30 de janeiro de 2010

Resgates em Inti Ayllu

"ABUELOS Y ABUELAS SABIAS DEL PLANETA:

EN ESTA HORA QUE YA COMENZO LA PURGA Y EL DESPERTAR DE LA CONCIENCIA DE LA RAZA HUMANA, PARA PODER VER CLARO LO QUE SE VIENE, AHORA EN ESTE CENTRO MAGNETICO DEL PLANETA, MACHUPICCHO QUEDO YA AISLADO DE TODO TIPO DE TURISTAS, YA NO HAY ENTRADA POR NINGUN LADO. LA LINEA FERREA FUE BORRADO POR LAS AGUAS DEL RIO SAGRADO, LA CARRETERA DESDE SAN SALVADOR HASTA MACHUPICCHO ESTA INUNDADO POR LAS AGUAS DEL RIO. TODO EL VALLE SAGRADO DE LOS INKAS ESTA DE ORILLA A ORILLA, SU CAUCE LLEGO AL TOPE, LAS CASAS SE CAEN COMO PASTELES, LOS GANADOS SE LOS LLEVA EL RIO, YA NO SE PUEDE RESCATAR NADA PORQUE DE LA NOCHE A LA MAÑANA TODO SUCEDIO, A MUCHOS HERMANOS LES AGARRO EL AGUA EN SUS CAMAS. CUANDO SE DIERON CUENTA EL RIO HABIA AUMENTADO EL 1000 POR MIL.

AHORA SE VE COMO SE INUNDAN TODAS LAS ORILLAS, LOS CULTIVOS DE MAIZ, TODO ESTA CUBIERTO, EL AGUA SIGUE CRECIENDO, CADA HORA AUMENTA MAS Y MAS, Y SE VE COMO LOS LUGARES QUE HABIAN CASAS, YA NO EXISTE.
LOS HELICOPTEROS, ESTAN RESCATANDO A LOS TURISTAS DE AGUAS CALIENTES QUE YA NO TIENEN COMIDA, DE ESE POBLADO ESTAN TODOS SALIENDO PARA QOSQO, Y LO MALO QUE YA NO EXISTE LA LINEA FERREA , EL RIO YA BORRO TODO, TODA LA ENTRADA A MACHUPICCHO, HAY PELIGRO QUE SE BORRE AGUAS CALIENTES.

LO MISMO LA ENTRADA A LA COMUNIDAD. YA NO HAY PASO, EL PUENTE SE LO LLEVO EL RIO CALICANTO, YA NO QUEDA NADA, YA NO HAY PASE A LA COMUNIDAD INTI AYLLU AHORA ESTAMOS AISLADOS, AHORA ALMACENAR ALIMENTO PORQUE ESTO SERA PARA RATO.

ESPERO AHORA QUE TODOS PODAMOS ESTAR CONECTADOS CON LOS RITUALES Y CEREMONIAS, SE LES PIDE A TODOS A QUE ESTEMOS UNIDOS. PASAR ESTE COMUNICADO A TODOS LOS ANCIANOS, A MARIANO PACHAGUAYA, THUNUPA, DON CLEMENTE MORALES DE LIMA, DOMINGO DIAS PORTA DE MEXICO. A TODOS LOS ABUELOS Y ABUELAS, PORQUE ESTAMOS EN PELIGRO QUE VENGA EL ALUVION DE LA QUEBRADA DE ONORA Y ANTANUCA POR LAS FUERTES LLUVIAS, ESTAMOS ALISTANDO TODAS LAS REPRESAS PARA QUE NO ENTRE EL AGUA A LA COMUNIDAD. SE HIZO YA EL CERCO DE PROTECCION. ESPERAMOS QUE LOS ANCESTROS NOS PROTEJAN.

BUENO, YA SEGUIRE EL INFORME A TODOS SOBRE LO QUE ESTA PASANDO AQUI EN EL VALLE SAGRADO DE LOS INKAS. SEGURO YA VERAN EN LA TV LO QUE ESTA PASANDO AQUI.

UNIDOS COMO LOS DEDOS DE LA MANO."

ABUELO VIDAL AYALA SINCHES
OLLANTAYTAMBO - CUSCO

Fontes: Pachacamac Groups, Geschichtein Chronologie, Museo del Oro de Bogotá.

Ayahuasca Curandera


Imagens em HD. Ícaro de Juan Flores. Fonte:Franzvg19

29 de janeiro de 2010

O Manuscrito de Voynich

"O mundo não foi feito em alfabeto. Senão que primeiro em água e luz. Depois árvore. Depois lagartixas. Apareceu um homem na beira do rio. Apareceu a concha. E o mar estava na concha. A pedra foi descoberta por um índio. O índio fez fósforo da pedra e inventou o fogo pra gente fazer bóia. Um menino escutava o verme de uma planta, que era pardo. Sonhava-se muito com pererecas e com mulheres. As moscas davam flor em Março. Depois encontramos com a alma da chuva que vinha do lado da Bolívia - e demos no pé. (Rogaciano era índio guató e me contou essa cosmologia)."

Manuel de Barros - O Livro das Ignorãças (2001)

O Manuscrito de Voynich é um documento medieval ilustrado escrito em uma linguagem desconhecida. O documento foi batizado com o nome do americano de descendência polonesa Wilfrid M. Voynich, um comerciante de livros antigos que adquiriu o manuscrito em 1912 de uma escola jesuíta localizada nas proximidades de Roma.

Pesquisas posteriores apontaram para evidencias de que o primeiro proprietário do manuscrito poderia ter sido o Imperador Rodolfo II da Boêmia. Conhecido como um dos monarcas mais excêntricos da história da Europa é sabido que Rodolfo II foi um grande patrono e entusiasta da alquimia e astronomia.Desde sua aquisição em 1912 o manuscrito passou pelas mãos de vários especialistas. Criptologistas ingleses e americanos, especializados em quebrar códigos nazistas durante a Segunda Guerra, tentaram em vão decifrar se conteúdo. Evidências sugerem que o livro teria sido produzido no século XVII.

Um estudo de suas ilustrações indica que o manuscrito possa ser dividido em seis partes: ervas, astronomia, biologia, cosmologia, farmácia e receitas. Vejam fotos do Manuscrito em Flickr. Visitem o site The Voynich Manuscript.

A propósito, leiam também: "Dos Cometas do Nordeste aos Thesouros da Amazônia - Os Jesuítas João Daniel e José Monteiro da Rocha no Contexto das Ciências Naturais do Século XVIII", de Eulália Maria Aparecida Moraes dos Santos (UFPR).

