O lento extermínio da Nação Toba
A maioria dos internos no hospital público do povoado de Castelli, no Chaco argentino, são tobas em estado de total desnutrição e com outras doenças vinculadas à pobreza.
Os tobas são um dos poucos grupos indígenas que restam na Argentina e, segundo grupos de direitos humanos, se encontram em situação de desastre humanitário. Vivem no chamado Bosque de El Impenetrable, o lugar mais pobre na região mais pobre do país: a província de Chaco, no nordeste argentino. Eles não parecem pensar tanto nas eleições presidenciais do 28 de outubro, e sim em como sobreviver um dia a mais em meio ao abandono.
Mais de 10.000 tobas vivem dispersos em El Impenetrable, uma floresta que já não faz honra a seu nome porque a talha indiscriminada de árvores e o avanço da agricultura abriram grandes feridas em sua vegetação cerrada. Como foi perdida a rica flora e fauna do lugar, os indígenas ficaram sem seus meios de sustento: a recolha de frutos e a caça.
"O desastre se produz quando começa a penetração, quando entram máquinas para talhar matas de quebrachos centenários e abrir espaços para cultivar a soja, hoje um grande negócio para a Argentina", disse à BBC Mundo o escritor chaquenho Mempo Giardinelli.
"E para onde vão os indígenas? O que fazem com suas tradições? São abandonados. Aparecem assim comunidades completamente despojadas de seu habitat".
A BBC viajou ao povoado de Castelli, às portas de El Impenetrable. Lá um hospital público abriga a dezenas de tobas extremamente magros, recostados em camas sujas dentro de salas infestadas por moscas. Os adultos têm o olhar perdido, parecem esperar a morte. Os recém-nascidos, com olhos arregalados, choram desconsolados.
A maioria dos tobas hospitalizados sofrem de desnutrição e doenças associadas à extrema pobreza, como a tuberculose e o mal de Chagas.
Ricardo García, que se recupera de uma pneumonia, conta: "Falta alimento em minha casa, às vezes passamos uma semana sem comer".
Nos últimos meses se reportaram mais de uma dúzia de tobas mortos por desnutrição, algo que comoveu a um país que se orgulha de crescer a um ritmo anual de até 8%. Entretanto, o ministro da Saúde de Chaco, Ricardo Mayol, deu à BBC Mundo outra versão sobre a causa dos falecimentos. Para ele, os indígenas morreram "por serem portadores de doenças terminais como câncer, afecções metabólicas, acidentes cérebro-vasculares, apesar de também estarem desnutridos".
"Nós estamos trabalhando para assistir aos tobas. Mas os falecidos eram, em geral, pacientes que para nós resultava muito difícil manter sob a proteção estatal, porque se negavam ou migravam".
Grupos de direitos humanos se mostraram em desacordo com Mayol, afirmando que não se pode desconhecer que a desnutrição está na base do padecimento dos tobas e que deve se fazer mais para chegar às comunidades indígenas e atendê-las.
Depois de visitar o hospital de Castelli, entramos nos sertões da floresta de El Impenetrable. Acompanhou-nos Rolando Núñez, do Centro de Estudos Nelson Mandela, uma organização de direitos humanos que distribui alimentos aos tobas.
"Estas famílias vivem em condições de profunda pobreza e fome permanente. Para nós é uma situação de desastre humanitário ou de genocídio étnico", comentou Núñez à BBC Mundo.
Leiam a reportagem completa (em espanhol) em "Los más pobres entre los pobres - La Otra Argentina que vota", de Max Seitz.
Fonte: BBC Mundo. Tradução pelo autor do blog para esta publicação sem fins comerciais.
Mais de 10.000 tobas vivem dispersos em El Impenetrable, uma floresta que já não faz honra a seu nome porque a talha indiscriminada de árvores e o avanço da agricultura abriram grandes feridas em sua vegetação cerrada. Como foi perdida a rica flora e fauna do lugar, os indígenas ficaram sem seus meios de sustento: a recolha de frutos e a caça.
"O desastre se produz quando começa a penetração, quando entram máquinas para talhar matas de quebrachos centenários e abrir espaços para cultivar a soja, hoje um grande negócio para a Argentina", disse à BBC Mundo o escritor chaquenho Mempo Giardinelli.
"E para onde vão os indígenas? O que fazem com suas tradições? São abandonados. Aparecem assim comunidades completamente despojadas de seu habitat".
A BBC viajou ao povoado de Castelli, às portas de El Impenetrable. Lá um hospital público abriga a dezenas de tobas extremamente magros, recostados em camas sujas dentro de salas infestadas por moscas. Os adultos têm o olhar perdido, parecem esperar a morte. Os recém-nascidos, com olhos arregalados, choram desconsolados.
A maioria dos tobas hospitalizados sofrem de desnutrição e doenças associadas à extrema pobreza, como a tuberculose e o mal de Chagas.
Ricardo García, que se recupera de uma pneumonia, conta: "Falta alimento em minha casa, às vezes passamos uma semana sem comer".
Nos últimos meses se reportaram mais de uma dúzia de tobas mortos por desnutrição, algo que comoveu a um país que se orgulha de crescer a um ritmo anual de até 8%. Entretanto, o ministro da Saúde de Chaco, Ricardo Mayol, deu à BBC Mundo outra versão sobre a causa dos falecimentos. Para ele, os indígenas morreram "por serem portadores de doenças terminais como câncer, afecções metabólicas, acidentes cérebro-vasculares, apesar de também estarem desnutridos".
"Nós estamos trabalhando para assistir aos tobas. Mas os falecidos eram, em geral, pacientes que para nós resultava muito difícil manter sob a proteção estatal, porque se negavam ou migravam".
Grupos de direitos humanos se mostraram em desacordo com Mayol, afirmando que não se pode desconhecer que a desnutrição está na base do padecimento dos tobas e que deve se fazer mais para chegar às comunidades indígenas e atendê-las.
Depois de visitar o hospital de Castelli, entramos nos sertões da floresta de El Impenetrable. Acompanhou-nos Rolando Núñez, do Centro de Estudos Nelson Mandela, uma organização de direitos humanos que distribui alimentos aos tobas.
"Estas famílias vivem em condições de profunda pobreza e fome permanente. Para nós é uma situação de desastre humanitário ou de genocídio étnico", comentou Núñez à BBC Mundo.
Leiam a reportagem completa (em espanhol) em "Los más pobres entre los pobres - La Otra Argentina que vota", de Max Seitz.
Fonte: BBC Mundo. Tradução pelo autor do blog para esta publicação sem fins comerciais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário