Em busca do Tabaco

(Trechos de uma narrativa feita em Shuimïwei, comunidade Yanomami)
Graças a Kuripowë, conhecemos o tabaco...
— Estou ansioso, ansioso. Sinto uma necessidade que me deixa insensível a qualquer outra sensação — afirmava a voz que se aproximava.
— Estou ansioso, sinto uma ansiedade tão forte — seguia Kuripowë sem se interromper.
— Não é minha intenção encher-lhes o saco, só me queixo por sentir-me ansioso. Estou sentindo uma necessidade de algo, só por isso espalho esta queixa por toda parte.
— Vá transar com as mulheres, fazer-lhes crianças. Elas foram pra lá.
— Por que se queixa? Está de luto? Acham-se reunidos por causa de uma morte?
— Não. Queixo-me porque algo me falta, queixo-me porque sinto uma falta muito profunda.
— Quem é você?
— Sou eu, e estou me lamentando. Sou eu.
— Está de luto para se lamentar desse modo?
— Não. Estou me lamentando sem razão.
— As mulheres estão por aí, transe com elas, faça-lhes crianças.
— Não, estou falando sem razão. Estou atormentado por uma necessidade — acrescentou.
Finalmente, chegou até aquele que realmente tinha saber. Também ele achava-se em cima de uma árvore.
— Qual é a razão para estar se lamentando?
— Não há uma razão precisa. Falta-me algo. Sinto uma terrível falta e carrego meu lamento. Quebre um galho, cunhado, acrescentou, quebre um galho e deixe-o cair. Estou com fome.
Comeu o invólucro das sementes [do fruto pahi]. Ninguém lhe prestava atenção.
— Cunhado, deixo-lhe as sementes aqui.
Urinou em cima, e depois acrescentou:
Estão aqui, cunhado. Cozinhe-as e retire-as da água ainda quentes, e ponha na boca ainda quentes.
— Sim! Mas o que estava dizendo quando chegou?
— Estava me lamentando que algo me fazia falta.
— Veja aí, está perto de você, tem uma faca de pedra no chão, sobre o cabo tem uma masca de tabaco.
Queria provavelmente propagar o tabaco; em todos os lugares onde cuspiu o suco da masca, cresceu um pé de tabaco. A planta se elevou imediatamente e começou a florescer, os beija-flores chegaram para sugar. Foram estas as marcas que Kuripowë deixou em seu trajeto; foi graças a ele que o tabaco se propagou.
Ayë! ayë! ayê! — foram as exclamações do herói em narração registrada na comunidade Karohi. “Foi Nosiriwë — diz essa versão — quem propagou o tabaco por toda parte. Foi Cuchicuchi quem o descobriu”.
Esta é uma tradução de AmaZone de “En busca del tabaco (II)”, In Yanomami. Los pueblos indios en sus mitos Nº 4, pp. 68-70, de Jacques Lizot, Luis Coco & Juan Finkers (Abya-Yala, 1993). O mito pertence ao conjunto compilado por Lizot. Ler também: "O Uso Tradicional do Tabaco, a Erva do Diabo" , de minha autoria, que publiquei na última edição da Revista "A Arca da União".
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