22 de agosto de 2008

As Plantas Medicinais do Povo Xacriabá

AS PLANTAS MEDICINAIS

As plantas medicinais
Combatem doenças e dores
Só temos de conhecer
Seus verdadeiros valores
Quem entende desta arte
Descreve parte por parte
Para explicar aos leitores

Tudo o que Deus criou
Já nasce com seu valor
Não sou contra farmácia
Nem hospital nem doutor
Mas se existissem as reservas
Das matas com suas ervas
Não havia tanta dor

Vamos procurar conhecer
As plantas medicinais
Seguindo um pouco do exemplo
Que deram os nossos pais
Pra ver se sobram alguns trocados
Pois só com remédio comprado
A gente não agüenta mais!

(Rosenir Gonçalves Neves – Livro Xacriabá de plantas medicinais – fonte de esperança e mais saúde.)

Em Minas Gerais, um projeto de recuperação de espécies vegetais em extinção e que são usadas pelos índios será feito com o apoio de uma equipe do Instituto Estadual de Florestas (IEF), órgão ligado à Semad. "Vamos oferecer suporte técnico, no sentido de verificar a situação ambiental das aldeias e avaliar o nível de degradação das terras. Assim, será possível recuperar plantas que, por algum motivo, deixaram de ser cultivadas, mas que sejam consideradas importantes pelos índios", ressaltou o diretor de desenvolvimento e conservação ambiental, Luiz Carlos Cardoso Vale.
O termo de cooperação técnica também conta com o apoio dos dez municípios, onde existem comunidades indígenas. De acordo com o assessor especial para Assuntos Indígenas do Governo de Minas, Airton Krenak, a parceria integra e horizontaliza as ações sociais do Estado voltadas para os povos indígenas.
"Essa convergência entre diferentes órgãos governamentais fortalece as medidas adotadas. E o mais importante, ainda, é o fato de estarem sendo executadas em consonância com as vontades da população indígena", destacou.
Além disso, um acordo de cooperação técnica firmado entre as Secretarias de Estado de Saúde (SES) e a de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) para promover o resgate da medicina tradicional desenvolvida nas aldeias já está em andamento. A proposta é registrar o saber das etnias, voltado para a cura com ervas, e, ainda, recuperar as nascentes e a cobertura vegetal das áreas habitadas pelos índios.
"Sabemos que os povos indígenas são extremamente ricos em conhecimentos, especialmente no que se refere à cura. Dessa forma, estamos incentivando o resgate desse saber, pois entendemos que pode trazer contribuições significativas para a saúde da população indígena, ressaltando a preocupação em relação à sobreposição no uso de medicamentos alopáticos e os que são usados nas aldeias. Além disso, é uma forma de respeitar e valorizar as tradições das etnias em Minas Gerais", destacou Simone Faria Abreu, coordenadora estadual de Saúde Indígena.
Uma das medidas previstas pelo termo de cooperação técnica é a criação de um banco de dados, relacionando todas as espécies de ervas utilizadas como medicamento por cada uma das etnias. O banco conterá o nome oficial da planta, a forma como ela é conhecida na aldeia, sua utilidade, o modo de usar, o período da colheita, além de outras informações.
Para elaborar o banco, cada comunidade indígena elegeu representantes como responsáveis por realizar a coleta de dados na aldeia. São eles que visitam as casas, entrevistando os moradores e fazendo o registro daquilo que foi informado. "Todo o levantamento é realizado pelo próprio índio da aldeia.
Com isso, vamos obter um diagnóstico real do que é praticado pela população indígena, podendo, ainda, garantir o registro em nome do detentor do saber, que é a própria etnia", garantiu Simone.

Na foto, da esquerda para a direita, algumas espécies típicas da Caatinga: 1) embiratanha, Pseudobombax marginatum (Bombacaceae); 2) catingueira, Caesalpinia pyramidalis (Leguminosae: Caesalpinioideae); 3) cumaru, Amburana cearensis (Leguminosae: Papilionoideae); 4) gambá ou jurema-branca, Piptadenia sp. (Leguminosae: Mimosoideae); 5) pacotê, Cochlospermum vitifolium (Bixaceae); 6) imburana, Commiphora leptophloeos (Burseraceae); 7) jucá, Caesalpinia ferrea (Leguminosae: Caesalpinioideae); 8) pinhão-bravo, Jatropha sp. (Euphorbiaceae); 9) surucucu, Piptadenia viridiflora (Leguminosae: Mimosoideae); 10) angico, Anadenanthera colubrina (Leguminosae: Mimosoideae); 11) aroeira, Myracrodruon urundeuva (Anacardiaceae); 12) braúna, Schinopsis brasiliensis (Anacardiaceae); 13) maniçoba, Manihot sp. (Euphorbiaceae); 14) marmeleiro-preto, Croton sonderianus (Euphorbiaceae); 15) pau-branco, Auxemma oncocalyx (Boraginaceae); 16) pereiro, Aspidosperma pyrifolium (Apocynaceae). Fotos tiradas por Antonio Alves Tavares no Ceará, municípios de Aiuaba, Maranguape e Pentecoste, mas também características do município mineiro de São João das Missões, no Médio Rio São Francisco, onde em 2005 foi eleito o primeiro prefeito indígena do Brasil, Zé Nunes, do PT, hoje em campanha de reeleição. De lá de São João escutamos também essas notícias que nos dão muita esperança na Rede Povos da Floresta:

"Sou Jonesvan, do povo Xacriabá, do Norte de Minas, quase divisa com a Bahia. A experiência com informática e com internet é nova para o nosso povo. Temos três antenas via satélite e isso está trazendo inúmeras mudanças para os jovens, que buscam cada vez mais se informar.Éramos um povo remoto, bem distante da informação. Fui eleito vereador, temos também um prefeito e outros três vereadores indígenas. Estamos aproveitando bastante para buscar o conhecimento através da internet. Estamos conseguindo criar um intercâmbio com outros povos e com outras pessoas diferentes. Sabemos que a internet tem muita coisa boa e muita que às vezes não vale a pena. Tentamos selecionar e mostrar para os Xacriabá aquilo que realmente vem para somar. Espero que, a partir desse evento, possamos aumentar os nossos contatos, buscar experiências com outros povos, como os Ashaninka.

Mas não é só conquistar o espaço, mas saber o que vamos fazer dentro dele. Sei que muitos povos indígenas estão construindo isso um pouco mais do que os Xacriabá. O intercâmbio é importante. A internet veio para nos aproximar. A internet está distribuída no território em três escolas e ainda tem uma escola fora da rede. Os Xacriabá têm quatro escolas sede, com outras vinculadas. No total, são 27 escolas no território todo. Essas antenas, instaladas nas escolas, são abertas aos jovens estudantes e também à comunidade. Existem em média 1.900 alunos nas escolas, 104 professores indígenas formados e mais 60 em processo de formação. Estamos tentando ver se em setembro iniciamos o ensino superior para área da educação.

O uso da internet lá é basicamente aprender a usar. Muitas lideranças indígenas usam a internet também para receber e-mails de alguns projetos e enviar projetos para órgãos e instituições, via associações. A internet é uma ferramenta que vem para somar, é uma ferramenta de trabalho. Devagar, estamos começando a nos encaminhar para essa direção."

Fontes: Comunicação e Artes, Árvores do Tavares, "Livro Xacriabá de plantas medicinais: fonte de esperança e mais saúde". Leiam em pdf: "Xakriabá – cultura, história, demandas e planos", de Rita Heloísa de Almeida.

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