28 de janeiro de 2010

Vexame anunciado

"Eles ficaram ofendidos com a afirmação
Que reflete na verdade o sentimento da nação:
É lobby, é conchavo, é propina, é jeton,
Variações do mesmo tema sem sair do tom.
Brasília é uma ilha, eu falo porque eu sei
Uma cidade que fabrica sua própria lei,
Aonde se vive mais ou menos como na Disneylândia -
Se essa palhaçada fosse na Cinelândia
Ia juntar muita gente pra pegar na saída,
Pra fazer justiça uma vez na vida:
Eu me vali deste discurso panfletário
Mas a minha burrice faz aniversário
Ao permitir que num país como o Brasil
Ainda se obrigue a votar por qualquer trocado,
Por um par se sapatos, um saco de farinha,
A nossa imensa massa de iletrados"

A letra de 300 Picaretas, clássico de Os Paralamas do Sucesso, pode provar continuar muito atual. Receita de bolo: Brasília comemorando 50 anos de fundação no dia 21 de abril, um narcisista governador distrital ordenando repressão policial violenta contra manifestantes a favor de seu impeachment, um presidente da república focado apenas nas eleições nacionais, a última área de cerrado virgem na área do Plano Piloto sendo invadida pela especulação imobiliária em detrimento da população indígena lá radicada (muito ameaçada nos ultimos meses apesar da campanha pública a favor de criação da Reserva Indígena da Fazenda do Bananal), índios de todo o Brasil acampados em protesto contra as arbitrárias reformas na Funai, a insatisfação pública generalizada contra a atuação dos congressistas - ingredientes que formam uma mistura muito explosiva. Será que o 21 de Abril de 2010 em Brasília exibirá para o mundo inteiro as chagas da república brasileira tanto quanto o 22 de Abril de 2000 em Porto Seguro, onde os representantes indígenas, excluídos das celebrações por motivo de se apresentarem em atitude de protesto, foram barbaramente espancados e agredidos pelas forças de segurança? Seria uma ignomínia, uma vergonha escandalosa, mas será que, a menos de noventa dias dessas comemorações, haja alguém preocupado ou comprometido em impedir que esse vexame aconteça? Uma coisa é certa: em ano de eleições, vai ter muita gente caindo de cima do muro.

Tratores da NOVACAP desmatando áreas da Reserva do Bananal

27 de janeiro de 2010

A Cultura da Paz

Hopi Peace Pipe Mixed Media by Alfred Dawahoya (presented by Kachinas-spirit Beings Of The Hopi)

¨Paz é uma condição de não-violência em relação aos indivíduos, instituições ou nações. Pode-se dizer que é um estado de harmonia, não conflituoso, entre opostos. Nesse estado, não há identidade absoluta de idéias, ideais ou formas-pensamento. Contudo, existe respeito às diferenças, às inúmeras maneiras de pensar, crer ou agir. Num ambiente pacífico, valoriza-se a liberdade de consciência e de expressão a ponto de transcender a simples quietação entre as partes.

O respeito às diferenças, que promove a paz e a sustenta, faz com que as pessoas — que, por mais afinadas, jamais pensam e acreditam exatamente da mesma maneira — vejam-se não como adversários; talvez como pólos complementares, fruto da diversidade e da riqueza da vida. Sem dúvida os membros das comunidades humanas são mais do que máquinas fadadas a agir e pensar de modo idêntico, programado.


Como método de manifestação da cultura da paz, a não-agressão e a concórdia podem ser das maneiras mais elegantes de se lhe revelar, embora nem sempre as partes envolvidas estejam de acordo com o pensamento um do outro. Ou seja, a cultura da paz não implica acatar tudo o que se diz ou que se fala, escreve ou publica, mas impera entre os pacificadores uma lei não escrita de respeito mútuo. Essa ética, pela qual se pauta o Homo pacificus, impede que os opostos se convertam, automaticamente, em inimigos ou adversários. Pode-se abraçar convicções distintas sem transformá-las em elementos de dissensão; pode-se discordar do outro sem denegrir sua imagem. Compreende-se que é possível difundir idéias ou lutar em âmbito filosófico, fazendo apologia da sua visão de uma verdade relativa, sem transformar o outro em rival ou inimigo declarado.


Sob a visão da espiritualidade, ao analisar os eventos históricos de todos os tempos, identificamos alguns tipos psicológicos diretamente ligados à cultura da paz ou à disseminação da guerra. E não falo apenas da disputa entre nações, sobretudo refiro-me ao estado de conflito interno, inclusive entre indivíduos que — ao menos se supõe — deveriam se respeitar, por se dedicarem à mesma bandeira, à mesma causa. Nesse caso, destaca-se aquele que sustenta e incentiva a paz, defendendo muitas vezes nobres ideais, mas que, contraditoriamente, espalha a guerra e transforma o campo de exercício do pensamento em arma para denegrir a imagem alheia. Consciencialmente, ele se mistura aos que estão em grave crise evolutiva; sua atitude denota a não tolerância de qualquer outra face da verdade, de uma forma diferente de buscar a verdade ou, ainda, analisando de uma maneira mais abrangente, de nenhuma outra visão de espiritualidade.


Em meio aos representantes do maior pacifista da história humana, Jesus, parece ser dos lugares onde a paz é menos compreendida, ainda não vivida. O estado de não-violência às vezes soa apenas como fachada. Tão logo surja alguém que pense, fale ou escreva algo inusitado, que possivelmente apresente uma visão mais real, progressista e menos romântica da vida e da espiritualidade… é o suficiente para que a situação de harmonia desapareça. Esvai-se o cessar-fogo das palavras e agressões, que imediatamente chega ao fim. Vêm à tona as trocas de gentilezas, que destilam o veneno da agressividade verbal e dificilmente não descambam para o ataque pessoal.


Consola-nos o fato de que caminhamos todos, os seres vinculados ao planeta Terra, para maior compreensão e vivência da paz. Também provoca-nos satisfação saber que existem aqueles que são capazes de apresentar seu ponto de vista, aprender e viver por vias alternativas à guerra individual, filosófica ou verbal, tornando-se assim instrumentos evolutivos de grande sintonia com a cultura da paz.


Somente o cultivo fervoroso da paz consegue estabelecer entre irmãos de humanidade condições de viver em harmonia, com vigência de valores éticos e respeito às diferenças. A paz promove a existência e a sobrevivência dos opostos com alto grau de produtividade intelectual e emocional, uma vez que o contraste entre ambos se afigura apenas como mola propulsora de progresso em busca de uma expressão mais ampla da vida, da verdade, independentemente de que lado esteja essa mesma verdade.


É hora de modificar a cultura da guerra, dominadora da maioria dos seres vinculados à Terra. A reciclagem dos valores humanos acumulados ao longo dos milênios é de grande urgência, pois, diante dos tempos novos que devem-se estabelecer no mundo, precisamos, os espíritos ligados à política divina e crística, conquistar a superação das rivalidades pessoais. Só assim se poderá trazer ao mundo a renovação real e não apenas fruto de ideações religiosas ultrapassadas. A demolição do estado interior de agressão e agressividade faz com que a paz se estabeleça definitiva. A paz íntima e consciencial, com o natural respeito e a compreensão pelo direito do outro de pensar, falar e agir de forma diferente da nossa, traz o selo da aproximação, da solidariedade, do entendimento e da responsabilidade mútua. Eis o que fomenta o progresso e desmilitariza o mundo íntimo, desarmando o espírito humano para viver mais plenamente um estado concreto de pacificação.
¨

Ângelo Inácio (espírito) : Psicografia de Robson Pinheiro.

26 de janeiro de 2010

Boa notícia para todos

Machis mapuches com seus tambores

Corte de Apelações de Temuco acolhe recurso de proteçao a favor de comunidades mapuche, aplicando o Convênio 169 da OIT:

Acolhido Recurso de Proteção apresentado pelas Comunidades Palguín Bajo e Antonio Huenuñanco, contra a Comissão Regional de Meio Ambiente, por Resolução Exenta 242 que qualificara favoravelmente o projeto Piscicultura Palguín. Segundo a Sentença da Corte de Apelações de Temuco, de 21 de janeiro de 2010, "Existe um imperativo para os Governos de consultar aos interessados mediante procedimentos adequados cada vez que se prevejam – neste caso – medidas administrativas suscetíveis de afetá-las diretamente."

A Corte de Apelações de Temuco, assinala que citar o Decreto 124 emitido pelo Ministério Secretaria Geral da Presidência como fundamento para incumprir o Convênio 169 nao tem cabimento algum. "Em virtude do disposto no artigo 27 da Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados uma parte nao pode invocar disposições de direito interno como justificação de descumprimento de um tratado. "

"La autoridad no se ha ceñido a la legislación vigente que son las normas autoejecutables del Convenio – indicado – en cuanto debió llamar a la consulta respectiva en los términos que señala el Convenio y no a simples actos denominados de sociabilización¨.

Texto completo da sentença aqui . Fonte da imagem: Women Frame Drumming

21 de janeiro de 2010

Lula e a mentalidade dominante

A mentalidade pró-totalitarismo de setores tradicionais do PT continua se refletindo em atitudes concretas do Governo Lula, e revela suas contradições especialmente quando toca o direito das minorias, como as populações indígenas, que não dão voto. É curioso pensar como podem, aqueles que lutaram tão dedicadamente pelas liberdades democráticas, sentir tamanha dificuldade de respeitar o espaço de pluralidade democrática por eles próprios conquistado, e prefiram utilizar a força da propaganda de modo a querer totalitarizar também a capacidade de visão dos membros da sociedade sobre os aspectos mais sensíveis do front intercultural. A respeito das atitudes do presidente chamado "Lulinha paz-e-amor" em relação aos povos indígenas do Brasil, que esperávamos poder repreender e suprimir para sempre a loucura que foi em Abril de 2000 o festejo dos Quinhentos Anos em Porto Seguro (com Fernando Henrique Cardoso promovendo o espancamento público e covarde dos representantes indígenas reunidos em atitude de protesto), vamos reproduzir aqui o que escreve hoje Cleber C. Buzatto, Secretário Adjunto do Conselho Indigenista Missionário:
.
"O governo Lula apagou as luzes de 2009 com o anúncio de mais uma peça autoritária referente aos povos indígenas do Brasil. O Decreto 7056/2009, que determinou a reestruturação da Fundação Nacional do Índio (Funai), foi assinado no dia 28 de dezembro com a marca da absoluta inexistência de participação indígena na sua formulação. Um ato que, por si, desrespeitou profundamente os indígenas e a legislação vigente e que, em si, constitui-se em mais uma tentativa de desarticular o movimento indígena e indigenista no país.

Por não ter aberto e enfrentado prévia e democraticamente o debate sobre o tema, o governo potencializou e deu legitimidade à reação por parte de indígenas, que têm se mobilizado, em Brasília e noutras regiões do país, a fim de demonstrar descontentamento e contrariedade frente ao processo preparatório e ao próprio decreto que afeta diretamente suas vidas.

Frente a essa reação, não tendo a devida coragem de assumir publicamente a opção que fez pela não participação indígena no processo de preparação do decreto, o governo, ao divulgar a informação, por meio de diferentes fontes, segundo a qual a referida reestruturação teria sido debatida em reuniões da Comissão Nacional de Política Indígenista (CNPI), vem buscando dividir a responsabilidade do seu ato monocrático com os representantes indígenas e indigenistas participantes desta Comissão. Além disso, membros do governo, alguns destes antes identificados como defensores da causa indígena e popular no país, têm demonstrado grande esforço e insistência na proposição de reuniões de “negociação” em separado com as diferentes delegações indígenas que estão vindo protestar em Brasília. Por meio destas duas iniciativas, o governo está fomentando a desconfiança entre as lideranças e organizações e tentando promover a sorrateira e nefasta estratégia de divisão do movimento indígena e indigenista no Brasil.

Infelizmente, este não se constitui num fato isolado nestes últimos anos. Pelo contrário, está inserido num processo histórico marcado por grandes e recorrentes desserviços impostos pelo atual governo aos povos indígenas no país. Muitos desses fatos são emblemáticos e contribuem para corroborar essa afirmação. Citamos, na seqüência, a título de exemplificação, alguns deles.

Em outubro de 2007, o Ministério da Saúde editou a portaria 2656 que tratava das “responsabilidades na prestação da atenção à saúde dos povos indígenas”. Por não ter sido feito o devido processo de consulta e informação aos povos indígenas, a portaria gerou uma série de questionamentos que culminaram, posteriormente, com a suspensão dos seus efeitos, inclusive por indicação do Ministério Público Federal.

No dia 27 de maio de 2009, foi editado o decreto 6861 que “Dispõe sobre a Educação Escolar Indígena, define sua organização em territórios etnoeducacionais, e dá outras providências”. Até hoje não se compreende o fato deste decreto ter sido assinado sem que os indígenas pudessem opinar sobre o teor do mesmo, uma vez que no referido período estavam sendo realizadas as Conferências Regionais de Educação Escolar Indígena, que culminaram com a Conferência Nacional de Educação Escolar Indígena, ocorrida em novembro do mesmo ano. O fato de o governo ter decretado a criação dos “territórios etnoeducacionais” antes de qualquer deliberação da Conferência Nacional atropelou o processo e gerou uma série de desentendimentos entre os delegados da mesma. Também naquela ocasião os representantes governamentais adotaram a estratégia da “negociação” em separado com diferentes delegações a fim de dividir os participantes na busca desesperada pela legitimação, a posteriori, do ato autoritário praticado anteriormente.

Ainda neste cenário, não podemos deixar de mencionar o fato de o governo ter imposto “goela abaixo” a transposição do rio São Francisco. Fez isso, inclusive, com o uso da força por meio da presença ostensiva do Exército nos canteiros de obras com a finalidade de amedrontar e “abafar” quaisquer novas tentativas de manifestações contrárias, por parte de movimentos populares e dos povos indígenas, que terão suas terras diretamente impactadas por mais essa obra do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Por fim, faz-se necessário lembrar o lastimável episódio em que o próprio presidente Lula, em discurso improvisado, taxou os povos indígenas como “entraves” ao desenvolvimento da nação e, com isso, em vez de combater, acabou potencializando o preconceito ainda existente em grande parcela da sociedade brasileira em relação a estes povos. Como sabemos, esse preconceito, além de ser uma violência em si, é causa de muitas outras violências que são cometidas cotidianamente contra indígenas no Brasil.

Entendo que os povos indígenas e suas lideranças, bem como, as organizações indígenas e entidades de apoio precisam estar permanentemente atentos a esses movimentos desmobilizadores e desarticuladores postos em prática pelo atual governo, a exemplo de outros passados. Isso se faz ainda mais necessário no atual contexto e num ano eleitoral. Todos somos cientes dos interesses de setores econômicos, tradicionais doadores de campanhas eleitorais, sobre os recursos naturais existentes nas terras dos povos indígenas em nosso país. Tudo o que o governo quer, nesse momento, é um movimento indígena e indigenista “rachado” entre si. Isso porque, dessa maneira, seus desserviços sobre os povos indígenas poderão ser impostos com maior freqüência e menor resistência. Belo Monte está na fila. Qual será o próximo? A exploração mineral em terras indígenas?"

