20 de novembro de 2008

Asháninkas, os Ashaninkas do Peru

Crianças ashaninka no Rio Cuti, foto de Carlos Montenegro

Chamados na bibliografia de épocas anteriores como andes, atis, chunchos, chascosos, kampas, cambas, tampas, thampas, komparias, kuruparias e campitis, os asháninkas foram tradicionalmente mais conhecidos como campas. Eles viviam dispersos em um vasto território que compreendia os vales dos rios Apurímac, Ene, Tambo, Perené, Pichis, um setor do Alto Ucayali e a zona interfluvial do Gran Pajonal, organizados em pequenos grupos residenciais. O eixo do sistema de intercâmbio que gera a coesão de dita sociedade e que contrarresta o efeito centrífugo da guerra intragrupal, é o intercâmbio de sal gema, extraída do chamado Cerro do Sal ou das aflorações de água salgada, situadas nas cabeceiras do rio Perené.

Antes do contato europeu, os asháninkas mantinham relações de intercâmbio com as populações andinas, fato atestado pelos machados de bronze achados no território deste grupo. Estas rotas de intercâmbio continuaram sendo empregadas pelos comerciantes da zona de Tarma após o contato europeu, obtendo assim ferramentas de metal. A partir de 1635, os asháninkas começaram a ser evangelizados por dominicanos e franciscanos, sendo estes últimos que constituíram efetivamente a presença do Estado colonial espanhol em seu território. Os franciscanos fundaram inicialmente uma missão para os campas e amueshas próxima do atual povoado de La Merced. Até 1640 os franciscanos tinham sete centros nesta zona. Entretanto, foram destruídos por uma rebelião provocada pela chegada de mineradores espanhóis. Em 1671, os franciscanos restabeleceram as missões próximo ao Cerro do Sal e fundaram outras ao longo do rio Perené. Entretanto, em 1674, se produziu um levantamento dirigido por Fernando Torote, chefe asháninka instigado a parecer pelos piros, os quais tinham a interferência dos franciscanos no intercâmbio de sal entre eles e os asháninkas.

Em 1709, uma nova tentativa de evangelização, dirigida pelo Padre Francisco de San Joseph conseguiu avanços substantivos que em três décadas chegaram a 38 missões. Entretanto, as epidemias que assolaram aos povos reduzidos, assim como a rebelião de Juan Santos Atahualpa, provocaram nesta época o término da atividade missionária, fechando-se a região a colonos e missionários por cerca de cem anos.

Foi só em 1869 que a resistência armada dos asháninkas se viu quebrada no vale de Chanchamayo e se fundou nesse ano a cidade de La Merced não longe do lugar da antiga missão franciscana de Quillazú. As hostilidades continuaram até o estabelecimento em 1889 da Peruvian Corporation, empresa de capitais ingleses à qual se concederam 500 mil hectares nas margens dos rios Perené e Ene em território asháninka. Com esta concessão se iniciou na Selva Central peruana a penetração colonizadora que continua até hoje.

Nos vales adjacentes ao Perené, com o início do "boom" do caucho se instaurou o comércio de escravos campas, especialmente de mulheres e crianças, que continuou até a década de 50 do século 20. Por volta de 1920, missionários adventistas iniciaram um trabalho missionário na área, sendo seguidos em 1950 pelo Instituto Lingüístico de Verão. Em 1965, os asháninkas, em particular os do Gran Pajonal e Satipo, se viram envolvidos na violência gerada pelos enfrentamentos entre as guerrilhas do Movimento de Esquerda Revolucionária (MIR) e o exército peruano.

Em 1974, o Estado peruano criou a Lei de Comunidades Nativas que outorgou aos grupos indígenas garantias sobre setores de seu território tradicional. As aldeias que haviam aparecido como resultado das etapas de contato anteriores acolheram a esta legislação e, sob a pressão da colonização do território pelos camponeses andinos, se foram criando muitos outros assentamentos. Entre 1986 e 1996, os asháninkas se viram envolvidos na violência desatada, tanto pelos grupos Sendero Luminoso e Movimiento Revolucionario Túpac Amaru, assim como pelas ações desenvolvidas pelas forças antisubversivas para controlar estes movimentos.

Na atualidade, as ações de exploração petroleira nas bacias dos rios Ene, Tambo, Perené e Pichis representam novos riscos para a sociedade asháninka no Peru. Nesse país vivem hoje nos departamentos de Ayacucho (Sivia), Cusco (Echarate e Quimbiri), Huánuco (Puerto Inka, Tornavista e Yuyupichis), Junin, Pasco (Puerto Bermúdez) e Ucayali, nos rios Baixo Apurímac, Ene, Tambo, Satipo, Pichis, Baixo Urubamba, Alto Ucayali, Pachitea e Juruá, assim como nos principais afluentes. No Brasil, o município acreano de Marechal Taumaturgo é a principal sede dos grupos ashaninka, que criaram a Apiwtxa como sua Escola da Floresta, alcançando um novo patamar de comunicação e interação com a sociedade local.

Fontes: Peru Ecologico e Ecotribal

3 comentários:

Dona Sra. Urtigão disse...

Meu caro,
Durante muito tempo em minha vida acalentei um sonho, o de trabalhar junto a comunidades tradicionais, mas por necessidades ou consequencias de algumas escolhas - das quais não me arrependo- esse sonho permaneceu sonho. E agora, as mesmas escolhas apontam para outras necessidades, alem claro da idade em que estou. Assim voce pode imaginar o enorme prazer que me dá todo o aprendizado que obtenho nestas páginas - e tenho ido lááá atras, palmilhando seu blog. Congratulações e, novamente, agradecida pela viagens que voce me proporciona.

alcanave@gmail.com disse...

obrigado, querida, a casa é nossa, viu < abração aí

Jeronimo M.M. disse...

Buen resumen, sólo añadir una nota sobre la importancia que tenían las minas de sal en terriotorio ashaninka y que eran punto de partida de extensas redes de comercio entre sierra y selva. Y recomendar el libro "La sal de cerros" pionero de la antropología peruana. Este página tiene amplia infromación al respecto

http://www.servindi.org/actualidad/1554