O neo-caudilhismo e o samba

Inequivocamente, a tv boliviana vem exibindo agora documentários venezuelanos sobre a revolução bolivariana proposta por Chávez, alguns dos quais revelando a ação da CIA na América Latina nos tempos da Guerra Fria e sua sanha anti-comunista. O alinhamento do governo Morales com o governo venezuelano, entretanto, deve ser analisado no contexto real da necessidade de formação de um eixo anti-liberal em oposição aos reacionários lobbies neo-liberais imperantes nos países da região (ainda derivados dos acordos oligárquicos instaurados nos tempos das ditaduras militares). O Brasil com o governo Lula "simpático a Bush" esteve sempre em cima do muro, e o papel mais antipático foi ocupado interessadamente por Chávez na Venezuela, e o fato é que o fantasma da ALCA (Associação de Livre Comércio das Américas) parece hoje extinto, sobremodo com a crise econômica mundial desencadeada em 2008. Evo Morales, assim como outros governos mais à esquerda na América do Sul, necessariamente caem na referência chavista mas não devem nem podem ser considerados sob essa ótica estreita sem que se leve em conta que a Bolívia possui características próprias que faz de seus movimentos populares não uma pantomima populista e sim uma autêntica explosão de anseios reprimidos desde a fundação do país há quase duzentos anos já, assim podemos dizer.
Evo Morales não é o presidente mais popular do planeta (quando o presidente Obama fez esse tipo de elogio ao presidente Lula na reunião do G-20 obviamente cumpria com a pauta indicada por seu serviço diplomático que deve te-lo assessorado para tal reunião norteando que tipo de adulação faz gosto aos brasileiros). Nos incidentes do ano passado em Pando, uma leva de bolivianos se asilou no Acre e o que chegou aqui deles aos meus ouvidos é que Evo nem sequer é índio, pois porta seu sobrenome de "branco". Essa alegação dos descontentes exemplifica bem a ignorância e o desconhecimento por parte dos cidadãos de muitos países edificados a ferro e fogo sobre os territórios ameríndios invadidos, de que os indígenas tem pleno direito à cidadania como qualquer outra "classe" de ser humano, e pode ser considerado indígena mesmo se perdeu seu clã, aldeia, território, cultura tradicional, pois se isso se deu foi apenas porque o indígena teve de lutar por sua sobrevivência pessoal, salvar sua própria pele, e por isso aceitou perder tais elementos constituintes de sua identidade. Evo é indígena, intrinsecamente e extrinsecamente, e como primeiro presidente ameríndio, eleito pelo voto popular, na América do Sul e no mundo, cumpre a árdua tarefa de lutar pelos direitos plurinacionais de seu país, não apenas tendo a iniciativa de ratificar a Lei dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas nas Nações Unidas (e diziam que os direitos humanos eram "universais", ora vejam...) mas também de desafiar toda rede de complôs e sabotagens que sempre fizeram da Bolívia, depois do Paraguai, um dos países de maior instabilidade política da região: desde sua independência, sabem os leitores quantos presidentes já possui a República da Bolívia?!...
Portanto, é bom a Tv Globo rever seus conceitos. Neo-caudilhismo é uma coisa, Evo Morales é outra. E como dizia o General Golbery do Couto e Silva, autor da Geopolítica que desde os anos sessenta norteia os ideários da Escola Superior de Guerra, a Bolívia é o hinterland, a "area core" do continente, e merece ser respeitada: quem dominar geopoliticamente a Bolívia, já dizia Golbery, dominará geopoliticamente todo a América do Sul. Que ninguém a domine, dirão meus amigos, que a Bolívia seja dos bolivianos. Em tempos de globalização, mesmo que essa ande capengando, é bom mesmo que a Bolívia tenha suas próprias iniciativas e mostre sua cara: não é, afinal, esse "coração do continente" um quintal dos Estados Unidos ou da Inglaterra ou da Espanha, não um quintal do Chile, não um quintal da Venezuela e nem do Brasil. Pelos meios democráticos, sob as instâncias populares, a Bolívia fará em dezembro próximo eleições livres e gerais, digitalizadas e seguras, e isso está se fazendo por vontade e iniciativa da nação, a fim de assegurar às gerações posteriores um futuro melhor.

Um comentário:
ÓTIMO !
Vou por no meu sítio o link
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