Fontes: CIMI e Projeto Machuca - Somos Todos Um

20 de janeiro de 2010

Assédio religioso


São os povos em situação de opressão econômica, como os povos indígenas, especialmente suscetíveis ao assédio religioso? É muito raro encontrar referências a respeito na web, mas é fácil compreender que é essa forma de assédio um dos mais terriveis braços a serviço do etnocídio, já que substitui funções de benefício humanitário, que deveriam ser realizadas pelo Estado laico, cobrando por isso o abandono de tradições culturais que lhe são próprias e a aceitação cega de um contexto cultural que lhe é alienígena. Segundo Mauro Kerob, "O assédio religioso talvez seja um dos mais terríveis e criminosos porque mexe com visões de mundo. (...) os religiosos chamam esse assédio de proselitismo. Proselitismo religioso, quando estão “levando a palavra de Deus”? Por que este proselitismo se transforma em assédio? Transforma-se porque os religiosos andam em grupos e costumam abordar uma ou no máximo duas pessoas; a superioridade numérica transforma o proselitismo em assédio". Mas o que acontece quando o proselitismo está amparado em promessas de benefícios econômicos? É claro que isso se constitui em assédio religioso, talvez o mais tolerado dos assédios já que situa-se sempre a favor do status quo das classes dominantes, desde os tempos da colonização mercantilista.

Por exemplo, vejamos o caso dos Guajajara, que têm uma história longa e muito singular de contato com os brancos. O primeiro contato pode ter acontecido em 1615, nas margens do rio Pindaré, no Maranhão, com uma expedição exploradora francesa. Até os meados do século XVII, os Tenetehára foram assolados pelas expedições escravagistas dos portugueses no médio Pindaré. Esta situação mudou com a instalação das missões jesuítas (1653-1755), que ofereceram certa proteção contra a escravidão, mas implicaram um sistema de dependência e servidão.

Depois da expulsão dos jesuítas da Colônia pela Coroa, os Tenetehára conseguiram recuperar parte de sua antiga independência, reduzindo os contatos com os colonizadores. A partir de meados do século XIX, foram progressivamente integrados em sistemas regionais de patronagem, com todas as formas conhecidas de exploração extrema (como coletores ou remeiros, por exemplo). A política indigenista da época não articulava qualquer proteção contra estes abusos. Os Guajajara, de vez em quando, reagiam violentamente, mas em geral permaneciam submissos.

A maior revolta, no entanto, foi causada por um empreendimento de missão e colonização dos capuchinhos, a partir de 1897, em Alto Alegre, na região atual de Cana-Brava. Em 1901, o cacique Cauiré Imana conseguiu unir um grande número de aldeias para destruir a missão e expulsar todos os brancos da região entre as cidades de Barra do Corda e Grajaú. Poucos meses depois, os índios foram derrotados pela milícia (composta de contingentes do Exército, da Polícia Militar, de indivíduos da população regional e de guerreiros Canelas) e perseguidos por vários anos, o que fez muito mais vítimas entre os guajajara do que entre os brancos. A revolta de Alto Alegre representa um dos incidentes mais importantes na história deste povo.

Novos conflitos sangrentos surgiram a partir dos anos 1960 e 70, com a expansão descontrolada de latifúndios no centro do Maranhão, empurrando muitos posseiros para dentro das Terras Indígenas. O maior palco destes conflitos foi de novo Cana-Brava, com o povoado ilegal de São Pedro dos Cacetes, que existiu de 1952 a 1995 e contra o qual os guajajara tiveram que resistir quatro décadas, com apoio apenas esporádico do Governo Federal. Outras ameaças surgiram a partir dos anos 1980, com o Programa Grande Carajás e com a cobiça de pequenas madeireiras regionais.

Oprimidos pelos brasileiros, a quem poderiam recorrer os Guajajaras? É aí que entram os missionários estrangeiros e suas noções ingênuas de "cristianização da humanidade".

Entre os dias 5 e 7 de outubro de 2007 "aconteceu, nas cidades de Arame, Grajaú e Barra do Corda (MA), o lançamento da Bíblia na língua indígena Guajajara. Fizeram-se presentes representantes de igrejas evangélicas, agências missionárias e, é claro, o povo Guajajara. O rev. Sérgio Nascimento, presidente da APMT (Agência Presbiteriana de Missões Transculturais), também acompanhou o evento. No dia 5, a programação concentrou-se em Arame. Além de um culto especial no Centro de Treinamento Rio Jordão, mantido pelos missionários da Missão Evangélica aos Índios do Brasil e da Missão Cristã Evangélica do Brasil, incluiu uma passeata pelas ruas da cidade. Durante o trajeto, os irmãos Guajajara, ornamentados com cocás de penas de arara e pintura de jenipapo, cantavam hinos em sua própria língua. O hino mais repetido de todos dizia Tupàn ta’yr a’e wà, huryete a’e wà que, traduzido, quer dizer “os filhos de Deus são alegres”. (...) aquele era um momento histórico por se tratar do lançamento da terceira Bíblia completa em uma língua indígena no Brasil. Embora no país sejam faladas 180 línguas indígenas, somente em três delas a Bíblia completa está traduzida até o momento (as outras são Waiwai e Guarani Mbyá). Após o almoço, a comitiva de indígenas e missionários foi para a aldeia Zutywa, talvez a maior aldeia Guajajara da região, com uma população de mais de 500 pessoas. Foi nessa aldeia que, em 1969, o casal Carlos e Carla Harrison, tradutores da Bíblia Guajajara, iniciou o trabalho entre este povo. A passeata se repetiu e a comitiva caminhou até o local da antiga casa do casal Harrison, que hoje abriga um templo que recebe os irmãos indígenas semanalmente."

Como entender o beneplácito geral em relação ao assédio religioso? Em "De olho na modernidade religiosa", Pierucci explicita que, "já que liberdade religiosa se exerce hoje em dia em chave de livre concorrência, todos os profissionais religiosos responsáveis por esse agito deveriam ser os primeiros a se mostrar sinceramente interessados em mais e mais respeito à liberdade alheia de crença, de culto, de expressão religiosa, de difusão religiosa. Se um dos resultados da desregulação da esfera religiosa é essa superabundância de profissionais religiosos "racionais" que estamos vendo em inaudito ativismo a suprir o mercado de novidades religiosas, bens simbólicos retóricos, serviços taumatúrgicos e as mais variadas bugigangas materiais e ideais de consumo religioso privado, provocando em decorrência uma certa elevação do envolvimento confessional em grande número de naturezas individuais com pendor religioso, as quais se encontram justamente nas camadas sociais que mais têm sido alvo e presa do assédio religioso "novo estilo", então se compreende por que é que atualmente, entre os sociólogos da religião do nosso continente, tende a aumentar o interesse intelectual por teorizações que realçam o peso do fator "oferta" na explicação, seja do crescimento de uma determinada comunidade religiosa, seja do aquecimento de todo um campo que se estrutura em moldes análogos aos de um mercado concorrencial carente de regulação".

Os casos atuais de assédio religioso passam em geral desapercebidos, mas no caso das etnias indígenas sempre ocasionam divisões, vulnerabilização das sociedades, submissão a valores e preconceitos alheios e, muitas vezes, suicídios (por perda de identidade cultural, ofensa da indenidade psíquica e/ou por medo do castigo dos pecados). Merecem ser estudados mais a fundo e combatidos por meio de medidas legais a favor das nações indígenas e seu esforço de preservação da sua cultura ancestral.

Fontes: Aldeia Jex , Funai , Gospel Notícias .

