O espaço do índio
Em defesa dos direitos dos povos indígenas brasileiros, escreve Maria Rachel Coelho:
"O Museu do Índio foi inaugurado em 19 de abril de 1953. É esta a data usada nos textos em geral e na Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu. Embora consideremos1952 de acordo com Darcy Ribeiro. Em seu livro, “ Aos trancos e barrancos: como o Brasil deu no que deu”, Rio de Janeiro, Guanabara, 1985, Darcy afirma que a inauguração do Museu deu-se em 1952.
O Museu do Índio, desempenhou um papel histórico na longa luta em defesa das populações indígenas, tendo à frente nomes emblemáticos como o do Marechal Rondon e do próprio Darcy. Em termos museográficos, o museu – projeto do arquiteto Ary Toledo – foi considerado um marco da museografia, passando a exercer enorme influência nacional e internacional. O tombamento do prédio em 1997 foi importante para sua preservação e no trabalho de revitalização da própria área em que se insere.
Feito esse breve e bem confuso histórico, nos dias de hoje, no casarão abandonado vivem dezenas de índios de diversas etnias. Os índios levam uma vida comunitária em que misturam valores da selva e da civilização. Os cerca de 35 mil índios que vivem no Estado do Rio de Janeiro, ali tem aconchego garantido, já que o Museu do Índio transferido em 1978 para a Rua das Palmeiras em Botafogo é dirigido por autoridades não indígenas e a burocracia impede que os indígenas tenham qualquer auxílio,salvo, em eventos festivos.
O prédio no Maracanã, está em precárias condições e os índios se revezam, e na garra e improviso se mantêm na área, temendo perdê-la para mendigos e para o próprio Poder Público. Apenas dois banheiros atendem a todos, que dormem em barracas de acampamento, amontoados em uma parte onde não chove, já que todo o resto da casa está devastada . O fornecimento de água e luz foi feita por escambo com a Secretaria da Agricultura, que ali tem hoje dois prédios.
(...) estamos desesperados com uma informação de que um projeto idealizado pelo ex-prefeito Cesar Maia, idéia apresentada à prefeitura na época pelo escritório Gilson Santos e Carlos Porto Arquitetos – o mesmo que criou as jóias do Pan, como o Engenhão e a Cidade dos Esportes já está na mesa do Secretário de Defesa Agropecuária, Inácio Afonso Kroetz e do Coordenador de Apoio Laboratorial, Jorge Caetano Junior, para ser concretizado na primeira quinzena do mês de outubro próximo, segundo o qual o imóvel estaria sendo vendido por 30 milhões para uma empresa privada espanhola, pela prefeitura do Rio para a construção de um Shopping Center e um imenso estacionamento para 3.000 automóveis. Segundo o projeto tal Parque, ainda ligaria o Maracanã à Quinta da Boa Vista, e visa a Copa do Mundo de 2014, quando o Estádio do Maracanã exibirá dois jogos, incluindo o da final.
Sem falar na desintegração do complexo laboratorial que funciona no Ministério da Agricultura em anexo a casa do índio.
A desintegração física e técnico-científica desse órgão é gravíssima para o Rio de Janeiro porque todo o controle de produtos industrializados, tanto na área animal, quanto vegetal e também os produtos importados e exportados nesta área são feitos pelo laboratório do Ministério da Agricultura -RJ. Qualquer produto para poder desembarcar (porto, aeroporto ou fronteiras), precisa de um laudo analítico de qualidade sob pena de colocar a saúde da população em risco de febre aftosa, alimentos contaminados, pragas da agricultura etc. Como um porto como o do Rio de Janeiro, importante desde à época do Império vai perder essa função para outra cidade. Só tem essa estrutura hoje para avocar tal fiscalização Pedro Leopoldo em Minas Gerais ou Campinas.
Trata-se da defesa de uma área restrita e exclusiva do Governo Federal que está sendo privatizada.
Temos todos os documentos e certidões que comprovam o relatado. Estamos atentos e tomando as medidas legais.
O que os índios que moram lá querem é a reestruturação da casa e sua transformação em um Centro Cultural, resgatando e divulgando a cultura indígena. E já temos até um empresário alemão querendo investir na reforma do casarão".
Como os atores sociais envolvidos não tem sido respeitados, dias depois alertou novamente Maria Rachel:
"SOUBE DO RESULTADO DA REUNIÃO REALIZADA ONTEM NO RIO DE JANEIRO POR UMA COMITIVA DO MINISTÉRIO DA AGRICULTURA DE BRASÍLIA ACERCA DO ANTIGO MUSEU DO ÍNDIO NO MARACANÃ. E A DECISÃO TOMADA É DE DEMOLIREM TUDO O MAIS RÁPIDO POSSÍVEL.
FICOU DECIDIDO QUE OS LABORATÓRIOS QUE FUNCIONAM NO PRÉDIO DO MINISTÉRIO SERÃO TRANSFERIDOS PARA A BARÃO DE TEFÉ.
NEM FALARAM EM ÍNDIOS, ESTÃO ENTREGANDO TUDO PARA O GOVERNO DO ESTADO E PARA A PREFEITURA DO RIO, QUE POR SUA VEZ, VÃO NEGOCIAR O TERRENO COM UMA EMPRESA ESTRANGEIRA.
APAGARAM TUDO E TIRARAM FOTOS DO PRÉDIO ESVAZIADO PARA FORJAREM QUE NÃO FUNCIONA NADA LÁ.
NA CASA MORAM ÍNDIOS, SERES HUMANOS, NO TERRENO EXISTEM CERCA DE 50 ÁRVORES SECULARES, NINHOS DE PÁSSAROS.
ELES ESTÃO APAGANDO TODA UMA HISTÓRIA.
NA COMITIVA VIERAM DOIS ENGENHEIROS E FOI FEITO UM RELATÓRIO E TIRADAS FOTOS COM O PRÉDIO VAZIO PRA JUSTIFICAR O ABANDONO. VÃO EXTINGUIR O LABORATÓRIO DA AGRICULTURA.
ESTÃO ENTERRANDO UM SONHO DE DARCY RIBEIRO E NINGUÉM FAZ NADA.
PEÇO SUA AJUDA, A QUALQUER MOMENTO OS ÍNDIOS VÃO SER ACORDADOS COM TRATORES, ALGUÉM TEM QUE FAZER ALGUMA COISA. "
Parece que, para muita gente que se pretende "civilizada", o índio deveria ser tratado como entulho, e seus direitos simplesmente descartados. Alô, sociedade civil, isto também é violência! Deveríamos encaminhar uma denúncia ao MPF.
Fontes: Maria Rachel Coelho e Garassari (fotos do Museu).
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