30 de setembro de 2008

Quem são eles (os isolados e a guerra do mogno)

Foto: Heinz Plenge Pardo - Frankfurt Zoological Society

A caoba ou mogno (Sweetenia macrophylla), também conhecida como “ouro vermelho” por seu alto valor comercial, é a espécie mais procurada no mercado internacional. Na América do Sul, a maior extração comercial desta espécie se encontra no Peru. A sobre-exploração comercial e a talha ilegal em Áreas Naturais Protegidas ou em terras indígenas junto com o deflorestamento para uso agrícola são a causa de seu progressivo desaparecimento. Hoje resta muito pouco mogno em Madre de Dios, abundando esta árvore só nas zonas mais remotas, onde vivem os povos indígenas em isolamento voluntário como yoras, mashcopiro e amahuacas. Os contatos são quase sempre breves e violentos, e culminam no derramamento de sangue ao defenderem os grupos indígenas suas terras com arcos e flechas, e os madeireiros com armas de fogo.

Não houve novidade na aparição na mídia dos índios desconhecidos encontrados pela Funai nas brenhas do Acre. Há muito se sabe que estas populações indígenas vivem nas planícies adjacentes aos rios, nas províncias de Iñapari e Iberia. A região também abriga a outros não contactados ou grupos indígenas isolados, como os Chitonahua, Amahuscar, Maxonahuas, e Morunahuas. A sobrevivência física e cultural destes povos indígenas depende da proteção das matas de Madre de Dios, região peruana cuja capital é Puerto Maldonado, cidade no eixo da rodovia trans-oceânica projetada e em finalização ligando o estado brasileiro do Acre ao Oceano Pacífico. Com isso também a selva onde viviam os grupos isolados passou a ser atingida, e o vandalismo da exploração madeireira na região teve oportunidade de sucessos contra grupos que vêm nos últimos meses se movimentando em direção do território brasileiro (no Acre o bravo sertanista Meirelles está na frente de contato no Igarapé Xinane, confiram as novidades de lá em Altino Machado).

"A organização da exploração ilegal da madeira no Peru se baseia em um sistema regional amazônico que existe há muito tempo, conhecido como "habilitación", o qual está financiado e controlado por intermediários e por uma poderosa sociedade de madeireiros. Os intermediários (habilitadores) adiantam dinheiro a pequenos bandos de lenhadores equipados (habilitados) para ingressar na mata a cortar árvores, as transportam a serrarias de "branqueamento" para "legalizá-los", e logo os envíam a depósitos de madeira situados nos centros urbanos. Os grupos de lenhadores ilegais estão em constante movimento e bem armados, e se comprovou que usam armas de fogo para resistirem a qualquer tentativa de confiscar sua madeira na mata. A talha é efetuada por trabalhadores florestais sem recursos, enquanto que os intermediários e os magnatas da madeira de cidades e povoados se encarregam da comercialização".

Fonte: Tom Griffiths. Leiam também, de Débora Gabrich,"Os Índios Invisíveis, a Transnacionalização da Amazônia e a Reificação da Natureza".

Povos indígenas

Rodolfo Stavenhagen, Vice-presidente do Instituto Interamericano de Direitos Humanos e Julián Burger, membro do escritório para os Povos Indígenas do Alto Comissariado de Direitos Humanos da ONU, falam neste vídeo-reportagem andaluz.

Beleza guatemalteca


Fonte: INTERGUAT - Guatemala

Escola das Américas

Massacre de El Mozote, 1981, El Salvador

"os Estados Unidos intervieram em onze diferentes países sul e centroamericanos durante a Guerra Fria, incluindo Guatemala, Costa Rica, Güiana, Equador, Brasil, Peru, Chile, Bolívia, Honduras, Nicarágua, e El Salvador. O objetivo principal destas intervenções foi facilitar mudanças de governos que fossem amigáveis para com os Estados Unidos (e na maioria absoluta dos casos bem menos amigáveis para com as populações nativas desses países.) Para este fim, desenvolveram a Escola das Américas (School of the Americas), que foi usada para treinar exércitos nativos nas técnicas e ideologia da insurgência e contra-insurgência".

Saibam mais em: "The Meaning of U.S. Imperialism, Genocide and Militarism", no Democratic Underground. Fonte: Brendan

15 de setembro de 2008

Imagens Sonoras do "Huni Meka"

"De duplos e estereoscópios: paralelismo e personificação nos cantos xamanísticos ameríndios", de Pedro de Niemeyer Cesarino, aborda os cantos do cipó na etnia Hunikuin:

"Os cantos huni muka dos Kaxinawá (Guimarães 2002:212-ss.) em muito ilustram tais especificidades do paralelismo mobilizado por artes verbais ligadas a práticas xamanísticas. Referentes aos usos e aos rituais do nixi pae (ou ayahuasca [Banisteriopsis caapi]), os huni muka são propriamente caminhos. Os dami, suas imagens, representações ou transformações visionárias são os caminhos (bai) abertos pelo nixi pae capazes de colocarem o cantador em relação aos yuxin ("espíritos") ali presentes, ou ao "povo do nixi pae", aqueles que realmente compreendem as palavras especiais do canto composto na língua dos antigos (shenipabu hãtxa). O huni muka sobrepõe/comunica o huni, a pessoa que canta, a Yube, a sucuri ancestral hipóstase do cipó, bem como o próprio cipó-homem (pois a ayahuasca é uma pessoa para os Kaxinawá e tantos outros povos amazônicos).

Longos e reiterativos, tais cantos possuem um tom recitativo e uma curva melódica pouco acentuada; perto de seu fim, tendem a "adquirir um ritmo vertiginoso de elocução, reforçado pelo staccato das sílabas regulares e pelo caráter reiterativo dos versos" (Guimarães 2002:211). Acompanhados de estribilhos, os huni muka são dotados de uma cadência encantatória, cujo ritmo "serve como um dinamizador das imagens que vão sendo impulsionadas paratática e paralelisticamente, em uma montagem que oscila, dialeticamente, entre a quebra e a continuidade" (Guimarães 2002:214-215). Seus estribilhos dizem muito também da sinestesia, outra característica notável de certas imagéticas xamanísticas:

Cada som [do estribilho] tem uma luz diferente, uma luz ou então daquelas forças. Tem várias luzes, cores: azul, vermelho, brilhoso. E tem vários nomes de cipó diferente: baka, pati, shawa, shane [...] o pati é verde, bem macio; o baka é bem leve e brilhoso, branco como escama de peixe; shawa é daqueles vermelhos, tipo sangue – quando pega mesmo, você vê sangue igual chuva; tem shane que é azul, um pássaro bem azul. Cada cipó tem sua cor e suas músicas (Norberto Sales Tene citado por Guimarães 2002:211-212).

Na música do huni muka, o cantador joga com um conjunto razoavelmente fixo de versos, combinando "indefinidamente e com grande liberdade seqüências inteiras do canto, alternando versos e repetindo-os ao sabor da sua – ou de alheia – inspiração" (Guimarães 2002:214). Um esquema de tal combinação é apresentado abaixo, acompanhando o original em shenipabu hãtxa (a língua dos antigos), a fim de esclarecer ao leitor algo do jogo das reiterações e das estruturas paralelísticas dos versos, estrofes e cenas em questão (Guimarães 2002:216-217).

(1) Na mão imensa da onça
(2) A força moendo moendo
(3) O corpo inteiro seguindo
(4) O homem – lenho estalando
(5) Sobre ti, agora, caindo
(6) O homem – lenho rachando
(7) Faísca quente chegando
(8) Faísca quente chegando
(9) O homem – gomo esticado
(10) Esticado o talo nascendo
(11) O homem – gomo esticado
(12) Esticado o talo nascendo
(13) O corpo inteiro seguindo
(14) Na mão imensa da onça
(15) A força moendo moendo
(16) O homem – lenho estalando
(17) Sobre ti, agora, caindo
(18) Faísca quente chegando
(19) O homem – lenho rachando
(20) Sobre ti, agora, caindo
(21) O homem – gomo esticado
(22) Esticado o talo nascendo
(23) Com o encanto guardado
(24) Jibóia – baú de encantos
(25) Jibóia – baú de encantos
(26) Jibóia branca fez de ponte
(27) Jibóia branca cara a cara
(28) Jibóia branca cara a cara
(29) Jibóia branca fez de ponte
(30) Com ela parada no meio
(31) Parada dentro da passagem
(32) Com ela parada no meio
(33) Gameleira cheia de frutas
(34) Zoando levou embora
(35) Nuvem de curica branca
(36) Com ela parada no meio
(37) Gameleira cheia de frutas
(38) Nuvem de curica branca
(39) Zoando levou embora
(40) Paxiúba cheia de frutas
(41) Nuvem de queixada branca
(42) Tan-tan queixo batendo
(43) Paxiúba cheia de frutas
(44) Nuvem de queixada branca
(45) Tantan queixo batendo
(46) O cacho apoiado no esteio
(47) Ouvindo primeiro subindo
(48) O cacho apoiado no esteio
(49) Ouvindo primeiro subindo
(50) Jabuti esticando a língua
(51) Ouvindo primeiro subindo
(52) Com ela parada no meio
(53) Jibóia – baú de encantos
(54) Jibóia branca fez de ponte
(55) Jibóia branca cara a cara
(56) Com ela parada no meio
(57) Jibóia – baú de encantos
(58) Jibóia branca fez de ponte
(59) Jibóia branca cara a cara
(60) Ouvindo primeiro subindo
(61) O cacho apoiado no esteio


O canto justapõe e recombina as unidades verbais até criar o efeito da cena total trazida pelo nixi pae. A sobreposição da pessoa do cantador à do cipó-gente, bem como o encontro subseqüente com Yube e os yuxin ("espíritos", "almas", "pessoas outras") deixam suas marcas na estrutura do canto, acima dividido segundo as unidades consagradas por Hymes (1992) em seu estudo das narrativas chinook. São elas as linhas (cujas palavras estão acima indicadas por letras e numerais minúsculos), as estrofes (indicadas em letras maiúsculas e numerais) e as cenas (em algarismos romanos). A primeira cena (compreendendo as estrofes A1, A2, B1, B2, B3) é aquela em que se visualiza a condição ambivalente do huni, como nos diz a própria expressão "huni karu" (linha 4), ao justapor "lenha (karu) do cipó/homem" a "lenha do homem". Sobrepondo o preparo da bebida alucinógena "ao preparo dos próprios homens, [convertidos em] lenha moída, sovada, e que acaba revelando o núcleo ou gomo onde guarda sua força" (Guimarães 2002:218), a cena inicial do canto mostra o huni deslocado pela nixi pae. Assim tomado pela experiência visionária – pelos passeios do aspecto excorporado de sua pessoa, de sua "alma do olho", o bedu yuxin (Kensinger 1995; Lagrou 1998) – o huni é levado a posições outras: os desenhos ou padrões (kene) que iniciam a experiência do nixi pae se convertem aos poucos em Yube, dona de todos os padrões e também xamã primordial, que em seguida devorará a pessoa.

Entramos então na cena II (estrofes C1, C2, D1, D2, E1, E2, F1, F2), na qual o canto justapõe a visualização de Yube à dos yuxin (os "espíritos" ou as "pessoas" do nixi pae) caracterizados pela cor branca (hushu). São eles a própria yube hushu, o txere hushu (o pássaro curica branca, que é a forma adquirida pelo bedu yuxin ao se desgarrar da pessoa em estados limiares) e yawa hushu (a queixada branca). O que mostra, portanto, este huni muka? A combinação de imagens, o efeito estereoscópico da sobreposição de cenas, nota Guimarães (2002:222), compõem "uma imagem do próprio espírito do olho em sua viagem pelos caminhos da miração". Imagem, porém, que corresponde à experiência imediata do cantador/locutor, isto é, de seu bedu yuxin, e não à experiência mediatizada de ouvintes submetidos a transmissões narrativas como a das akinhá xinguanas: as queixadas-itseke da narrativa Jamugikumalu, presentes na virtualidade memorial do mito, não são as mesmas que as queixadas-yuxin deste canto Kaxinawá, presentes enquanto tais para a alma do olho.

Observemos que a divisão em estrofes e cenas acima sugerida, se segue o modelo de Hymes apenas a título ilustrativo, não deve deixar de ser acompanhada de uma ressalva feita por Tedlock (1983) em seu estudo sobre narrativas Zuñi e Quiché: o arranjo das unidades do canto no instante da performance visualiza algo mais afim a uma ação dramática (como, aliás, bem notou Franchetto para as akinhá Kuikuro) do que à rígida estruturação das formas. Pois a "poesia" aí presente, acompanhando Tedlock e o poeta Charles Olson 1997 [1950], deve ser compreendida para além da limitação do verso ao discurso métrico, a fim de considerá-lo enquanto instância aberta ou projetiva capaz de comportar toda a carga do drama e das possibilidades da respiração: cantos como eventos, portanto, se vale a aproximação com certa poesia contemporânea ocidental. Eventos ou arenas que, no entanto, nada dizem de um sujeito lírico ou da criação artística auto-centrada, mas sim das ações e das experiências de cantadores que têm sua pessoa partida em múltiplos aspectos (tais como o bedu yuxin dos Kaxinawá), e assim submetidas às variações posicionais do visível e do invisível (Viveiros de Castro 1986; 2002b). O que a imagética de cantos como o huni muka nos traz é justamente aquilo que apenas cantadores cindidos em sua pessoa podem ver: o que o mito narra e rememora do invisível, cantos tais como os huni muka, por sua vez, mostram (e agem sobre)."

Boa constrictor imperator, jibóia que a cultura hunikuin identifica como Dua Busin

O texto completo deste artigo, adaptado da dissertação de mestrado de Cesarino em 2003, o leitor encontra em Mana vol.12 no.1 - Apr. 2006

Xavantes, Senhores das Águas


"Owners of the Water": trailer para um filme a ser lançado sobre o movimento social indígena contra o agrobusiness irresponsável da soja na Amazônia brasileira. Dirigido por Laura Graham, David Hernandez Palmar, Caimi Waiasse. Editado por Drew Annis e Laura Graham.

Os Xavantes agora em seu próprio site podem se comunicar :

"O povo Xavante se autodenomina A'wê Uptabi, povo verdadeiro. Vive hoje entre os estados de Mato Grosso e Goiás, Centro-Oeste do Brasil, numa região de cerrado. São cerca de 9 mil pessoas, vivendo em 55 aldeias, em sete reservas diferentes: Rio das Mortes, Couto Magalhães, Marechal Rondon, Areões, São Marcos, Sangradouro e Parabuburi. A língua que falam está classificada no tronco Jê.

Nossa aldeia é a Etêniritipa. É considerada entre os Xavantes como a aldeia mãe, por ser a última a ter contato com os brancos, há cinqüenta anos atrás. Depois disso foi denominada como Pimentel Barbosa. Localiza-se na Reserva Rio das Mortes, próxima às cidades de Canarana e Cascalheira. Na aldeia vivem cerca de quatrocentas pessoas, em 25 ocas dispostas num semicírculo em torno do Warã, voltadas para o rio e para a serra do Roncador.


Esta região hoje está cercada por fazendas de criação de bois e plantação de arroz e soja. Isso significa desmatamento e determina um processo de degradação do solo, além da poluição dos rios que adentram a reserva e são fonte de água para a aldeia. Atualmente, o projeto Brasil em Ação, do Governo Federal, está prevendo a construção de uma hidrovia que deverá passar pelo rio das Mortes, Araguaia e Tocantins, criando um corredor de exportação de soja e outros produtos para os países desenvolvidos. A construção da hidrovia vai modificar muito o rio, vai alterar o ecossistema e o fluxo das águas. Esse projeto não é bom nem para o rio, nem para as pessoas e os animais que vivem ali. Com isso, é clara a interfêrencia direta e indireta do branco na cultura Xavante, o que causa sérios problemas para a sobrevivência da aldeia.


Foi exatamente por este motivo que decidimos fazer este site. Precisavamos de um espaço para mostrar nossa cultura, nossa sabedoria, nosso jeito de viver neste mundo. É preciso que o branco entenda que não estamos contra ele, e sim a favor de uma harmonia para ambos os povos.


Somos guerreiros. Temos estratégias para sobreviver e seguir nossa tradição. Por isso decidimos trabalhar com o Projeto Aprendiz na construção deste site, e ter este espaço mágico do computador para que a gente possa conversar com muitas pessoas que partilham do nosso pensamento e também se preocupam com a saúde do nosso planeta. E que esta conversa traga frutos bons, mudanças na realidade de nossos povos, mais respeito e oportunidade para o futuro."

Leiam também: "Índios pedem distância de agrotóxico", de Alecy Alves.

14 de setembro de 2008

O Kenê Shipibo-Konibo

Pintura de Loyver Yui López, 2007
73 x 65 cm, acrílico sobre tela

A BELEZA

por Luisa Belaunde, antropóloga amazônica

"Segundo o pensamento shipibo-konibo, a beleza se nota a flor da pele. Alguém, ou algo, é belo quando tem kenê, ou seja, quando traz o corpo coberto de desenhos, uma filigrana de grafismos geométricos na qual traços curvos e retos se unem para formar redes de luz que envolvem a pele com uma nova pele feita de circuitos de energia colorida.

A arte de traçar kenê pertence tradicionalmente às mulheres, quem, segundo a cosmologia aprenderam a fazer desenhos copiando-os do corpo de uma mulher Inka, proveniente do eterno mundo de fogo do sol que atravessou o rio que separa os imortais dos mortais. Ela trazia sobre a pele os desenhos da jibóia, a poderosa senhora cósmica dos rios e do arco-íris, o caminho que une a água ao sol. Segundo o pensamento shipibo-konibo, todos os desenhos de tudo o que existe se originam nas manchas da pele da jibóia primordial; e por esta razão, para poder ver e fazer desenhos é necessário consumir as plantas que manifestam o poder da jibóia, especialmente, piripiri e ayahuasca.

Desde meninas as mulheres são tratadas com piripiri, uma planta Cyparacea que é utilizada para agudizar a visão e fazer ver desenhos na mente, para depois plasmá-los com precisão sobre a pele, os tecidos, as cerâmicas e a madeira. As mulheres pintam, usando hastes de madeira e tintas naturais. Também bordam, tecem e fazem adornos de miçangas.

Todos nós as temos visto em alguma feira de artesanato do país vendendo seus produtos, mas poucos de nós imaginamos a complexidade de seu pensamento artístico e a destreza necessária para produzir desenhos. As mulheres não necessitam de esboços. Diretamente fazem visível sobre um suporte material os desenhos que vêem em suas mentes, e desta maneira embelezam o entorno humano transformando-o à imagem do mundo dos Inkas. Sem as mulheres para fazer kenê, os homens não teriam nenhum adorno material e nosso mundo não luziria parecido ao dos deuses.

