30 de março de 2009

E Iaçá subiu pro céu...

Arco-íris sobre a floresta de Ulu Baram. photo by AFP / Getty

"Iaçá não queria casar, fazia birra contra o noivo até que sua mãe se irritou e mandou que a menina dormisse ao relento. Naquela noite, o sereno estava forte, Iaçá não aguentou o frio e, chorando, implorou que a mãe abrisse a porta de casa. A mãe abriu furiosa. Matou a filha a pauladas, cortou a cabeça da jovem e jogou o corpo no rio. A cabeça desandou a rolar, rolar, rolar, em volta da casa. Pensava em que se transformaria: fruta ou legume seria comida; rio seria bebida; pau seria derrubada; terra seria pisada; caça seria morta; palha de palmeira, fariam dela uma casa. ‘‘Eu vou ser Lua’’, decidiu Iaçá. Arranjou dois novelos de linha e chamou o urubu que vive na banda de dentro do céu. O urubu aceitou o chamado e voltou para o céu levando os dois novelos de linha. Prendeu uma ponta na cabeça da índia e carregou com os dentes a outra extremidade. Subiu, subiu, subiu ao céu. A cabeça virou a lua, os olhos arrancados pelo urubu transformaram-se em estrelas. E o sangue que caía do céu desenhou o arco-íris... "

Fonte: "Rã-txa hu-ni-ku-ĩ, a Língua dos Caxinauás", obra pioneira da etnografia brasileira por João Capistrano de Abreu.

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