povo Yawanawá e de todos os povos indígenas brasileiros”, disse a pajé. “É um reconhecimento às mulheres do nosso povo. É uma prova de que as mulheres podem fazer qualquer coisa, um exemplo para nosso povo, para os jovens e crianças”, completou Kátia Yawanawá, irmã de Raimunda e também pajé.

Para se tornarem pajés, Raimunda e Kátia precisaram superar alguns obstáculos. Venceram o preconceito dos sábios de seu povo e passaram um ano isoladas na mata, comendo alimentos crus e tomando apenas uma bebida especial a base de milho. Fizeram o juramento ao Rare – raiz da planta mais sagrada para o povo Yawanawá, que representa o Criador – e se tornaram pajés. Agora, são guias e conselheiras espirituais da tribo, guardiãs dos usos, costumes e sabedoria de seu povo.

Fonte: Reviver Saúde Holística , Funai e Altino Machado

20 de novembro de 2008

Asháninkas, os Ashaninkas do Peru

Crianças ashaninka no Rio Cuti, foto de Carlos Montenegro

Chamados na bibliografia de épocas anteriores como andes, atis, chunchos, chascosos, kampas, cambas, tampas, thampas, komparias, kuruparias e campitis, os asháninkas foram tradicionalmente mais conhecidos como campas. Eles viviam dispersos em um vasto território que compreendia os vales dos rios Apurímac, Ene, Tambo, Perené, Pichis, um setor do Alto Ucayali e a zona interfluvial do Gran Pajonal, organizados em pequenos grupos residenciais. O eixo do sistema de intercâmbio que gera a coesão de dita sociedade e que contrarresta o efeito centrífugo da guerra intragrupal, é o intercâmbio de sal gema, extraída do chamado Cerro do Sal ou das aflorações de água salgada, situadas nas cabeceiras do rio Perené.

Antes do contato europeu, os asháninkas mantinham relações de intercâmbio com as populações andinas, fato atestado pelos machados de bronze achados no território deste grupo. Estas rotas de intercâmbio continuaram sendo empregadas pelos comerciantes da zona de Tarma após o contato europeu, obtendo assim ferramentas de metal. A partir de 1635, os asháninkas começaram a ser evangelizados por dominicanos e franciscanos, sendo estes últimos que constituíram efetivamente a presença do Estado colonial espanhol em seu território. Os franciscanos fundaram inicialmente uma missão para os campas e amueshas próxima do atual povoado de La Merced. Até 1640 os franciscanos tinham sete centros nesta zona. Entretanto, foram destruídos por uma rebelião provocada pela chegada de mineradores espanhóis. Em 1671, os franciscanos restabeleceram as missões próximo ao Cerro do Sal e fundaram outras ao longo do rio Perené. Entretanto, em 1674, se produziu um levantamento dirigido por Fernando Torote, chefe asháninka instigado a parecer pelos piros, os quais tinham a interferência dos franciscanos no intercâmbio de sal entre eles e os asháninkas.

Em 1709, uma nova tentativa de evangelização, dirigida pelo Padre Francisco de San Joseph conseguiu avanços substantivos que em três décadas chegaram a 38 missões. Entretanto, as epidemias que assolaram aos povos reduzidos, assim como a rebelião de Juan Santos Atahualpa, provocaram nesta época o término da atividade missionária, fechando-se a região a colonos e missionários por cerca de cem anos.

Foi só em 1869 que a resistência armada dos asháninkas se viu quebrada no vale de Chanchamayo e se fundou nesse ano a cidade de La Merced não longe do lugar da antiga missão franciscana de Quillazú. As hostilidades continuaram até o estabelecimento em 1889 da Peruvian Corporation, empresa de capitais ingleses à qual se concederam 500 mil hectares nas margens dos rios Perené e Ene em território asháninka. Com esta concessão se iniciou na Selva Central peruana a penetração colonizadora que continua até hoje.