Mas os homens também vêem desenhos em suas mentes, ainda que tradicionalmente não cultivem a habilidade de materializá-los. As visões de kenê lhes permitem exercer o xamanismo, que costuma ser uma especialidade masculina. Durante as sessões de toma de ayahuasca, os participantes conseguem perceber às redes de filigrana de luz colorida que afloram de todo o existente, indicando o estado de sua saúde, tanto física como emocional e espiritual. Por meio do canto, o xamã se comunica com a energia da jibóia primordial e os outros espíritos donos das plantas, e sua voz vai traçando desenhos imateriais que envolvem ao enfermo com a energia das plantas e o curam. Cantar é traçar desenhos imateriais de cura, claros e perfumados.

No kenê se unem a estética e a medicina, o material e o imaterial, o feminino e o masculino. As habilidades de ver e fazer kenê repousam sobre a mimetização do ser humano com a energia das plantas que, por sua vez, manifestam os poderes generativos da jibóia primordial. Todas as formas visuais, olfativas, sonoras e tácteis dos desenhos shipibo-konibo são uma celebração da beleza da jibóia que os Inka eternos luzem com todo esplendor no céu".

Tambor Shipibo comercializado pela "Central Interregional Artisans of Peru" (CIAP)

Fontes: Barin Bababo (Wordpress e Flickr). No Brasil, o Povo Hunikuin (conhecido também como "Kaxinawá" ou "Cashinahua"), que também pertence ao grupo linguístico Pano assim como os Shipibo-Konibo, encontra-se em processo de tombar o seu Kenê (etnografismo) como patrimônio cultural junto ao Ministério da Cultura, o que lhe permitirá valorizar e dinamizar o comércio de seu importante artesanato têxtil.

13 de setembro de 2008

"Rerum Naturalium" e a Ipecacuanha

No último de maio de 1560 ("anno Domini 1560 sub finen mensis Maii"), em São Vicente, no Brasil, a derradeira povoação dos Portugueses, na parte Sul ("quae ultima est in India Brasilica vergens ad austrum Lusitanorum habitatio"), o padre José de Anchieta, então aos 26 anos de idade, escreveu notável carta ao P. Diego Laynes, em Roma, Prepósito Geral da Companhia de Jesus ("+Reverendo in Christo Patri Icacobo Laynes, Preaposito Generali Societatis Iesu"). Firmou, como de costume: "Minimus Societatis Iesu", o mínimo, o menor de todos, o último como se há traduzido, comparando-se ao dedo mínimo (minimus digitus, Plaut) da maravilhosa mão atuante da benemérita Companhia de Jesus.

Anchieta trata nessa sua epístola, intitulada "Rerum Naturalium", das coisas peculiares da terra brasileira (scribit de rebus terrae peculiaribus), abrangendo situação, estações do ano, ventos, tempestades, sol, chuva e duração dos dias, o peixe-boi, a pesca, a cobra sucurijuba, lagartos, a capivara (locus, tempora anni, venti, tempestates, sol, pluvia, et dierum spatia, boves marinus, piscatus, angues "sucuriuba", lacerti, animal "capivara" dictum) e, mais, ainda: as lontras (lutrae, a Lontra paranensis Rengger, existente no Brasil-Sul), o caranguejo e a cura do câncer (cancri-animalia, et sanatio a cancro-morbo), as cobras jararaca, cascavel e outras (colubres "iararaca", "cascavel", aliique), aranhas e vermes (araneae et cerucae, aliás Anchieta limita-se às aranhas e a um bicho parecido com a centopéia, a taturana, larva dos lepidópteros), as onças (pantherae), o tamanduá, a anta ("tapira" sive "anta"), a preguiça, o sariguê, os ouriços ("pigritia", "sarigué" et ericius), os macacos (simiae); o tatu, os veados, os gatos selvagens e outros animais ("tatu", cervi, cati silvestres aliaque animalia), os bichos de taquara e outros vermes (vermes arundinum, isto é, vermes de cana, de taquara, as primeiras formas da mariposa Pyralidae-Myelobia smerintha, a larva desta borboleta que se cria no ôco dos bambus, et alii), as formigas formicae, as abelhas, moscas e mosquitos (apes, muscae et culices), os papagaios, o "guará" e outras aves (psittaci, "guará" aliaeque aves), ervas, a mandioca, e outras plantas (herbae et plantae "mandioca", aliaeque), árvores de bálsamo, pinheiros e outras (arbores balsami, pinus et aliae), plantas medicinais (plantae medicinales), pedras e conchas (lapides et conchae), espectros noturnos e demônios (nocturnae imagines et daemonia), e finalmente, o Taumaturgo assinala a inexistência de deformidades entre os índios que quando têm filhos monstros, ou resultados de adultérios, sepultavam-nos vivos (non est deformitas membrorum in Indis, quia filios deformes sepeliunt vivos et etiam adulterino sanguine natos).


Podemos antever na obra de Anchieta a difusão do conhecimento etnobotânico dos indígenas brasileiros no mercado colonialista: a mais célebre das drogas brasileiras difundidas no século XVII foi a ipecacuanha (Cephaelis ipecacuanha) e a história da sua entrada na literatura e na prática médicas ilustra bem a participação portuguesa no enriquecimento da proto-farmacologia seiscentista européia. A ação da raiz da ipecacuanha, utilizada pelos índios tupis no Brasil, foi conhecida pelos jesuítas logo no século XVI. O Padre José de Anchieta descreveu-a na já referida carta de 1560 e o Padre Fernão Cardim tratou igualmente da ipecacuanha no capítulo sobre ervas medicinais do tratado sobre o Clima e Terra do Brasil. O tratado de Fernão Cardim foi publicado em inglês por Samuel Purchas em Hakluytus posthumus (1625), nas condições atrás descritas, dando assim a primeira notícia impressa sobre a ipecacuanha. As primeiras descrições detalhadas da ipecacuanha devem-se contudo a Georg Markgraf (1610-1644) na Historia rerum naturalium Brasiliae e a Willem Piso (1611-1644), na Historia naturalis Brasiliae, publicadas juntas em Leyden em 1648. Apesar de conhecida, a ipecacuanha foi pouco utilizada até que Jean Adrien Helvetius (1661-1727) a usou para curar o Delfim de França de disenteria em 1688. No século XVIII as suas virtudes foram confirmadas por Carlo Gianelli (1696-1759) em De admirabili radicis ipecacuanhae virtute (Pádua, 1745), mas persistiram várias confusões e incertezas sobre a verdadeira natureza da raiz até que Bernardino António Gomes, depois de regressar do Brasil, a descreveu na Memória sobre a ipecacuanha fusca do Brasil ou cipó das nossas boticas (Lisboa, 1801), juntamente com a classificação feita por Brotero com base nas suas observações. O esclarecimento da natureza botânica da ipecacuanha veio permitir que Joseph Pelletier e o fisiologista François Magendie, em colaboração, isolassem o seu princípio ativo, a emetina, em 1817.

Fonte: Alfredo Gomes, in "Anchietana", 1965: Histórias e Lendas de São Vicente

A presença militar em terras indígenas

O ministro brasileiro da Defesa, Nelson Jobim, durante visita às instalações de fronteira do Exército na comunidade de Maturacá no município de São Gabriel da Cachoeira. Foto: Antonio Cruz/ABr

A Declaração Universal dos Direitos dos Povos Indígenas da ONU recomenda a desmilitarização de terras indígenas. Foi aprovada na Assembléia Geral da ONU em setembro de 2007, com voto favorável do Brasil. O documento diz que "não se desenvolverão atividades militares nas terras ou territórios dos povos indígenas, a menos que essas atividades sejam justificadas por um interesse público pertinente ou livremente decididas com os povos indígenas interessados, ou por estes solicitadas".

Apesar da orientação da ONU, o Comando do Exército elaborou projeto de instalação de novos postos do Exército em áreas indígenas, no Plano Estratégico de Defesa, a ser divulgado agora em setembro.

O decreto presidencial assinado pelo Presidente Lula em julho desobriga a necessidade de submeter ao Conselho de Defesa Nacional pedidos de criação de novas unidades militares em reservas. O Exército afirma que, além de ter relação harmoniosa com comunidades indígenas, "é impositivo à Força Terrestre a necessária liberdade de ação em qualquer parte do território". A respeito, é muito ilustrativo o depoimento da antropóloga Roberta Mélega no site Brasil Oeste:

"(...) Uma situação recorrente nas aldeias Yanomami ilustra bem o choque cultural que ocorre entre eles e os militares. Praticamente todos os dias, do final da manhã até escurecer, os homens mais prestigiados da aldeia se reúnem para cheirar o paricá, uma substância fortemente alucinógena. Sob efeito do paricá, alguns homens realizam curas, outros têm visões, alguns inventam canções e renovam os mitos.

Quando entra em transe, o Yanomami vai dançar e cantar no meio da aldeia, que se torna então um espaço ritualmente sagrado para a tribo. Atravessar esse espaço durante o ritual é um tabu, como eu mesma verifiquei: na primeira vez que cheguei na aldeia de Maturacá, perguntei pelo chefe, e me apontaram a sua casa, que era do lado oposto de onde eu estava, e fui atravessando a aldeia, quando vi uma mulher gesticulando. Cheguei mais perto, e ela me falou em voz baixa: “não atravesse, vá pelas laterais, pois eles estão cheirando paricá!”. Imediatamente fui para uma das laterais e contornei a aldeia até chegar a casa do chefe.

Certo dia, quando estava na aldeia de Ariabu, os chefes me pediram para avisar os militares que eles não poderiam entrar de trator para buscar coco no meio da tarde, pois estaria ocorrendo o ritual do paricá. Fui ao pelotão, avisei um oficial, e ele me disse que não havia problema, que dava para ir “pela ponta” da aldeia. Voltei para a aldeia, e algum tempo depois, quando um Yanomami estava em transe no pátio da aldeia, apareceu o mesmo militar dirigindo o trator, tentando passar pelo centro da aldeia. Os índios que estavam participando do ritual se juntaram e impediram o trator de atravessar o centro. O coco seria usado para a comitiva de generais que chegaria no dia seguinte.

Apesar de ter presenciado todo o episódio, não consigo definir se os militares agiram daquela forma por ignorância do significado do ritual para os Yanomami ou por desrespeito intencional às crenças indígenas (...)".

Fonte: Alerta Total e Folha OnLine

12 de setembro de 2008

Game pode ensinar línguas indígenas


REZ WORLD™ - THE GAME: A empresa Thornton Media, Inc., líder em "Ferramentas de Linguagem para Nações Indígenas", apresenta REZ WORLD™, o primeiro Video-Game 3D que ensina línguas nativas. O jogo ensina a falar línguas e a ter conhecimento cultural. Os estudantes aprendem jogando divertidamente numa simulação das comunicações da vida social real. Isto envolve "humanos virtuais inteligentes" que reconhecem a fala do usuário, atitudes e envolvimentos sociais.

A tecnologia foi desenvolvida por cientistas de universidades e tem sido usada com sucesso por estudantes de idiomas. O que a distingue de outros jogos de computadores educacionais é a interação com outros personagens, no caso o Rez World tem como ambiente uma reserva indígena onde você tem que se comunicar em seu próprio idioma para interagir.

O protótipo de "Rez World™ - The game" foi apresentado na NIEA 2007 e se tornou rapidamente um hit. Há que recordar aos usuários do jogo a história da grande maioria das línguas indígenas, pois houveram gerações inteiras que as perderam devido a um premeditado extermínio cultural. A demo do jogo foi criada na língua Cherokee. Para maiores informações, contactem: info@ndnlanguage.com

Fontes: NPR e Thornton Media

Evo em jogo

Evo Morales "jogando bola" a 6 mil metros de altitude, no Monte Sajama

"A decisão do presidente Evo Morales, da Bolívia, de expulsar do país o embaixador estadunidense Philip Goldberg é um sinal da gravidade da crise provocada pela oposição de direita, que quer ''derrubar o índio'', como diz, para tudo voltar a ser como sempre foi. As raízes da crise estão na eleição do primeiro presidente indígena, cuja posse em janeiro de 2006 assinalou o início de um programa de reversão dos privilégios seculares da classe dominante boliviana e seus vínculos com o imperialismo dos EUA.

A crise se agravou à medida que as ações do presidente deixaram claro que a promessa de refundar a nação era para valer, e o confronto entre o governo e a elite política e empresarial dos departamentos (os estados bolivianos) mais ricos, que formam a chamada ''meia lua'', no leste do pais, ficou mais agudo durante o processo constituinte para institucionalizar a proclamada refundação nacional.

Além de um racismo antiindígena cada vez mais visível, a resistência direitista volta-se contra mudanças constitucionais que eliminam seus privilégios. A oligarquia dos departamentos mais ricos não aceita medidas democráticas como o reconhecimento do poder popular e a ampliação do protagonismo político dos indígenas; opõe-se à nacionalização dos recursos naturais; quer manter o controle sobre a riqueza gerada pelo gás (e não aceita seu uso para combater a pobreza), e rejeita a reforma agrária prevista pela Constituição e os limites para o tamanho máximo dos estabelecimentos agrícolas. Sem solução no parlamento boliviano (o governo tem maioria na Câmara dos Deputados mas a oligarquia controla o Senado), Evo Morales convocou um referendo constitucional para 7 de dezembro, quando a nova Carta será submetida a julgamento popular.

Este foi o pretexto para o aumento da histeria oposicionista nas últimas semanas, frente à perspectiva de legitimação da Constituição pelo voto popular. A oposição teme que se repita, no referendo constitucional, a mesma consagração alcançada por Evo Morales no referendo revogatório de 10 de agosto, quando o presidente foi apoiado por 67% do eleitorado, tendo mais votos do que na eleição de 2005, e vencendo mesmo em departamentos governados pela direita.

Havia a esperança de que o resultado do referendo levasse governo e oposição à negociação. Mas a direita fez uma leitura da votação no rumo oposto. Para resolver o impasse que ela própria criou, a oligarquia fez uma opção golpista e insurrecional, e intensificou a pressão contra o governo. As ações ilegais e violentas multiplicaram-se nas últimas semanas, com a ocupação e o vandalismo contra sedes regionais de agências do governo (principalmente do Instituto Nacional de Reforma Agrária) e postos de arrecadação tributária do governo central, luta de rua, ataques contra a infra-estrutura, bloqueio de rodovias e postos de fronteira. Os últimos dois dias viram atentados mais graves, como a explosão do gasoduto na província de Tarija e, depois, a sabotagem de uma válvula do mesmo gasoduto, causando sérios prejuízos para a exportação de gás para o Brasil, podendo agravar a situação financeira do governo.

É um golpe em andamento, com apoio da diplomacia dos EUA, denunciou o presidente Morales. Evo acusou o governador Rubén Costas (de Santa Cruz) e o empresário Branko Marinkovic, de serem os líderes do movimento golpista, amparados abertamente pelo embaixador Goldberg.

O Partido Comunista da Bolívia juntou-se a esta denúncia de um ''golpe de Estado civil'' e convocou os bolivianos à resistência contra a tentativa de ''instauração de uma ditadura fascista'' e contra a divisão do território boliviano.

Goldberg é um especialista em ações contra a democracia e a soberania nacional. Teve notório papel no retalhamento da antiga Iugoslávia, onde serviu antes de ser enviado para La Paz. Foi o chefe da missão estadunidense em Pristina, no Kossovo, sendo um dos articuladores da conspiração que levou à separação daquela região, deixando um rastro de sangue. Na Bolívia, multiplicam-se as evidência de seu envolvimento na formação e financiamento de milícias direitistas com recursos da Usaid (Agência Norte-americana para o Desenvolvimento Internacional). E que o filiam à estirpe dos berles, gordons e shapiros, e sua nefasta ação contra a democracia e a soberania nacional nos países sul-americanos. E evoca a liderança da diplomacia estadunidense nas conspirações que levaram aos golpes de estado contra João Goulart, no Brasil e Salvador Allende, no Chile, e à proliferação das ditaduras que infelicitaram os povos nesta parte do mundo. Ou à fracassada tentativa de deposição de Hugo Chávez, em 2002.

O apoio público do governo brasileiro ao presidente Evo Morales foi imediato e envolve um apelo para uma saída negociada para a crise. Ele ''insta todos os atores políticos a que exerçam comedimento, respeitem a institucionalidade democrática e retomem os canais do diálogo e da concertação, na busca de uma solução negociada e sustentável'', disse uma nota divulgada pelo Ministério de Relações Exteriores.

A nota exprime a preocupação dos democratas e patriotas. O governo Morales precisa ser defendido; as transformações vividas pela Bolívia precisam ser apoiadas ativamente; as ações do imperialismo, da embaixada dos EUA e da direita fascista precisam ser combatidas com vigor. O que está em jogo na Bolívia, além da democracia, do respeito à lei e à soberania e integridade do território, são as mudanças continentais, onde o imperialismo estadunidense tenta restaurar posições que perdeu ao longo desta década.

Os ataques contra a ordem legal e a democracia na Bolívia fazem parte do mesmo movimento que inclui o apoio ao governo marionete do direitista Álvaro Uribe, na Colômbia, e o envio da 4ª Frota para ameaçar a integração da América do Sul. A defesa da legalidade e das mudanças na Bolívia tem o mesmo sentido da defesa e do apoio ativo aos novos caminhos, soberanos e democráticos, que o continente trilha em nossos dias".



Leiam também: "Evo Morales, um Índio cheio de Gás", do astrólogo Fernando Fernandes. Fontes: The Soccer Blog, Vermelho e Contrabalboa

11 de setembro de 2008

Nguné Elü


During a video workshop in the Kuikuro village in the Upper Xingu, a lunar eclipse takes place, bringing mysterious consequences. Everything is turned upside - down as the male moon menstruates. It is time for purifying practices such as scarifying the skin, inducing vomiting and wrestling. Shamans cure the body pains brought about by the eclipse, while women sing songs about sexuality and gender, relating the moon's menstruation to their own.

"O DIA EM QUE A LUA MENSTRUOU", video de Takumã Kuikuro, Maricá Kuikuro
from the Video in the Villages collection
distributed by Documentary Educational Resources

Purchase: http://www.der.org/films/ngune-elu.html

A Opção pelo Comércio Justo e Solidário

Banho de mar de criança Haliti-Paresi nos últimos Jogos Indígenas em Olinda, 2007

As idéias sobre comércio justo datam do século XIX quando, em 1860, era publicado um livro em que o personagem Max Havelaar denunciava as injustiças praticadas no comércio de café entre a Indonésia e os Países Baixos. Em meados do século XX nasciam as primeiras organizações de comércio justo na Europa, e a primeira loja de comércio justo entre a Holanda e países do Terceiro Mundo, com a venda do açúcar de cana e artesanato.

Segundo a definição da IFAT (International Federation of Alternative Trade): Comércio justo consiste em uma parceria comercial baseada em diálogo, transparência e respeito, que busca maior eqüidade no comércio internacional. Ele contribui para o desenvolvimento sustentável através do oferecimento a produtores marginalizados de melhores condições de troca e maiores garantias de seus direitos.