19 de janeiro de 2010

A força da palavra

Aurora Borealis, NWT - by Bryn

Conta uma lenda esquimó que na aurora do mundo não havia qualquer diferença entre homens e animais: todas as criaturas viviam em harmonia sobre a face da Terra, e cada uma podia transformar-se na outra, a fim de entendê-la melhor. Os homens viravam peixes, os peixes viravam homens, e todos falavam a mesma língua.

“Nesta época”, continua a lenda, “as palavras eram mágicas, e o mundo espiritual distribuía fartamente suas bênçãos. Uma frase dita ao acaso podia ter estranhas consequências; bastava pronunciar um desejo que este se realizava”.

Foi então que todas as criaturas começaram a abusar deste poder. A confusão se instalou, e a sabedoria se perdeu.

“Mas a palavra continua mágica, e a sabedoria ainda concede o dom de fazer milagres a todos que a respeitam”, conclui a lenda.

Fonte: Mensagem do Dia - Paulo Coelho

18 de janeiro de 2010

Falsas democracias no Mercosul

crédito: NASA/ imagens Landsat

A Anistia Internacional condenou o uso de pesticidas aparentemente tóxicos para intimidar a uma comunidade indígena do Paraguai depois de sua resistência a serem desalojados de suas terras ancestrais. A organização fez um apelo às autoridades paraguaias para incrementar seus esforços para prover proteção e atenção médica à comunidade e investigar os eventos de novembro passado.

Em 6 de novembro de 2009, mais de 50 homens que seriam representantes de produtores de soja brasileiros que reclamam a titulariedade da terra, chegaram ao distrito de Itakyry, no leste do Paraguai, e tentaram desalojar aos indígenas pela força. As comunidades indígenas resistiram usando arcos e flechas. Mais tarde nesse dia, um avião sobrevoou as casas dos indígenas, borrifando-as com o que se acredita serem pesticidas geralmente usados sobre cultivos de soja. Mais de 200 pessoas resultaram afetadas e reportaram haver sofrido vômitos e desmaios, dentre outros sintomas. Pelo menos 7 pessoas foram levadas a hospital.

Com anterioridade havia tido lugar um preocupante precedente: a Comissão de Direitos Humanos do Senado paraguaio, a mesma instituição que recentemente havia bloqueado intentos para devolver terras ancestrais a outra comunidade indígena, os Yakye Axa, foi usada por vários políticos como plataforma para promover o desalojamento.

A ordem de desalojamento havia sido cancelada por um fiscal de distrito justo antes da data em que devia ter se levado a cabo, a sexta-feira 6 de novembro. Se crê que as ameaças contra a comunidade foram represálias.

“As vidas dos povos indígenas estão sendo postas em risco pelas mesmas pessoas que deveriam protegê-los,” disse Louise Finer, pesquisadora sobre o Paraguai em Anistia Internacional. “O risco que enfrentam as comunidades de Itakyry era previsível. Ninguém tomou atitude suficiente para protegê-las das ameaças que sofreram no contexto deste novo intento de desalojá-las de suas terras ancestrais.”

“As autoridades paraguaias – o Executivo, o Congresso e o Poder Judiciário – devem trabalhar juntas para tratar as necessidades imediatas das comunidades após este ataque, mas também para assegurar-se de que isto não ocorra novamente,” disse Louise Finer.

Só um pequeno número de policiais locais estiveram presentes durante o ataque, apesar da s ameaças contra as comunidades. Apesar de que as autoridades locais prometeram enviar ambulâncias para assistir às pessoas que sofreram vômitos e desmaios durante a fumigação, passaram-se várias horas até que os afetados pudessem receber tratamento médico.

A proteção dos direitos dos povos indígenas paraguaios foi uma das promessas centrais de campanha do presidente Fernando Lugo. Entretanto, o legado de adjudicação ilegal de terras do período da ditadura continua sem ser resolvido. Em geral, se dá maior prioridade à promoção de grandes aglomerados agro-industriais que à salvaguarda dos títulos de terra das comunidades indígenas. A seriedade do compromisso de governo de tratar suas reclamações de terra não foi demonstrada na prática.

Em maio, Anistia Internacional denunciou que o desflorestamento no Paraguai, as plantações de soja e o uso de agro-químicos seguem afetando a vida das comunidades indígenas. Imagens captadas recentemente por satélite demonstram que o desflorestamento no norte do Paraguai continua, apesar da existência de controles governamentais, pondo em risco comunidades indígenas isoladas como os Totobiegosode.

Em outubro passado, Anistia Internacional criticou ao Congresso do Paraguai por rechaçar um projeto de lei que houvesse permitido ao Estado devolver terras ancestrais à comunidade indígena Yakye Axa, deixando pelo menos a 90 famílias sem teto. De acordo com padrões internacionais de direitos humanos, o direito das comunidades a terras ancestrais é crucial para os povos indígenas, já que é um elemento vital de seu sentido de identidade, sustento e modo de vida.

Para maiores informações sobre a situação dos povos indígenas do Paraguai , vejam: Estamos reclamando sólo lo que es nuestro. Pueblos indígenas de Paraguay. Comunidades Yakye Axa y Sawhoyamaxa

A campanha Demanda da Dignidade pretende por fim às violações dos direitos humanos que impulsionam e aprofundam a pobreza mundial. A campanha mobilizará a pessoas em todo o mundo para exigir que os governos, grandes corporações e outras pessoas que têm poder escutem as vozes daqueles que vivem na pobreza e reconheçam e protejam seus direitos. Para mais informação, visitem http://demanddignity.amnesty.org/es

Fontes: Anistia Internacional e O Eco

17 de janeiro de 2010

Apanhadores de Sonhos

arte: Willow Visionary Art

Gaa wiin daa-aangoshkigaazo ahaw enaabiyaan gaa-inaabid.
"Você não pode destruir um sonho sonhado por mim"
(Pensamento Chippewa)

