A Ascensão para o Céu
“Um homem que era um pajé poderoso foi matar curimatã: foi até o lago, fez um papiri, e lá ficou à beira d’água. De repente, viu bulir um monte de tracajá na frente dele. Aí ele se aterrorizou, porque ele mesmo tinha enfeitiçado muito tracajá para matar, e soube que eles também estavam enfeitiçando ele, e o queriam matar; e sob a forma de tracajá. Eram na verdade as nesaruwawó, umas cobras do fundo da água. Sentiu febre, correu para sua casa. Tinha lá duas mulheres, e pediu para elas que fizessem fogo:
- Estou com febre, estou morrendo, mas não é por nada; tracajá me enfeitiçou; eu vou embora mas vocês ficam.
E morreu no meio da noite. Daí a pouco, nasceu um cipó do umbigo dele. Seus parentes ficaram tristes, e aquela mesma noite começaram a tomar o cipó, e mandaram avisar os outros que não ficariam mais lá, que estavam indo para o céu, que viessem junto. O mensageiro foi, mas chegou cansado na casa dos outros: chegou, deitou numa rede e dormiu. Vendo que tinha chegado, o chefe mandou cozinhar uma perna de queixada pra ele; e com tanto dormir e comer, o mensageiro esqueceu de dar a notícia.
E nessas, a turma do pajé morto bebia cipó e cantava, cantava:
‘Bem que gostaríamos de ficar na terra,
mas o nosso chefe morreu, e vamos atrás dele...’
E a casa ia subindo, ia subindo com todos e tudo que tinha dentro, e subindo chegou ao céu.
Quando o mensageiro lembrou do recado, a outra turma foi correndo para ver, e onde estava a casa só encontraram mato fechado, e ficaram com muita raiva do mau correio:
- Tu não avisaste, agora vamos ficar aqui para sempre.
E ele chamava os que subiam, mas eles estavam já bem altos; e de tanto chamar ficou dizendo ‘co... co... co... co...!’, e agora é o bapode, um passarinho pequeno que canta assim.”
Mito jaminawá recolhido por Oscar Calavia Sáez e publicado em seu livro: “O nome e o tempo dos Yaminawa – Etnologia e história dos Yaminawa do rio Acre”, publicado em 2006 em São Paulo pela Editora UNESP (www.editoraunesp.com.br) juntamente com o Instituto Socioambiental (www.socioambiental.org) e o NuTI – Núcleo Transformações Indígenas, do Museu Nacional, Rio de Janeiro (www.nuti.scire.coppe.ufrj.br).
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- Estou com febre, estou morrendo, mas não é por nada; tracajá me enfeitiçou; eu vou embora mas vocês ficam.
E morreu no meio da noite. Daí a pouco, nasceu um cipó do umbigo dele. Seus parentes ficaram tristes, e aquela mesma noite começaram a tomar o cipó, e mandaram avisar os outros que não ficariam mais lá, que estavam indo para o céu, que viessem junto. O mensageiro foi, mas chegou cansado na casa dos outros: chegou, deitou numa rede e dormiu. Vendo que tinha chegado, o chefe mandou cozinhar uma perna de queixada pra ele; e com tanto dormir e comer, o mensageiro esqueceu de dar a notícia.
E nessas, a turma do pajé morto bebia cipó e cantava, cantava:
‘Bem que gostaríamos de ficar na terra,
mas o nosso chefe morreu, e vamos atrás dele...’
E a casa ia subindo, ia subindo com todos e tudo que tinha dentro, e subindo chegou ao céu.
Quando o mensageiro lembrou do recado, a outra turma foi correndo para ver, e onde estava a casa só encontraram mato fechado, e ficaram com muita raiva do mau correio:
- Tu não avisaste, agora vamos ficar aqui para sempre.
E ele chamava os que subiam, mas eles estavam já bem altos; e de tanto chamar ficou dizendo ‘co... co... co... co...!’, e agora é o bapode, um passarinho pequeno que canta assim.”
Mito jaminawá recolhido por Oscar Calavia Sáez e publicado em seu livro: “O nome e o tempo dos Yaminawa – Etnologia e história dos Yaminawa do rio Acre”, publicado em 2006 em São Paulo pela Editora UNESP (www.editoraunesp.com.br) juntamente com o Instituto Socioambiental (www.socioambiental.org) e o NuTI – Núcleo Transformações Indígenas, do Museu Nacional, Rio de Janeiro (www.nuti.scire.coppe.ufrj.br).
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Confiram mais informações sobre o xamanismo Yaminawa em Kokame.
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