7 de janeiro de 2010

200 anos em 10

From One Dance, Creation - pintura de Eric Gansworth (Onondaga)

Virada de ano no ocidente pós-romano e a reflexão a fazer diante das crescentes catástrofes climáticas é um pouco a visão de um velho, já que a aceleração do tempo que presencia minha geração a partir da era informática traz cada vez mais cabelos brancos e estranheza a quem viveu uma realidade e uma consciência de mundo radicalmente diversa naqueles passados anos 60 e 70. Tem sido um pouco difícil sentir-se realmente jovem diante da constatação dos replicantes vírus meméticos de auto-destruição presentes no Sistema, e aquela história de que a "teoria na prática é outra" perdeu toda a ironia pra quem gostaria de ver as coisas mais ajustadas aos ideais de evolução da consciência humana e humanitária.

Chegando a 2010, então, meu ensejo para a COP 16 que virá no México é que tomem todos a consciência de que os próximos dez anos podem valer por 200, tanto para o bem quanto para o mal, e portanto devemos nos esforçar para que seja pelo bem, para o bem e com o bem.

Aqui no Brasil, um pedido para a senadora Marina: um projeto ou um decreto, algo que possa corrigir aquilo que podemos considerar a mais grave falha estrutural das bases democráticas no país que é o fato de que as prefeituras municipais nomeiam maiormente para suas secretarias pessoas desvinculadas ou desengajadas de suas respectivas esferas de trabalho. Explico: em troca do apoio político para sua eleição, os prefeitos têm o costume de nomear como seus secretários pessoas que não têm competência ou compromisso ético de classe com as pastas que vão coordenar, simplesmente são os burgueses da cidade interessados em ganhar um salário do executivo municipal. Se houvesse uma norma geral de que os secretários devem ter ou formação na sua área ou experiência comprovada na mesma, haveriam Secretários de Educação mais responsáveis (e menos fraudes), Secretários de Saúde mais responsáveis (e menos fraudes), Secretários de Meio-Ambiente mais responsáveis (e menos fraudes). Acabariam os casos de donos de farmácia nomeados para secretaria de educação, fazendeiros nomeados para secretaria de saúde, donos de bazar nomeados para secretaria de meio-ambiente. Se municípios pequenos não tem condição de nomear um engenheiro florestal ou biólogo ou notório conservador ambientalista para secretário de meio-ambiente, por exemplo, não seria possível uma verba no Fundo de Participação dos Municípios específica para esse fim, e igualmente para as áreas de educação, saúde, agricultura, abastecimento?! Apenas tais indivíduos, engajados na causa, têm o sentido da devida responsabilidade ética, e compromissos de classe, para levar em frente a resposta às demandas crescentes da população. Do jeito como a coisa esteve, e ainda está, não vejo futuro. É no executivo municipal que começam as maiores falhas no sistema político, ou seja, a distribuição de privilégios a par dos interesses públicos. Sem uma correção e uma normatização da atribuição de nomeações do executivo nesses setores tão estratégicos, o Brasil pode continuar na retórica cordial de um "país do futuro" que nunca chega lá. Esperamos que não seja assim, e a correção seja feita a partir das necessidades das bases, que é o povo em suma.

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