"O apanhador de sonhos (dream catcher) é um tipo de mandala de cura de várias etnias indígenas tanto da América do Norte quanto da América do Sul sendo que a sua origem se perdeu em meio as lendas e da oralidade.
O tempo dos sonhos segundo estes grupos é influenciado por boas ou más energias. A função do apanhador de sonhos é afastar as energias intrusas deixando que fiquem presas na teia de aranha do interior do objeto que deve estar ao alcance dos primeiros raios de sol da manhã porque aí estas energias serão dissipadas pela força curativa do sol. O aro externo do apanhador de sonhos representa a roda da vida e a teia de aranha são os sonhos que tecemos, não somente os que temos quando estamos em contato com o tempo dos sonhos (dormindo), mas também os sonhos da nossa alma e do mundo de energia em movimento com o qual estamos em contato direto no nosso cotidiano.
O centro da teia da aranha é o vazio, o lugar do espírito criador, o grande mistério.
Nunca devemos esquecer que o apanhador de sonhos não é um objeto decorativo, eles são instrumentos de poder, são medicinas xamânicas. Dar de presente um apanhador de sonhos é uma grande honra para quem recebe porque é uma demonstração de fidelidade, confiança e a força da cura.
Existem vários tipos de tramado da teia de aranha central. Os povos Chippewa utilizam uma teia muito similar a da aranha, em espiral sendo que o seu sustento é feito com 8 fios que correspondem a 8 direções sagradas.
Os Cherokee fazem o apanhador de sonhos de forma mais simples, aonde apenas uma pedra no centro da teia e uma única pluma pendurada nele.
Os Kaingang do sul do Brasil confeccionam usando vários tipos de teias, plumas, sementes ... e não obedecem nenhuma estética pré-definida apenas seguem o desenho central com a teia de aranha."
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Uma das lendas:
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Um velho xamã Sioux (do sudoeste norte-americano) subiu no topo de uma montanha para ter uma visão. O grande espírito mágico-Iktohmi apareceu na forma de uma aranha e se comunicou usando a linguagem sagrada. A aranha (Iktohmi ) tomou das mãos do xamã um aro que ele trazia e começou a tecer uma teia com as oferendas que estavam com ele-plumas, crinas de cavalo e sementes. Enquanto tecia, o espírito falou sobre os ciclos da vida desde o nascimento até a morte e sobre as forças boas e más que atuam em nós em cada uma dessas fases. Dizia ele:
Se escutas as forças boas, elas te guiarão na direção correta e trarão a harmonia da natureza. Do contrário, levarão a direção errada causando dor e infortúnio.
Quando parou de tecer, o espírito mágico devolveu ao xamã o aro com uma teia ao centro e disse:
No centro que está a teia, representa o ciclo da vida. Utiliza para ajudar o teu povo a alcançar os objetivos fazendo o bom uso dos sonhos, idéias e visões. Se você crê em algum grande espírito, a teia filtrará teus sonhos e visões porque eles vem de um lugar chamado espírito do mundo que ocupa o ar da noite, com os sonhos bons e maus.
Terminou dizendo:
O apanhador de sonhos deve sempre estar pendurado para que a teia se mova livremente e consiga apanhar os sonhos que ainda estão no ar. Os sonhos bons sabem o caminho e deslizam suavemente pelas plumas e sementes até alcançar quem está dormindo. Os pesadelos ficarão presos no círculo central da teia até que nasça o sol- momento que estas energias negativas morrem com a primeira luz do dia.
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Obs: Para os Sioux, o apanhador dos sonhos sustenta as linhas do destino.
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Fonte: Blog Metropolitano, Umbilicum Mundi (Te-Pito-O-Te-Henua)

Cartas abertas

foto: Val

Carta do indigenista Guilherme Carrano ao ISA:

"Sr. Coordenador do Programa Direito e Política Socioambiental do ISA,
V.Sa., no cargo que ocupa nessa entidade respeitavel nacional e internacional, deveria ter mais cautela ao defender uma proposta que não foi discutida democraticamente com os que por ela vão ser diretamente afetados.
São dezenas de anos que, nós mais velhos, lutamos contra qualquer forma de ditadura ou atitudes que venham a ameaçar de alguma maneira o direito de decidir e escolher nossos caminhos.
A OIT 169 e a Constituição de 1988, ja tão difundidos como conquista por sua entidade ISA, foram totalmente desconsiderados e desrespeitados pelas atitudes e encaminhamentos da atual diretoria da FUNAI ao impor essa proposta de DECRETO.
Tenho certeza que V.S.a sabe disso, mas não quer reconhecer, pois faz parte desse grupo insensato e esnobe.
O órgão indigenista de governo é muito importante para a segurança física e cultural dos povos indígenas e para a defesa dos direitos humanos desses Povos.
Ontem, além dos prejuízos e insatisfações que já estão afetando os povos indígenas em vários locais do Brasil, a direção da FUNAI mais uma vez demonstrou sua incapacidade de estar na frente de um órgão tão importante para os direitos humanos e para a diversidade de Povos originários desse continente, oferecendo a um pequeno grupo Mebengokré favores de revisão da Administração de Redenção (extinta nesse Decreto) e empurrando-os contra representantes de outras etnias que estavam à porta da FUNAI e sangue foi derramado por golpes de burduna. E tudo indica que inclusive pessoas do CIMI participaram dessa vergonha tentativa de confundir os índios isoladamente, conforme comentários feitos por eles mesmos.
Nunca tinha visto isso no órgão, com mais de 30 anos atuando junto a esses povos. VERGONHA NACIONAL.
Tudo isso poderia ser evitado se a direção da FUNAI, juntamente com V.S.a., tivessem a nobreza de discutir a proposta democraticamente, conforme nós mais velhos temos lutado a mais de 30 anos, mas essa honra não faz parte de suas virtudes.
Conhecemos pessoas de idade avançada, mas que ainda lutam e atuam com respeito aos Povos Indígenas e suas lideranças, e muito mais solidários as suas sofridas condiçoes impostas pela europeização deste continente pelo modelo capitalista.
A qualidade das atitudes não estão vinculadas a idade Senhor Márcio Santilli, sua visão do órgão indigenista é retrógrada, tanto quanto aos que proporam esse Decreto, e por isso o sangue de um indígena foi derramado.
O ISA deve rever seu quadro de consultores e suas idéias desprovidas de humanismo, para que possa acompanhar as mudanças que a história nos traz a cada dia para o caminhar da solidariedade, da paz e da inclusão e deixar de ser uma instituição nos modelos da idade média: repressora, monárquica, excludente e dependente da fortuna como sempre se apresenta quer sejam para as questões ambientais como sociais, ou serviçal ao capital.
Pelo que V.s.a apresenta em seu texto, o mesmo discurso repressor e excludente praticado pela direção atual da FUNAI contra lideranças comunitárias e servidores do quadro, percebe-se que são semelhantes aos nefastos invasores e inquisidores dos séculos passados."

Isto porque Márcio Santilli, ex-presidente da Funai , 1.995/1.996, sócio fundador do Instituto Sócio Ambiental -ISA , divulgou no site da Funai, toda a explicação cartesiana do que fizeram com a Funai. Vejam no Blog do Mércio:

