17 de outubro de 2009

Debret e os índios brasileiros

"É no índio selvagem que encontramos o princípio e o germe de tudo aquilo que o espírito humano concebeu como idéias filosóficas, elevadas, admiráveis e mesmo bizarras, aplicadas por ele unicamente através do instinto e da inspiração."
(Jean-Baptiste Debret, "Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil", Sobre os indígenas, vol. 1)

Debret (1768-1848) foi chamado de "a alma da Missão Francesa". A idéia da missão artística francesa foi dada ao príncipe-regente dom João VI pelo naturalista alemão Alexander von Humboldt, que fora um discípulo de José Bonifácio de Andrada e Silva na escola de minas de Freiburg. Os portugueses do Rio de Janeiro na verdade espantavam-se com a presença de revolucionários franceses a serviço da família real portuguesa que Napoleão expulsara da ex-metrópole. Debret e seus colegas, por sua vez, retratavam, com vistas a um público europeu, uma sociedade de castas, onde escravos e senhores conviviam entre um misto de intimidade e sadismo — hábitos tão distante dos ideais iluministas e românticos de igualdade e liberdade. Era desenhista, aquarelista, pintor cenográfico, decorador, professor de pintura e organizador da primeira exposição de arte no Brasil (1829). Em 1818, trabalhou no projeto de ornamentação da cidade do Rio de Janeiro para os festejos da aclamação de dom João VI como rei de Portugal, Brasil e Algarves.

Desenhista oficial da corte, Debret fixou em suas aquarelas os costumes, usos e paisagens do Brasil, criando um documento histórico de importância fundamental para a recriação da nossa realidade na primeira metade do século 19. Não se limitou à sua excepcional habilidade como desenhista; reuniu notas e organizou um vasto material sobre aspectos econômicos, políticos, sociais, geográficos, etc. Durante os quinze anos que permaneceu no Brasil, desenvolveu um trabalho sem trégua. Sua objetividade e imparcialidade na fixação das características da vida brasileira causou escândalo na corte. Ao desenhar e descrever cenas da realidade em que vivia o escravo, despertou a inimizade e a oposição dos mais conservadores. Na obra "Viagem Pitoresca ao Brasil", que lançou na França em 1834, coleção composta de três volumes com um total de 150 ilustrações, Debret retrata e descreve a sociedade brasileira.

A respeito de Debret escreveu Bitran Trindade: "Sua obra permite a identificação de um país nascente, ao traçar um paralelo com as nações européias. Mostra o que há de selvagem, o que há de civilizado. Incute o ideal de progresso. Tudo com o traço inconfundível do artista, que “debretizou” as informações recebidas, ajustando-as ao seu modo de representar".

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