16 de outubro de 2007

O caminho das estrelas


Decorreram quase 500 anos desde a invasão espanhola e o Qosqo (nome quíchua da cidade de Cusco), cérebro e coração do poderoso Tawantinsuyu, ainda guarda fragmentos valiosos do conhecimento astronômico que desenvolveu de maneira original e autônoma, com um nível poucas vezes alcançado por outros povos, e que não pode ser totalmente extirpado pelo poder colonial em seus mais de 300 anos de cruel e férreo domínio.

Uma cosmovisão que integrava a natureza com a humanidade, o trabalho com o serviço, a fraternidade com a vida, marcaram a diferença e estabeleceram a pauta para considerar o Hanan Pacha (o céu ou espaço sideral) como o reflexo de sua vida cotidiana e nele a visão-deificação dos seres de seu entorno. Por essa causa construíram templos e adoratórios (wakas) para seus deuses do céu: Inti, Killa, Ch’aska, K’uichi, Illapa, etc. e olharam as estrelas e as manchas escuras da Via Láctea ou Mayu (rio) celestial para neles identificar a suas divindades protetoras que lhes dariam o amparo e a segurança para seus animais e cultivos diante das constantes ameaças da dura climatologia andina. As Lhamas celestiais, o Lluthu (perdiz), o Hamp’atu (sapo), o Mach’aqway (serpiente), o Atoq (zorro), o Kuntur,etc. que podem, atualmente, observar-se neste cenário, dão testemunho disso.

Constelações como a Qollqa (As Plêiades) e as estrelas mais brilhantes como Willka Wara (Sirio), Choqechinchay (Antares), etc.; o conhecimento dos solstícios e equinócios, agregados à observação sistemática do Sol e da Lua mediante o uso de sukanqas e saywas (pilares e colunas) propiciaram as ferramentas necessárias para obter um calendáio perfeito que garantisse um conhecimento sistemático dos ciclos agrícola e pecuário, o ritual religioso, e assegurar deste modo o bem-estar do povo.

A arquitetura e o desenvolvimento urbano não foram alheios a esta disciplina. Sabemos que a distribuição geográfica de seu acidentado território e o desenho de suas cidades seguiram um ordenamento astronômico baseado em eixos intercardeais perfeitamente sincronizados com posições astrais e da Via Láctea.

A direcionalidade dos K’ijllus (ruas), dos Ceques (linhas) assim como do Hatun Ñan e outros caminhos principais seguiram também uma ordem astral estabelecida.

Somos herdeiros de uma maravilhosa herança astronômica e o resgate deste admirável patrimônio cultural vivo, é tarefa permanente do PLANETARIUM CUSCO.

Sabemos que o que fica no conhecimento popular como mitos e lendas, e em alguns casos como observações fragmentadas, são somente pedaços que restaram disseminados em muitos lugares dos Andes e aos quais se deve seguir recopilando e pesquisando para recompor aquele grande conhecimento que lhe serviu de poderoso suporte ao desenvolvimento de uma das culturas mais importantes do planeta: A Cultura INKA.

Leiam também: Qhapaq Nhan - A Rota da Sabedoria, de Javier Lajo.

Um comentário:

Joaquim Cunha da Silva disse...

Localizei em Rondonia Brasil,um Observatorio Astronomico Inca,Geoglifos .Divulgue para proteger
detalhes no Blog http://eldorado-paititi.blogspot.com/2009_07_01_archive.html