"1. Afirma que “não estão previstas supressões de estruturas administrativas atuais”, ignorando a extinção, sem substituição, 22 AERs, tais como Altamira, Oiapoque, Tangará da Serra, Curitiba, Londrina, Guarapuava, sem falar em outras maise do Nordeste e Centro-Oeste; e querendo dizer que substituirão alguns dos Postos Indígenas –PIN’s, por Coordenadorias Técnicas, supostamente porque os PINs teriam perdido a finalidade como presença efetiva do estado brasileiro na vigilância e defesa dos patrimônios indígenas, enquanto as novas CTs irão atuar como agentes de interação para servir como facilitadores na relação dos índios com as organizações não governamentais -ONG’s, bem intencionadas por certo, e órgãos de governo. Isto feito devido à incapacidade gerencial aliada ao descompromisso de vários dirigentes que passaram pela sede da Funai, verdadeiros responsáveis pela “deterioração e envelhecimento” do órgão, pois preferiram se render comodamente ou adotar a estratégia de ceder as pressões políticas e étnicas. Olvida que a gestão da Funai hoje intensificou as nomeações de chefias por indicação política de pessoas despreparadas, que também não tiveram orientação, capacitação e nem condições mínimas de trabalho;
2. Rebaixaram algumas Administrações Executivas Regionais -AER’s, que o co-autor do anexo do decreto rotulou de unidades de“ interesse de grupos específicos” ou “núcleos corporativos”, onde os servidores da Funai e algumas etnias não permitiram que as chefias fossem entregues a indicados de políticos, desconhecedores da causa indígena, justificando agora a penalização e o nivelamento por baixo, com os antigos Postos Indígenas urbanizados, sob o argumento inconsistente do respeito a territorialidade;
3. O co-autor argumenta sobre “inchaço de funcionários em cidades”, mas alocaram mais de 60% dos cargos de DAS, em: Brasília, Museu do Índio (agora com 14 cargos DAS) no Rio de Janeiro e “novas” Unidades Regionais urbanas, reduzindo-se para 297 os cargos de DAS 1, que sacrificará quem ousar trabalhar pela “nova ordem” de “alocação da maior parte do corpo funcional mais próxima das terras indígenas”;
4. Questiona se os servidores da Funai serão úteis, afirmando que “ É difícil saber se a Funai precisa, mesmo, de mais de cinco mil funcionários”, mas alardeia que “A proposta de reestruturação projeta um quadro funcional de pouco mais de cinco mil servidores, com um acréscimo de 3.100 em relação ao quadro atual, estando definida a realização de concurso público para 425 novos funcionários em 2010”, como se as demandas da Funai pudessem esperar tais contratações;
5. Critica os índios que “mantém relações mais próximas, ou de maior dependência em relação ao órgão”, que são exatamente os índios que não estão aceitando a política indigenista “neo-liberal “, ironicamente implementada na gestão mais consistente do PT, através do enxugamento do aparelho indigenista estatal e da terceirização de suas atribuições governamentais, a exemplo da proteção dos índios isolados;
6. Critica os ” envelhecidos quadros do órgão”, usados como argumentos para a ausência da transparência nas discussões preliminares do decreto, com os sindicatos e servidores do quadro efetivo, e finalmente confessa a estratégia de publicá-lo no “ apagar das luzes do ano que passou”, criando um apartheid funcional nos corredores da sede, em absoluto desprezo por quem envelheceu de tanto lutar contra os verdadeiros inimigos dos índios;
7. Se as resistências ao desmonte do aparelho indigenista do estado e a solidariedade aos legítimos pleitos dos índios, que entenderam e conhecem as armadilhas das entrelinhas do Decreto, podem ser rotuladas de “rebeliões fisiológicas”, nós os servidores discriminados, desrespeitados e prejudicados, entendemos que tratam-se de rebeliões ideológicas, pois nenhum dos nossos traiu os índios, a Convenção 169, os membros indígenas da CNPI, os princípios petistas, muito menos o nosso presidente LULA."

João Pessoa, 16 de janeiro de 2.010 - Petrônio Machado Cavalcanti Filho (Engenheiro do quadro efetivo da Funai, desde 1.986)

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Não deixem de ler em SERVINDI artigo de Gilberto Azanha (Coordenador Geral do Centro de Trabalho Indigenista - CTI) sobre a Reestruturação da FUNAI.

16 de janeiro de 2010

Estampas Eucalol

"No Guaporé ainda existem muitos índios quase todos pacificados pela missão Rondon. A mulher indígena sabe caçar, pescar, faz seu roçado, tece cestos e faz farinha ajudando ainda os índios em outros misteres."

"Cabe aos homens desmatar e fazer a queimada da área de floresta ou de capoeiras velhas para a constituição das roças. A partir de então, o trabalho torna-se feminino, desde a escolha das variedades de mandioca ou das outras espécies cultivadas até o preparo dos alimentos. No longo trabalho de produzir os diferentes derivados da mandioca (manicuera, tucupi, tapioca, baiji, mingau, farinha), as mulheres gastam praticamente todo o dia.

Depois de preparar a primeira refeição, as mulheres vão à roça colher, fazer o replantio e limpar o terreno; às vezes vão às capoeiras das roças antigas, à procura de frutas que continuam produzindo depois que as roças são abandonadas. Em casa se desdobram entre ralar a mandioca, carregar água do rio para lavar a massa, buscar lenha para o fogo, preparar comida e cuidar e dar atenção para as crianças menores. Desde muito cedo as meninas ajudam sua mãe, no começo apenas entretendo seus irmãozinhos menores para que os adultos possam trabalhar, e depois ajudando em tudo.


Ainda na divisão sexual das tarefas do dia-a-dia, o trabalho artesanal das mulheres restringia-se, tradicionalmente, à produção de cerâmica e cuias, fiação de tucum para cordas, enquanto aos homens cabia a produção dos objetos cerimoniais e toda a cestaria (com exceção dos aturás de cipó, trançados por mulheres maku).


Em muitas culturas indígenas, a mulher ocupa o lugar de geradora e protetora da vida da família. Seu trabalho pesado, constante, silencioso, garante o cuidado e o alimento diário, representado pelo fogo sempre aceso no interior da oca. Seu pensamento, em surdina, contribui discreta e decisivamente nas posições do marido. Fora desse contexto, a mulher indígena é vista como beleza exótica, sedutora, ilustrando as propagandas de turismo ecológico, atraindo turistas. Porém, a realidade é mais dura, quando o sustento da família já não vem mais da roça e as exigências são outras, ditadas pelo consumismo
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Estampas Eucalol eram um tipo de “card” que retratava a cultura do Brasil e algumas vezes de outros países.Emitidas desde o início do século XX, coloridas e em preto e branco, acompanhavam o Sabonete Eucalol e o Creme Dental Eucalol, que mais tarde foi adquirido pela marca Gessy Lever, que passou a editar as Estampas Gessy, maiores e que retratavam os astros e as estrelas de Hollywood... As Estampas Eucalol foram lançadas no final da década de 20, pela Perfumaria Myrta S/A, do Rio de Janeiro. Com certeza, elas agitaram por décadas a vida das pessoas que passaram a colecioná-las...
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Fonte: Girafamania e o site de colecionadores Brasil Antigo , aqui em VIAJANDO BRASIL (Acre).

15 de janeiro de 2010

Povos em situação de extermínio

"Os povos indígenas vivem em situação de pobreza no planeta. A afirmação consta de um relatório divulgado ontem (14) pela Organização das Nações Unidas (ONU) que mostra que cerca de 15% dos 370 milhões de índios representam um terço dos mais pobres do mundo e também um terço dos 900 milhões de pessoas que vivem em extrema pobreza, com menos de U$ 4,00 por dia, e habitam áreas rurais.

O documento destaca que devido a uma série de fatores como o analfabetismo, o desemprego e a discriminação “a comunidade indígena está associada a ser pobre”. No mercado de trabalho, isso se reflete nos salários e significa que os índios, mesmo capacitados, recebem a metade que os não-índios. Na América Latina, a Bolívia apresenta a maior diferença de salário para cada ano adicional de escolaridade.

A pobreza, no entanto, também é a realidade dos índios de países considerados desenvolvidos, como o Canadá, os Estados Unidos, a Austrália e a Nova Zelândia. Lá, a população indígena tem os indicadores sociais mais baixos e é vítima do avanço da obesidade e do diabetes tipo 2, além da baixa expectativa de vida. Na Austrália, a expectativa de vida de um aborígene é em média 20 anos menor do que a dos demais indivíduos.

A falta de apoio para a utilização de conhecimentos tradicionais e para a instalação de sistemas que atendam de maneira diferenciada essa população, além de problemas de ordem cultural como a discriminação e a falta de perspectivas de vida, refletem-se em problemas de saúde como alcoolismo que pode levar ao diabetes - que já atinge mais da metade dos índios do mundo - e nas taxas de suicídio.