Nos vales adjacentes ao Perené, com o início do "boom" do caucho se instaurou o comércio de escravos campas, especialmente de mulheres e crianças, que continuou até a década de 50 do século 20. Por volta de 1920, missionários adventistas iniciaram um trabalho missionário na área, sendo seguidos em 1950 pelo Instituto Lingüístico de Verão. Em 1965, os asháninkas, em particular os do Gran Pajonal e Satipo, se viram envolvidos na violência gerada pelos enfrentamentos entre as guerrilhas do Movimento de Esquerda Revolucionária (MIR) e o exército peruano.

Em 1974, o Estado peruano criou a Lei de Comunidades Nativas que outorgou aos grupos indígenas garantias sobre setores de seu território tradicional. As aldeias que haviam aparecido como resultado das etapas de contato anteriores acolheram a esta legislação e, sob a pressão da colonização do território pelos camponeses andinos, se foram criando muitos outros assentamentos. Entre 1986 e 1996, os asháninkas se viram envolvidos na violência desatada, tanto pelos grupos Sendero Luminoso e Movimiento Revolucionario Túpac Amaru, assim como pelas ações desenvolvidas pelas forças antisubversivas para controlar estes movimentos.

Na atualidade, as ações de exploração petroleira nas bacias dos rios Ene, Tambo, Perené e Pichis representam novos riscos para a sociedade asháninka no Peru. Nesse país vivem hoje nos departamentos de Ayacucho (Sivia), Cusco (Echarate e Quimbiri), Huánuco (Puerto Inka, Tornavista e Yuyupichis), Junin, Pasco (Puerto Bermúdez) e Ucayali, nos rios Baixo Apurímac, Ene, Tambo, Satipo, Pichis, Baixo Urubamba, Alto Ucayali, Pachitea e Juruá, assim como nos principais afluentes. No Brasil, o município acreano de Marechal Taumaturgo é a principal sede dos grupos ashaninka, que criaram a Apiwtxa como sua Escola da Floresta, alcançando um novo patamar de comunicação e interação com a sociedade local.

Fontes: Peru Ecologico e Ecotribal

Yaminahuas, os Jaminawas do Peru

Alto Rio Juruá - índios das tribos yaminahua e amahuaca, no rio Amoáca - 1913
Não se dispõe de documentação histórica sobre a região habitada pelos yaminahuas senão a partir de mediados do século XIX, em que se realizaram as primeiras explorações. Entretanto se pode assumir que desde o século XVIII a presença européia na bacia do rio Ucayali teve efeitos indiretos entre esta sociedade com o início da circulação de ferramentas de metal nas redes interétnicas de intercâmbio e a provável disseminação dos vírus da varíola e a influenza que podem haver provocado epidemias não registradas e elevada mortandade.

O primeiro contato direto dos yaminahuas com o mundo ocidental aconteceu em fins do século XIX durante o período do caucho. Tal contato foi regular e violento, marcado de um lado pelo rapto de mulheres e crianças que se converteriam em escravos dos patrões e pelo assalto dos acampamentos caucheros com o objeto de roubar machados, facas, roupa e outros produtos da tecnologia ocidental. O efeito imediato deste contato inicial foi uma drástica queda demográfica.

Como conseqüência disto, houve uma distorsão da estrutura dos assentamentos locais e das relações em seu interior. Os pequenos grupos locais, antes autônomos, se viram forçados a fundir-se formando comunidades mistas, o que trouxe como resultado um incremento dos conflitos.

Com o fim da era do caucho e a retirada da população forasteira da área, os yaminahuas tiveram um período de calma relativa; entretanto, em anos posteriores se produziram sucessivos assaltos dos yaminahuas aos povos mestiços com o objeto de roubar-lhes objetos de metal.

A partir de 1930, chegou na zona uma nova onda de população mestiça, dedicada à extração de madeiras nobres, e na década de 40 os yaminahuas do Purus foram recrutados para a produção madeireira por um grupo de piros e marinahuas a serviço de um patrão. Nos anos 50 foram visitados, tanto pelos missionários evangélicos do ILV, como pelos da missão dominicana. Estes últimos, transferiram um pequeno grupo yaminahua do Purus para a missão dominicana de Sepahua, localizada sobre o rio Urubamba.

As intensas pressões exercidas em seu território no Peru durante os anos 70, por parte dos madeireiros, os fez mudar para áreas tradicionalmente ocupadas pelos amahuacas, gerando conflitos violentos entre ambos grupos.

Localização geográfica no Peru: Região Ucayali, Provincia de Atalaya, províncias de Raimondi, Sepahua e Yurua. Em Madre de Dios, no Tahuamanu. Rios: Purus, Curanja, Piedras, Mapuya, Huacapishtea, Tahuamanu, Cashpajali e Sepahua. Estabelecidos no Brasil nos rios Chandless e Juruá, nos municípios de Sena Madureira (Iaco) e Cruzeiro do Sul, no Acre. Também habitam na Bolivia, no Rio Acre, de onde muitos vieram a formar a Terra Indígena Cabeceiras do Rio Acre, no município acreano de Assis Brasil.

Fonte: Peru Ecologico

Cashinahuas, os Kaxinawás do Peru


Vídeo de margolaine


Os cashinahuas foram encontrados pelos invasores europeus já no século XIX nas cabeceiras dos rios Yurúa e Curanja no território peruano e nas do Envira e Tarauacá em território hoje brasileiro. Os patrões caucheros, com os quais entraram em contato, os dispersaram por diferentes territórios, reduzindo-se a população deste grupo como resultado de epidemias e abusos.

Como conseqüência deste processo violento, muitos cashinahuas no Brasil optaram por integrar-se aos mestizos. Nem todos estavam de acordo com esta decisão e, até 1908, uma parte deles migrou para o Peru onde ficaram isolados até aproximadamente 1945. Só então buscaram o contato com os brancos a fim de procurar ferramentas já que as que tinham haviam acabado. Assim, alguns retornaram ao Envira no Brasil e outros se mudaram para o Curanja onde iniciaram um contato com comerciantes aos quais entregavam caucho em troca de mercadorias diversas.

Até 1951, foram vítimas de uma epidemia após a qual se mudaram para perto da população branca, e começaram a usar roupa ocidental. Até 1970, o ILV (protestante)estabeleceu uma escola bilingüe e um posto médico na comunidade de Balta no rio Curanja. De lá muitos regressaram ao Brasil formando a Aldeia Cana Recreio, no município acreano de Manoel Urbano, e após a criação do município de Santa Rosa do Purus outro grupo veio do Peru para a Terra Indígena Alto Purus onde formaram a Aldeia Porto Rico.

Localização: Departamento de Ucayali, Província do Alto Purus, município de Esperanza - rios Curanja e Alto Purús, no Peru. No Acre habitam na bacia dos rios Alto Envira e tributários, assim como nos rios Jordão, Humaitá, Juruá e Breu, e são comumente chamados "kaxinawá".

Fonte: Peru Ecologico

Piros, os Manchineri do Peru


Os piros tiveram seus primeiros contatos com os espanhóis em mediados do século XVII, quando os missionários franciscanos e jesuítas chegaram em suas explorações às zonas dos rios Tambo e Alto Ucayali. Neste primeiro avanço franciscano deram morte aos padres Herrera e Biedma. Nos últimos anos desse século, o jesuíta Richter visitou este grupo e redigiu um catecismo em seu idioma.

Em finais do século XVIII, os piros estenderam seu território até os rios Tambo, Ucayali e Cujar. Em 1795, se fundou a primeira missão piro e, em 1809, a segunda. Após as guerras da Independência peruana e o fechamento da sede missional de Santa Rosa de Ocopa, em inícios do século XIX, os missionários se retrairam. Entretanto, a atividade missionária com os piros continuou a cargo do Padre Plaza desde a missão de Sarayacu.

Em princípios do presente século, os piros se viram envolvidos na violência desatada pelos patrões caucheros, sendo recrutados como mão de obra para a extração de gomas e como caçadores de escravos. Uma proporção importante deste grupo foi levada fora de seu território tradicional pelos patrões, que geraram sua dispersão.

A partir de 1950, os piros começaram a ser evangelizados pelo Instituto Lingüístico de Verão e missões dominicanas, sob cuja assessoria se constituoram uma série de assentamientos que, em 1975, se acolheram à Lei de Comunidades Nativas.

LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA:
CUSCO - LA CONVENCIÓN - ECHARATE
LORETO - UCAYALI - PAMPA HERMOSA
MADRE DE DIOS - MANU - MADRE DE DIOS
MADRE DE DIOS - TAHUAMANU - IÑAPARI
UCAYALI - ATALAYA - RAYMONDI
UCAYALI - ATALAYA - SEPAHUA

Rios no Peru: Urubamba, Cushabatay, Madre de Dios e Las Piedras. Conhecidos no Acre como manchineri, se localizam no rio Purus, entre a boca do rio Iaco e do Curinaha e nos rios Maloca e Caspahá.

Fonte: Peru Ecologico

Madija, os Kulinas do Peru

Foto: Renata Freitas

As primeiras informações sobre os madija os descrevem como uma sociedade guerreira de agricultores e caçadores que habitavam os rios Juruá e Purus, e que atacavam frequentemente a seus vizinhos. Em 1869, o explorador inglês Chandless fez uma breve resenha deste grupo. Posteriormente, o sacerdote francês Constantin Tastevin, que explorou a região entre 1908 e 1914 com fins missionários, os encontrou na zona do rio Xirúa e na do Tarauacá, afluentes do Juruá no Brasil. Foi só a partir de 1890, que se deu inicio à exploração intensiva dos recursos desta zona com o "boom" do caucho, estabelecendo os kulinas relações permanentes com os patrões dedicados a esta atividade.

Após este período, os kulinas se internaram novamente na mata levando uma vida seminômade e evitando contato com os brancos. Em 1940, se instalaram na zona do Alto Purus, adotando elementos da cultura material das populações ribeirinhas, tais como a canoa e a rede de pesca.

Em 1954, os missionários do Instituto Lingüístico de Verão (ILV) se estabeleceram em um lugar denominado Shamboyacu nas proximidades do rio Purus, e depois de um tempo se transferiram com a população kulina - ali congregada - para a hoje Aldeia San Bernardo, no município peruano de Esperanza.

Rios que habitam: Alto Purus e Santa Rosa, no Peru. No Acre. na bacia dos rios Alto Purus, Chandless, Acarauá, Tarauacá e Envira, nos municípios de Santa Rosa do Purus, Manoel Urbano, Sena Madureira e Feijó.

