2 de dezembro de 2009

Maria Sabina


Maria Sabina nasceu em Oaxaca, no Mexico em 1896 e viveu até 1985. Esta mazateca é conhecida mundialmente pelo seu trabalho com Teonanácatl (Psilocybe Mexicana), o cogumelo milenar dos índios mexicanos, conhecido como " Carne de Deus". Ela utilizava os cogumelos sagrados na cerimônia chamada " Velada".
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Diz-se que Teonanácatl, tem o poder de curar todas as doenças e também proporciona força mística que dá ao xamã, o poder da linguagem, ou seja, o cogumelo fala pela boca do sábio. O xamã é apenas um veículo para a voz do cogumelo. Maria Sabina relata uma velada de um xamã, Juan Manuel, que veio para curar o seu tio, quando ela tinha apenas 7 anos: "O sábio acendia velas enquanto falava com os Donos dos Montes e com os Donos dos Mananciais. Ví como ele partia os cogumelos, contando-os aos pares, e os entregava a cada um na escuridão, falava, falava, e falava. Sua linguagem era muito bonita. As vezes o sábio cantava, cantava e cantava. Não compreendia suas palavras, mas me agradavam. Era uma linguagem diferente e me atraía, falava de estrelas, animais, de outras coisas desconhecidas para mim. Ví que dançava e via animais, objetos, personagens. Ele falava sem parar, queimava incenso e esfregava "São Pedro" nos antebraços do doente."
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São Pedro é o nome dado para o tabaco: Nicotiniana rustica moído, misturado com cal, e as vezes com alho, para afastar más influências, feitiçarias. Os cogumelos são vizualizados como pequenos seres ( macho e fêmea) do tamanho dos cogumelos (duendes??) Na velada de Maria Sabina, uma sessão dura a noite toda. Os cantos acompanham a parte principal da cerimônia, os participantes ingerem os cogumelos, cantam, batem palmas, dançam. O canto de Maria Sabina são curadores e também permitiam interpretar o Poder Divino através dos cogumelos.Depois de receber seis pares de cogumelos na cerimônia o participante os ingere. Experimenta a sensação de que sua alma, libertada do corpo, voa no espaço. Vê figuras geométricas (mandalas) de cores ricas, formam estruturas arquitetônicas, como se fossse descrita por visionários da Bíblia. Maria Sabina tinha uma ligação também com a Igreja, era batizada, membro da Associação do Apostolado da Oração e ia à missa toda a primeira sexta feira de cada mês. Ela juntamente com um amigo, dedicaram-se à organização da Irmandade do Sagrado Coração de Jesus .
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Ela chamava os cogumelos de "meninos santos". Falando da cura :- Na verdade nasci com meu destino. Ser sábia. Ser filha dos meninos santos.- É que os cogumelos são santos, dão sabedoria. A sabedoria é a linguagem.- A linguagem faz com que moribundos voltem à vida. Os doentes recuperam a saúde quando escutam as palavras dos meninos santos. Não há mortal que possa ensinar essa linguagem.- Eu curo com a Linguagem, a Linguagem dos meninos santos. - Eu peço favores a Jesus Cristo, a São Pedro, a Madalena e a Guadalupe. - Em mim não há bruxaria, não há raiva, não há mentira. Porque não tenho sujeira, não tenho pó. A doença sai se os doentes vomitam. Vomitam a doença. Vomitam porque os cogumelos querem que o façam. Se os doentes não vomitam, eu vomito. Vomito por eles, e desta maneira o mal é expulso. Os cogumelos tem poder, porque são a Carne de Deus. E os que crêem saram. Para os doentes há um tipo de linguagem, para os que procuram Deus, há outro. - Dizem que sou a mulher dos oceanos, que trago a sabedoria em minhas mãos. Que sou a mulher de São Pedro e São Paulo. Que sou mulher menina, mas posso falar com os heróis. às vezes choro, mas quando assobio ninguém me assusta.
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Maria Sabina usava o termo "sorte" para o Espírito da pessoa, capaz de abandonar o corpo físico para transformar-se num animal. Sabina evocava muitos santos :“Durante minhas veladas falo com os santos : São Tiago, São José e Maria. Digo o nome de cada um conforme vai aparecendo. Sei que deus é formado por todos os santos. Assim como nós, juntos, formamos a humanidade, Deus é formado por todos os santos. Por isso não tenho a preferência por nenhum santo.Em minhas veladas entro em um outro mundo, diferente do que conhecemos à luz do dia. É um mundo bonito mas inatingível. É como ver um filme. Desse modo vejo os santos. Vejo animais, como serpentes gigantescas, mas não os temo. Não os temo, porque também são criaturas de Deus. Aparecem também animais estranhos, nunca vistos no mundo cotidiano. Nada daquilo que os cogumelinhos ensinam deve ser temido.”
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Maria Sabina (do livro de Àlvaro Estrada) : "Eu nunca vi os demônios, embora passe pelos domínios da morte para chegar onde devo. Afundo e caminho por baixo. Posso procurar pelas sombras e pelo silêncio. Assim chego onde as doenças estão escondidas. Lá no fundo. Abaixo das raízes e da água, do barro e das pedras. As vezes subo, bem alto, acima das montanhas e das nuvens. Ao chegar onde devo, olho para Deus e para Benito Juarez. Lá vejo as pessoas boas. Lá se sabe tudo. De tudo e de todos, porque lá está tudo claro. Ouço vozes. Falam comigo. É a voz do pequeno que brota. O Deus que vive neles entra em meu corpo. Cedo meu corpo e minha voz aos meninos santos. São eles que falam, durantes as veladas, trabalham em meu corpo, e eu digo :

