Detalhe de uma estela em Cobán, Guatemala. Reminiscências de antigos deuses chineses?
Traduzo aqui o que escreveu Luis M.Chong em texto publicado originalmente em "China Libre Magazine":
"É comum dizer em espanhol que é um "conto chinês" quando algo descrito resvala no inverossímil ou soa como obra da fantasia. Entretanto, muitos contos chineses resultam ser reais apesar do inverossímil que pareça seu conteúdo. Tentar fazer um recontar das raízes chinesas nas antigas culturas indígenas da América pode chegar em certos momentos a parecer fantástico ou incrível, mas não é de nenhuma maneira outro "conto chinês" a mais. Ao contrário, deve ser uma peça de valor histórico-antropológico do qual devem se enriquecer nossos povos.
As similitudes entre as culturas ameríndias e a cultura chinesa não se limita apenas à América Central. Na América do Sul também encontramos abundantes exemplos de assombrosas similaridades entre estes povos tão distanciados geograficamente.
Para começar, a mesma mitologia incaica e a origem do Inca tem uma inegável correlação com a cultura chinesa. O mito do lago Titicaca, virtualmente considerado berço da civilização incaica nos revela uma surpreendente similitude entre a expressão toponímica e o significado que a lenda encerra. Conta esta que Inti, o deus do sol dos Incas, sentindo dó da barbárie em que viviam os homens primitivos, decidiu enviar à Terra os seus dois filhos. Lá os enviou a uma ilha no meio do lago e lhes repartiu ambas metades para que ali buscassem um lugar onde radicar-se e criar um Império civilizado. Assim, se denominou ao lago com o vocábulo Titicaca, que foi interpretado como uma onomatopéia de algum som. Entretanto, a origem toponímica talvez tenha que ver mais com a lenda descrita e possivelmente derivou do chinês. Em linguagem chinesa, Titi significa irmão menor e Coco, irmão maior. A lenda do lago dos dois irmãos, Titicaca, pode assim ter agora uma explicação mais lógica.
O vasto império que criaram estes dois filhos do sol, o império inca que tanta admiração causou no mundo todo, era denominado pelos incas como o
Tahuantinsuyu. Para seguir assombrando-nos, há uma impressionante similitude homofônica com o termo chinês
Ta Huang-ti so yiou, que no dialeto de Chekiang é precisamente
Ta Huan-tisu-yuu e que significa "As propriedades do grande Imperador".
O Tahuantinsuyo estava dividido em quatro regiões correspondentes aos quatro pontos cardeais. Uma dessas regiões, o
Chinchaysuyu, considerada como a principal, corresponde também homofonicamente ao termo chinês
Chin-chia so you ou no dialeto de Chekiang
Chin-chia su-yu, que quer dizer "propriedades da família dos sogros". Os outros três
suyus deveriam corresponder a outros membros da família real.
As normas de conduta dos incas que eram simples -
ama súa (não roube),
ama llulla (não seja preguiçoso) e
ama quella (não engane) - , têm muita semelhança com as três virtudes chinesas que regeram o povo chinês desde a antiguidade. Ser honesto, ser diligente e ser sincero. Ademais,
ama, vocábulo quêchua que denota negação, é parecido com
a-mo, que em chinês coloquial antigo significava exatamente "não"!
Como os incas careciam de um alfabeto ou forma de escrita, mantinham um registro de seus feitos mais importantes em um complicado sistema de nós que faziam em uma corda especial denominada
quipu. Na antiguidade chinesa existiu também um semelhante sisatema antes da invenção de outros meios de registro. E o termo
quipu se originou do chinês antigo
khi-pu que quer dizer "livro ou caderno de registros". Na China, o termo "livro" foi usado para qualquer instrumento que sirva para documentar algo, indistintamente do material ou forma em que esteja confeccionado.
Por outro lado, se descobriu no Peru uma antiga estela com os caracteres chineses
Tai Sui esculpidos. Tai Sui é um deus da mitologia chinesa que corresponde ao Zeus dos gregos. A estela é conhecida agora como a "estela Tai Sui" e se exibe no Parque Arqueológico Nacional do Peru.
No Equador, se desenterraram moedas pertencentes à dinastia Han cunhadas durante o reinado de Wang Mang (anos 9 a 25 d.C.) e se encontram em exibição no Museu Nacional desse país. Também na Bolívia se encontraram objetos talhados com inscrições em chinês.
Alguns costumes e relatos mitológicos sul-americanos também têm muita semelhança com aqueles da China. A crença na onça que tenta comer ao sol durante um eclipse persiste também na antiguidade chinesa. Assim como a prática popular para tratar de afugentar à onça. Tanto os indígenas sul-americanos como os chineses da antiguidade gritavam e faziam soar objetos durante os eclipses solares, em um esforço para afugentar a fera que, segundo eles, tratava de engolir o sol.
Também na região andina central encontramos de novo os complicados ritos funerários que persistem até nossos dias na China. As elaboradas cerimônias e o culto aos antepassados são comuns entre os povos andinos e o povo chinês. Também os indígenas da região central andina costumavam enterrar seus mortos com diversos objetos para a outra vida. E lhes punham um pedaço de ouro, assim como pedras brancas para evitar a decomposição.
Inclusive entre outras etnias indígenas mais afastadas, como é o caso dos guaranis, podemos achar certas semelhanças em sua linguagem falada. Em guarani,
kuñataí quer dizer senhorita, e em chinês antigo
kuñiang significava precisamente o mesmo.
Pora-ité significa em guarani "muito formoso", que em chinês se diria
piao-liang de. Uma das três formas radicais em guarani para o vocábulo carne é
ro´o e exatamente em chinês se diz
ruo.
Seria interminável a lista de semelhanças tão expressivas como tradicionais entre a cultura chinesa e as culturas pré-colombianas da América. Tudo isto demonstra uma coisa, que seguramente já se haviam estabelecido contatos culturais entre a China e os povos americanos muito antes que Cristóvão Colombo descobrisse o novo continente. Sem se esquecer que Colombo chegou ao novo mundo obsessionado por encontrar uma nova rota para Catay, a China lendária. Por isso afirmava haver chegado a Cipango, nome como se conhecia ao Japão naquele tempo, ao tocar solo na ilha de Guanahani. E denominou com soberba autoridade à primeira raiz que viu com usos medicinais entre os índios como "ruibarbo de China".
Fica óbvio que isto tudo não é um "conto chinês" mas sim uma reavaliação crítica das raízes chinesas em civilizações que se perderam no mistério, junto com o mistério de sua relação com uma das mais antigas civilizações do mundo".
Foto:
Dona Blanco