Ainda de acordo com a European Fair Trade Association - EFTA (2001): "O comércio justo é uma aproximação alternativa ao comércio convencional internacional. É uma associação ao comércio que busca o desenvolvimento sustentável para os produtores excluídos e desfavorecidos. Busca prover melhores condições comerciais, através de campanhas de sensibilização".

Os princípios do comércio justo são que: o salário dos trabalhadores deve ser justo; o grupo produtor deve assegurar e promover a igualdade entre homens e mulheres; o grupo produtor deve buscar o desenvolvimento conjunto da população; a produção deve respeitar o entorno social e natural; o produto tem que ser de qualidade.

Em Mato Grosso, o Sebrae Nacional acaba de aprovar o projeto ‘Kani: Desenvolvimento Social e Econômico dos Povos Indígenas Paresí, Irantxe e Nambikwara por meio do Comércio Justo e Solidário’ da Associação Halitinã de Tangará da Serra.

De acordo com o coordenador Executivo do Projeto Kani, Luiz Alberto Pereira, em Mato Grosso apenas três projetos foram aprovados. “Em nosso estado apenas três projetos foram aprovados e nós fomos um deles. Este é um projeto que irá abranger três etnias, isso é muito bom”, observa Pereira.

O objetivo é ampliar os canais de comercialização por meio de ações de comércio justo e solidário de forma a desenvolver social e economicamente as comunidades dos Povos Indígenas Paresí, Irantxe e Nambikwara, com resultados concretos e sustentáveis, articulando políticas públicas locais favoráveis.

RESULTADOS FINALÍSTICOS - Ampliar o faturamento em 50 % até dezembro de 2009; Aumentar em 100% a quantidade de pontos de venda; Ampliar a área geográfica de atuação com a inserção de duas novas comunidades no projeto. Contudo, serão necessárias a realização de algumas ações para que os objetivos do projeto sejam atingidos, tais como: Elaborar um Plano de Ação para pontos de venda; Preparar equipe para ações de mercado (cursos e estruturação da área comercial); Capacitar equipe para participação em eventos e elaborar manual de participação; Desenvolver embalagens com design e ecologicamente corretas; Buscar certificação de produtos no comércio justo; Participar em feiras e eventos promocionais nacionais e internacionais; Apoiar ações para viabilizar o Comércio Justo; Contatar organizações no exterior para comercialização de produtos; Desenvolver estratégias de promoção comercial; Confeccionar material promocional; Desenvolver site em português, espanhol e inglês; Mensurar e avaliar os resultados obtidos.

Baseado em diálogo, transparência e respeito, o Comércio Justo e Solidário é um movimento crescente em todo o mundo. As instituições e empresas que atuam com esse conceito estão comprometidas com os direitos e a dignidade dos trabalhadores e da comunidade onde estão localizadas, respeitam o meio ambiente e praticam um preço justo na venda dos produtos, o que é bom para o produtor e também para o consumidor.

ALGUNS PROJETOS DA ASSOCIAÇÃO HALITINÃ – A Associação Indígena Halitinã de Tangará da Serra vem realizando projetos de sustentabilidade de renda tais como:

PROJETO KANI : Sustentabilidade e Geração de Renda na Extração do Pequi (Caryocar sp.) em Área Indígena Paresí patrocinado pela Petrobras 2007-2008. Em 2007 em seleção pública de projetos, firmou contrato com a Petrobras para ações de beneficiamento, geração de trabalho e renda e melhoria da qualidade alimentar, para 13 Aldeias do Povo Paresí, atendendo 419 pessoas na Terra Indígena Utiariti em ações de coleta seletiva, higienização, beneficiamento e comercialização de sub-produtos do Pequi, contando com parcerias da Universidade do Estado do Mato Grosso, Fundação Nacional do Índio, Secretaria Municipal de Agricultura e Meio Ambiente de Tangará da Serra e Empaer – Empresa Matogrossense de Extensão Rural.
Kani – Sustentabilidade, Geração de Renda, inclusão socioeconômica na Extração e Beneficiamento de frutos nativos do cerrado em Terra Indígena Paresí e Reaplicação do Projeto em Terras Indígenas Irantxe e Nambikwara, patrocinado pela Petrobras 2008-2009. O contrato de patrocínio com a Petrobras foi renovado e estendeu suas ações para os Povos Indígenas Nambikwara e Irantxe atendendo 30 aldeias e ampliando suas ações para atividades de comercialização,

Kani: Desenvolvimento Social e Econômico dos Povos Indígenas Paresí, Irantxe e Nambikwara por meio do Comércio Justo e Solidário, firmado acordo com o Sebrae Nacional, 2008-2010. Com enfoque especifico em comercialização, foi selecionado pelo SEBRAE/NA para ações de capacitação, participação de férias e eventos em 2008-2010, o projeto KANI– Desenvolvimento Social e Econômico dos Povos Indígenas Paresí, Irantxe e Nambikwara por meio do Comércio Justo e Solidário e além da parceria com o SEBRAE/NA conta com a parceria da EMPAER, FUNAI, Secretaria de Agricultura e Meio Ambiente, Secretaria de Industria e Comércio de Tangará da Serra.

KOHATSE - Criação de Peixes em tanque na aldeia Indígena Paresí Queimada. Parceria com a Secretaria de Aquicultura e Pesca (SEAP) 2008-2010 e Projeto de Piscicultura Aldeia Merure no município de General Carneiro-MT. Junto ao SEAP, encontra em fechamento convênio para criação de peixes em tanques para os Povos Indígenas Bororo-Meururi e Paresí – Aldeia Queimada.

Promoção de Saúde e Prevenção ao Uso Abusivo de Bebidas Alcoólicas na Sociedade Paresí – VIGISUS–Iniciativas Comunitárias 2008 - Atendimento das 50 aldeias Paresí com palestras, vídeos e discussões sobre o consumo abusivo de álcool em aldeias Paresí.

Indústria de Beneficiamento do Pequi – Ministério da Agricultura e Abastecimento (Mapa). Secretaria de Estado de Desenvolvimento Rural (Seder). Empresa Matogrossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural (Empaer/MT), 2008. O Projeto visa a implantação de um poço artesiano, duas unidades de pré-beneficiamento para o Pequi e compra de equipamentos para beneficiamento de Pequi.

CRÉDITO DE CARBONO – MUNDUS CARBO – Esse projeto implica na venda de crédito de carbono para empresas multilaterais.

PARTICIPAÇÃO EM REDES - Atualmente a Associação Halitinã é membro coordenadora do Grupo de Trabalho Amazônico (GTA), que discute e propõe ações de agroecologia e agroextrativismo na região sudoeste do Estado do Mato Grosso, é membro coordenadora do Grupo de Intercâmbio de Agricultura Sustentável (GIAS), que discute ações de comercialização e sementes crioulas.

Fontes: Ponto Solidário, Diário da Serra, Associação Halitinã e Day Life.

8 de setembro de 2008

Aminjin-Kim, Arte Marcial cabocla

Pintura: Tavares

"Nem Jiu-Jitsu, nem Capoeira, a nova arte marcial brasileira genuinamente cearense acaba de surgir em plena Região Metropolitana de Fortaleza. No município do Eusébio o professor de Kung Fu, Daniel Estevão e seus alunos fizeram uma vasta pesquisa da cultura indígena e descobriram a arte milenar de defesa e combate dos primeiros habitantes do Brasil, daí surgiu a AMINJIN-KIM, que significa estado de amar, ou modo certo de viver, na língua Macro-Jê, povo que viveu no sul do Ceará.

O trabalho será apresentado pelo município do Eusébio, como contribuição da Coordenadoria de Cultura do Município para a conquista do Selo Unicef, neste mês de agosto. De acordo com o prefeito Acilon Gonçalves (PSB) cada secretaria tem que apresentar um trabalho para a comissão que analisa se o município é merecedor de receber o selo.

O Unicef indicou que os projetos na área de cultura devam ter como base a cultura indígena ou quilombola. No Eusébio deverá ser feito o lançamento da nova arte marcial em um evento realizado pelo Núcleo de Artes, Educação e Cultura (Naec) do município, neste mês de agosto. De acordo com Daniel Estevão, após uma verdadeira peregrinação pelo Brasil realizando a pesquisa, encontrou algumas lutas milenares praticadas pelos indígenas como o Huka-Huka ou Iuteki, dos índios Xavantes, onde os oponentes lutam ajoelhados (parecido com o sumô).

O Txondaro, dos índios Guaranis, que dá ênfase ao equilíbrio, ao desvio, não se contrapor ao adversário, princípios bem parecidos com as utilizadas pelas artes marciais do oriente. Segundo Daniel, os praticantes do Txondaro conseguem pegar flechas em pleno vôo. Outra luta pesquisada por ele foi o Idajazó, praticada em pé, que utiliza o agarramento, pancada de braços, punho espalmado, ombro e palma aberta nos golpes, bem parecido com o boxe. “Com base nessas lutas, idealizados uma nova prática universalizando a cultura indígena”, disse. Ele catalogou também as dez armas principais utilizadas pelos índios, tais como a aboladeira, a zarabatana, chiuso, lanças, zagaias, o arpão, o tacape e o cavalo, que é utilizado como arma pelos índios Guaiacuru, “nosso catálogo é grande.

Estamos recriando um Brasil que a maioria dos brasileiros não conhece, criando uma arte baseada na cultura dos primeiros habitantes dessas terras. Catalogamos 1.500 golpes e movimentos e os batizamos com nomes em tupi guarani e macro-jê”, revelou. Com relação à nova arte marcial, Daniel observa que trabalha quatro princípios. O primeiro é o ANTA-PÉ, que significa agilidade e esperteza, que trabalha o corpo, o adaptando para aprender as técnicas.

O segundo é o TUPAMA, que significa golpe, onde os iniciados aprendem os golpes traumáticos. O terceiro é o VA-VA, que quer dizer balançar, cambalear, onde o aprendiz conhece as técnicas de queda, projeções (parecidos com os utilizados em Jiu-Jitsu) e o quarto o BAMBAÉ, ou aquilo que é torcido, onde são repassadas as técnicas de torção e quebradura.

Ele afirma que a nova luta tem uma base espiritual, que é muito forte na cultura indígena e a base de complemento, que explica os acessórios. O “Kimono” também tem como base vestimentas utilizadas pelos indígenas Caxinauá (Huni-Kuin, Kaxinawá), que trabalham com algodão e a faixa dos índios Guaranis. “Dessa forma temos a união de várias tribos, cada uma dando sua contribuição nesse trabalho”, afirmou."

Ritual do Huka-Huka no Xingu

Fontes: Antonio Viana e REUTERS/Sergio Moraes

7 de setembro de 2008

Brigadas Indígenas em Mato Grosso

Depois do surgimento das "Brigadas em Solidariedade aos Povos Indígenas" nas matas do Espírito Santo em movimento de ativismo humanitário, a idéia parece haver sido "encampada" por outro estado brasileiro, o Mato Grosso, grande campeão de desmatamento florestal (e aumento de PIB) na última década. O tradicional desfile cívico-militar de 7 de setembro, em Cuiabá, data de comemoração da Independência nacional, trouxe neste ano uma novidade demonstrando um projeto pioneiro no país. Vinte e cinco índios do Parque do Xingu, que formam a primeira brigada indígena de prevenção e combate a incêndios florestais criada no Brasil, se apresentaram na avenida Rubens de Mendonça, neste domingo de muitas queimadas em toda a Amazônia. Acompanharam a brigada no desfile outros 55 índios de quatro etnias da região do Médio Xingu – Trumai, Panará, Kaiapó e Juruna.
O grupo que participou do desfile em Cuiabá da aldeia Metuktire, da etnia Kaiapó, está em fase de capacitação e treinamento. Todo o curso de brigadista é ministrado pelo Corpo de Bombeiros do Estado e coordenado pelo major BM Alessandro Mariano Rodrigues.
A iniciativa de formação da brigada partiu dos próprios líderes indígenas que sentiram a necessidade de capacitar os jovens das aldeias para trabalhar a prevenção e combate a incêndios nas áreas de mata. A intenção do curso é justamente a de trabalhar a prevenção e auxiliar os habitantes das aldeias, especialmente em época de estiagem, a evitar que o fogo utilizado, por exemplo, no preparo de alimentos, se alastre com facilidade em função do vento em áreas abertas
A previsão do curso é a de capacitar até o próximo ano, aproximadamente 1.050 índios, capacitados e integrados nas brigadas, em todo o Estado. Além de exercício para prevenção e combate a incêndios florestais nas reservas indígenas, eles também estão recebendo noções de atendimento em primeiros socorros.
A criação das brigadas indígenas está autorizada pelo Decreto nº 1.223/2008, em um Termo de Cooperação Técnica entre Secretaria de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) e Casa Civil. O projeto é executado com o apoio do Banco do Brasil, Banco Internacional de Desenvolvimento (BID) e Instituto Raoni.
A capacitação para brigadista deve ser solicitada pelo líder indígena local, conforme prevê o decreto, e Fundação Nacional do Índio (Funai). Depois de treinados, os bombeiros índios serão equipados com todo o material necessário para o trabalho.
Na última estiagem ocorrida em 2007, o Parque Indígena do Xingu foi uma das áreas de preservação de Mato Grosso mais afetadas pelas queimadas e focos de incêndio. Com a formação dos brigadistas, conhecedores da região em que habitam, amplia a capacidade de prevenção e combate ao fogo que nos últimos anos, em função de secas prolongadas e de extensas áreas abertas, atingiu inúmeras aldeias e provocou prejuízos em tabas inteiras.
Para o cacique kaiapó, Megaron Txucarramae, um dos líderes nessa inciativa, destaca a importância dos indígenas no processo de conscientização ambiental e preservação das florestas "O Governo do Estado está nos apoiando nessa iniciativa. Antigamente, podia usar fogo em tudo para nossas coisas, hoje se tiver fogo temos que apagar, para não prejudicar nossas matas!”.

Fontes: 24Horas News e SECOM-MT.

6 de setembro de 2008

ave pajé

ZENEIDA, A PAJÉ DO MARAJÓ
por José Ribamar Bessa Freire, em 15/07/2007
Diário do Amazonas


"Escrevo de Soure, na ilha do Marajó. Vim convidado pela pajé Zeneida Lima de Araújo, de 73 anos, bisneta de Coemitanga, um xamã da etnia Sacaca.Com ela, vou escrever um livro sobre a pajelança cabocla do Marajó. Ela já é autora de um livro autobiográfico – O Mundo Místico dos Caruanas – editado em 1993, que conta sua trajetória de vida e recupera as narrativas míticas dos índios do Marajó, com os saberes sobre a floresta e sobre a medicina indígena.

Dona Zeneida, ao longo de sua vida, conviveu com alguns etnógrafos internacionalmente conhecidos como o francês Pierre Verger, que chegou ao Brasil nos anos 1950 na qualidade de fotógrafo e seu colega Roger Bastide, autor de vários estudos sobre a cultura brasileira. Bastide entrevistou dona Zeneida, registrando informações para escrever um livro inacabado sobre o mundo da encantaria marajoara. Os dois, junto com o etnógrafo Manuel Nunes Pereira, em suas obras se referem com respeito à pajé, com quem mantiveram rica correspondência. Algumas cartas desses três pesquisadores fazem parte dos arquivos de dona Zeneida.

Bisneta de pajé indígena, mas filha de um fazendeiro, advogado e político de renome no Pará, dona Zeneida sofreu discriminação de sua própria família, quando descobriram que ela era portadora de alguns talentos especiais. “Tenho 12 irmãos, mas durante muito tempo não mantive contato com minha família. Eles me desprezaram, por aquilo que eu representava na pajelança cabocla”, ela confessa.

Apesar da oposição, dona Zeneida foi iniciada na pajelança pelo mestre Mundico, que estava familiarizado com as energias viventes sob as águas, os encantados de água doce, chamados de caruanas e os de água salgada, conhecidos como caruás. Para Nunes Pereira, os caruanas constituem “uma manifestação impressionante das forças vivas da natureza. Eles são os senhores das águas do nosso planeta”. De acordo com a tradição marajoara, a fonte onde são gerados esses mistérios chama-se Patu Anu.

Em seu livro, prefaciado pela escritora Raquel de Queiroz, dona Zeneida apresenta a narrativa de criação do mundo, que vem dos índios Sacaca, e lhe foi contada pelo mestre Mundico. “No princípio, o mundo era só água. Um dia, o Grande Girador – criador do mundo – trouxe Auí e seu povo e mandou que construíssem sete cidades. Todos viveriam felizes desde que não olhassem para o fundo das águas, sob pena de serem tragados. E foi o que aconteceu como castigo pela desobediência cometida. A cabeça de Auí foi partida em três e deu origem aos reinos mineral, animal e vegetal. A terra que estava no fundo das águas veio à superfície e o Girador tornou a povoar as cidades, É justamente essa energia ligada ao encanto das águas que é usada no processo de cura”.

Seu poder de cura já havia sido anunciado pelo bisavô indígena. “Ele dizia para meu avô que o herdeiro da pajelança viria através de um filho dele”. Desde os onze anos, dona Zeneida já sabia fazer remédios extraídos da floresta, de ervas e plantas, de caranguejos e besouros. “As receitas simplesmente me vinham à cabeça como hoje me vêm as músicas que componho e as poesias que escrevo”, diz, acrescentando que também muito aprendeu com mestre Mundico, que lhe ensinou os segredos da natureza. A partir das águas, ela mobiliza as energias da natureza, no sentido da cura física, mental e espiritual.

“Vejo a energia da pessoa e, através dela, sei se está doente e até qual o mal que está sentido. Dependendo do caso, uso remédios do reino animal, vegetal ou mineral”. Com um chá de folhas de mamoeiro e água de poço, dona Zeneida curou de vez uma inflamação do cólon – uma colite – do seu filho Marcelo, que já havia sido desenganado pela medicina. No entanto, ela adverte: “Um pajé não é Deus. Certas curas não estão ao nosso alcance. É fundamental ter esta consciência até para, muitas vezes, aconselhar a procurar um médico. Eu não melhoro a vida de ninguém. A própria pessoa é que precisa encontrar a força para se erguer. Apenas transfiro energia para que isso aconteça”.

O livro escrito por dona Zeneida acabou caindo nas mãos da Escola de Samba Beija Flor de Nilópolis, que o escolheu como tema para o carnaval de 1998: “Pará, o mundo místico dos Caruanas nas águas do Patu-Anu”, com samba enredo cantado pelo Neguinho da Beija-Flor. Ela não queria, inicialmente, participar do desfile, mas acabou convencida com os argumentos de que o carnaval serviria para divulgar sua luta em defesa da natureza e da cultura da pajelança cabocla do Marajó. Nessa época, a mídia abriu espaço para ela e seus saberes, com matérias publicadas na grande imprensa, como o Jornal do Brasil, assinadas pelas jornalista Lena Frias e Juliana Caetano e várias revistas de circulação nacional. Mereceu um espaço nobre no `Globo Repórter`e um programa especial da Globosat.

“O homem está destruindo tudo, acabando com o planeta. Se continuar assim, vamos todos terminar numa grande solidão”. Ela criou uma organização não governamental, com a finalidade de defender o meio-ambiente e de educar as crianças de Soure, mantendo uma escola conveniada onde 320 crianças estudam em tempo integral. Com isso, recebeu apoio de diferentes instituições nacionais e internacionais como a UNESCO, a FAO, a Universidade Federal do Pará, a Universidade do Estado do Rio de Janeiro e a Petrobrás, através da Gerência Setorial Norte de Segurança, Meio-ambiente e Saúde da Petrobrás.

O coordenador de Projetos da Gerência da Petrobrás, Igor Melo e a Consultora na área de Saúde, Nazareth Solino estão apoiando também a realização das Jornadas de Cultura do Marajó, realizada anualmente pela ONG Caruanas. Já ocorreram três jornadas e em setembro acontecerá a IV Jornada. A terceira jornada contou com a participação da cineasta Tizuka Yamazaki, que está fazendo um filme sobre a vida de dona Zeneida. A IV Jornada contará com a participação do músico Egberto Gismonti, que já gravou mais de cem músicas cantadas por dona Zeneida, algumas delas cantadas em língua geral, herdada dos índios, mas a maioria de sua própria autoria.

Essa é dona Zeneida, a pajé cabocla do Marajó, cuja vida foi dedicada ao processo de cura, pelo qual não cobra um centavo, e à defesa da floresta, das águas, dos direitos das crianças, presentes em doze livros que escreveu centrados na educação ambiental".

Fontes: Taquiprati e Rossi

(*) Lima, Zeneida.
O mundo místico dos caruanas da Ilha do Marajó
Belém, Pará : Edições CEJUP, [2002]
Perkins 981.1500498 L732, M965, 2002

5 de setembro de 2008

Dia da Amazônia

"Mais de 180 campos de petróleo e de gás se estendem pela Amazônia ocidental, que abrange cinco países sul-americanos, ameaçando a biodiversidade e territórios indígenas, afirma um estudo de organizações norte-americanas. O caso do Peru é o que mais preocupa: 72% de seu território de selva coincidem com planos de exploração de petróleo, diz a pesquisa “Os projetos de petróleo e gás na Amazônia ocidental: uma ameaça à vida silvestre, à biodiversidade e aos povos indígenas”, publicada no dia 13 deste mês, pela revista científica PLoS ONE.

Estas atividades extrativistas cobrem uma área de mais de 688 quilômetros quadrados da Amazônia da Bolívia, Colômbia, Equador, Peru e parte do Brasil, onde operam cerca de 35 empresas multinacionais, afirmam os pesquisadores da Universidade Duke da Carolina do Norte e das ongs Save America’s Forests (Salve as Florestas Americanas) e Land is Life (Terra é Vida). As concessões se localizam nas “áreas mais ricas em espécies da Amazônia”, segundo o estudo. “A Amazônia ocidental é a região com maior biodiversidade do mundo, especialmente de anfíbios”, disse ao Terramérica um dos co-autores da pesquisa, Clinton Jenkins, ecologista da Universidade Duke.

Em apenas um hectare pode-se encontrar mais de 600 espécies de árvores, enquanto em todo o território dos Estados Unidos talvez existam cerca de 800, disse Jenkins. Qualquer biólogo que a visitar encontrará espécies nunca antes descritas pela ciência, mas bem conhecidas por seus habitantes indígenas. “É muito difícil ter acesso a ela e existem dezenas de grupos indígenas não contatados”, completamente isolados da civilização moderna, acrescentou. O Peru “é o caso mais alarmante”, disse ao Terramérica o autor principal do estudo, Matt Finer, ecologista-chefe da Save America’s Forests. Um dos maiores desafios foi registrar os projetos que se multiplicaram neste país desde que a pesquisa começou em 2005.

Nos primeiros meses daquele ano, pelo menos 15% da Amazônia peruana estava afetada por explorações de petróleo, no transcurso de 2005 chegou a 25% e em 2006 subiu para 50%. Em 2008, as atividades chegaram a afetar 72% dessa selva peruana, com 64 campos em aproximadamente 49 milhões de hectares. Cinqüenta e seis deles apareceram nos últimos cinco anos, 20 estão em áreas protegidas e 17 em reservas territoriais propostas ou criadas para proteger povos em isolamento voluntário.

O vice-ministro de Energia do Peru, Pedro Gamio, ressalta que menos de 5% dos territórios dados em concessão são explorados, e normalmente são outorgadas grandes extensões porque as empresas fazem grandes investimentos de alto risco com uma possibilidade de êxito que varia entre 10% e 15%. “O Peru é o menos explorado da região, pelo pêndulo político que nos causou tanto mal. Ao contrário de Brasil e Colômbia, nosso país perdeu a oportunidade de captar investimentos”, disse Gamio ao Terramérica. Segundo o Ministério de Energia e Minas, foram outorgadas concessões a 84 projetos de exploração de petróleo e gás até o final de 2007, 19 deles em processo de implantação e 65 já em execução.

Finer disse que, de modo simultâneo às concessões, cresceram os conflitos entre empresas e comunidades nativas. O Peru vive atualmente uma intensa onda de protesto na Amazônia, contra dois decretos que promovem o investimento privado em territórios indígenas. Apesar de serem poucos os que já estão em exploração – afirmou –, esta gera impactos, como o desmatamento para instalação de heliportos e acampamentos, ou construção de vias de acesso. De fato, a maior preocupação são as estradas, segundo Jenkins. Uma vez que existam, por elas chegam os colonos, o mesmo padrão que afetou as selvas do Brasil, disse o ecologista que dá parte de suas aulas anuais no Instituto de Pesquisas Ecológicas Nazaré Paulista, no Estado de São Paulo.

O Ministério de Minas do Peru garante que há normas que exigem das empresas prioridade ao tráfego fluvial e aéreo e a utilização de estradas já existentes. Inclusive para explorar, os planos deveriam contar com a consulta e aprovação prévia dos povos indígenas, segundo o Convênio 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que foi ratificado pelo Peru. “De acordo com o Convênio 169, os povos indígenas antecedem à formação do Estado e, portanto, devem ser consultados. Mas aqui se faz o contrário, ferindo nossos direitos consagrados”, disse ao Terramérica o presidente da Associação Inter-Étnica de Desenvolvimento da Selva Peruana, Alberto Pizango.

Para o vice-ministro Gamio, “se não fizermos um esforço para conhecer até onde chega o potencial de hidrocarbonos do Peru, as gerações futuras poderão nos julgar e nos acusar de não aproveitarmos esta oportunidade, quando o petróleo é protagonista na economia mundial”. A crescente demanda energética no mundo é um grande incentivo para a busca de recursos por parte de empresas radicadas nos Estados Unidos, Canadá, Europa e China, afirma a pesquisa. Os estudos de impacto ambiental não são independentes o suficiente para gerar confiança nas populações, pois são contratados e pagos pelas empresas concessionárias, e não são considerados os impactos sinérgicos. “Não há uma análise de maior escala sobre o impacto de dois, cinco, dez ou 20 lotes por vez”, disse Finer.

No Equador e na Bolívia, as áreas protegidas tampouco estão livres da exploração e prospecção de petróleo, como provam o equatoriano Parque Nacional Yasuní e o boliviano Parque Nacional Madidi, afirmam os pesquisadores. O governo equatoriano dividiu em lotes quase 65% de sua Amazônia, onde habitam dez grupos indígenas. Em 2007, as autoridades delimitaram uma zona intangível de 7.580 quilômetros quadrados no Yasuní, para manter seu petróleo debaixo da terra em troca de uma compensação econômica por parte da comunidade internacional. No Brasil, o governo concedeu 25 lotes em 2005, que circundam as jazidas de gás Urucu e Juruá no Estado do Amazonas. A Agência Nacional do Petróleo anunciou sua intenção de também explorar no Acre.

Na Colômbia, 25 campos de exploração e produção ficam dentro ou em torno do departamento de Putumayo, na fronteira com o Equador. As autoridades abriram uma nova rodada de licitações na mesma área. Apesar disso, mais de 90% da selva colombiana está livre de atividades petrolíferas, afirma a pesquisa. “Dirijo um carro, por isso não posso dizer proíbam o petróleo e o gás”, reconheceu Jenkins. Mas o uso de recursos naturais nessa região deveria ser social e ambientalmente sustentável, acrescentou."

* "Amazônia cada vez mais petroleira", artigo de Milagros Salazar, correspondente da IPS. Com colaboração de Stephen Leahy (Canadá). (FIN/2008)

Fontes: Rainforest e Terramérica. Leiam mais a respeito no Blog da Amazônia, do Altino Machado.

4 de setembro de 2008

"Txai", uma moeda social

MOEDA SOCIAL é um “bônus” que se utiliza em transações entre grupos de pessoas ou empreendimentos dispostos a cultivar a confiança, cooperação, solidariedade, transparência e a distribuição da riqueza entre todos os participantes do jogo da vida, em vez da especulação, competitividade e concentração da riqueza em poucas mãos. Em eventos da Economia Solidária vem-se utilizando distintas moedas sociais: em janeiro de 2005, no Fórum Social Mundial de Porto Alegre, o TXAI foi utilizado por primeira vez. TXAI é uma palavra que significa “companheiro”, “amanhã” e “metade preciosa de mim, metade de mim em você” para a tribo kaxinawá, da floresta tropical do Peru e do Brasil; ela foi escolhida como homenagem às primeiras nações do continente, em razão de seu significado, que evoca compromisso e reciprocidade nas relações sociais. Também existem o ECO SAMPA criado em São Paulo e a moeda MATE, no Rio Grande do Sul, para uso em eventos massivos.

