19 de novembro de 2008

Ameríndia

Pintura de Marco Lenisio

De volta ao Acre, após a viagem com o pajé-mirim Ixã Dua Bake, da Terra Indígena Kaxinawá do Alto Jordão, que estamos paulatinamente relatando no blog Txaná Uri, me mudei para a cidade fronteiriça de Assis Brasil, onde me dedicarei à extensão indígena agora pela Secretaria Estadual de Extensão Agroflorestal e Produção Familiar, antiga Emater. Quinze anos atrás acompanhei o professor Julio Jaminawa em viagem à sua aldeia Ananaia, na Terra Indígena Cabeceiras do Rio Acre, em três dias de caminhada pelo leito do rio na temporada de verão. Agora regressei com melhores condições de apoiar as comunidades indígenas do município, pois como engenheiro florestal poderei desenvolver bons projetos de educação ambiental e fruticultura junto das populações jaminawa e manchineri, o que deve enriquecer em breve as páginas deste nosso blog.
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Já estive me atualizando sobre a situação do movimento indigenista nas associações e organizações jaminawa e manchineri, e como uma das principais demandas de ambas etnias (uma de língua pano e a outra de língua aruak) é o resgate de sua cultura, um dos caminhos que tenho pensado seria a criação no município de uma "Comissão Ameríndia para o Fortalecimento das Identidades Étnicas Binacionais na Amazônia". Inclusive recebemos no município estes dias um grupo de estudantes secundaristas da etnia Piro da região Ucayali, no Peru, que vem a ser a mesma etnia Manchineri do Brasil, pena que a visita foi muito breve. Várias etnias hoje acreanas têm aldeias na selva peruana das quais permanecem afastados por questões nacionais além dos motivos logísticos de terem se distanciado ou desmembrado quando da invasão da região por caucheros peruanos e seringalistas brasileiros, e sua reaproximação em projetos de interesse comum possibilitaria a recomposição de sua memória cultural, hoje em estado fragmentário.
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Seria muito bom utilizar as modernas tecnologias para essa reaproximação e essa conscientização de sua identidade binacional (ou trinacional em alguns casos), como têm feito os Ashaninka, e tais projetos teriam também o cunho de defesa dos direitos humanos dos povos indígenas, como por exemplo na livre circulação de bens culturais (especialmente o artesanato) entre grupos étnicos divididos entre um lado e outro da fronteira. Parceiros dispostos a fortalecer essa idéia e abrir caminhos a esses projetos de desenvolvimento e resgate cultural serão muito benvindos! Amigos, a este respeito ou sobre qualquer outro aspecto de interculturalidade conexo, por favor escrevam-me pelo e-mail alcanave@gmail.com: inclusive para remeterem textos que desejem publicar neste nosso blog Karipuna. Meu nome é Eduardo "Txaná Shanê".
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Sobre os Jaminawa, não deixem de ler: "O Saber é Estranho e Amargo - Sociologia e Mitologia do Conhecimento entre os Yaminawa", de Oscar Calavia, Miguel Carid e Laura Pérez (UFSC). e "Nawa, Inawa", de Oscar Calavia. Sobre os Manchineri e a Terra Indígena Mamoadate, uma sugestão é o artigo "Etnozoneamento, uma importante ferramenta de gestão ambiental em terras indígenas", na coluna Papo de Índio escrita pelos txais Terry Aquino e Marcelo Piedrafita. Abraços a todos!