“Em algumas comunidades, a diabetes alcançou níveis de epidemia e é um risco à existência dos índios”, afirma o relatório da ONU, que também destaca o avanço da Aids, trazida pela prostituição, em muitos casos, e da tuberculose. “Por causa da pobreza, a tuberculose afeta desproporcionalmente os indígenas”, invisíveis devido a diferenças linguísticas, distâncias geográficas e precárias condições de habitação.

O relatório da ONU sobre a situação dos povos indígenas no mundo também lembra que nas últimas duas décadas, centenas de jovens Guarani Kaiowá, no Mato Grosso do Sul, cometeream suicídio. Dados do Ministério da Saúde, coletados entre 2000 e 2005 mostram que em duas comunidades a taxa de suicídio era 19 vezes maior que a taxa nacional.

“A situação dos Kaiowá resume os principais problemas indígenas do Brasil. Desnutrição, suicídio, alcoolismo, desemprego, falta de terras e violência”, disse Marcos Terena, articulador do Comitê Intertribal - Memória e Ciência Indígena (ITC) ao comentar os resultados do levantamento. “O Mato Grosso do Sul é considerado o estado do país mais violento para os índios, onde os poderes pecuaristas e políticos avançaram demais”, criticou.

De acordo com a pesquisa, o baixo acesso a mecanismos que garantam condições de sobrevivência a essas comunidades como terra, saúde, educação e participação nas decisões políticas e econômicas em seus países têm explicações históricas. O documento conclui que a colonização e a expropriação fundiária são responsáveis por esses indicadores."

Fonte: "ONU revela que os povos indígenas são parte da população mais pobre do mundo" (Isabela Vieira - Repórter da Agência Brasil) . Leiam também: a íntegra da Declaração dos Direitos dos Povos Indígenas da ONU. Fonte da imagem: PULSAR


11 de janeiro de 2010

A arte de Kozák e os índios do Brasil

Ceramista Karajá. Foto: Vladimir Kozak – Museu Paranaense/s.d.

No século XX a arte indígena no Brasil foi bastante difundida através do desenhista, pintor, fotógrafo e cinegrafista Vladimir Kozák (1897-1979), que se radicou no Paraná no final dos anos 1930. O engenheiro mecânico tcheco migrou para o Brasil em 1920, morou em diversos estados brasileiros, registrando aspectos etnológicos e botânicos. No final dos anos trinta aprofundou seus estudos antropológicos, principalmente voltados à figura do indígena.

O legado de Kozák não é pequeno: são telas, desenhos, objetos, fotografias e rolos de filme. Muitos deles encontrados no Museu Paranaense. Apesar das cenas de carnavais e das extintas Congadas, o que se destaca aqui é sua contribuição em registrar os costumes indígenas do grupo Xetás, que até os anos de 1950 habitavam a região da Serra dos Dourados, no município de Umuarama, no noroeste do estado.

Por muito tempo Kozák tentou transformar a pintura indígena em uma nova corrente artística. Seu passatempo de férias era visitar as tribos e registrar nas telas os costumes dos povos. O pintor morreu em 1979, e, há 20 anos, contextualizou em palavras a importância dada pelos pintores à arte indígena: “Os índios estão esquecidos”.

Fonte: SuperElo e Picasa

O Amautismo e a Transformação Planetária

Interessantísima conferência do Dr. (Advogado) Fernando Ergueta, no Congresso "El Despertar de la Nueva Conciencia" em Barcelona.

Ergueta é originário da Bolívia, pertence à cultura Aymará e é sacerdote das comunidades de Tiahuanaco, milenária cidade mística de peregrinação, um centro cerimonial desde os tempos de Chamajpacha (tempo da escuridão) há 15.000 anos, localizada próxima ao lago Titicaca. A Cultura Aymará é uma das culturas mais antigas de América, cujos conhecimentos permanecem vigentes desdeaquele tempo.

Fernando Ergueta foi iniciado desde pequeno pelos sábios de seu povo na antiga Escola Filosófica Andina Amawtica Choquepajcha. Desde então procurou continuar com sua tradição, na busca do conhecimento de seus antepassados e com sua missão sagrada como amawtista.

É autor de livros, estudos e artigos relacionados com o amawtismo, que é a ciência relacionada com a essência filosófica das culturas ancestrais; do Tawantinsuyo, e do indianismo. Tem participado em atividades culturais, debates, foros, oficinas e conferências em diferentes países.

Fonte: Ankesenaton

7 de janeiro de 2010

200 anos em 10

From One Dance, Creation - pintura de Eric Gansworth (Onondaga)

Virada de ano no ocidente pós-romano e a reflexão a fazer diante das crescentes catástrofes climáticas é um pouco a visão de um velho, já que a aceleração do tempo que presencia minha geração a partir da era informática traz cada vez mais cabelos brancos e estranheza a quem viveu uma realidade e uma consciência de mundo radicalmente diversa naqueles passados anos 60 e 70. Tem sido um pouco difícil sentir-se realmente jovem diante da constatação dos replicantes vírus meméticos de auto-destruição presentes no Sistema, e aquela história de que a "teoria na prática é outra" perdeu toda a ironia pra quem gostaria de ver as coisas mais ajustadas aos ideais de evolução da consciência humana e humanitária.

Chegando a 2010, então, meu ensejo para a COP 16 que virá no México é que tomem todos a consciência de que os próximos dez anos podem valer por 200, tanto para o bem quanto para o mal, e portanto devemos nos esforçar para que seja pelo bem, para o bem e com o bem.

Aqui no Brasil, um pedido para a senadora Marina: um projeto ou um decreto, algo que possa corrigir aquilo que podemos considerar a mais grave falha estrutural das bases democráticas no país que é o fato de que as prefeituras municipais nomeiam maiormente para suas secretarias pessoas desvinculadas ou desengajadas de suas respectivas esferas de trabalho. Explico: em troca do apoio político para sua eleição, os prefeitos têm o costume de nomear como seus secretários pessoas que não têm competência ou compromisso ético de classe com as pastas que vão coordenar, simplesmente são os burgueses da cidade interessados em ganhar um salário do executivo municipal. Se houvesse uma norma geral de que os secretários devem ter ou formação na sua área ou experiência comprovada na mesma, haveriam Secretários de Educação mais responsáveis (e menos fraudes), Secretários de Saúde mais responsáveis (e menos fraudes), Secretários de Meio-Ambiente mais responsáveis (e menos fraudes). Acabariam os casos de donos de farmácia nomeados para secretaria de educação, fazendeiros nomeados para secretaria de saúde, donos de bazar nomeados para secretaria de meio-ambiente. Se municípios pequenos não tem condição de nomear um engenheiro florestal ou biólogo ou notório conservador ambientalista para secretário de meio-ambiente, por exemplo, não seria possível uma verba no Fundo de Participação dos Municípios específica para esse fim, e igualmente para as áreas de educação, saúde, agricultura, abastecimento?! Apenas tais indivíduos, engajados na causa, têm o sentido da devida responsabilidade ética, e compromissos de classe, para levar em frente a resposta às demandas crescentes da população. Do jeito como a coisa esteve, e ainda está, não vejo futuro. É no executivo municipal que começam as maiores falhas no sistema político, ou seja, a distribuição de privilégios a par dos interesses públicos. Sem uma correção e uma normatização da atribuição de nomeações do executivo nesses setores tão estratégicos, o Brasil pode continuar na retórica cordial de um "país do futuro" que nunca chega lá. Esperamos que não seja assim, e a correção seja feita a partir das necessidades das bases, que é o povo em suma.