17 de outubro de 2007

Direitos internacionais

Bruce “Dois Cães” Bozsum, cacique Mohegan, entrega um cachimbo da paz esculpido à mão para a Rainha Elizabeth II, na cerimônia na Catedral de Southwark (foto: Kelvin Gane)

Os Mohegans são uma tribo ameríndia atualmente baseada no estado norte-americano de Connecticut, cujo líder ou “sachem,” Mahomet Weyonomon, viajou a Londres em 1735 para pedir ao Rei King George II para suspender a invasão dos colonos ingleses na sua área tribal. Desgraçadamente, Mahomet morreu de varíola em Londres em 1736 sem ter podido apresentar sua petição ao Rei. Por ser um estrangeiro, ele não teve permissão de ser sepultado em qualquer dos cemitérios da Cidade de Londres, então foi foi enterrado em uma sepultura anônima no jardim da Catedral de Southwark. Em novembro de 2006, uma cerimônia em Londres celebrou a vida de Mahomet, dedicando-lhe uma pedra memorial de granito rosa trazido das terras Mohegan em Connecticut, desenhada pelo escultor Peter Randall-Paige. A cerimônia incluiu danças rituais pelos Mohegans que entregaram à Rainha Elizabeth uma cópia da petição original de Mahomet.

Entretanto, a recente aprovação da Declaração Universal dos Direitos dos Povos Indígenas na ONU teve voto contrário dos países chamados "wasp" (white, anglo-saxon and protestant: branco, anglo-saxão e protestante): Estados Unidos, Canadá, Austrália, Nova Zelândia e Reino Unido. Por fim vitoriosas, delegações de uma dezena de países americanos festejaram no 11 de outubro de 2007, nas imponentes ruínas pré-colombianas de Tiwanacu, em um planalto boliviano, O presidente boliviano Evo Morales e a guatemalteca prêmio Nobel da Paz Rigoberta Menchú lideraram a celebração, durante a qual os índios apresentaram oferendas de agradecimentos ao sol e à Pachamama (mãe terra), considerados deuses das tradições andinas. A visita a Tiwanacu, a 70 km a oeste de La Paz, aconteceu no segundo dos três dias de celebrações organizadas pelo governo de Morales, que quer converter em lei a declaração a favor dos indígenas aprovada no mês passado pelas Nações Unidas. "Este é o início da verdadeira luta dos povos indígenas", disse Menchú, ao homenagear os líderes que lutaram no passado pelo reconhecimento aos direitos dos habitantes originais da América.

A respeito, podemos ler no recente artigo de Adriano Moreira, "Os Direitos dos Indígenas":

"(...) Mantém-se como referência incontornável do drama desses indígenas a história da extinção, praticamente total, dos peles-vermelhas que ocupavam o território dos actuais Estados Unidos da América. A mensagem que os iroqueses enviaram ao Congresso, e de que Tocqueville deixou registo inapagável, diz o seguinte: "Pela vontade do nosso Pai Celeste que governa o Universo, a raça dos índios da América tornou-se pequena; a raça branca tornou-se grande e famosa. Quando os vossos antepassados chegaram às nossas margens, o homem vermelho era forte e, ainda que ignorante e selvagem, recebeu-os com bondade e permitiu-lhes repousar os seus pés entorpecidos sobre a terra firme... o índio era então o senhor, e o homem branco o suplicante. Hoje, tudo mudou: a força do homem vermelho tornou-se fraqueza... as tribos do Norte, tão faladas outrora entre nós pelo seu poderio, quase já desapareceram. Tal foi o destino do homem vermelho da América. Eis-nos aqui os últimos da nossa raça: é-nos também necessário desaparecer?" (...) A resposta não diz apenas respeito aos iroqueses, porque a sua voz assumira o lamento dos indígenas de todo o continente, e dos que se encontram na mesma ameaçadora contingência em todas as latitudes: a resposta assume que "povos indígenas sofreram injustiças históricas como resultado, inter alia, da colonização com expropriação das suas terras, territórios e recursos, impedindo-os assim de exercer, em particular, o seu direito ao desenvolvimento de acordo com as suas necessidades e interesses". Finalmente temos uma resposta à petição dos iroqueses, prometendo aos sobrantes que não terão necessidade de morrer, que cada indígena terá direito à nacionalidade, que cada grupo terá o direito de viver em liberdade, paz e segurança, um processo que apela a muitas dezenas de soberanias. É impossível deixar de sublinhar que entre os poucos países que recusaram o voto à declaração está o destinatário da petição dos iroqueses, do qual se espera o impulso construtivo do arrependimento activo, e o exemplo que tranquilize a inquietação das soberanias mais jovens sobre a integridade das fronteiras. Não se trata de separatismos, trata-se de integração."

Representação alegórica da "America" como deusa nativa

A esse respeito, os versos da poetisa ameríndia Joy Harjo-Creek vêm a calhar:

"Remember"

Remember the sky that you were born under know each of the star's stories.

Remember the sun's birth at dawn, that is the strongest point of time.

Remember sundown and the giving away to night.

Remember your birth, how your mother struggled to give you form and breath. You are evidence of her life, and her mother's, and hers.

Remember your father, his hands cradling your mother's flesh, and maybe her heart, too and maybe not.

He is your life, also.

Remember the earth whose skin you are. Red earth, yellow earth, white earth, brown earth, black earth, we are earth.

Remember the plants, trees, animal life who all have their tribes, ,their families, their histories, too.

Talk to them, listen to them.
They are live poems.

Remember the wind. Remember her voice. She knows the origin of this universe.

Remember that you are all people and that all people are you.

Remember you are this universe and that this universe is you.

Remember all is in motion, is growing, is you.

Remember language comes from this.

Remember the dance that language is, that life is.

Remember to remember.

Rigoberta Menchú e Evo Morales em La Paz

Leiam também: Jamestown: Commemorating 400 years of English Genocide & Colonization

Nenhum comentário: