Pintura do peruano Pablo Amaringo, da fonte do texto de Renan ReisAmigos do blog, continuamos de pé, resistindo e assim ficando cada vez mais fortes. Diante do absurdo e kafkiano impasse jurídico do processo levantado contra o autor deste blog pela Fundação Elias Mansour (secretaria de cultura do Estado do Acre à qual estou dedicado desde 1988 como pesquisador da Cultura da Ayahuasca, a qual em nome de obscura burocracia havia pretendido desqualificar os meus procedimentos e rendimentos funcionais), pois bem, resolvi por o pé na estrada e as mãos na massa para fazer aquilo que sei, ou seja, ser um artista de vanguarda e um produtor cultural. Parece que alguns ideólogos da situação desconhecem que cultura e arte possuem como premissa a liberdade, mas isso não será motivo para que nos deixemos iludir com tamanha incongruência por parte de algumas autoridades. Temos muitos bons pajés a trabalhar a nosso favor no astral superior e também aqui na terra!...
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Estamos agora entre amigos de diferentes etnias fundando a "Casa de Artes do Imaginário dos Povos da Floresta" no município de Sena Madureira, como vocês poderão vislumbrar desde já no novo blog em
http://imaginativosdafloresta.blogspot.com/ :
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"Os povos indígenas do Acre vêm lutando para a garantia de suas organizações próprias, a fim de dar continuidade à luta pela demarcação e posse de suas terras, bem como a preservação da biodiversidade para sobrevivência física econômica e cultural de suas etnias. Em 1988 ocorreu a formação da Aliança dos Povos da Floresta que uniu índios e seringueiros do Acre na defesa do patrimônio florestal. Graças a essa representatividade assegurada, conseguiram-se grandes avanços políticos e jurídicos, mas infelizmente nos últimos anos vem se diagnosticando uma extremada dependência quanto aos assistencialismos dos órgãos federais, estaduais e municipais, motivo este de muitos destes povos sobrexistirem hoje com graves problemas internos por falta de saúde, educação, transporte e comunicação de qualidade nas aldeias, defesa de seus territórios quanto a invasões de caçadores, pescadores e pequenos madeireiros ribeirinhos, e principalmente a corrosão de sua cultura tradicional nas novas gerações mais expostas ao aculturador convívio urbano.
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Por isso a criação da “Casa de Artes do Imaginário dos Povos da Floresta”, propondo elaborar coletivamente novas alternativas para estes problemas através da inserção de seus membros nos mercados nacional e internacional das artes em uma política de comércio justo, se insere na proposta de autonomia indígena ao promover a valorização e resgaste da cultura do imaginário entre as diversas etnias amazônicas bem como entre as populações extrativistas da Amazônia.
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Esse almejado incremento de renda, a ser proporcionado aos membros associados da “Casa de Artes do Imaginário dos Povos da Floresta” através do comércio justo de suas obras e do aprimoramento de suas atividades produtivas, pretende estar inserido em uma contínua conscientização dos interesses de longo prazo de suas respectivas comunidades visando que os membros passem a aplicar os recursos obtidos em benefício de outros projetos de interesse comum dessas populações e não meramente em benefícios imediatos de caráter individual e resultados pouco duradouros."
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Todos esses meses desde que vim do município acreano de Jordão em julho do ano passado, tenho dedicado à pesquisa da historiografia da primeira obra etnográfica brasileira, lançada em 1914, e que foi justamente dedicada à etnia hunikuin. Estou já com o projeto finalizado e o filme previsto será dirigido por Osair Sales (Siã Kaxinawá), grande liderança e destaque cultural dos povos indígenas do Acre. Assim, tenho hoje o gosto de dizer que poderei continuar demonstrando com satisfação a veracidade e a força de meu trabalho no setor cultural acreano há mais de vinte anos. Não sou um político, sou um cidadão brasileiro normal, sem filiação partidária mas com eloquentes serviços prestados à sociedade civil do estado onde resido há 22 anos.
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Sobre as artes do imaginário, que nossos associados em breve começarão a receber capacitação em técnicas de escultura, pintura, e pesquisa e desenvolvimento de materiais, gostaria de acrescentar aqui as considerações de Renan Reis sobre Arte Visionária, que nos vem bem a calhar:
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"A arte visionária, assim como qualquer forma de arte, é uma tentativa de conhecimento da realidade. Como Lévi-Strauss diz, todo pensamento se baseia no desejo de compreender o real, e o pensamento nativo (no caso Shipibo-Conibo) não se diferencia do contemporâneo. Se tratando de arte, ela é uma maneira que o homem encontrou de transformar a Natureza em cultura, explorando a relação entre significado (relacionado a estética pura) e significante (relacionado a estética transcendental).
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No caso da arte visionária, sendo ela uma tentativa de presentificação do sagrado, esta relação entre significado e significante é espelhada na relação entre o mundo visível e o invisível, vivos e mortos, inconsciente e consciente; presente também em toda arte “primitiva”. É através desta relação que a arte visionária torna compreensível o desconhecido, é uma narrativa posterior ao ritual.
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Como toquei no assunto da arte “primitiva”, e partindo de Sally Price, muitas das obras que observamos de arte visionária (como as de Pablo Amaringo) não poderiam ser vistas como “arte primitiva”, pois se conhece o autor e estas obras podem ser reproduzidas. Na arte “primitiva” a opinião do autor e seu nome não são conhecidos.
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Não poderia esquecer de falar que a arte visionária parte da experiência do sublime provocada pela contemplação, no caso, a experiência estética provocada pelos enteógenos não é originada de uma percepção da forma que atribui um juízo à ela, e sim uma experiência de contemplação pura da forma da realidade.
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Ao produzir estas obras, o artista oferece um modelo reduzido da realidade, tornando-a compreensível e transmitindo prazer nesta contemplação. Também devemos observar que as obras de arte visionária que possuem uma gama de detalhes enquadram-se como uma percepção imaginativa, que é quando há diferentes elementos observados através da percepção oferecendo um complexo modelo de uma realidade que esta no campo do invisível. O contrário, que se enquadra como imaginação perceptiva, é quando a obra não oferece muitos detalhes, mas pelos poucos que ela tem, nos possibilita imaginar um objeto de maior complexidade."
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