Porque me deste teu relógio
Porque me deste teu pensamento
Porque sou mulher limpa
Porque sou mulher estrela cruz
Porque sou mulher que voa
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Sou a mulher Águia Sagrada, diz
Sou a mulher Águia Suprema, diz
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Sou a senhora que nada, diz
Porque posso nadar no grandioso
Porque posso nadar em todas as formas
Porque sou a mulher lancha
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Porque sou a Gambá Sagrada
Porque sou a Gambá Suprema
Posso ser águia, gambá ou mulher relógio.
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Se os vejo, pronuncio seus nomes.
Os meninos santos se convertem em Seres Principais.
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"Eu também estou velha. Por isso peço a Deus que me abençoe. Sempre peço benevolência todos os dias.... Peço benevolência para com o mundo e para comigo. Morrerei no momento que Deus quiser. Enquanto isso, que a vida siga seu curso, que continuemos vivendo nosso tempo nesse mundo que é de Cristo. Este mundo de cristãos onde também há maldade e discórdia, nesse mundo onde as pessoas brigam por qualquer coisa ".
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Seguramente que não só o ouro e as riquezas naturais do México Antigo, nem só a cultura e a arte mesoamericanos causaram grande assombro aos religiosos e conquistadores espanhóis chegados à essa terra no século XVI; senão também a medicina indígena (composta por uma “maravilhosa coleção” de vegetais e plantas alucinógenas) foi motivo de atenção, estudo e – condenação – por parte dos escritores, botânicos e médicos do Ocidente na época colonial de México.
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As repressões do Tribunal do Santo Ofício, que em um princípio experimenta e ingere ololiuhqui, péyotl e teonanácatl (sementes, cactos e cogumelos respectivamente, e alucinógenos todos) e mais tarde as condenações desde o púlpito que se prolongaram por séculos, fizeram com que os médicos indígenas levassem a um plano privado – digamos secreto – o rito e a adoração das plantas mágicas.Em nossos dias, estas práticas “demoníacas” dos índios, tem desaparecido conforme o avanço da cultura ocidental no México. Um fenômeno parecido tem extinguido costumes similares em outros povos asiáticos e americanos. Mas é em Huautla – população situada na serra mazateca de Oaxaca – aonde os investigadores tem encontrado uma mina nesse tipo de práticas nativas, nas que o cogumelo – ao que os investigadores tem agregado o adjetivo de alucinógeno – é parte medular da religião indígena na que se diz que o antigo teonanácatl – Carne dos Deuses na época prehispânica – tem poder para curar todas as enfermidades, e também proporciona a força mística que cria a linguagem elevada e esotérica do xamã.
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O blog El Camaleón disponibiliza o download do disco gravado com Maria Sabina em 1956:

1. Chjon Nka 02:53
2. Chjon Nka Catsin 04:44
3. Santo...nana 02:06
4. Papa Papai 01:26
5. Na Ai - Ni Tso 01:04
6. Santo...Ji nai...na 01:46
7. Jan Jesu Cristo 03:41
8. Ji Nai 04:20
9. San Pedro 03:32
10. Soso Soso
11. Name of Plants
12. Pedro Martinez
13. Don't Be Concerned, Old One
14. Birds
15. Humming, etc.
16. Soft Singing
17. Finale
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