A moeda social funciona como uma moeda complementar similar a outras existentes na atualidade, em países de todas as regiões do mundo. Os exemplos mais conhecidos são os pioneiros LETS do Canadá, Europa e Austrália, os SELs provenientes da França, e os milhares de grupos/clubes de “trocas solidárias” na América Latina, além de múltiplos sistemas no Japão e Coréia. Uma característica particular é que a moeda social não tem juros nem valor de reserva, isto é, não pode ser depositada nos bancos para produzir mais dinheiro. Em outras palavras, moeda social favorece a produção e não a especulação. Como são produzidas para ativar as economias locais, as moedas sociais devem ser utilizadas num âmbito restringido, durante um período de tempo também restringido: ao final do evento devem voltar ao lugar de origem e assim “forçar” as pessoas que as usam a “comprar” tanto quanto “venderam”, respeitando um princípio básico das trocas solidárias: não acumular a moeda, que é um simples instrumento de intercambio e não uma mercadoria, como a moeda oficial.

As moedas sociais podem ser obtidas de várias maneiras:

a) a partir do depósito de produtos levados pelo participante ao ECOBANCO, que entrega ao produtor uma quantidade de unidades de moeda social, correspondente a uma tabela de valores pré-fixados. ECOBANCO é o mecanismo através do qual se torna possível trocar produtos por moeda social, de modo a permitir que operações de “compra” e “venda” sem dinheiro oficial se realizem entre muitas pessoas, superando as limitações da troca direta. Trata-se de uma operação geradora do “efeito dinheiro”, mas sem lucro para terceiros. Uma vez que os intercambios aconteceram, desaparece o Ecobanco. Não existem, pois, “ecobanqueiros” que tenham lucro, mas sim uma “equipe operativa” responsável de uma gestão transparente e equitativa. Funciona num espaço indicado como tal, até o final do evento. O conjunto de produtos depositados por todos formará o “lastro” do ECOBANCO, que é o respaldo que permite colocar em circulação a moeda social;

b) a partir da aquisição em moeda oficial de uma cartilha pedagógica de divulgação da iniciativa, que traz algumas moedas sociais como “brinde” de finalidade pedagógica;

c) se alguém quiser participar da experiência e não tiver produtos proprios, poderá adquirir, com moeda oficial, produtos da Economia Solidária e trocá-los por unidades de moeda social no ECOBANCO.

Ao final do evento, é feita a des-troca das moedas sociais que estiverem nas mãos dos participantes por produtos do lastro. Para evitar que os participantes acumulem excesso de moeda social e paralisem o mercado, é importante ressaltar que não há troca de moeda social por moeda oficial, mas só por produtos do lastro do ECOBANCO.

Fonte: Codigo Libre. Para saber mais sobre Economía Solidária e moedas sociais, consultem:

Raízes Chinesas nas Culturas Ameríndias

Detalhe de uma estela em Cobán, Guatemala. Reminiscências de antigos deuses chineses?

Traduzo aqui o que escreveu Luis M.Chong em texto publicado originalmente em "China Libre Magazine":

"É comum dizer em espanhol que é um "conto chinês" quando algo descrito resvala no inverossímil ou soa como obra da fantasia. Entretanto, muitos contos chineses resultam ser reais apesar do inverossímil que pareça seu conteúdo. Tentar fazer um recontar das raízes chinesas nas antigas culturas indígenas da América pode chegar em certos momentos a parecer fantástico ou incrível, mas não é de nenhuma maneira outro "conto chinês" a mais. Ao contrário, deve ser uma peça de valor histórico-antropológico do qual devem se enriquecer nossos povos.

As similitudes entre as culturas ameríndias e a cultura chinesa não se limita apenas à América Central. Na América do Sul também encontramos abundantes exemplos de assombrosas similaridades entre estes povos tão distanciados geograficamente.

Para começar, a mesma mitologia incaica e a origem do Inca tem uma inegável correlação com a cultura chinesa. O mito do lago Titicaca, virtualmente considerado berço da civilização incaica nos revela uma surpreendente similitude entre a expressão toponímica e o significado que a lenda encerra. Conta esta que Inti, o deus do sol dos Incas, sentindo dó da barbárie em que viviam os homens primitivos, decidiu enviar à Terra os seus dois filhos. Lá os enviou a uma ilha no meio do lago e lhes repartiu ambas metades para que ali buscassem um lugar onde radicar-se e criar um Império civilizado. Assim, se denominou ao lago com o vocábulo Titicaca, que foi interpretado como uma onomatopéia de algum som. Entretanto, a origem toponímica talvez tenha que ver mais com a lenda descrita e possivelmente derivou do chinês. Em linguagem chinesa, Titi significa irmão menor e Coco, irmão maior. A lenda do lago dos dois irmãos, Titicaca, pode assim ter agora uma explicação mais lógica.

O vasto império que criaram estes dois filhos do sol, o império inca que tanta admiração causou no mundo todo, era denominado pelos incas como o Tahuantinsuyu. Para seguir assombrando-nos, há uma impressionante similitude homofônica com o termo chinês Ta Huang-ti so yiou, que no dialeto de Chekiang é precisamente Ta Huan-tisu-yuu e que significa "As propriedades do grande Imperador".

O Tahuantinsuyo estava dividido em quatro regiões correspondentes aos quatro pontos cardeais. Uma dessas regiões, o Chinchaysuyu, considerada como a principal, corresponde também homofonicamente ao termo chinês Chin-chia so you ou no dialeto de Chekiang Chin-chia su-yu, que quer dizer "propriedades da família dos sogros". Os outros três suyus deveriam corresponder a outros membros da família real.

As normas de conduta dos incas que eram simples - ama súa (não roube), ama llulla (não seja preguiçoso) e ama quella (não engane) - , têm muita semelhança com as três virtudes chinesas que regeram o povo chinês desde a antiguidade. Ser honesto, ser diligente e ser sincero. Ademais, ama, vocábulo quêchua que denota negação, é parecido com a-mo, que em chinês coloquial antigo significava exatamente "não"!

Como os incas careciam de um alfabeto ou forma de escrita, mantinham um registro de seus feitos mais importantes em um complicado sistema de nós que faziam em uma corda especial denominada quipu. Na antiguidade chinesa existiu também um semelhante sisatema antes da invenção de outros meios de registro. E o termo quipu se originou do chinês antigo khi-pu que quer dizer "livro ou caderno de registros". Na China, o termo "livro" foi usado para qualquer instrumento que sirva para documentar algo, indistintamente do material ou forma em que esteja confeccionado.

Por outro lado, se descobriu no Peru uma antiga estela com os caracteres chineses Tai Sui esculpidos. Tai Sui é um deus da mitologia chinesa que corresponde ao Zeus dos gregos. A estela é conhecida agora como a "estela Tai Sui" e se exibe no Parque Arqueológico Nacional do Peru.

No Equador, se desenterraram moedas pertencentes à dinastia Han cunhadas durante o reinado de Wang Mang (anos 9 a 25 d.C.) e se encontram em exibição no Museu Nacional desse país. Também na Bolívia se encontraram objetos talhados com inscrições em chinês.

Alguns costumes e relatos mitológicos sul-americanos também têm muita semelhança com aqueles da China. A crença na onça que tenta comer ao sol durante um eclipse persiste também na antiguidade chinesa. Assim como a prática popular para tratar de afugentar à onça. Tanto os indígenas sul-americanos como os chineses da antiguidade gritavam e faziam soar objetos durante os eclipses solares, em um esforço para afugentar a fera que, segundo eles, tratava de engolir o sol.

Também na região andina central encontramos de novo os complicados ritos funerários que persistem até nossos dias na China. As elaboradas cerimônias e o culto aos antepassados são comuns entre os povos andinos e o povo chinês. Também os indígenas da região central andina costumavam enterrar seus mortos com diversos objetos para a outra vida. E lhes punham um pedaço de ouro, assim como pedras brancas para evitar a decomposição.

Inclusive entre outras etnias indígenas mais afastadas, como é o caso dos guaranis, podemos achar certas semelhanças em sua linguagem falada. Em guarani, kuñataí quer dizer senhorita, e em chinês antigo kuñiang significava precisamente o mesmo. Pora-ité significa em guarani "muito formoso", que em chinês se diria piao-liang de. Uma das três formas radicais em guarani para o vocábulo carne é ro´o e exatamente em chinês se diz ruo.

Seria interminável a lista de semelhanças tão expressivas como tradicionais entre a cultura chinesa e as culturas pré-colombianas da América. Tudo isto demonstra uma coisa, que seguramente já se haviam estabelecido contatos culturais entre a China e os povos americanos muito antes que Cristóvão Colombo descobrisse o novo continente. Sem se esquecer que Colombo chegou ao novo mundo obsessionado por encontrar uma nova rota para Catay, a China lendária. Por isso afirmava haver chegado a Cipango, nome como se conhecia ao Japão naquele tempo, ao tocar solo na ilha de Guanahani. E denominou com soberba autoridade à primeira raiz que viu com usos medicinais entre os índios como "ruibarbo de China".

Fica óbvio que isto tudo não é um "conto chinês" mas sim uma reavaliação crítica das raízes chinesas em civilizações que se perderam no mistério, junto com o mistério de sua relação com uma das mais antigas civilizações do mundo".
Foto: Dona Blanco