Fonte: Peru Ecologico

19 de novembro de 2008

Ameríndia

Pintura de Marco Lenisio

De volta ao Acre, após a viagem com o pajé-mirim Ixã Dua Bake, da Terra Indígena Kaxinawá do Alto Jordão, que estamos paulatinamente relatando no blog Txaná Uri, me mudei para a cidade fronteiriça de Assis Brasil, onde me dedicarei à extensão indígena agora pela Secretaria Estadual de Extensão Agroflorestal e Produção Familiar, antiga Emater. Quinze anos atrás acompanhei o professor Julio Jaminawa em viagem à sua aldeia Ananaia, na Terra Indígena Cabeceiras do Rio Acre, em três dias de caminhada pelo leito do rio na temporada de verão. Agora regressei com melhores condições de apoiar as comunidades indígenas do município, pois como engenheiro florestal poderei desenvolver bons projetos de educação ambiental e fruticultura junto das populações jaminawa e manchineri, o que deve enriquecer em breve as páginas deste nosso blog.
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Já estive me atualizando sobre a situação do movimento indigenista nas associações e organizações jaminawa e manchineri, e como uma das principais demandas de ambas etnias (uma de língua pano e a outra de língua aruak) é o resgate de sua cultura, um dos caminhos que tenho pensado seria a criação no município de uma "Comissão Ameríndia para o Fortalecimento das Identidades Étnicas Binacionais na Amazônia". Inclusive recebemos no município estes dias um grupo de estudantes secundaristas da etnia Piro da região Ucayali, no Peru, que vem a ser a mesma etnia Manchineri do Brasil, pena que a visita foi muito breve. Várias etnias hoje acreanas têm aldeias na selva peruana das quais permanecem afastados por questões nacionais além dos motivos logísticos de terem se distanciado ou desmembrado quando da invasão da região por caucheros peruanos e seringalistas brasileiros, e sua reaproximação em projetos de interesse comum possibilitaria a recomposição de sua memória cultural, hoje em estado fragmentário.
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Seria muito bom utilizar as modernas tecnologias para essa reaproximação e essa conscientização de sua identidade binacional (ou trinacional em alguns casos), como têm feito os Ashaninka, e tais projetos teriam também o cunho de defesa dos direitos humanos dos povos indígenas, como por exemplo na livre circulação de bens culturais (especialmente o artesanato) entre grupos étnicos divididos entre um lado e outro da fronteira. Parceiros dispostos a fortalecer essa idéia e abrir caminhos a esses projetos de desenvolvimento e resgate cultural serão muito benvindos! Amigos, a este respeito ou sobre qualquer outro aspecto de interculturalidade conexo, por favor escrevam-me pelo e-mail alcanave@gmail.com: inclusive para remeterem textos que desejem publicar neste nosso blog Karipuna. Meu nome é Eduardo "Txaná Shanê".
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Sobre os Jaminawa, não deixem de ler: "O Saber é Estranho e Amargo - Sociologia e Mitologia do Conhecimento entre os Yaminawa", de Oscar Calavia, Miguel Carid e Laura Pérez (UFSC). e "Nawa, Inawa", de Oscar Calavia. Sobre os Manchineri e a Terra Indígena Mamoadate, uma sugestão é o artigo "Etnozoneamento, uma importante ferramenta de gestão ambiental em terras indígenas", na coluna Papo de Índio escrita pelos txais Terry Aquino e Marcelo Piedrafita. Abraços a todos!

1 de novembro de 2008

Naiá e Jaci

Pintura de Marco Lenísio
"Há muitos anos, nas margens do majestoso Rio Amazonas, Naiá, uma jovem e bela índia ficava a admirar e contemplar por longas horas a beleza da lua branca e o mistério das estrelas. Enquanto o aroma da noite tropical enfeitava aqueles sonhos, a lua deitava uma luz intensa nas águas, fazendo Naiá subir numa árvore alta para tentar tocar a lua.

Ela não obteve êxito.

No próximo dia, ela decidiu subir as montanhas distantes para sentir com suas mãos a maciez aveludada do rosto da lua, mas novamente ela falhou.

Quando chegou lá, a lua estava tão alta que retornou à aldeia desapontada.

Ela acreditava que a Lua era um bonito guerreiro - Jaci, e sonhava em ser a noiva desse bravo guerreiro.

Na noite seguinte, Naiá deixou a aldeia esperando realizar seu sonho.

Ela tomou o caminho do rio para encontrar a lua nas negras águas. Refletida no espelho das águas, lá estava a Lua, imensa, resplandecente.

Naiá, em sua inocência, pensou que a lua tinha vindo se banhar no rio e permitir que fosse tocada.

Ela mergulhou nas profundezas das águas desaparecendo para sempre.

A lua, sentindo pena daquela tão jovem vida agora perdida, transformou Naiá em uma flor gigante - a Vitória Régia - com um inebriante perfume e pétalas que se abrem nas águas para receber em toda sua superfície, a luz da lua".

Fonte: Luxuriante